9 de agosto de 2014

Minha trilha musical




Por
Carlos Frederico March
(Freddy)







É difícil chegar para um sujeito que vivenciou música sua vida inteira e pedir-lhe para declinar sua trilha musical. Comecei a estudar piano aos 8, mas um acidente caseiro reduziu meus movimentos da mão direita quando eu tinha 17 anos. Isso interrompeu uma possível carreira erudita mas continuo tocando e me divertindo, o que é mais importante.

Em paralelo, acho que como a maioria na época, aprendi também violão. Além disso, o advento dos sintetizadores veio me permitir tocar praticamente todo tipo de instrumento (teclados, cordas, metais, sopros, percussão) através de teclas à exceção talvez de sax, o mais difícil de emular.

Comecei escutando clássicos, vivi a Jovem Guarda e vi nascerem Beatles e Rolling Stones. Testemunhei Jimi Hendrix reconstruir a guitarra e Janis Joplin mostrar que branco também sabe cantar soul. Aprendi a “viajar” num quarto escuro ouvindo rock progressivo, sem nunca ter usado drogas pesadas (só faço uso de álcool, socialmente).

Vivi a época mais produtiva depois da era clássica, que foi de meados dos anos 60 ao final dos anos 70. Sem receio de exagerar (só um pouco - rs rs) acho que houve um novo renascimento no campo da música. Barreiras caíram, instrumentos foram criados ou modernizados, misturou-se de tudo um pouco num caldo do qual, bem garimpado, dá para extrair uma discoteca de respeito - falo de frescor de ideias, qualidade harmônica das composições e nível de performance.

Para meu desgosto, a música rebuscada começou a mostrar sinais de cansaço e a disco-music, antes restrita a salões, foi aos poucos tomando conta das rádios. Corria o ano de 1977 quando, morando em Munique, conheci o ABBA. Para minha surpresa, apesar do apelo dançante apaixonei-me pelo quarteto, que se manteve ativo por 10 anos (até 1982).

Não acho que tenha cometido alguma espécie de sacrilégio com essa “guinada” de gosto musical, porque o ABBA demonstrou sua qualidade superando a marca de 370 milhões de discos vendidos, culminando com a recusa da oferta de um grupo empresarial, que lhes ofereceu 1 bilhão de dólares para se juntar novamente e fazer 100 concertos durante apenas um ano.
“- Não obrigado, dinheiro não é importante”, justificaram em sua negativa.

Seguiram-se os anos obscuros do rock - década de 80 a meados de 90 - quando “the music died” e apenas ritmos dançantes se mantinham visíveis na mídia, com raras exceções. Foi a era de Giorgio Moroder, Supremes, embalos de sábado à noite, Michael Jackson... Pouca coisa com qualidade, comparativamente às décadas anteriores, sobreviveu.

Curiosidade: minha filha Renata completou 15 anos em 1993 e fizemos uma pequena comemoração no prédio onde morávamos. Chegou a hora do pai (eu) dançar com a aniversariante. A música foi  “The Look!”, da banda de rock sueca Roxette, um dos poucos destaques dos anos 80/90. Dançamos, obviamente, separados mas animadamente. Um sucesso!

Entra o século XXI. Quando pensei que estava tudo acabado, eis que descubro que o meu sonho, acalentado desde os anos 70, havia se tornado realidade: no norte da Europa florescia um gênero musical que mesclava a voz feminina com rock pesado e ainda incluía eventualmente corais e orquestra.  Pronto, voltei a ficar novamente apaixonado por música!

Durante essa jornada de quase 60 anos ouvindo e tocando, raramente fui fanático. Nunca fiel (musicalmente, por favor...). Conheço gente que só escuta samba, ou só bossa nova, ou só jazz, ou só anos 60, ou só clássicos, diz aí mais algum. Eu não!

Enquanto ouvia Pink Floyd podia dar um pitaco em Caetano Veloso. Sento-me pra tocar num grupo de amigos e rolam alguns clássicos de barzinho (conheço poucos, mas toco-os numa boa).  Paro para ouvir o sapateado de Riverdance e a seguir posso colocar as guitarras frenéticas do Sirenia, passando nesse meio tempo pela linda voz das Saras (Brightman e McLachlan). Ponho um DVD de André Rieu e depois um do Nightwish.

Sou assim. Volúvel.  Como então declarar qual foi a trilha musical que me define? Quais dos mais de 1.000 discos que tive, ou ainda tenho depois de vários descartes por mudança de tecnologia ou falta de espaço, elegeria como principais em minha vida? Difícil...

Um dia cheguei a escrever sobre uma referência que eu tenho na área da música erudita: o poema sinfônico “O Moldava” de Bedrich Smetana, tema de post publicado aqui em 18/10/2011.

Hoje prefiro deixá-los com o chorus final de “Ghost Love Score” da banda finlandesa de heavy metal sinfônico Nightwish:

My fall will be for you
My love will be in you
You were the one to cut me
So I’ll bleed forever

Complementos:
Links para acesso a algumas citações do texto (copiar e colar no seu navegador)

Post “O Moldava” no Generalidades Especializadas:
http://www.jorgecarrano.blogspot.com.br/2011/10/o-moldava.html

Roxette, “The Look” (©1989; versão ao vivo em 2009)
https://www.youtube.com/watch?v=3Cyp-eZI4DY

Nightwish: “Ghost Love Score” (©2004; ao vivo em 2013 com a vocalista Floor Jansen)
https://www.youtube.com/watch?v=JYjIlHWBAVo

Para quem se interessar pela letra e tradução de “Ghost Love Score”:
http://letras.mus.br/nightwish/84219/traducao.html
  

8 comentários:

Freddy disse...

Adendo 1 - sobre êxtase musical
Não sei se acontece com vocês, mas eu fico frequentemente arrepiado escutando som. Hoje mesmo de madrugada, revendo os links do post para ver se estavam funcionando bem, acabei ouvindo de novo Ghost Love Score - e tome arrepio!

Apenas uma música que eu toco ao piano me deixa arrepiado enquanto a executo: o prelúdio Op. 28 nº 15 de Chopin, chamado de “Gota d’Água”. É porque me lembro da descrição de quando ele foi composto. Chopin, já tuberculoso, foi levado por sua namorada George Sand para uma casa úmida e fria. Num dia de chuva intensa, Chopin começou a se ver morto dentro de um caixão e aquelas gotas caindo sobre seu cadáver. Daí compôs o prelúdio e à medida que a música cresce em dramaticidade, o arrepio inevitavelmente acontece (mesmo agora que estou apenas escrevendo sobre ele!).

O que é interessante até pra mim é que o arrepio, que nada mais é que uma demonstração de êxtase, acontece à revelia, ou seja, sem explicação objetiva. Explico: apesar de criado no ambiente erudito e gostar bastante de rock progressivo, elaborado, sinfônico, fico arrepiado com as estridentes guitarras do Sirenia, especialmente na música “At Six and Sevens”, que é bem pesada e com rosnados entremeados com vocal lírico.
=8-) Freddy

Freddy disse...

Adendo 2 - sobre música em funeral
Num comentário feito num dos posts recentes sobre trilha musical, onde alguém abordou funeral - enterro ou cremação, eu comentei sobre escolhas que faria hoje em dia para uma música a ser tocada no meu próprio funeral. Antigamente eu escolheria o 2º movimento do concerto Inverno de Vivaldi, que inclusive já mereceu releituras com alterações e até música com letra.

Hoje em dia, talvez pelas imagens que me ocorrem durante sua execução, eu optaria pelos minutos finais de “The Phantom Agony”, do primeiro CD da banda holandesa Epica. Essa música significa muito para mim porque me lembra o ano de 2003, quando fui apresentado ao heavy gótico melódico e comprei uma penca de discos para ouvir ao mesmo tempo e me inteirar da novidade. Por ser longa (9 minutos), intrincada, com elementos clássicos, melódicos e também rosnados (que pra mim eram uma novidade), eu a ouvia com bastante frequência no carro, indo e voltando da Embratel. Por fim me apaixonei não só pela música como pela banda.

No link a seguir, onde The Phantom Agony é tocada numa apresentação da Epica com coral e orquestra, comemorando seus 10 anos de estrada (DVD/BluRay Retrospect), temos a partir dos 6:10 até o final aos 9:00 a tal trilha para funeral.
=8-) Freddy

Freddy disse...

Adendo 3 - sobre equipamento
Não sei como a maioria das pessoas hoje consegue curtir som, ouvindo “streaming” direto da Internet em smartphones e iPads, ou mesmo laptops/desktops. Apenas versões premiadas daqueles headphones ridículos jogam algo mais ou menos decente nos ouvidos do cidadão. E pouca gente tem essas versões premiadas ($$).

Eu sempre uso headphones grandes quando me sento para ouvir som enquanto navegando ou digitando. Usei Koss TD75 (que infelizmente chegou ao fim da vida útil), Behringer HPX2000 (especial para DJ’s) ou o AKG profissional K240 Mk II, de estúdio de gravação. O som que eles produzem é muito honesto, mesmo reconhecendo as limitações do sistema mp3 de compressão musical que usamos hoje em dia.

No escritório do apartamento atual, com 2 pianos e um desktop com monitor de 22 polegadas, estou rodeado por um sistema JVC TH-M45, que foi meu primeiro home theater oficial. Tem um poderoso subwoofer com 120wrms e pode jogar em cada um dos 5 canais até 80wrms. Como as caixinhas originais são muito pequenas, eu substituí os canais direito e esquerdo frontais por excelentes caixas JBL série Studio S26.

Pronto! Posso ouvir DVDs e música em geral na minha tela do desktop quase como se estivesse na sala, em meu imenso home theater oficial. Mesmo à noite, depois das 22h e madrugada a dentro, dá pra escutar baixinho com uma qualidade de graves excepcional, o que é importante para o envolvimento sonoro, mais uma definição de médios que é imperativa para se captar nuances.

Vai daí às vezes me sinto meio estanho apontando links, porque o estilo de música que gosto muitas vezes exige grande dinâmica (diferença entre as partes mais altas e mais baixas) e nitidez. “Ghost Love Score” (recomendada no texto) num iPad desaparece em sua parte central, um intermezzo orquestrado muito sutil. Apesar dela toda ter 10:22 minutos, pode ser que muitos desliguem aos 4:25 achando que ela acabou - e ela retorna bombástica aos 5:38, tornando-se apoteótica de 8:22 até o final!

=8-) Freddy

Ana Maria disse...

Apesar de ter visto o surgimento do rock, nunca fui adepta de sua versão mais pesada. Preferi e prefiro músicas menos "barulhentas".
Mas, democraticamente, respeito o gosto de cada um.

Riva disse...

Vou escrever o que acho mesmo, tipo #prontofalei ....

Não é possível que seu post, Freddy, sobre sua trilha musical, seja apenas isso. E sei que não é.

Estou achando que você ao ler os posts anteriores, meio que achou esgotado o assunto. Mas não está, porque cada um é cada um. E sei que a sua história não é apenas isso que você escreveu.

Você teve uma fase clássica, e não mencionou as principais músicas que te embalaram nessa época.
Você teve músicas da Jovem Guarda, e não citou nenhuma marcante.
Você foi iniciado no rock progressivo, e lembro que você trouxe uma penca de novos nomes lá para casa, acho que voltando de São Paulo - Triumvirat, Focus, Genesis, etc
Você teve a fase européia, onde assistiu shows na Alemanha, como o Gentle Giant que você adorava, o Kansas, Curved Air, Renaissance, etc .....

Estou decepcionado !

Jorge Carrano disse...

Guitarrista?
Robert Leroy Johnson foi o cara.

Freddy disse...

Riva poderia ter escrito meu post por mim, pelo que demonstra em seu comentário (rs rs). Pelo menos até 1977 e o vice-versa pode ser verdadeiro também!

Informo que tenho 4 versões anteriores à postada, todas com 2 partes como os de Riva e Alessandra, mas tendo em vista minha dificuldade em resumir as coisas, radicalizei e decidi por esse post minúsculo (apesar dos 3 adendos, que fazem parte mas ficariam feios no corpo do texto).

Como questão de ordem, é bom deixar claro que Carrano já o tinha em mãos antes de postar o primeiro (entreguei em 31 de julho), portanto a acusação de que eu declinei depois de ver os demais não procede.
Abraços
Freddy

Alessandra Tappes disse...

Bem eclético seu gosto musical. Não conhecia a música que você cita mais de uma vez no seu post: Ghost Love Score "Partitura do Amor Fantasma". Gostei da letra, lembra um pouco Evanescence, um pouco...

Como sempre, nas medidas seu post.