Por
Carlos Frederico March
(Freddy)
Prólogo
Quando
a gente viaja, principalmente em excursões, costumamos fazer amigos. Vez por
outra, com sorte como já aconteceu conosco, uma verdadeira turminha. Legal como
a que fizemos uma vez no Chile e com a qual, de Puerto Montt até o aeroporto
Ezeiza (passando por Puerto Varas, Peulla e Bariloche), quando nos separamos já
em Buenos Aires, saímos juntos o tempo todo. Saudades.
Mas
a experiência nos mostrou que, mesmo tentando manter contato, trocando cartas
ou e-mails (como era na época), a gente
acaba nunca mais se encontrando. As exceções são isso mesmo: exceções.
Bandas
que viajam em turnês pelo mundo também se sentem mais ou menos assim. Tanto em
relação a pessoas que os recebem e tratam da estadia, da montagem, dos passeios
pela cidade, como também pelos fãs, fugaz interação de 1 a 2 horas, em média.
Poucas
vezes as bandas voltam às cidades e palcos mundo afora, de modo que se torna
quase que uma verdade absoluta que o que vêem e encontram e se relacionam em
cada local onde tocam, raramente vai se repetir. Mas acontece, e aí a chance de
reencontros é grande.
Intermezzo
Blackmore’s
Night é uma banda que nasceu da interação de Ritchie Blackmore e Candice Night,
uma bela história de amor que temos de fazer força para não invejar (é feio
isso) e assim sendo eu sempre desejo mentalmente a ambos que curtam muito esse
conto de fadas. Como disse um fã num comentário, que eu endosso: Ritchie
Blackmore é o músico de rock mais feliz do mundo, a nos guiarmos pelo que vemos
nas resenhas e concertos.
Ritchie Blackmore & Candice Night |
Ritchie
foi o guitarrista da famosa banda de rock pesado dos anos 70 Deep Purple, e por
longo tempo considerado um dos 10 melhores guitarristas do mundo (cenário
rock). Tocava para dezenas, centenas de milhares de espectadores fascinados e
angariou legiões de fãs. Saído do Deep Purple, montou o Rainbow que durou algum
tempo também, no entanto sem o esmagador sucesso do Deep Purple.
Ritchie Blackmore |
Candice
Night era uma bela modelo que tinha 18 anos quando encontrou pela primeira vez
Ritchie num jogo de futebol entre bandas e ela, fã do Rainbow, o procurou para
um autógrafo. Era 1989 e ele tinha 44 anos. Conversaram um pouco, inicialmente
apenas como uma fã extasiada com seu ídolo e ele como um quarentão frente a
frente com uma linda jovem que o admirava. Logo descobriram que tinham muito em
comum, como o gosto por história medieval, renascença, castelos, filosofia,
etc.
Candice Night |
Tornaram-se
amigos, começaram a sair em 1991, foram morar juntos em 1994.
Candice,
que cantava e compunha, foi sendo inserida como coadjuvante eventual no Rainbow
mas logo resolveram formar o Blackmore’s Night em 1997, grupo de folk rock com
acentos medievais. Foram morar num castelo, acabaram se casando formalmente em
2008 e hoje têm um casal de filhos: Autumn e Rory.
Os
antigos fãs do Ritchie Blackmore roqueiro estranharam a mudança de estilo,
acharam que ele se deixara enrabichar pela beleza de Candice e que ia acabar se
cansando. O fato é que o tempo passa e ele parece feliz em agora encarar
pequenas plateias de algumas centenas de pessoas, permitindo sua esposa ficar
sob os holofotes e ele apenas dedilhando sua guitarra . Seu mundo mudou e ele
parece ter encontrado o caminho da real felicidade.
Continuam
ambos focados nos interesses básicos que os aproximaram, que incluem elementos
marcantes de história e cultura medieval. Sempre que podem, nas suas turnês
tocam e até se hospedam em castelos, se houver chance. A decoração do palco e
suas roupas são medievais, usam eventualmente instrumentos antigos autênticos e
os fãs que comparecerem ao show vestidos a caráter têm lugar garantido nas
primeiras fileiras.
Não
é o tema deste post, mas vale dizer que Blackmore’s Night tem hoje uma extensa
discografia, incluindo CD’s e DVD’s. O YouTube dá acesso a músicas variadas, ao
vivo e em estúdio, clipes, eventos da TV alemã e até a concertos inteiros,
incluindo um não-oficial, bastante antigo (gravado em 1997-8). O mais recente
DVD foi lançado em 2012 e no momento estão em turnê de divulgação do último CD
Dancer and the Moon.
Blackmore’s Night, formação de 2014 |
Dandelion
Por
conta do sentimento descrito no prólogo, a dupla Blackmore / Night compôs uma
linda e singela canção chamada “Dandelion Wine”. Pessoas que se vêem e se
separam por terem se conhecido em viagens - e no caso deles, turnês. Se, quem
sabe, um dia acontecer o ansiado reencontro, regozijarão passando uma tarde
relembrando os velhos tempos, como se conheceram, o que fizeram juntos.
Enquanto
não acontece, revendo álbuns antigos e fotos amareladas, suspiram por esse
reencontro erguendo um brinde aos amigos distantes acompanhados de uma ou duas
taças de vinho Dandelion (receita caseira à base da flor do dente-de-leão).
Link de “Dandelion Wine”, versão estúdio
com letra
https://www.youtube.com/watch?v=NvlnP3y_QQ4
Link
de “Wind in the Willows / Dandelion Wine”, singela versão tocada em 2006
https://www.youtube.com/watch?v=MDmAuYKYFLo
Link para o último DVD "A Knight in
York" (concerto integral)
https://www.youtube.com/watch?v=tnqzUuZRbmo
Neste concerto, eles tocam Dandelion
Wine logo após receberem sinal do teatro de que o tempo havia se esgotado (por
volta de 1:19:00 de show).
Dandelion (dente-de-leão) |
DANDELION
WINE
Tradução adaptada do Google Translator
Onde
está o tempo passado... parece ter voado tão rápido...
Num
momento você está se divertindo, no próximo se tornou passado
Dias
se transformam em tempos idos
Velhos
amigos encontram seu próprio caminho
Até
o momento de vocês partirem... desejei que pudessem ficar...
Então
isto aqui é pra vocês, pra todos os nossos amigos
Com
certeza nos encontraremos novamente
Não
fiquem muito tempo longe desta vez
Vamos
levantar um copo, talvez dois
E
estaremos pensando em vocês
Até
que nossos caminhos se cruzem novamente...
Quem
sabe da próxima vez...
Vamos
rir das memórias, e conversar toda a tarde
Vamos
lembrar dos momentos que nos deixam cedo demais
Vamos
sorrir para as imagens ainda persistentes em nossas mentes
Quando
se está recordando, tudo que se precisa é de tempo...
Revendo
fotografias desbotadas, um charme dos livros antigos
Flores
prensadas e sonhos que tivemos, nossa impressão digital no tempo
O
primeiro momento em que nos conhecemos,
Quando
seus olhos encontraram os meus...
Lembro-me
dos verões de vinho Dandelion...
Então
isto aqui é pra vocês, pra todos os nossos amigos
Com
certeza nos encontraremos novamente
Não
fiquem muito tempo longe desta vez
Vamos
levantar um copo, talvez dois
E
estaremos pensando em vocês
Até
que nossos caminhos se cruzem novamente...
Quem
sabe da próxima vez...
Blackmore's Night |
9 comentários:
Perdão pela minha ignorância. Mas jamais ouvi falar de Richie Blackmore ou Candice Night. Do repertório deles menos ainda.
Assim como a Candice também gosto de história medieval, renascença e castelos. Filosofia não.
A história da dupla daria um folhetim do Manoel Carlos, no horário nobre.
Acessei o link https://www.youtube.com/watch?v=MDmAuYKYFLo e achei a Candice bem bonitinha.
Estou viajando, por isso meu acesso ao blog estará limitado nesta semana.
A maioria dos roqueiros conhece Ritchie Blackmore, que por mero acaso aniversaria junto com minha esposa Mary (14 de abril).
Por ter sido um dos ídolos dos anos 70 é que muitos não aceitaram a radical alteração de rumo que ele deu à sua vida quando resolveu assumir seu romance com Candice. Uma mera aritmética mostra que eles foram morar juntos quando ele tinha 49 anos e ela apenas 23. Teria sido uma decisão correta? Trocou plateias ululantes de mais de uma centena de milhares de fãs por pequenos palcos em lugares de sonho e uma vidinha legal num castelo. Nos shows, ele a deixa tomar o lugar central no palco e fica ali, meio no fundo, dedilhando sua guitarra/violão e eventualmente sendo permitido executar alguns dos longos solos que o fizeram famoso.
Quase não sorri, mas dizem que é feliz. Toca cerca de 6 horas por dia, como se o violão e a guitarra fizessem parte de seu corpo. A idade já aparece nas fotos e filmes mais recentes, mas Candice ainda resiste, afinal ainda tem 43 anos e deve se tratar muito bem.
Quem tiver curiosidade, entre no link do concerto em York, o mais recente. A qualidade de imagem e de som mesmo no YouTube é boa (escolhendo HD nas opções de imagem)) e pode-se ter uma boa ideia de qual é o som da banda.
Não, Dandelion Wine não é representativo do repertório.
Abraços
Freddy
Poia é, caro Freddy, não sou roqueiro por isso minha ignorância é muito grande neste particular... e em outros também, admito (rsrsrs).
Meu rock, via filhos, iniciou e acabou com Supertramp, Dire Straits e Pink Floyd.
Podem rir, eu mereço!
Não sou roqueira mas conheço Blackmore's_Nigh através de pessoas ligadas a religião antiga e esotéricas. O CD deles fazia parte da trilha das minhas viagens de carro. Lembro que no início dos anos 2000, os fãs brasileiros precisavam importar os Cd's da banda.
Mudando de assunto, sem sair do post, estive conversando aqui em casa a respeito do assunto em pauta, antes da postagem.
Pessoas que entram e saem das nossas vidas, deixando e levando lembranças. Comparo a vida a um trem, onde pessoas entram em uma estação e pouco tempo depois, mudam de vagão ou simplesmente, desembarcam.
À propósito, do repertório deles, a minha preferida é Home again.
3 grandes ícones do rock.
Pink Floyd é a expressão máxima do período, eu considero particularmente superior aos Beatles no quesito importância musical, mas é uma opinião pessoal, portanto sujeita a críticas.
Dire Straits foi outra banda de enorme expressão artística. Mark Knopfler é até hoje considerado (junto com Ritchie Blackmore e mais uns 10) como um dos mais importantes guitarristas da era rock. Mixa rock comum com progressivo e o "Brothers in Arms" foi um dos discos mais vendidos na história.
Supertramp foi um supergrupo dos anos 70. Eu tive a honra de assisti-los no Olympiahalle em Munique em 1977 e eles têm uma coleção de hits nas costas.
Portanto o "pouco" que você conhece de rock é de grande qualidade, podendo portanto opinar sobre os demais.
Grande abraço
Freddy
Boa lembrança, Ana Maria. Home Again fala do sentimento de júbilo quando, depois de um tempo fora, a gente volta pra casa. É uma coisa muito forte e presente na vida de músicos em turnê.
Muita gente me relata esse sentimento depois de uma viagem apenas um pouco mais longa, mesmo que seja de férias!
Abraços
Freddy
Gosto de "perpetuar" sentimentos bons mas também gosto de conhecer o que um dia foi ou ainda é bom. Mesmo que para muitos não caia da mesma forma, ré sempre bom conhecer...
Por isso gosto muito desse blog. O tema abordado por Freddy é bem interessante pois ele dá as respostas que simplesmente nunca existiram. Porque perdemos contato? porque nada é mais como antes? Simplesmente porque não existe um porquê.
A vida é doce, maravilhosa (urrun!) vamos vivendo um dia de cada vez, aproveitando as ondas, os ventos, os sorvetes de doce de leite, o beijinho no canto da boca. Carpe Diem!
O filme Encontros e Desencontros demonstra com muita sensibilidade esse tipo de encontro do Richie, e os sentimentos desencadeados. Já assisti umas 5 vezes !
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