27 de agosto de 2014

O carteiro, as cartas e nós




Por
Alessandra Tappes








Quem nunca teve a visita esperada de um carteiro? A inesperada também?

Eu tive um carteiro na vida. Um carteiro que foi responsável por todas as cartas mais importantes que já tive. Seu Rocha. Aquele sotaque dizia que era do nordeste. Seus cabelos brancos entregavam que logo seria substituído. A simpatia era única e pitoresca e bem presente toda vez que entregava animado as minhas cartas.

Ele apontava esquina da Rua Alexandrino da Silveira Bueno, do velho Cambuci, balançando as cartas em mãos e quando me via na janela abria um sorriso que logo me dizia que tinha carta pra mim.

Aquele sinal de Seu Rocha fazia com que eu “voasse” do 3º andar pro térreo em frações de segundos. Ele tinha em suas mãos algo q era meu, só meu. Ele tinha um tesouro que eu guardo há 7 chaves pelo menos há 30 anos...

Abria com cuidado pra não perder nenhuma palavra que pudesse escapulir ou tentar fugir do conteúdo do envelope. Não eram notícias sobre o tempo, correspondências bancárias ou malas diretas de propagandas que chegavam. Seu Rocha me trazia cartas.

Mas não eram cartas de amor e nem simplesmente cartas. Eram as cartas. As tão esperadas cartas.  Esperadas por mim claro e também por uma legião de “ amigas-colegas” que adoravam lê-las. Eu ficava toda feliz, pois só eu recebia as cartas. Embora dividisse a leitura e a alegria com as meninas, não dava pra dividir a amizade ali contida.

Lembro que seu Rocha entrou na minha vida em meados de 1988. Tinha 17 anos. Ela já era Seu Rocha. Seu Rocha viu uma amizade nascer. Viu minha amizade por correspondência tomar cor, ter cheiro, ter conteúdo, por uns 10, 15 anos, creio eu.

O destino das cartas era o meu, claro. São Paulo. Quem as remetia era ele. Vitor Hugo. Um amigo, colega de colégio, de perua escolar nos anos 70, em plena Porto Alegre. Íamos de perua para mesma escola. Nada mais que isso. Eu tinha 9 anos, ele também até 20 de outubro. Depois desse dia se tornava “mais velho” do que eu. Era assim que ele dizia.

Em dezembro de 1983 quando Queen lançava um de seus maiores sucessos “Radio Ga Ga”, esbarramos pela primeira vez depois da minha mudança pra São Paulo em 1980. Mas em dezembro de 1986 foi que realmente conversamos pela primeira vez, nos conhecemos. Tínhamos amigas em comum. Tinha uma praça no meio, um teatro ao vivo acontecendo naquela noite de verão e a amiga em comum me apresentando a todos os seus amigos como a “amiga de São Paulo que veio passar as férias aqui”. Eu me sentia um bicho. Era tímida que só. Isso fazia minhas bochechas pegarem fogo toda vez que Laudi me apresentasse dessa forma.

E assim cheguei ao Vitor, “lembra dele? Irmã da Daiane, que mora ali na frente do mercado, na rua da praça, aquela ali, a Candido José de Godoy (claro q ela não sabia nem o nome certo e número da casa e detalhe: quase todas as ruas principais davam na praça...)”  e seguia a via sacra da Laudi e Aline me apresentando aos amigos de “infância” do Parque dos Maias.

Gravei na mente aquele momento único. Do reencontro e do lançamento. Toda vez que ouço a canção, me vem à lembrança daquela maravilhosa época e do encontro inusitado.

De malas prontas e endereços anotados, me despedia de Porto Alegre diferente.  Aquelas férias mudaram minha vida pra sempre. Ali começava uma amizade que garantiu o emprego de seu Rocha pelos 10 anos seguintes, pelo menos. E as mais doces recordações que carrego em minha vida.

O remetente das cartas.

Vitor Hugo. Vitor Hugo Fernandes Dandi. Carinhosamente chamado por mim de Vitinho.

Chinelos arrastando pelo chão. Cabelos ondulados e compridos, (tinha cabelos naquela época!) bochechas gordas, óculos na face, mas um dom inesperado para um garoto de sua idade. A escrita. Respondia as minhas cartas com tamanha vida que eu chegava a ouvir seu espirro quando ele descrevia em cartas seu resfriado. Sentia o frio que ele descrevia nas linhas a lápis e as pressas a caminho da faculdade. Sentia o cheiro do mate que tomava ao fim da tarde na companhia de seu Salvador, seu pai.

Vitor começou no mundo das cartas aos 17 anos e eu aos 16.

Foram 15 anos de correspondências trocadas, somadas em torno de 150 cartas. Claro que bem mais minhas do que dele. Mas pra um guri 50 cartas foi um numero inigualável, imbatível, digamos que um recorde insuperável.
Entre uma carta e outra, livros de presente, a maioria compradas em sebo. Eu levei a sério o conselho dado por Helene Hanff no seu livro “84 Charing Cross Road Nunca te vi, sempre te amei” cartões postais, cartões de aniversário, Natal, telegramas surpresas, trufas de chocolates (por sedex é claro!) tudo aquilo que o correio oferecia, trocávamos. O telefone entrou no meio tempos depois, acho que uns 2 anos depois.
Era caro, usava pela empresa, vinha descontado em folha os poucos minutos de alegria que dividíamos. Em casa podíamos nos falar nos sábados a noite, pois o interurbano era mais barato e depois das 21 hs. Sem falar que minha mãe ficava sempre em volta garantindo que não estávamos planejando uma fuga...   
Dividíamos letras. E juntas faziam um sucesso tremendo. Mais que cartas líamos. Entre os traçados, eu lia e mandava meus livros prediletos. Papilon  e Banco  de Henri Charrière (o livro que foi considerado seu segmento) um dos melhores livro q eu já li, inclusive estou relendo, Nunca te Vi eSempre te AmeiFeliz Ano velho de Marcelo Rubens Paiva O  menino do óculos de aro de metal, o alquimistaDiário de Dany e Diário de Ana Maria de Michel Quoist (comprei recentemente para meu filho e todo adolescente deveria ler) entre outros livros e o meu diário...que segundo sua avó Dona Marfisa “ andava  por todos os cantos, com o livro embaixo do braço, feito Bíblia” era assim que ela me descrevia quando eu ligava perguntado se Vitor estava em casa....
Um trecho de uma das cartas de Vitor:



As cartas não foram substituídas por emails não. Elas não foram substituídas. Não tinha nada que as substituíssem. Nada mesmo. Nem por outras cartas. Elas tiveram seu tempo.

Nos dias de hoje, com essa tal de inclusão digital, raro a pessoa que não tenha um celular, uma conta de email ou facebook. Se Saddam Russein e Osama Bin Laden fossem vivos, certamente teriam facebook.

Mas mesmo com tanta facilidade ofertada nas pontas dos dedos, não usamos nada que venha substituir a façanha das escritas.

Tenho cartas que são só minhas. Tenho marcas. Mas não tenho cicatrizes. Tenho história a contar. Tenho música, tenho lembranças vivas dentro de mim e escritas. Tenho o doce sabor da uma amizade infantil que preencheu meus dias por muito tempo. E sei que não são só minhas, as lembranças. Mas as cartas são...

Queen – Radio Ga Ga

22 comentários:

Jorge Carrano disse...

Não sei se você já assistiu, cara Alessandra, ao filme "Cartas para Julieta", filme romântico, de enredo interessante e belas imagens
da Itália.
O Victor personagem do filme, não se parece com o Vitor de seu post.

Jorge Carrano disse...

E tem a música "Mensagem", que minha mãe gostava de cantar, enquanto fazia a comida ou passava ferro nas roupas, que tem versos muito bem elaborados:
"Quando o carteiro chegou
E o meu nome gritou
Com uma carta na mão
Ante surpresa tão rude
Nem sei como pude chegar ao portão
................................
................................
Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: "será de alegria, será de tristeza?"
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais"

Jorge Carrano disse...

Alessandra,
Ao contrário do Seu Rocha, o carteiro da região onde morava o Vitor era desatento, desidioso. Onde já se viu perder cartas e/ou entrega-las em endereços errados.
Outra observação que faço é que o Vitor inaugurou, há anos, o método twitter de escrever: Alê e Rodô.

Alessandra Tappes disse...

Bom dia Jorge!

Vi o filme sim, bem "bonitinho" ele. Mas realmente, o Victor do filme é o herói da menina, ao passo que o Vitor do post era meu amigo.

É claro que eu quando eu via o seu Rocha, sempre vinha em mente a música que sua mãe cantava. Olha a música novamente entrando na vida da gente??? Ela liga mundos sem saber de nada! Sua mãe cantava, eu cantava, o rádio tocava...enfim...

Mas tinha outra que eu costumava cantar de Chico César " A primeira vista". Ela tem um trecho assim:

" ... Quando chegou carta, abri
Quando ouvi Prince, dancei
Quando o olho brilhou, entendi
Quando criei asas, voei..."

Quanto ao carteiro dele, foram algumas cartas sim perdidas. O pior é que ele queria que eu reescrevesse cada vírgula novamente. Naquela época era tudo a mão, nem tinha como. Por esse motivo, volta e meia ele brincava que mais um carteiro seria trocado se não chegasse as minhas cartas.

O bom disso é que sempre tínhamos assunto para que pudessem se tornar cartas.

Ana Maria disse...

Sim. Também dei trabalho para o carteiro. Foram inúmeros missivistas e uma infinidade de cartas.
Natural visto que não havia internet e os telefonemas eram caros demais.Ainda tenho uma amiga com quem me comunico via Correios. Ela não aderiu a tecnologia e assim trocamos cartas que cada vez rareiam mais.
Quando tinha 12 anos, um sargento conhecido de meu pai,pediu autorização para se corresponder comigo e desta forma, ter contato com o Brasil. Era um sargento nordestino, de origem humilde, que confessou não ter sequer um parente alfabetizado. Ele foi destacado para Suez e trocamos cartas por 4 anos.
Desta forma acumulei muitas páginas, bilhetes e cartões, recebidos dos meus alunos da quarta série, de colegas de serviços, de amores e paqueras, e dos muitos amigos que angariei pelas minhas andanças por este país.
Na década de 90, atravessando problemas de saúde, resolvi me desfazer da papelada e incinerei quilos de lembranças na churrasqueira da casa da minha irmã. Minha sobrinha mais nova, muito prática e objetiva, me disse que se eu não me desfizesse de tanta "tranqueira", iria dar trabalho pra família pra quem aquelas lembranças não teriam a mesma importância.
Não me arrependo. Enquanto eu me lembrar, as recordações estarão comigo.

Jorge Carrano disse...

Ana Maria,
Lembro daquele sargento. Quando ele retornou de Suez presenteou a família com um tapete, não foi?
Lembro do nome dele, mas não declinarei pois não vem ao caso.
Recebi algumas cartas suas no período em que morei em São Paulo, principalmente na fase de Ribeirão Preto. Tenho-as guardadas.
Embora já tenha iniciado o processo de queima de papeis antigos, eis que meus filhos também não querem ter o trabalho futuramente, algumas coisas conservo com carinho, como os desenhos feitos pelos meninos e que me eram dados nos dias dos pais e aniversários, e as cartas das pessoas que estimo muito.

Riva disse...

Não, as cartas não me marcaram assim como com vocês.

Mas lembro perfeitamente a minha ansiedade esperando o carteiro chegar. Isso porque tive um período na minha vida, já louco por aviação, em que descobria (não sei como) endereços dos fabricantes de aviões pelo mundo, e escrevia para eles, em inglês, pedindo fotografias e releases dos produtos fabricados. Eu devia ter uns 11 ou 12 anos.

Vocês hão de perguntar ...mas já escrevia em inglês com essa idade ? Sim, rsrsrs. Aprendia inglês com uma inglesa que morava perto da nossa casa, e que dava aulas particulares, tinha o inglês do Ginásio (fraco demais), e eu vivia com um dicionário buscando novas palavras.

Lembrei-me agora, escrevendo, de como conseguia os tais endereços dos fabricantes de avião : no meu colégio, tinha alguns doidos por aviação, que tinham um caderno com dezenas e dezenas de endereços catalogados. Um deles, o Marco Aurélio, hoje é Brigadeiro !

Mas voltando ao carteiro : a chegada dele em frente ao meu portão, e eu lá em cima do muro, estendendo a mão para as cartas que chegavam ....era a glória ! era o registro de que os caras deram importância à minha carta, e mandavam minhas fotografias, que eu louco levava para a escola pra mostrar para os amigos.

Houve mais algumas troca de cartas, com Jerry Garcia do Greatful Dead, com amizades que fiz nos EUA, mas poucas. Logo logo parti para outras prioridades, digamos assim.

Ana Maria disse...

Foi sim, Jorge. Um tapete do Oriente médio, que devia valer um bom dinheiro por aqui. Mamãe fez dele um quadro que por anos enfeitou a parede de nosso apartamento. Trouxe também um belo corte de tecido brocado que, acho, vc trocou na loja de um amigo, por um corte mais leve para nosso clima.
Também guardo uns poucos bilhetinhos dos sobrinhos, e só.
Ah, Riva. Também escrevíamos para os EUA, mas para estúdios de cinema, pedindo fotos autografadas de nossos ídolos. Não falava inglês, mas um amigo do Jorge (Marcos), nosso vizinho, redigia as cartas.
Lembra do Marcos que morava na entrada 69 da Feliciano Sodré, Jorge?

Freddy disse...

As cartas, escritas a mão, tinham seu charme. O papel, a caneta, o envelope, o selo, o passeio até a agência de correios, a espera e finalmente a resposta! Permitam-me, no entanto, dizer que no mundo atual a gente vivencia situações parecidas. Um e-mail contendo memórias ou perguntas ou relatos, para os quais aguardamos ansiosamente uma resposta de nossos pares. Quantos e-mails já troquei sobre fotografia, comentando aspectos técnicos e trocando conhecimentos com meu cunhado Felipe. A emoção é a mesma da espera do carteiro, ele apenas se torna virtual.

Posso estender o sentimento ao que nos acompanha quando escrevemos um blog. Apesar de ser algo diferente em proposta e público, não deixa de ser excitante quando nosso tema suscita debate, quando a gente rebate uma opinião e espera a réplica, a tréplica... Há uma sensação de vazio quando o post dá pneu (0 comentário), dando a impressão de que o que escrevemos não interessou a ninguém. Impressão errônea, já sabemos, pois que muita gente consulta, lê, se interessa, mas não posta fisicamente nada na área adequada.

Mesmo no famigerado Facebook a coisa se repete. Você posta algo, seja uma mensagem, uma foto, um link de notícia ou música, e espera ansiosamente pelas curtidas, pelos comentários, pelos debates quando o assunto é polêmico.

Em resumo, continuamos a escrever cartas (usando teclas ou esfregando dedo) e a sensação da chegada do carteiro continua até hoje. Só muda a velocidade com que chegam as respostas e o fato, fruto de perdas inevitáveis que o progresso traz, de que não há mais um "Seu Rocha" para nos entregar em mãos a tão esperada correspondência.
Abraço
Freddy

Freddy disse...

Relembrando o passado, assim como Riva, eu também escrevi bastante para fabricantes de aviões e espaçonaves para receber itens que hoje a gente consegue com um ou dois cliques de mouse... Eu já esperei meses por uma foto da NASA (ou da Boeing, da Northrop ou de outras) que hoje se encontra às centenas em bancos de imagens do Google, com ou sem artigos anexados com tudo o que você imagina em termos de informação sobre o item consultado. Como as coisas mudaram...

Eu gostava de escrever cartas, Na adolescência pratiquei pouco, mas enquanto na Europa, dadas as dificuldades existentes na época em termos de telefonia (principalmente preço, já existia DDI), correspondi-me amiúde com família e amigos no Brasil, com longos relatos acompanhados de fotos sobre nosso cotidiano em Munique e nossas viagens pelos países vizinhos.

Onde estão elas hoje? O descarte, o desapego que devemos exercer quando o espaço se torna exíguo, fez-me vivenciar na carne o quanto dói jogar lembranças fora. É claro que elas ficam na memória, mas pode ser que um dia fossem o link necessário para nos lembrarmos de fatos passados e esquecidos. Muito mais que cartas, joguei fora fotos. Milhares delas.

A justificativa parece ser a mesma para todos: nossos pares e descendentes dizem que, quando nos formos em definitivo, será tudo um lixo só que não interessa a mais ninguém, portanto fazemos um bem se nos descartamos de tudo antes.

Fica, contudo, um sentimento esquisito que ferve lá dentro de mim, difícil de entender ou aceitar. Claro, objetivamente tudo se explica (desapego parece ser a palavra da moda). Mas lá dentro...
=8-/
Freddy

Riva disse...

Só registrar que a Alessandra arrasa em sensibilidade, em descrever sua sensibilidade .... um exemplo ?

"Chinelos arrastando pelo chão. Cabelos ondulados e compridos, (tinha cabelos naquela época!) bochechas gordas, óculos na face, mas um dom inesperado para um garoto de sua idade. A escrita. Respondia as minhas cartas com tamanha vida que eu chegava a ouvir seu espirro quando ele descrevia em cartas seu resfriado. Sentia o frio que ele descrevia nas linhas a lápis e as pressas a caminho da faculdade. Sentia o cheiro do mate que tomava ao fim da tarde na companhia de seu Salvador, seu pai."

Sensacional, demais ... fui ali me enforcar ...volto depois !

Freddy disse...

Desculpem-me, eu sou bastante limitado em literatura, mas mesmo assim me arrisco a palpites.
O estilo de Alessandra é bastante peculiar. Tem momentos que eu costumo classificar de poesia em prosa. É bacana contrastá-lo com outros modos de expressão, como o meu próprio, bastante cartesiano e por demais prolixo.
É mais um ponto a favor deste blog, que em aceitando a colaboração de diversas pessoas, permite que nos deleitemos com uma variedade entusiasmante de estilos - e temas.

Abraços
Freddy

Alessandra Tappes disse...

Bom dia a todos!

Como o post era "tema livre", acabei mais uma vez fazendo desse espaço o meu divã e transformando em post um das minhas muitas fases da adolescência: a amizade.

É bem difícil arrancar elogios dessa forma, pois o sentimento revelado nas linhas é bem pessoal. Mas fico extremamente contente quando consigo repassar um pouco do sentido real da "coisa".

Realmente vocês enchem bem a minha bolinha e isso é muito bom mesmo!

Ainda bem que a prof Raquel não se manifesta mais (?) pois com toda certeza, pegaria no meu pé.


Unknown disse...

Pois é, a Alessandra (Alê), que conheço deste piá, pois suas cartas fizeram parte da minha vida, sempre teve o que chamo de "dom da caneta". Sua escrita, em suas cartas a mim endereçadas, eram de pura sensibilidade mesmo, conseguia colocar no papel sentidos e sentimentos que descreviam nossa relação de amizade. Lembro que construímos nossa amizade por intermédio de nossos carteiros.
Quanto ao meu carteiro, creio que não era desleixo, hoje entendo que ele podia estar sobrecarregado de trabalho, por conta de tantas cartas vindas do Cambuci.

Jorge Carrano disse...

Obrigado, Vitor, pela visita virtual. E por dar o testemunho pessoal sobre a sensibilidade da Alessandra e suas qualidades literárias, já ressaltadas neste blog.
Apareça se e quando queira.

Riva disse...

Continuo pendurado, balançando na fôrca, mas o pulso ainda pulsa (arnaldo antunes) rsrsrs

Esse BLOG é notável !!

Riva disse...

Então, tentando não comentar mais ..... essa geração dos nossos filhos e netos tem essa emoção na troca de correspondência, como nós colocamos aqui no blog ?

É nítida a emoção contida na escrita de todos nós .......

Alessandra Tappes disse...

Olá Riva.

Respondendo a sua pergunta: Não! não acredito que a geração dos nossos filhos e netos saibam o gosto dessa emoção. Já sabem vocês que meu filho tem 14 anos e qual foi a sua surpresa ao escrever pela PRIMEIRA vez na vida um Cartão de Postal aos seus parentes mais próximos assim que desembarcamos no RJ? Maior ainda quando ele mandou Cartão de Natal aos seus.

Mas a surpresa foi bem momentânea. Como não recebeu uma correspondência em troca, nada mais o motivou a escrever.

No caso dele, as respostas aos cartões enviados foram feitos por telefone.

Freddy comentou a respeito disso. De uma forma ou outra, trocamos correspondências por emails,sms, Face... esses doces momentos foram substituídos sim mas continuam trazendo alegrias, surpresas, saudades e etc e etc...só que de forma rápida.

Isso, cartas, postais, telegramas, vai sumir com o tempo, se é que já não sumiu.

Ai meu Deus, estou virando peça de museu...

Ah! outro detalhe bem importante: hoje em dia o jovem mal lê, tem condição alguma de escrever?



JJ disse...

Gostei muito do texto da Alessandra, e da conversa que iniciou. As cartas fazem também parte da minha vida, tanto nas que troquei com meu pai, como com um casal americano (ele, aos 91 e ela aos 89 anos) que conheci na Europa. Embora já existisse internet, para eles era um animal indomável. Guardo com carinho essas cartas, trocadas durante alguns anos, até que foram para o andar de cima.

Vale comentar, ainda, que devemos tomar cuidado para não ficar olhando apenas para trás. O tempo não para, como dizia o Cazuza, e também não volta. Se não fosse essa tecnologia do blog, não teria havido esta conversa....

PS: JJ é como minha tia Ana Maria me chama..rs rs rs

Jorge Carrano disse...

Também conservo (like treasure) suas cartas, como as do Rick, da Ana e do Castelar.
Noutro dia, pelo motivo sabido, fui aos implacáveis arquivos para reler algumas destas missivas.

Alessandra Tappes disse...

Li uma certa vez que:

"Escrever é um ato de semear.
Semear ideias. Ideias que muitas vezes nos afligem e assustam.
E delas nos livramos ao escrever, como se afugentássemos um mau espírito.

Mas escrever é também semear ideias e sentimentos que nos são caros. Nobres.

Sobretudo a ESPERANÇA, nesse mundo tão cinza...."

E é exatamente assim que vejo.
O autor das palavras citadas acima é JJ (como ele mesmo assina no comentário..rsrs) em seu livro "Sombras na Sala".

Que mais quero eu hoje??? Nem ligo para os 8 graus que faz agora.

Freddy disse...

Relendo, meio cansado mas com o interesse aguçado, comentários anteriores, destaco a observação de JJ de que sem a tecnologia de blogs essa conversa não seria possível.

Sou, desde criança, um fã incondicional do futuro. Haja vista meu grande interesse em Ficção Científica. Por isso talvez tenha mais facilidade em deixar o passado quieto e aceitar o progresso tecnológico, percebendo no entanto com pesar que não é acompanhado pelo desenvolvimento social. Isso não vai acabar bem...

Mas gostaria de fazer uma quase que piada a respeito da surpresa que João Danillo teve ao escrever um postal. Deve ter sido a mesma de quando tive de escrever textos esfregando dedo numa tela de smartphone!

Surpresa na direção do passado, surpresa na direção do futuro.
<:o)
Freddy