7 de agosto de 2014

As canções que fizeram pra mim - parte II




Por
Alessandra Tappes









Momento Rock

Mas não tão pesado assim. Com 17 anos fui trabalhar fora. Eu, toda tímida, desajeitada, fui parar numa revenda de moto em São Paulo. Não conhecia o gosto da calça jeans no corpo. Usava tênis apenas para educação física, a forma como nossa mãe nos educou não se enquadrava nem tênis, nem jeans, muito menos o desajeitado, largado.

Enquanto minhas colegas descobriam o brilho labial em formato de morango, meu olho era desenhado com delineado como se fosse à coisa mais natural do mundo! E lá fui eu parar num mundo totalmente masculino.

Aos poucos, fui mudando e moldando, conhecendo couro, botas mais grosseiras, capacete. Eu sabia vender. Só isso. Mesmo tímida, maquiada a moda dos anos 60, virei vendedora numa importadora da Yamaha e não tardou para ser convidada a trabalhar na 2º maior revenda da Honda em SP. 

Aos 19 anos fui apresentada - digamos assim – ao som mais próximo dos motores  das motos. Uma mistura do novo com o tradicional: Credence Clearwater Revival, Ozark Mountain Daredevils, vangelis, Mood Blues, Supertramp, Led Zepelin, Rush, Purple, U2, Yes, Metálica. Bons tempos que as lembranças me trazem agora.

Jon and Vagelis - I hear you know
https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/147a6befc6aad5fa?projector=1

Moody Blues - Talking Out of Turn
https://www.youtube.com/watch?v=nCYC5DXnGMA



Momento Antena 1

Tive que parar de trabalhar. O sonho de minha mãe era filhos médicos, doutores, advogados. Enfim. Tive que me dedicar aos estudos e muito frustrada, interrompi meu mundo de roncos e Rock and Roll.

Com a cabeça mergulhada nos estudos (nem tanto assim) tentei o que minha mãe tanto quis. Mas quem experimenta o vento no rosto em cima de uma moto, não creio que esqueça assim tão rápido a sensação de liberdade. 

Comecei a trabalhar com 10 anos, voltar a viver sobre a dependência financeira de meus pais, abrindo mão dos passeios quinzenais que fazíamos em grupos pela serra, litoral e estradas de São Paulo, dos amigos, não era exatamente o que eu queria. Mas a educação, respeito pelos meus pais falava mais alto e assim fui me dedicar ao sonho de um futuro melhor pra mim (era assim que eles tentavam me convencer) vendedora não era futuro, ainda mais vendedora de motos. 

Então, de livro aberto, com a mente bem longe e de rádio ligado, começou a fase clean em minha vida. Mas nem tanto assim. Sou muito comedida. Gosto de tudo ao ponto: ao ponto do meu bem estar e sossego.

Falar de antena 1 e citar apenas ½ dúzia de clássicos internacionais é bem incoerente. Antena 1 foi o marco zero da minha juventude. Embalou relacionamentos, viagens familiares, bailinhos de fim de semana. Citar 100 músicas apresentadas pela Radio Antena 1 seria inútil.

E junto a essa descoberta que aprendi a apreciar George Benson, Robert Plant, Lucio Dalla, Barbra Streisand, Lisa Standifield, Gazebo, Sara Brightman, Gloria Stefan, Spandau Ballet e tantas e tantas outras vozes maravilhosas.
Champaing -  How Bout Us
Spandau Ballet - True

Momento Cinema

Ah... Outro grande prazer misturado a boa música.
Comecei com uma mania boba de ver o filme e comprar a trilha sonora. Claro, dos filmes que tocavam minha alma. E, assim fiz com alguns filmes que eu considerava arrebatadores.

Alguns CDs tinha que entrar na fila, pois vinham de fora, outros nem tinha condições de comprar. O que baixamos hoje com a maior facilidade pela internet, há 20 anos era uma verdadeira maratona para poder ter em mãos o tão sonhado cd, LP, vinil...

Eu apreciava som por som, faixa por faixa. Ouvia a mesma música por diversas vezes. Eis aqui alguns clássicos (considerados por mim, claro), ressaltando mais uma vez que falo de música...
Perfume de Mulher
Charles Chaplin
Tomates Verdes Fritos
Cinema Paradiso
Era uma Vez na América
Os Reis do Mambo
História sem Fim
Comer, Rezar e Amar
O casamento de meu Melhor Amigo
Notting Hill
Carmen
Blade Runner, Caçador de Androides
Meu querido Intruso
Bonequinha de Luxo
Dr Givago
Cinema Paradiso
Charles Chaplin
Meu querido Intruso

Como diz o título, foram as canções que sempre que foram feitas pra mim. Todas as canções, trilhas citadas aqui, têm um porquê de existir nessa relação. Tem histórias comigo. Não citei as melhores canções do mundo nem as melhores bandas premiadas, muito menos os filmes que renderam milhões em bilheterias.

Citei meu mundo musical. Expus meus sentimentos que vivi através da música, mesmo que fragmentados aqui. Mas não deixo de reconhecer o valor do Rei do Baião Luiz Gonzaga, Inezita Barroso e Rolando Bondrin com suas músicas de raiz, os filmes de Mazzarope, o eterno corintiano (algo em comum.)

Não falei de Blues e de Soul, Do New Age, House, Tecnotronick, da Jovem Guarda, Samba, Choro, Pagode. Deixei alguns estilos pra trás sim. Mas tenho verdadeiro apreço por Janes Joplin, Charles Musselwhite, Soul II Soul.

Como também não poderia deixar de citar em Noel Rosa, Agnaldo Timóteo, Sérgio Sampaio, Raul Seixas, Louis Armstrong, Elvis Presley, Bob Dylan, Bee Gees, Elton John, Enia, Andre Riau, Inxs, Tears For Fears, Amadeo Mingui, Michael Jackson, Beatles, Edson Cordeiro, Clara Nunes, João Bosco, Flavio Venturini, UB 40, Carly Simon, Biafra, Azimuth, Kleiton e Kledir, Ivan Lins, Dante Ramon Ledesma, os Muripás, os Serranos...a lista não acaba mais.

Que a música faça melodia, letra e ritmo na vida de todos. Que bata junto ao coração descompassado de amor, que ferva nas veias junto ao sangue. Não precisa de razão para existir, apenas tenha música e se não tiver, faça uma.
“... Quero que você me faça um favor,
Já que a gente não vai mais se encontrar.
Cante uma canção que fale de amor,
Que seja bem fácil de se guardar...”
“... Hoje alguém pôs a rodar
Um disco de Gardel no apartamento junto ao meu
Que tristeza me deu
Era todo um passado lindo
A mocidade vindo na parede me dizer para eu sofrer...”
“... Não quero lhe falar
Meu grande amor
Das coisas que aprendi
Nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo...”
“... Hoje, eu ouço as canções que você fez pra mim
Não sei por que razão tudo mudou assim
Ficaram as canções e você não ficou...”


Nota do editor: a primeira parte do post está em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2014/08/as-cancoes-que-fizeram-pra-mim-parte-i.html

Sugiro a leitura para compreensão de todo o contexto.

19 comentários:

Riva disse...

Alessandra nos escreve uma ode à MÚSICA, quase anacreôntica (gostaram ?).

Eu fico impressionado como a música embala a vida das pessoas, deixando suas marcas bem profundas.

Certa vez encontrei um cara, numa roda de violão, que me disse ser frustrante para ele não ter música em sua vida, não saber tocar nenhum instrumento, que isso fazia com que ele tivesse poucos amigos e colegas. Eu não sei se tudo começa com nossos pais - desconfio que sim, começa.

Um dos meus 3 filhos não toca nenhum instrumento, e no entanto, é o mais impactado por música. Acorda e dorme com música em volta. Pega meu violão, e sem saber fazer acordes, tem uma impressionante batida bonita, indispensável para qualquer um que queira tocar esse instrumento. E no entanto, não toca .... vai entender ! E curte músicas de uma época em que nem pensava em existir.

É uma linguagem universal ...a única, não é ?

Jorge Carrano disse...

Olhem só eu me metendo a critico, mas não resisto à tentação de um pitaco.
Alessandra tem emoção à flor-da-pele, seu texto exprime suas verdades. Cria imagens e simbolismos como gente grande nas artes literárias. As associações de ideias são apropriadas.
Estou seguro que leria com vivo interesse, como leio os seus posts, crônicas, contos e até romances que viesse a escrever.
Acho que deveria trabalhar, burilar, esta vocação, porque talento não lhe falta.

Freddy disse...

Permitam-me repetir aqui comentário por mim feito quando este texto ainda era um tarja negra, portanto minha primeira impressão:

"Meio perdidos no texto foram citados dois filmes que eu adorei. Não sou fã de cinema, mas "História sem Fim" não dá pra esquecer. Idem "Dr. Jivago", o qual me surpreendi por ter gostado, já que minhas preferências são outras."

Fica patente minha dificuldade em compreender as emoções transmitidas no texto a ponto de poder comentá-las. Sou ruim de poesia, sou por demais cartesiano. Custo a entender as mensagens sutis, as referências subliminares. Como Carrano às vezes me critica (no bom sentido), preciso que os textos mais complicados venham com bula (rs rs).

<:o)
Freddy
PS: sim, temos de admitir que quando se trata de entender os sentimentos de mulheres, não há bula que dê jeito, nem que fosse do tamanho da finada enciclopédia BARSA!

Jorge Carrano disse...

Da mesma autora, neste mesmo blog, recomendo a leitura do post:
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2014/05/saudade-tem-jeito.html

Freddy disse...

Continuando a ser cartesiano, a crítica que fiz acima foi a mim mesmo, dado que os 2 posts da Alessandra foram ótimos. Tanto assim que consegui ler o segundo quando ainda era um tarja negra (à 1 da manhã do dia 5) por ter permanecido ligado na continuação da parte 1, que me havia prendido a atenção.
Abraços
Freddy

Freddy disse...

Eu mantinha contato por e-mail com um colega muito legal na Embratel, assuntos pessoais, do seguinte jeito: eu escrevia uma lauda inteira para expor um assunto. Ele me respondia com uma frase. E eu passava 2 horas tentando extrair os 32 significados que aquelas poucas palavras continham... Brabo!

Ter poder de síntese é uma arte, e eu decididamente não a domino!
=8-)
Freddy

Ana Maria disse...

1) Quando saí o post sobre música, do administrador do blog?

2) Acho que o blog precisa dar um tempo nos posts temáticos, porém, visto que estamos numa terapia em grupo, seria bom se relacionássemos os 10 melhores filmes que cada seguidor assistiu.

Jorge Carrano disse...

O administrador do blog se viu compelido a de fazer uma síntese do que seria o post, em comentário no anterior, por causa da equivocada interpretação do escopo do tema música.

Jorge Carrano disse...

Tem um "de" sobrando no comentário acima.
Quanto à sugestão da série sobre filmes, fica anotada para o futuro.
Todavia, sem o caráter de série, se você quiser fazer o seu texto elencando e, quem sabe, justificando as preferências, será muito bem-vindo e publicado.
Obrigado. Beijo.

Jorge Carrano disse...

Riva,
Estou começando a admitir a hipótese aventada pela Ana Maria (em off), de que a tal Professora Rachel não passa de um fake. Alguém que frequenta o blog aproveitou para tirar um sarro.
Onde ela anda? Não erramos mais nada? Estamos todos de parabéns pelos textos escorreitos?

Freddy disse...

Eu já dei dica de alguns filmes que gosto em comentário de post anterior e logo acima comentei mais um que pode ser que entrasse numa lista de filmes "infantis" (História sem Fim). Coloquei em aspas porque já li uma crítica, que aprovo, que afirma que apesar de ser formatado para crianças, para entendê-lo precisa ser adulto. E ganhou 5 estrelas no tal guia. Alguém que o viu concorda?
=8-)
Freddy

Freddy disse...

E fazendo um adendo, se eu fizer um post desses (sobre filmes) não ficará de fora a classe pornô, pois tem pelo menos um filme premiado, que foi "Império dos Sentidos", baseado em fato real. Não bastasse a comparação entre o famoso "Garganta Profunda" (que eu acho uma m...) e sua paródia brasileira, muito mais efetiva por ser levada na base da chanchada, que foi "A B... Profunda". Esse último eu não tenho em casa, mas vi no cinema e posso opinar.
Iiihh...
Cutuquei vespeiro...
<:o)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Cara Alessandra,
Você está na linha? Alô, alô!
Dá sinal de vida e me informa o que achou da edição. Foi possível publicar o texto integralmente. Por cautela ficaram excluídas as imagens.
Que tal o resultado?

Alessandra Tappes disse...

Olá meninos e meninas!


Também acho que a Prof Rachel é fake. Ela sumiu mesmo. Toda vez que coloco ou posto meus posts aqui, fico com receio que ela apareça e puxe minhas orelhas...mas...a espera é em vão...

O assunto, brincadeira sugerida por Ana Maria, sobre filmes é bom. Quando vemos os gostos alheios e deparamos com as mesmas situações, ficamos enternecidos, criando um laço maior ainda com o grupo.

Agora, dá pra ficar lisonjeada com os elogios aqui. Fazer uma pessoa cartesiana e bem crítica, uma outra pessoa de muito bom gosto musical e de ótima bagagem cultural, outra ainda famosa pelos seus pitacos e críticas afiadas sem falar no "SIR" blogger e a Prof Rachel, claro, fixarem sua atenção em textos saudosistas, com desfiles de sentimentos familiares e pessoais não é nada fácil para mim que não vivo da escrita, que não escrevo além do convite (exceto alguns textinhos em meu blog).

Acho sim Riva que a música é linguagem universal.
Tem uma frase de Platão que diz:

"A música é a essência da ordem. Eleva todas as almas para o que é bom, justo e belo, e deve ser para a alma o que para o corpo é a ginástica"

A música penetra diretamente em nossos centros nervosos e ordena de maneira rápida e imediata a divisão do tempo e do espaço, além de inspirar o gosto pelas virtudes.

A música é reconhecida por muitos pesquisadores como uma modalidade que desenvolve a mente humana, promove o equilíbrio, proporcionando um estado agradável de bem-estar, facilitando a concentração e o desenvolvimento do raciocínio, em especial em questões reflexivas voltadas para o pensamento.

Boa noite a todos!

Alessandra Tappes disse...

Caro Jorge... cheguei atrasada mas em tempo de lhe responder!!!

Ficou ótimo o texto sim. Cheio de erros mas enfim, está no ar!

Quanto as imagens não há problema algum. O importante é ver e ler o texto sem aquela bipolaridade aparente..

Aguardo ansiosa os próximos posts.

Mais uma vez, obrigada pelo convite.

Alessandra Tappes disse...

Jorge.

Quanto a sua sugestão de eu escrever mundo afora é por demais longe para mim. Os ensaios no seu blog me bastam, acredite. Fico realmente muito feliz com seus comentários sobre meus escritos e dos demais também.

Dê-me mais motivos, que lhe dou mais palavras juntinhas a ponto de se tornarem legíveis...

Bjs

Freddy disse...

Plagiando Riva: como é legal esse blog!

Eu tenho um personagem que aparece em alguns de meus escritos pessoais que se chama "Freud March, psicólogo de mesa de botequim".
É tão legal quando a gente pode se expor, fazer comentários, fingir-se de especialista e tentar analisar o comportamento dos amigos em torno da mesma mesa, numa boa. Trocando opiniões, eventualmente recebendo tapas e devolvendo beijos, dando beijos e recebendo tapas, ao sabor das discussões e ao final:
"- Garçom, a conta por favor!"
E todo mundo vai pra casa mais leve, feliz.

Abraços em todos os participantes, autores, comentaristas, meros leitores. Todos.
<:o)
Freddy

Riva disse...

Acho que a primeira pista para a falsidade existencial da Profª Rachel foi a ausência da crase naquela frase ... rsrsrs. Imperdoável para uma professora, aparentemente de Português, pelas ousadas observações que fez de todos nós.

Agora .... "Dê-me mais motivos, que lhe dou mais palavras juntinhas a ponto de se tornarem legíveis..." foi simplesmente sen-sa-ci-o-nal !!

Esse blog está cada vez mais cada vez ! Demais !

Freddy disse...

Voltando ao tema música, nota-se que Alessandra é bem eclética em termos de gosto. Mais ou menso como eu, só que eu tenho algumas resistências e isso me lembra um episódio lamentável que ocorreu numa longa excursão de ônibus pela finada Soletur, já faz bastante tempo.

É costume em longas excursões rodoviárias, para passar tempo, as pessoas se apresentarem no início. É um troço meio forçado porque tem gente tímida, essas coisas todas. O sujeito vai lá na frente e declina nome, onde nasceu, o que faz, pra que time torce, essas coisas. E lá fui eu e declarei o seguinte, depois de dizer o básico:
"- Eu também sou músico e gosto de clássico até o rock pesado, sem passar pelo samba nem pela bossa nova!"

Aí um sujeito lá atrás do ônibus ergueu a voz e retrucou:
"- Quem não gosta de samba bom sujeito não é!"

Pronto! Dali pra frente foi só rusgas e farpas, a viagem inteira!

Teve outra lamentável, envolvendo Agnaldo Timóteo. O guia, de uma maneira que hoje em dia não é mais prática em excursões, colocou uma fita do Agnaldo, entregue por uma pessoa da excursão. Ao final, minha filha pediu pra colocar uma dela. Era dance e rock. Na terceira música o guia já foi dizendo que ia tirar, porque não era bem aquilo, etc e tal.
Virei bicho, cara! Disse em alto e bom som pra todo mundo ouvir:
"- Meu caro, eu DETESTO Agnaldo Timóteo e ouvi sem reclamar quarenta e cinco minutos dele! Agora (e elevei mais ainda a voz) vocês VÃO escutar essa fita de minha filha e é TODA!"
Foi a última fita que rolou no ônibus, certo?
=8-) Freddy