Há muitos anos, quando meu pai vivia nos meios políticos,
entreouvi uma conversa dele com um político profissional, exercente de cargo eletivo no Estado do Rio de Janeiro
(antes da fusão).
À horas quantas meu
pai usou algumas expressões muito a seu gosto quando se referia a canalhas,
dizendo algo como “tanta gente boa, correta, morre estupidamente, já este biltre, este pulha, este crápula não morre”.
O interlocutor retorquiu apenas com um (dito popular?) “gente ruim não morre”.
Este dito, de uso corrente no passado, ficou martelando em
minha cabeça juvenil durante muito tempo. Ficava buscando, com meus botões, uma
explicação lógica para o comentário que ouvira: “gente ruim não morre”.
Então é bom ser ruim?
Já mais grandinho, estudante universitário, pensei (e penso até hoje) haver
entendido o significado meio filosófico contido na frase.
Com a morte brutal de Eduardo Campos, os noticiários
televisivos e as páginas dos jornais estão explorando ad nauseam as condições e
consequências do acidente, ouvindo especialistas em acidentes aéreos, amigos,
correligionários, parentes e políticos em geral, até mesmo adversários
partidários.
Houve, nos depoimentos sobre Eduardo Campos, uma quase
unanimidade quanto aos propósitos políticos do ex-candidato à presidência da
república.
Todos enalteceram seu compromisso por um
Brasil mais justo, espírito público, combatividade, e com ênfase, seu
futuro promissor.
Este diagnóstico relativo ao futuro promissor, foi lugar
comum nas declarações dos políticos, mesmo adversários, mesmo de Dilma
Rousseff.
Compreensível em se tratando de morte aos 49 anos de idade.
Duas coisas me ocorreram passado o impacto da notícia da
morte trágica de 7 pessoas em acidente aéreo. Em especial depois de ouvir as
falas das chamadas personalidades públicas sobre Eduardo Campos.
A primeira coisa que me ocorreu, e foi um processo natural,
foi a associação das mortes de Roberto Silveira, Fernando Ferrari e agora Eduardo
Campos.
Os três morreram muito jovens, os três em acidentes aéreos, e
dos três esperava-se que viessem a galgar os cargos mais elevados da República.
Bem, para quem não lembra, Roberto Silveira foi governador do
Estado do Rio e tinha ambições de chegar à presidência ou vice-presidência num
curto espaço de tempo. E trabalhava para isso (sou testemunha) com muita
habilidade política, carisma e disposição.
Fernando Ferrari, político gaúcho, com ótima liderança e brilho pessoal, independente da sigla
partidária, foi deputado estadual e federal, e chegou a se candidatar à
vice-presidência da república, tendo sua chapa sido derrotada pela de Jânio
Quadros e João Goulart (na época imbatível por causa do prestígio alcançado por
Jânio).
E agora Eduardo Campos, deputado federal, ministro de estado
e governador de seu Estado natal. Candidato a presidente, com poucas chances segundo
pesquisas, mas também baixa rejeição.
Num eventual segundo turno poderia vir a ser o fator de
vitória de uma das chapas líderes.
A segunda coisa que ficou clara para mim foi a questão da
frase “gente ruim não morre”.
Pesado e medido tudo que ouvi sobre Eduardo Campos, cheguei a
conclusão que ele era o candidato ideal e merecia a vitória para o bem do país,
desde que até os adversários enxergavam nele talento político e qualidades de
homem público. Além do tal futuro promissor.
Já notaram que depois da morte as pessoas têm seu perfil
extremamente melhorado, suas virtudes enaltecidas, seu caráter ressaltado, e
enfatizadas suas qualidades de filho, pai e esposo exemplar, dedicado e
amoroso?
Se o que atribuíram ao ex-candidato é verdade (e não tenho
porque duvidar e nem corroborar) perdi o MEU candidato e aquele que iria
recolocar o Brasil nos trilhos do crescimento econômico com igualdade social, melhor
distribuição de renda, ênfase na educação, saúde e segurança pública.
R.I.P
Nota do editor: para quem não sabe ou não lembra: http://www2.al.rs.gov.br/memorial/LinkClick.aspx?fileticket=0BrZz925cHc%3D&tabid=3454
7 comentários:
Eu não tenho ainda candidato, só sei em quem eu NÃO votarei (Dilma). Ainda não havia parado para aquilatar o currículo de cada um, mas o que me espantou no do finado Eduardo Campos é que, em sendo tão bom, porque não era bem posicionado nas pesquisas?
Mistérios da política...
=8-/
Freddy
Juro que não é implicância, caro Freddy, mas no meu modesto entender seu ponto de vista não se sustenta. Desde quando o melhor tem que liderar pesquisa e vencer o pleito?
Poderia dar o exemplo de Antônio Ermírio de Moraes, rejeitado pelos paulistas. Ele, um dos melhores e mais bem preparados administradores. Empresário respeitado pela qualificação e pela postura ética. Homem estudioso e que certamente faria um governo calcado no mérito de sua equipe e não na politicagem.
Mas o exemplo mais notório, e recente, foi a reprovação, pelo voto popular, da candidatura de José Serra, que teria sido muito, mas muito melhor do que Lula. Porque mais competente, mais qualificado, mais independente.
Serra também foi líder estudantil, foi exilado político, por conta do regime militar, enfrentou, como ministro da saúde, a forte e poderosa indústria farmacêutica, implantando na marra os medicamentos genéricos e quebrando patentes de medicamentos oncológicos.
Não era o candidato dos empresários e muito menos dos banqueiros, que não ganhariam tanto como estão ganhando nos governos do PT.
Conheci empresário do setor químico que votou em Lula (e hoje se arrepende amargamente) com receio de Serra, por sua independência e conhecimentos de de macro economia.
Mais preparado do que Lula e Dilma juntos, só não tem carisma. Não tem imagem popular.
Era disparado o melhor, não liderou pesquisa e nem foi eleito, em duas oportunidades.
Fernando Henrique Cardoso não moveu uma palha para apoiar o candidato de seu partido, porque Serra seria um melhor gestor do que ele. Ciuminho.
No último parágrafo vc, Carrano, tocou na palavra chave ...carisma. Serra não tem. Muitos não têm.
Eduardo Campos era carismático, ou seria, mas no nordeste. Teria que fazer uma baita campanha para conquistar o eleitorado.
Eu, no início dessas costuras todas, achava que ele vinha junto com o Aécio (que promete ser uma decepção).
Tudo mudou .... pra pior, eu acho. Hoje já tem mil especulações na web, inclusive de mais à frente, a viúva Renata compor com a Marina.
Também estou com uma leve sensação de perda com a morte dele.
Por que O Cara Lá de Cima não leva tanta gente ruim pra longe do nosso meio, dos nossos filhos e netos ?
Pois é, Riva. Por estas e outras é que desconfio dos critérios e opções do Cara.
Lamento a morte do Eduardo Campos e sua equipe, porém não tenho dúvidas quanto aos critérios do Arquiteto do Universo, também chamado de "O Cara".
Como poderemos ter certeza da trajetória dos políticos, citados no post, que morreram cedo?
Como exemplo posso citar o Governador Roberto Silveira e seu filho Jorge Roberto, prefeito de Niterói por 3 mandatos.
O segundo fez um excelente governo no primeiro período de gestão. Niterói foi remodelada e adquiriu uma enorme autoestima.
O que aconteceu no segundo mandato?
Quem nos garante que os falecidos prematuramente não trocariam os pés pelas mãos?
Estou assustada com algumas manifestações e comentários nas redes sociais. Pessoas que atacam o PT se dizem sem opção. Só mesmo Deus na causa! rs
Ana Maria,
Conheci bem o Roberto Silveira, governador, pai do Jorge, prefeito de Niterói.
O filho não chega a ser sequer um rascunho preliminar do que foi o pai, politicamente. O filho é um preguiçoso, inexpressivo.
O pai era um político na acepção da palavra.
Sem contar que graças as cortesias concedidas por Camilo Cola, eu consegui, diversas vezes, via Roberto Silveira, passagens para viajar para Cachoeiro, pela Viação Itapemirim.
Eram estreitas as ligações do governador com os estudantes.
Citarei, a guisa de exemplo, o apoio que ele nos deu, quando dirigentes da FESN ocupamos o Colégio Jairo Malafya, tido como "tubarão do ensino" como se dizia à época. Ele acabou por determinar a encampação do colégio.
Poderia decepcionar se galgasse cargos mais elevados na hierarquia executiva? Poderia, mas naquela época os políticos, de modo geral, eram de outras cepas.
Não creio, na verdade, que O Cara Lá de Cima interfira nesse processo. Seria muita falta de critério ....
Conheci bem o JRS. Tocava guitarra nos Corsários, na década de 60, e viajou comigo para os EUA, em 69. Tivemos uma "amizade" legal, mas depois trilhamos diferentes caminhos - engenharia eu, jornalismo ele, amizades diferentes, etc.
No 1º mandato ele cumpriu o que prometeu - fazer o básico por Niterói : ruas limpas e muito bem sinalizadas, e alguma melhoria no trânsito. Não dava pra fazer muito mais.
Não existia a violência que temos hoje.
Aí, no 2º mandato, descacetou tudo .... sem comentários ....
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