14 de setembro de 2022

Rezadeiras, parteiras, rábulas, ...

Sou do tempo em que muitos nascimentos ocorriam pelas mãos de experientes mulheres, conhecidas como parteiras.

Eu, por acaso,  vim ao mundo pelas mãos de uma delas, no caso minha avó materna, portuguesa de Trás-os-Montes, nascida no Distrito de Viseu, na cidade de Lamego.

Ela mesma mãe de 7 filhos, experiência não lhe faltava no assistir um ato de parir.

Atualmente até bombeiros militares são treinados para emergências. 

Mas as mulheres, ao que parece, agora preferem fazer uma cirurgia, com dia e hora marcados.

E as parturientes já sabem (se quiserem) o sexo do nascituro. Pelo menos no momento da vinda à luz. Mais tarde este gênero pode mudar oficialmente a vontade do freguês. Ou da freguesa.

Além das parteiras existiam as rezadeiras. De novo tive experiência quando acometido de impingem, uma infecção fúngica; fui  curado por uma delas, nossa vizinha que morava no Morro da Penha.

Lembro, se me não falha a já atribulada memória, que ela murmurava uma prece ao tempo em fazia com o polegar  direito o sinal da cruz por cima da infecção cutânea.

Nós morávamos nas fraldas do Morro da Penha, no qual residiam pessoas de bem, que eram humildes mas honestas. E trabalhadeiras, como nossa lavadeira, que tinha um filho, de nome Afonso, que cursava o primário comigo no Colégio Plínio Leite, particular, e com mensalidade bancada pela mãe.

Os rábulas eram pessoas letradas, sem formação universitária, que advogavam principalmente em cidades do interior (citados em obras de Jorge Amado, por exemplo), provisionados por autoridade ou órgão competente, que desfrutavam de respeito e tinham atuação efetiva.

Hoje a palavra tem conotação pejorativa, e serve para qualificar o advogado pilantra, desqualificado embora diplomado.

Hoje não existem rábulas "profissionais", mas existem os espertalhões, indignos de confiança, oportunistas, também chamados de "advogado de porta de cadeia"

Utilizada por verdureiros
Algumas atividades profissionais,  ambulantes,  de minha infância também desapareceram, tipo amolador de facas e tesouras, soldador de panelas, verdureiro que carregando uma cesta  de vime vendia alface, couve, cenoura e ovos, por exemplo), de porta em porta.

Havia, até, um fabricante de canecas, utilizando as latas do leite "Moça". Descartando o rótulo de papel, e polindo e desbastando a rebarba, colocavam alça e ela  se  transformava em peça útil, pincipalmente para o café de trabalhadores em obras de construção.

Se não em casa, em algum lugar tomei café em lata de leite "Moça", transformada em caneca.

Quem é jovem há mais tempo que eu, há de lembrar de donos de farmácias que nos faziam curativos e aplicavam injeções. Nós os chamávamos de farmacêuticos, mas atualmente nem os diplomados podem exercer estas atividades livremente nas farmácias.

E os médicos de família, que clinicavam em geral nos fundos das farmácias, e atendiam os avós, pais e netinhos, com o uso exclusivo de um estetoscópio e as pontas os dedos. Quem lembra?

No bairro onde passei a infância tinha duas farmácias, na Rua Silva Jardim, nas quais éramos atendidos por médicos (clínicos gerais) e tomávamos as injeções.

Em breve escreverei sobre os folguedos infantis e juvenis. É uma ameaça ...

4 comentários:

Jorge Carrano disse...


Ainda em tempos correntes, embora em escala menor, são utilizados medicamentos criados pela sabedoria popular em gerações pretéritas.

Muitos deles validados pela ciência, porque efetivamente algumas das ervas neles utilizadas têm um principio ativo eficaz.

Como exemplos o chá de quebra-pedra, mel com agrião e vários outros, tais como o xarope ao qual me acostumei desde de sempre, que contém guaco, agrião, folha de laranja-da-terra e outras segundo a disponibilidade e que na semana passada foi feito e oferecido por minha mulher, através de portador, ao médico que mora no segundo andar, que segundo o porteiro do prédio (o tal portador) andava tossindo muito.
Dias depois, gentilmente, o médico interfonou para agradecer e, curioso, quis saber o que continha porque foi muito eficiente.

Como os nossos ancestrais descobriam as virtudes medicinais de algumas plantas e minerais é coisa que não si explicar.

Sabem que anemia era curada através da colocação de pregos no feijão, porque o ferro é essencial para combater tal debilidade?

RIVA disse...

Eu creio que muito foi aprendido com os indígenas e escravos oriundos da Africa. Não deve ser muito difícil de descobrirmos a origem desses "medicamentos" com uma boa pesquisa na web.

Duas curiosidades :

1) Anda por aqui pela ex Rua Cel Moreira Cesar (atualmente execrado quando descobriram recentemente sua biografia, e mudaram o nome da rua para Ator Paulo Gustavo) um vendedor de Tring-Ling ou Tringuelingue, aquele pirulito que o vendedor agitava uma estranha ferramenta de percussão, isso nos anos 50 e 60 !

2) Aqui na Rua Tavares de Macedo, de vez em quando aparece o amolador de facas e tesouras, acredite, com o instrumento antigo, fazendo assovios e até música com a faca na roda, para atrair os clientes. Sensacional !

PS : assistindo o bom futebol da Europa da Champions. No momento um desconhecido time de Israel está ganhando o PSG rsrsrs

PS : vamos torcer muito hoje pelo ATM




Jorge Carrano disse...


Fui diretor de um laboratório farmacêutico da área de fitoterápicos.

De produtos denominados OTC (over-the-counter) que prescindem de receita médica para comercialização.

RIVA disse...

No momento não dá pra torcer contra o ATM. É um timaço, temos que reconhecer.

FLUi ali me enforcar !

Hoje tem estresse. Jogamos pela vitória e também contra o Daronco, que com certeza sabe sobre a quantidade de jogadores do FLU com 2 amarelos. Então se passarmos, nada como nos desfalcar para o jogo contra o ATM.

PS : que desastre a entrevista do Freixo na grobolixo (parafraseando as mensagens do Twitter). O cara foi reduzido pelos entrevistadores a subnitrato de pó de merda de cavalo manco de bandido do faroeste caboclo.