Graças a uma parceria com
meu caçula, já estou no terceiro – e último - volume da trilogia escrita por
Robert Harris, sobre Marco Tulio Cicero
(Marcus Tullius Cicero), cônsul,
escritor, filósofo, advogado e maior
orador de sua época, depois de um intervalo aguardando a edição deste terceiro
volume no Brasil.
Harris apoia seus
relatos numa verossímil narrativa, em forma de biografia, escrita por Marco Tulio Tiro, (Marcus Tullius Tiro) que durante 36 anos foi um leal e astuto secretário
particular de Cícero, convivendo com o jurista em seus momentos de glória e
também nos de desprestígio e sofrimento, como no exílio de seu antigo senhor.
Não pretendo contar
aqui a história do autor das “Catilinárias”, senão apenas falar do momento de
sua dúvida, então no exílio, quando poderia aceitar um aceno de Pompeu e
retornar a Roma e à vida pública ao preço de renunciar a alguns de seus princípios, e humilhar-se frente a Cesar.
Cicero combateu e
denunciou os poderosos Cesar, Pompeu e Crasso, do histórico triunvirato, quando descobriu seus planos de implantar uma ditadura.
O preço de apego aos
seus princípios democráticos tinha lhe custado o exílio, a pobreza e o sofrimento.
Eis o conflito de
pensamentos nas palavras de Cícero, reproduzidas por Tiro, quando recebeu de um
mensageiro a proposta de Pompeu:
“Que
utilidade tenho para minha família ou para meus princípios preso nesta pocilga
para o resto de minha vida? Ah, sem dúvida um dia eu poderia me tornar uma
espécie de exemplo notável a ser ensinado a alunos entediados: o homem que se
recusou a comprometer sua consciência.
Talvez,
depois que eu estiver morto possam até erigir uma estátua minha na parte de
trás da rostra. Mas eu não quero ser um
monumento. Minha habilidade é a arte de governar, e isso requer que eu esteja
vivo e em Roma.”
De sua parte Pompeu o
perdoaria e redimiria, mas Cícero, ele próprio, precisava convencer Cesar.
No texto acima as
reflexões antes de escrever a Cesar acenando um pedido de paz.
Notas:
1. rostra significa
tribuna. Na Roma antiga era uma plataforma alta, em madeira, utilizada para
discursos e pronunciamentos.
2. Tiro foi escravo de Cicero, mas foi libertado por este mais tarde.
4 comentários:
Cicero optou por escrever a Cesar, praticamente se humilhando.
Mas o fez por amor a família e paixão pela tribuna.
Essa paixão pela tribuna é que estraga tudo. Porque existe a paixão por realmente estar lá em benefício dos cidadãos, mas também existe essa paixão que despreza a continuidade das gerações futuras, a sustentabilidade. É aquela cultura do "agora é o meu, aqui e agora, e f.....quem vier depois de mim e todos que o acompanham".
Um exemplo "rasteiro", sem valor, mas verdadeiro, é a presidência do meu FLU, com seus seguidores e lenientes do Conselho Administrativo do clube. Uma nojeira total o que está ocorrendo dentro da gestão do clube. E isso tudo se estende a qualquer gestão municipal, estadual e federal.
E nós aqui, destruindo a nação de 2 em 2 anos ........ a sua e a minha geração, caro Blog Manager, não verá qualquer evolução nesse cenário. Isso é coisa pra talvez se resolver em 2.000 anos .... veja que vc está falando do Império Romano, que sabemos como terminou.
Sds Tetracolores.
Tiro, secretário de Cicero, para poder registrar as conversas e principalmente os discursos de seu senhor, criou um sistema taquigráfico, o primeiro de que se tem notícia, cujos sinais (alguns deles) são utilizados até hoje na escrita.
Exemplos? O símbolo "&" e abreviações como "etc" "i.e." e outras.
Muitos dos institutos romanos sobrevivem até hoje No caso do Brasil o "Direito Romano" é o alicerce de nosso arcabouço jurídico.
Palavras e locuções latinas ainda ponteiam em nosso vocabulário.
Muitíssimas de suas obras arquitetônicas (aquedutos, pontes, templos) são admiradas em várias partes da Europa.
O Império Romano foi um bem sucedido projeto de poder, de ampliação de fronteiras. Que harmonizou diferenças culturais, resultado de conquistas.
Nada sobrevive ao tempo por inteiro. Veja a Igreja Católica por exemplo. O poder que já teve, a influência no planeta, e o que o futuro lhe reserva.
Olha o Império Britânico começando a derreter, contra meu desejo, diga-se. Mas é o desejo de escoceses, irlandeses e até galeses.
Bem, de onde vem o nosso idioma? Lembra do "dialeto crioulo"? Do latim vulgar?
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