22 de agosto de 2015

Faixa de crepe para luto

Deixei de fumar em 1982. Fumava desde meus 21 anos, quando comecei a trabalhar. Está certo, admito, furtei uma meia dúzia de cigarros de meu pai, mas seja por remorso, seja porque eram muito fortes (Liberty), seja porque deixavam cheiro na boca, foram poucas vezes mesmo.

Então fumei durante 21 anos ininterruptamente (1961 a 1982). Tempo suficiente para me envenenar e revestir os pulmões com nicotina e alcatrão.

A decisão foi repentina e a colocação em prática menos dolorosa do que supunha. Chegamos à Semana Santa daquele 1982, e iriamos passar os feriados na minha modestíssima casa em Inoã  (a primeira que tive e era realmente pequena).

Wanda fez pães de batata, compramos carne, queijos, refrigerantes e cervejas, preparamos o embornal e partimos, na sexta-feira cedo. Quando chegamos já encontramos minha irmã – Sara – com minhas sobrinhas então muito pequenas (as idades regulam com as dos meus filhos). Também ela levou, como de hábito, muita coisa para comermos naqueles dias: frangos assados, maionese, empadão, etc. Na dispensa da casa sempre tinha arroz, feijão, macarrão, óleo, o básico.

Que fiz eu, depois de haver decidido que não fumaria mais? Simplesmente não levei cigarros. E passei três dias sem fumar. Na segunda, de volta ao trabalho, pensei que não resistiria. Afinal tinha o cafezinho, tinha o estresse, os aborrecimentos de praxe (era Gerente Administrativo da Siderúrgica Hime), enfim o vício.

Mas bravamente atingi a primeira semana, o primeiro mês, o primeiro ano.

E cá estou sem fumar cigarros até a presente data. Neste interregno, durante dois anos, dos vinte e um durante os quais fumei, usei cachimbo. Era um yuppie e achava elegante o cachimbo.

Rabichos de limpeza
Comprei alguns e em dois anos desisti por causa do trabalho que dava. O ritual de enchimento do fornilho faz parte do prazer dos fumantes de cachimbo. Mas a limpeza dos cachimbos é uma coisa chatíssima.

Larguei os cachimbos, alguns dos quais meu filho Jorge, mais tarde, inicialmente,  utilizou. Depois, sofisticado, metido a besta, comprou outros de grife (marcas mais renomadas). Também largou os cachimbos substituindo-os pelos charutos.  Confraria, estas coisas. Também passou. São hábitos muito dispendiosos. E tem hora e local para fumar charuto, convenhamos.

Quando este meu filho – o primogênito – tinha 13 anos, uma noite, quando cheguei em casa, sentado tirando os sapatos, ele sentou-se a meu lado e sem muito rodeios perguntou se eu o  autorizava a fumar. Algumas menininhas vizinhas fumavam escondido,  enquanto conversavam na esquina, no cair da noite, antes do jantar. Morávamos então em São Paulo, capital, no bairro do Brooklin Novo.

Eu ainda fumava naquela época, e Wanda também.  Aliás que Wanda parou de fumar bem antes de mim. Cerca de 5 anos antes. E acho que tem a ver com o exemplo que ela achava que dava para o Jorge pretender fumar.

Não sei se o Jorge fumou escondido, porque quando você diz para o filho não fumar você está se expressando erradamente. Você deveria dizer que ele não deve fumar ... na sua frente. Sim, porque o que assegura que no colégio, nas idas ao cinema ele não fuma?

Ricardo, o filho mais novo, nunca sentiu necessidade de fumar cigarro, charuto ou cachimbo, que eu saiba. Assim, eu, mulher e filhos não fumamos há alguns anos.

Pelo titulo que encima este texto (extraído do Aurélio) verifica-se que eu prendia escrever sobre outro fumo, mais exatamente aquela faixa de tecido que era colocado na lapela em sinal de luto.

E por que? Porque revendo fotos antigas, encontrei uma de meu pai com fumo na lapela, que passou a usar quando da morte de meu avô. Não lembro por quanto tempo, mas foi bastante.

Não usei fumo na lapela ou no bolso da camisa quando meu pai faleceu. E mais, lembro que antes da missa de sétimo dia, mandada rezar por vontade de minha mãe, eu fui ao cinema Central, incentivado pelo Hermes, amigo meu, que achava que eu deveria distrair o pensamento.

E pensar que na época do falecimento de meu avô, além do pedaço de tecido colocado na lapela, as pessoas em casa falavam baixinho e não se ouvia música (no rádio), senão excepcionalmente, a chamada música clássica e com som baixo.

A gente garra a escrever e vai se distanciando do assunto inicial porque uma coisa leva a outra. Por exemplo: acreditem que quase não foi possível realizar a missa de sétimo dia pela intenção da alma de meu pai por falta de padre. Acreditam? Falo do ano de 1963.

Os da Catedral, onde foi celebrada, estavam todos comprometidos no dia (naquela época as missas eram especiais, exclusivas,  sejam as de agradecimento de graças alcançadas, sejam as de falecimento). Hoje elas são celebradas por atacado. Na última que fui, por noblesse oblige, o padre ficou uns bons 5 minutos enumerando as intenções: a missa era de ano para um, de mês para outro, de agradecimento por haver passado no vestibular, de agradecimento por milagre alcançado, etc.


Enfim, o padre misturou tudo, e numa cerimônia só, atendeu as diferentes intenções. Se funciona assim mesmo, se faz o mesmo efeito não sei, mas acho que barateia o custo. Ou não?

Notas do editor: sobre cachimbo, tipos e foma de usar, veja http://www.tabacarianacional.com.br/como_fumar_cachimbo.html

12 comentários:

Riva disse...

Fumei dos 15 aos 35. Deixei de fumar depois de uma gripe, daquelas que até o cheiro do cinzeiro te enjoa.

Mas ainda andei mais de 1 mês com o maço de cigarros e o isqueiro na bolsa - naquela época eu andava com uma bolsa a tiracolo. Hoje provavelmente seria linchado na rua se sair com uma. Alíás, já me olham meio atravessado por causa da minha pochete de estimação ... rs.

Nunca fumei na frente do meu pai, e não sei porque. Acho que era crime, sei lá. Tipo maconheiro ou algo nesse nível. Lá em casa ninguém fumava - pais e avós.

Meus filhos nunca fumaram, graças aos céus. Essa de fumo na lapela eu NUNCA ouvi falar ! Nem sei do que se trata, e de onde vem essa cultura, seu significado, etc. Primeira vez que ouço falar disso ! E já tenho 63 anos .... alienado, com certeza rsrs.

PS1: soccer, as always.

United jogando mal e empatando em casa. No memento, o Bayern também ainda não conseguiu sair de um empate. E por aqui, prevejo 2 derrotas seguidas do FLU, contra o JEC amanhã, e contra o Paysandu na 4ª feira. Futebol medíocre.

PS2: Dilma, Renan, Cunha .... o que esperar de um país com esse triumvirato ?

Ana Maria disse...

Fumei dos 15 aos 45 anos. Nos últimos 24 meses chegava a "queimar" dois maços. Alguns cigarros fumavam sozinhos no cinzeiro na hora do trabalho, mas mesmo assim eu aspirava toda a fumaça nociva.
Pra mim foi difícil combater a de dependência e só consegui no tranco. Sou asmática e meus pulmões deram um basta. Entrei em mal asmático e, após 3 dias de internação e abstinência consegui abandonar o vício.
Engraçado que não lembro de detalhes da missa de 7º dia de papai. Mas recordo com nitidez a que mandaram rezar em Maricá. A Igreja silenciosa na manhã de inverno, filtrava pelos vitrais a luz do sol e pássaros cantavam e sobrevoavam durante todo o ritual.
Vesti luto fechado por três meses, e "aliviado" por outros tantos.
Notei que a vestimenta em nada influenciava o sentimento de luto e perda e por isso não vesti preto quando do falecimento de minha mãe.
Era professora e minhas roupas pretas ficavam ruças pelo pó de giz.


Jorge Carrano disse...

Bem, vamos por partes:
Primeiro respondo ao Riva. O Bayern acabou vencendo. o United ficou mesmo no empate.
Torcerei muito para o Flu, para que ele vença ao JEC. Para o Vasco é importante (desde que ele faça a parte dele, claro).
O jogo da segunda-feira pela Premier Legue é SÓ Arsenal contra o Liverpool.
Vou localizar foto de meu pai usando o FUMO (como se chama a faixa de crepe em preto usada na lapela) em sinal de luto em respeito a morte de meu avô (José Carrano y Segovia).

Ana Maria,
Interessante que não lembro desta missa em Maricá(?). Em Niterói foi rezada na Catedral de São João Batista, depois de uma maratona para arranjar padre e horário na igreja.
Mamãe fazia questão da missa, por isso me agredi e fui conversar com o Ney Gonçalves (já citado no blog), que entre outros amigos era ligado a um padre de passeata (como o definiria o Nelson Rodrigues). Era um padre simpatizante da juventude socialista (ligado a esquerda) do qual não gostava. Mas falei com o Ney, que fez contato com ele e ele aceitou rezar a missa e ainda arranjou um horário na Catedral. Ao final da missa mamãe foi agradecer a ele, mas eu não. Nem sei se Deus (se existe) deu ouvidos as orações dele.
Mas minha mãe ficou satisfeita e na época era o que importava.

Jorge Carrano disse...

Riva,
Não perca, amanhã, mais informações sobre o uso de fumo. O fumo sinal de luto.

Estou achando que no STF a tendência será liberar o fumo da cannabis. O voto do ministro-relator (Gilmar) foi pela não criminalização do usuário. Ou seja, quem gosta poderá levar seu fuminho no bolso sem medo.
Ficarei surpreso se a decisão, ao final, não for neste sentido.

Ana Maria disse...

Que mal pergunte, onde anda o Freddy? Estou sentindo falta dos comentários dele. Espero que esteja bem, passeando para depois postar outro capítulo de seu diário de viagens.

Ana Maria disse...

Quanto a liberação do porte da maconha para consumo próprio, me fica uma dúvida. Onde o consumidor poderá comprar a erva? Se for aceito o consumo, fica o pressuposto que alguém deverá fornecer. Poderemos plantar num vaso na varando do apto? O governo vai comercializar?

Jorge Carrano disse...

Não sou especialista na área. Mas ao que parece a lei trata igualmente do traficante do usuário. Criminalizando. O que, convenhamos, não parece ser adequado.
Numa outra etapa, seguramente, haverá liberação de plantio de poucas mudas, para consumo próprio.
Estou curioso para saber como ficou no Uruguai a liberação da erva, há cerca de um ano.
Outra coisa é que a alei não estabelece regra apenas para a maconha, senão também para outras drogas.

Riva disse...

Agora, com a explicação da fita preta na lapela, sim, lembro de algo assim, em outras gerações. Não sei o porque do nome FUMO.

Por falar em FUMO, o Vasco está levando um do Goiás, embora ainda seja 1º tempo. Está perdendo a invencibilidade no returno ... rs.

Quanto ao uso da maconha, se ela existe é porque tem consumidor. Então tem produção e venda. Ou tudo é crime ou não.

Diferente de programas estatais que tratam os viciados no uso, como em alguns países.

Mas nesse Brasil Bandido, vai ser difícil diferenciar mula de consumidor. O cara pode fazer 300 viagens com uma quantidade para consumo próprio.

E a cachaça ? E o cigarro convencional ? Ah, tá, pagam impostos ....

Riva disse...

...e amanhã o FLU perde para o poderoso Joinville, com certeza com algum craque expulso. Anotem !

Ana Maria disse...

Não sei pq chamam a tarja reta de "fumo". Quem criou o termo deve ter sido a mesma pessoa que chama a licença por morte de familiar de "nojo".

Jorge Carrano disse...

NO post de hoje comento o nojo, que segundo o Aurelio tem vários significados:

nojo
(ô) [De enojo, com aférese.]
Substantivo masculino.

1.Náusea, enjôo.
2.Repulsão, repugnância, asco.
3.Profunda mágoa; pesar, desgosto, tristeza.
4.Tédio, aborrecimento.
5.Aquilo que provoca asco ou repugnância.
6.Luto, dó:
“A tia Sabina fora enterrada na véspera da sua chegada. Os três dias de nojo tinham passado” (Eça de Queirós, A Capital, p. 547). [Pl.: nojos (ô).]

Como uma coisa puxa a outra, ai vai o que é aférese:

aférese
[Do gr. aphaíresis, pelo lat. aphaerese.]
Substantivo feminino.

1.E. Ling. Supressão de um fonema ou grupo de fonemas no começo da palavra; ablação. Ex.: batina, por abatina; Zé, por José.

Jorge Carrano disse...

Acho que o STF poderia liberar o porte de mulher para consumo próprio, sem que o, como direi, usuário, seja equiparado a proxeneta, rufião ou mesmo gigolô.

Atenção feministas, não poderia perder a piada (rsrsrs).