7 de agosto de 2015

Juridiquês e outros dialetos

O médico fala em hiperplasia, em cefaleia e constipação intestinal. Ninguém reclama. Por que não dor de cabeça?

O engenheiro fala de fadiga do material, oxidação, tensão mecânica (tração) e fica por isso mesmo. Eu saberia entender que a peça enferrujou, mas não necessariamente que ela oxidou.

Se sua gengiva está muito avermelhada e sangra, o dentista provavelmente diagnosticará que você está com periodontite (aguda ou crônica). E aí?

Já se o advogado menciona embargos declaratórios ou agravo retido, aparecem uns paspalhos para criticar e abrir guerra contra o juridiquês. O que me mais me irrita é quando estas críticas partem de magistrados.

Através do Google, no endereço a seguir, em dezenas de sites e blogs o “juridiquês” é colocado no banco dos réus.
Ora, já escrevi sobre isso no extinto “NiteróiNotícias” (hebdomadário onde mantive coluna sobre generalidades) e até em carta publicada no jornal da OAB,  seccional de Niterói.

O advogado não escreve para o cliente entender e, sim, para o juiz ler, analisar o conteúdo, as razões de fato e fundamentos de direito, formar convicção e decidir.

Assim como o Juiz ao prolatar sentença, não o faz para que a parte (autor ou réu) entenda. Para isto ela pagou advogado ou teve assistência da Defensoria Pública. Ninguém está em juízo sem assistência de advogado.

Li recentemente uma matéria jornalística enaltecendo um magistrado que sentenciou numa linguagem chamada de “coloquial”. Para mim ele quis aparecer, e conseguiu.

Recentemente tive que apresentar réplica numa ação ordinária de obrigação de fazer. O cliente é um Condomínio. Pedi ao Síndico que viesse ao escritório porque em sua peça de resistência, ou peça de bloqueio (seria contestação, mas quero usar dialeto jurídico), o Réu fez afirmações no sentido de que a maior parte do pleiteado por nós na ação já fora executado.

O Síndico deu-me as explicações, confirmou que efetivamente boa parte do pedido já fora atendido, e depois pediu para que fornecesse a ele cópia da réplica que eu faria para mostrar a um comissão no Condomínio.

Perguntei se era uma comissão de juristas e ele disse que não. Então respondi que se fossem juristas até teria prazer em recebe-los em meu escritório para troca de ideias e informar sobre minha estratégia, mas sendo uma comissão de leigos, nomeada para acompanhar as obras, não haveria hipótese de fornecer a cópia solicitada.

Ele ficou agastado, mas esclareci que a grande dificuldade no Direito é mesmo a hermenêutica, a exegese, e isso exige estudo, capacitação. Ademais, até humor ou ironias colocadas numa petição, precisam ser avaliadas num contexto e o leigo poderia interpretar de maneira equivocada.

Sem contar que a pior coisa que pode acontecer é a propagação de interpretações erradas. Quem lê entende de uma maneira e conta para a esposa ou para o vizinho que  está acontecendo isso e aquilo no processo deles.

Por vezes estes comentários de elevador criam até apreensão. Já tive problemas num processo aparentemente simples e bem instruído, porque quando comentei com o cliente minha estratégia, ele saiu falando pra todo mundo que eu faria isso e aquilo.

Chegou aos ouvidos da parte contrária, que alertou seu patrono, que correu atrás de um antídoto, um remédio legal que inibisse minha ação.

As pessoa adoram se mostrar bem informadas e falam mais do que a boca. Muitas vezes estas falas de exibição comprometem um resultado, complicam o que era simples, e  podem causar pânico desnecessário.

Bem, o que eu queria dizer é o seguinte: parem de implicar com o juridiquês. Vão cuidar de suas vidas.

Ou, aos mais chatos, xiitas, recomendo: vão se roçar nas ostras. 

Numa linguagem bem acessível.


18 comentários:

Jorge Carrano disse...

Aproveito equívoco que cometi (de grafia) para reforçar minha tese de que mais importante, para operadores do direito (em especial juízes, promotores, defensores e advogados), é que escrevam com clareza, num português se não castiço, pelo menos sem erros grosseiros de concordâncias e acentuação tônica.
Vez ou outra me deparo com textos ininteligíveis, articulação confusa. E erros que, santo Deus, fariam corar ao próprio Lula (que se farta com os esses) ao tempo do "menas verdade", lembram?
Quem me alertou sobre o erro de hoje foi o Paulo Bouhid. Como o faz quase diariamente. Ele ainda não descobriu que erro deliberadamente a fim de que ele se manifeste sobre o post do dia. Assim tenho um leitor cativo. Chama-se reserva de mercado. As operadoras chamam de fidelização.
Obrigado, Paulo.

Paulo Bouhid disse...

De nada, Jorge... embora ainda não tenha recebido o pro labore de julho...

Aproveito para informar que um corpo mergulhado em um líquido recebe de baixo pra cima um empuxo igual ao peso do volume de líquido deslocado (Arquimedes).

E que ax2 + bx + c = 0.

Jorge Carrano disse...

Há que esperar na fila dos precatórios (KKKKKK).
Essa lei do Arquimedes é do Eureka?

Riva disse...

Sou a favor da linguagem coloquial, simples, objetiva, para que todos possam compreender o significado do texto. A menos que a platéia seja específica.

Também não entendo porque os médicos escrevem de forma a que ninguém consiga entender. Comigo, peço licença, e escrevo a lápis no meu papel, ou seja, traduzo mesmo junto com o médico. Se não gostar, vai procurar uma ostra ! rsrsrs.

Já dei muitas palestras sobre assuntos específicos de engenharia e gestão, e sempre tive o cuidado com a linguagem, em função da platéia presente.

Um dos trabalhos super elogiados que realizei, foi o desenvolvimento de manuais de operação de No Breaks para o parque predial de um cliente americano, no Brasil. Explico.

Em uma situação de emergência, os operadores de equipamentos críticos têm que entender rapidamente, de forma simples, a operação do equipamento. Esses manuais, originalmente, são em linguagem 100% técnica, fora da realidade da mão de obra utilizada no Brasil nessa operação.

Dessa forma, reescrevemos os manuais numa linguagem de melhor aderência para os operadores, com forma simplificada também de treinamento.

Um amigo da GLOBO que está realizando um trabalho em Sta Catarina, disse que lá foi convidado por uma escola para falar sobre sua profissão para .... crianças.

Eu acho que esse trabalho é sensacional e deveria se estender a diversas idades, para que todos, desde cedo, crianças e adolescentes, cheguem no vestibular com uma definição melhor da carreira que pretendem seguir. Poucos sabem que quase 25% dos universitários mudam de curso antes do 6º semestre na faculdade, por perceber não ser o que desejam para eles.

Como explicar as diversas profissões e algumas das suas características, sem ser numa linguagem simples, que atinja a todos nessas platéias ?

Um laudo técnico desses que agora se exige de todos os prédios : as patologias encontradas podem até ser descritas em linguagem técnica, mas o resumo conclusivo, que vai ser lido e distribuído para os condôminos, tem que ser simplificado, tem que ser "entendível", como diria o Magri.

Fui síndico no meu prédio por 12 anos, e não existe outra forma de dialogar na assembléia que não seja com uma linguagem simples, coloquial. Você será compreendido, e não venderá uma imagem "pedante" para alguns recalcitrantes ... rs

Jorge Carrano disse...

Bem, Riva, você já foi meu cliente. Mas a partir deste momento sugiro procurar outro advogado para assisti-lo.
Eu continuarei usando alguns provérbios, adágios e locuções latinas porque agregam valor ao texto, permitindo-me majorar o valor dos honorários.
Se uso linguagem simples você irá querer desconto achando que aquilo é muito fácil (rsrsrs).

Riva disse...

De jeito nenhum procurarei outro ... o que vale é a competência e inteligência inserida no texto, coloquial ou não. rsrsrs

PS : viu o RJ TV há pouco ? Lama à vista na prefeitura de Nikity !

Paulo Bouhid disse...

Sim, Jorge. Foi após essa percepção que ele saiu correndo nu (segundo a História) pelas ruas de Siracusa, gritando "Eureka!", que significa "Encontrei" ou "Achei". E, se me permite, o porquê disso:

O rei (Hierão) havia solicitado a um ourives da época que confeccionasse uma coroa com todo o ouro que estava lhe entregando. Ao receber a coroa pronta, um conselheiro levantou a dúvida: o ourives utilizou todo o ouro que lhe foi entregue ou ele substituiu parte dele por outro metal de menor valor?

Questionados, os sábios afirmaram que isso somente seria possível de ser constatado derretendo-se a coroa. E como o rei se recusava a fazer isso, pediu ajuda a Arquimedes, que meditou por longo tempo, até que percebeu, durante um banho de banheira, que seu corpo "era empurrado pra cima ao imergir". Todo o resto vem da genialidade dele. Após cálculos e mais cálculos com todo tipo de metal, identificou o quanto de água deveria transbordar de uma tina cheia, caso todo o material mergulhado fosse ouro. E assim, ele pode provar que o ourives havia substituído parte do ouro por prata (me parece).

Seu legado na área científica é de valor incalculável.

Jorge Carrano disse...

Sorry periferia (diria o Ibrahim).
O Generalidades especializadas também é cultura...

Riva disse...

Se a coroa foi feita com uma única forma, tanto faz ouro ou prata ; o volume de metal colocado na forma é o mesmo, e o volume de água deslocado será o mesmo. O peso é que varia. Não entendi como ele diferenciou o ouro da prata .... pela cor ? rsrs

Essa do Eureka me faz lembrar de um amigo - falecido - que estudava medicina na faculdade de Valência. Ao tomar uma dose de LSD, pirou e saiu correndo nu pela cidade, dizendo ser uma laranja, e que todos estavam correndo atrás dele para fazer uma laranjada !! kkkkkkkkkk Parou na delegacia, claro.

E isso nos anos 60 !

Riva disse...

Carrano e Xará. Fui no Dr. Google ver a experiência do Arquimedes, e entendi o que ele fez. Confesso ter feito uma outra leitura do comentário do Xará.

Ele pesou a coroa, e fez uma amostra em ouro e outra em prata com esse mesmo peso da coroa. (claro sabemos que uma ficou maior que a outra).

Mergulhou uma de cada vez na banheira e mediu o deslocamento da água.
E eureka !!! conseguiu saber se a coroa era de ouro ou de prata !

#voltaPatricia

Jorge Carrano disse...

Esse Arquimedes, se vivo fosse, poderia ser colaborador do blog. Cheio de ideias, inteligente e criativo.

Jorge Carrano disse...

Leiam no Estadão, na seção Forum dos Leitores, carta que enviamos sobre o esforço suprapartidário proposto por Temer:

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,forum-dos-leitores,1739637

Riva disse...

Li seu comentário no ESTADÃO.

A única coisa em relação a ministérios que será feita, parece já estar bem alinhada : LULA será ou ministro da Defesa ou ministro das RELAÇÕES EXTERIORES, uma forma direta de obter foro privilegiado, tendo em vista a proximidade da LAVA JATO em relação a ele.

Jorge Carrano disse...

Lula chanceler? Gostaria de conhecer a opinião dos diplomatas de carreira.
Seria mais uma vergonha para o país, motivo de chacota na comunidade internacional.

Jorge Carrano disse...

FHC foi ministro das relações exteriores, mas ele fala francês e inglês. Lula é monoglota. E não domina nem o nosso idioma.
Em tempo: não gosto do FHC também, mas pela vaidade excessiva.

Riva disse...

Essa informação do LULA ministro é de fonte quentíssima : Gerson Camarotti, do GLOBO.

Riva disse...

... diuturna e noturnamente ......

FUI ALI ME ENFORCAR !

Jorge Carrano disse...

Já não aguento fazer post sobre as pérolas da Dilma. O Stanislaw faz muita falta porque ele aproveitaria para suas colunas no jornal e para seus livros de FEBEAPA.

O post mais recente foi este a seguir:
https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=1700309095653144445#editor/target=post;postID=5668972546910872703;onPublishedMenu=allposts;onClosedMenu=allposts;postNum=14;src=postname

Mas tem outros mais antigos:
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2014/08/perolas-da-presidente-parte-ii.html