Esta não é uma lista original das compras de armazém que
minha mãe fazia todo mês, no Armazém Dragão (Amaral & Cia. Ltda.), que ficava
na esquina da Rua Visconde de Uruguai com a Rua Silva Jardim, na Ponta D’Areia.
Era referido apenas como armazém do Seu Amaral. O caixeiro/ entregador, chamava-se Aristides.
E lembro o nome do caixeiro até hoje simplesmente porque ele me ajudou a aprender
a andar de bicicleta. Nunca na vida tive uma bicicleta. Só a ergométrica, em casa, depois de velho.
O Aristides entregava a chamada compra mensal, que era mais
volumosa. E o fazia com uma bicicleta que tinha na dianteira, sobre a roda, uma
espécie de prateleira metálica, sobre a qual ficava apoiado o caixote com as
compras a serem entregues nas casas dos fregueses.
Pois bem, quando a entrega era lá em casa, o Aristides
permitia que eu desse uma voltinha na bicicleta enquanto ele descarregava o
caixote, colocando as compras em nossa varanda. Levei alguns tombos, mas
algumas poucas vezes ele mesmo caminhava ao lado segurando pelo guidão até que eu me sentisse equilibrado.
As compras eram anotadas em um caderno, mantido pelo Seu
Amaral. E o sistema, que funcionava na base da confiança, era simples: nas compras,
somados os preços (a soma era feita a mão, numa folha de papel de embrulho, com
o lápis que poderia, ou não, estar atrás da orelha), e o montante anotado no
caderno, junto com a data. Vez ou outra a conta era quitada integral ou
parcialmente e o valor pago era abatido do total do débito.
Os cadernos de armazéns foram, grosseiramente, precursores dos
cartões de crédito. Durante o mês outras pequenas compras poderiam ser feitas e
os valores anotados no caderno ou pagos no ato.
A lista básica, salvo algum lapso de memória, continha:
- Café Globo (slogan “bom até a última gota”), vendido numa embalagem verde com a gravura do globo terrestre. Existia o café “Cruzeiro Extra” que apregoava ser “gostoso até sem açúcar”.
- Banha Itajaí, fabricada na cidade de mesmo nome, que era
grande criadora de suínos. Vinha em pacotes tipo tijolo, que poderia ser
comprado inteiro, ou cortado ao meio. Anos depois a banha foi substituída em nossa
dieta pela gordura de coco. Da marca Carioca, embalada em latas.
- Sabão da marca Português, produzido pela União Fabril Exportadora
(UFE). Também, eventualmente, o sabão Platino.
- Cera Parquetina, em lata, nas cores vermelha (para a
varanda) e incolor para os cômodos internos.
- Açúcar Pérola (saco azul, cinta encarnada, dizia o slogan) em
saco de 5 Kg.
- Óleo de Peroba, vidro pequeno com o produto, utilizado para
proteção e brilho nos móveis envernizados. Muito depois surgiu o lustra móveis
Shell.
- Macarrão, numa embalagem cumprida, de sorte que a massa
precisava ser cortada antes de colocada na panela.
- Farinha de trigo, em embalagem de 1 Kg. Na época, se não me
falha a atribulada memória, existiam as marcas “Três Coroas” e “Boa Sorte”.
-“Mate Leão”, em caixa de madeira, que depois, devidamente
lixada para tirar o nome do produto e do fabricante, em tinta vermelha, servia
de cofre para as moedas que conseguíamos economizar. E para trabalhos manuais
na escola.
- Sabonete “Eucalol” – por causa das estampas, ou “Vale
Quanto Pesa”, cuja frase de propaganda era: “grande, bom e barato”. E o creme
dental era o Kolynos.
Bem, além destes produtos, digamos, industrializados, comprávamos
produtos básicos de alimentação, à granel:
feijão, arroz, farinha de mandioca, manteiga (de Cordeiro ou Cantagalo) e outros itens que não recordo.
Por que nossa memória registra estas coisas é uma pergunta
sem resposta. Penso que a razão é porque estão ligadas a bons momentos, felizes,
alegres. Mas não tenho certeza.
22 comentários:
Confesso nem lembrar como se fazia compras lá em casa, mas acredito que certamente era meu pai que ia buscar. Não lembro de serviços de entrega, a não ser, muito remotamente, leite, pão e jornal.
Mas lembro que tinha um armazém no Largo do Marrão, tradicional, e o método devia ser o mesmo. Anotar no caderninho e pagar depois. Na farmácia era assim, dela me lembro.
O Largo do Marrão tinha de tudo, a 5 minutos a pé lá de casa : armazém, padarias, açougue, jornaleiro, ferro velho, papelaria, loja de fogos, cinema Mandaro, cicles, matadouro de galinhas (mas minha avó gostava de sacrificá-las em casa, e por isso até hoje não como galinha - bípede emplumado, ok ?),farmácia, posto de gasolina, lija de ferragens, enfim, TUDO.
De novo, não tenho a menor idéia do que se comprava, mas com certeza, graças aos céus e muito trabalho, a mesa sempre foi suficiente para todos nós.
Posso citar apenas algumas coisas/produtos marcantes : leite de magnésia, bomba de fleet, as ceras que o Carrano mencionou, gumex, giletes para a barba do meu pai e meu avô, refrigerante nem pensar, querosene, vassouras diversas, farinhas, açúcar, água sanitária, etc....não sei as marcas.
Bons tempos, boas recordações de uma época odiada por muitos, e adorada por muitos também. Eu achei-a maravilhosa.
O idoso mantém a memória de conservação e perdendo apenas a memória de fixação?
Qual era o assunto mesmo?
Ignore o ponto de interrogação na primeira frase. Meu notebook pula e embaralha as letras.
Tempos felizes eram aqueles em que íamos às mercearias ou pequenos supermercados com o que seria hoje em torno de 10 reais e saíamos com arroz, feijão, batatas, carne, balas, biscoitos, etc... Hj em dia tá tudo vigiado por câmeras...
Pois é, gente, esta é uma discussão antiga. Eramos mais felizes no passado? A vida era melhor?
Acho que muitas coisas melhoraram, mas sem dúvida alguma em certos aspectos pioraram.
As famílias eram mais unidas. A segurança publica era melhor. E, acreditem, na área de saúde até os Pronto Socorro municipais, eu disse municipais, funcionavam. Havia um na Rua Visconde Uruguai, junto ao Jardim de São João, onde fui atendido com dedo polegar fora do lugar, dei os pontos necessários no queixo, arrebentado quando escorreguei e deslisei ao subir uma pedreira, e também fiz sutura de enorme talho no pé, decorrente de haver pisado num fundo de garrafa quebrada.
Escolas públicas, como Liceu Nilo Peçanha, escolas técnicas como Aurelino Leal e Henrique Lage eram excelentes e os grupos escolares atendiam perfeitamente as crianças dos bairros. Conheci o Raul Vidal e o Portugal Pequeno, onde estudaram sobrinhas e o Pinto Lima onde eu mesmo estudei um semestre.
Pois é. Os serviços públicos funcionavam. Colégios públicos eram padrão em suas áreas.O Instituto de Educação ganhava de todas as escolas normais particulares.
Bem lembrado. Além de lá estudarem as meninas mais cobiçadas pelos liceistas (rsrsrs).
A nossa transformação foi brutal. Eu era feliz nos anos 60 e 70, apesar do problema em casa com a saúde da minha mãe. E tive o início da minha vida profissional, de casado, filhos, nas décadas de 70-80. E foi muito bom para todos nós.
PS 1: ninguém percebeu a maldade do Xará no comentário anterior ? rsrsrsrs
PS 2: Fica, Cristóvão !
Quando de meu acidente com a mão fui atendido na emergência do Antônio Pedro. Depois fui operado pelos mesmos médicos que me atenderam, mas no Santa Cruz que tinha mais recursos materiais. As operações foram pelo sistema público de saúde, pagamos apenas o quarto particular como extra.
Lembro de tudo que Riva comenta sobre o comércio do Largo do Marrão, além dos produtos citados por Carrano no texto.
Se é melhor que agora? Difícil avaliar cercado de ladrões nas ruas e nas instituições. Sem que se perceba, a gente olha para o passado e se vê melhor que hoje. Talvez não precisasse ser assim.
Não sei porque me lembrei hoje, relendo o post e comentários, que no Largo do Marrão o armazém era do S.Paulo e a farmácia do S.Maia.
Acrescento também que no Largo do Marrão tinha escolas e professores diversos para aulas particulares. Era quase um município ! rsrs
Lembro de quase todos os nomes dos comerciantes e prestadores de serviço do bairro onde passei a infância. Sim, todos os nomes antecedidos do "seu":
Farmácia.................... Demerval
Sapateiro................... Osni
Barbeiro.................... Dirceu
Botequim.................... Henrique
Quitanda................... Avelino
Armazém (o já citado)...... Amaral
Doceria e guloseimas....... Pergentina
PERGENTINA foi arrasador !!!!!!kkkkkkkkkkkk sensacional !
Eu infelizmente não lembro nada desses nomes, não sei como me lembrei desses dois.
Ah, sim, o pedreiro chefe da reforma da nossa casa : Seu Aristides. Gostava muito de conversar com ele na hora do seu almoço, quando ele abria seu marmitão, sempre com feijão, arroz, farinha, chuchu e boi ralado. Tenho a impressão que foi ali que comecei a querer ser engenheiro civil.
A velha proprietária chamava-se mesmo Pergentina. Não se trata de nome fantasia, apelido ou invencionice minha. Conclamo o Ricardo dos Anjos, que certamente conheceu a loja, que ficava defronte a pracinha entre as ruas Santa Clara e São Diogo.
Minha irmã, que acompanha este blog, é bem mais nova do que eu, então não sei se lembrará da velha senhora.
Claro me lembro da Dona Pergentina. Uma fuga até a sua lojinha na Rua Santa Clara (em frente a pracinha) me valeu uma surra. A única que tomei.
Sim, Riva. Eu percebi a piadinha do Paulo, mas não me surpreendi. Afinal, acho que ele é advogado e, vindo deles, nunca se sabe se é brincadeira.
Saída rápida. kkkkk
O Paulo, aquele do comentário, não é advogado, para gáudio dele e da família. Ele é, assim como o Riva e o Freddy, engenheiro.
Taí, Riva, a confirmação da Pergentina.
Jorge, nada a ver com a profissão (e sim com o time de futebol para que se torce...), mas acaba resvalando em mim, por tabela, pq meu irmão é advogado...
Paulo,
Estava apenas corrigindo o equívoco da Ana Maria. Quanto a ter um irmão advogado, bem, ninguém é perfeito.
Ah! Desculpe, Paulo. Tirei um peso profissional que pairava sobre vc.
Mesmo assim, não se anime. Engenheiros não estão muito bem na fita ultimamente.
Piadas sobre engenheiros :
Três empreiteiros estão visitando a Casa Branca. Um é americano, outro é canadense e o terceiro é brasileiro. O guia que os acompanha pergunta o que eles fazem. Ao saber que são empreiteiros, ele diz:
* Que bom !!! Nós estamos justamente com um problema na cerca oeste, que precisa ser refeita. Vocês não querem fazer um orçamento?
O empreiteiro americano pega uma trena e mede a cerca. Pega uma calculadora e um caderninho, faz umas contas e diz:
* Vai custar 900 dólares. 400 de material, 400 de mão-de-obra e 100 do meu lucro.
O empreiteiro canadense faz suas contas e diz:
* Posso fazer por 700. 300 de material, 300 de mão-de-obra e 100 do meu lucro.
O empreiteiro brasileiro nem faz conta. Já diz de cara:
* Vai custar 2.700.
O guia, incrédulo, responde:
* O senhor nem mesmo mediu a cerca como seus colegas! Como é que chegou a esse valor?
* Fácil !!! - responde o empreiteiro brasileiro - 1.000 para mim, 1.000 para você e contratamos o empreiteiro canadense !!!
Piadas: http://www.piadas.com.br/
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O mineiro observando o engenheiro com o teodolito.
- Dotôr, pra qui serve esse treco aí ?
- É que vamos passar uma estrada por aqui. Estou fazendo as medições.
- E pricisa desse negócio pra fazê a estrada?
- Sim, precisa. Por que, vocês não usam isso pra fazer estradas não?
- Ah não homi. Aqui quando a gente qué fazê uma estrada, a gente sorta um burro e vai seguindo ele. Por onde o bicho passá, é o mió caminho pra se fazê a estrada...
- Ahh, que interessante, respondeu o engenheiro. e se vocês não tiverem o burro?
- Bem, daí a gente chama us engenhero...
Saída mais rápida. Agora são 3 para me xingar. kkkkk
Ana, essa história do burro é verdadeira.
Na construção das ferrovias, geralmente de traçado difícil devido à topografia em várias regiões no Brasil, soltava-se um burro, porque ele faz o caminho para subir pelo menor esforço. Ia um cara atrás colocando os marcos no caminho do burro.
As ferrovias têm limites muito rigorosos de rampa (inclinação máxima). E por isso a ferramenta era o BURRO !!!!!
(pano rápido)
Nome é detalhe.
Nosso estimado craque Junior é Leovegildo.
Nossa vizinha de muro na Rua Itaocara, Dona Lina, era Aristotelina.
Antes do Aristides, minha lembrança me leva ao pedreiro de pequenas obras Seu Herotides. Passava uma boa hora mexendo a massa antes de aplicar. Dizia que assim a liga era melhor.
Pouco mais tarde, quando eu ficava preparando com esmero um prato de mexidinho, meu pai me alcunhava de Seu "Tides". Fazia sentido, quando eu começava a comer todos já haviam terminado!
<:o)
Acho que o Seu Herotides do Freddy é o meu Seu Aristides ..... hmmmmmm
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