1 de julho de 2013

Carta para Dilma (ou desabafo da missivista)

Esta é uma carta que circula na rede. Como se trata de uma carta aberta, ou um desabafo como arremata a autora, entendo que posso reproduzi-la neste espaço.
Se non è vero è ben trovato.

Vamos ao texto da carta: 
"Tudo que uma médica BRASILEIRA, que trabalha no interior, quer falar pra "Presidenta" hoje:
 "Dilma, deixa eu te falar uma coisa! Este ano completo 7 anos de formada pela Universidade Federal Fluminense e desde então, por opção de vida, trabalho no interior.
Inclusive hoje, não moro mais num grande centro. Já trabalhei em cada canto... Você não sabe o que eu já vi e vivi, não só como médica, mas como cidadã brasileira.
Já tive que comprar remédio com meu dinheiro, porque a mãe da criança só tinha R$ 2,00 para comprar o pão. Por que comprei? Porque não tinha vaga no hospital para internar e eu já tinha usado todos os espaços possíveis (inclusive do corredor!) para internar os mais graves. Você sabe o que é puxadinho? Agora, já viu dentro de enfermaria? Pois é, eu já vi. E muitos. 
Sabe o que é mãe e filho dormirem na mesma maca porque simplesmente não havia espaço para sequer uma cadeira? Já viu macas tão grudadas, mas tão grudadas, que na hora da visita médica era necessário chamar um por um para o consultório porque era impossível transitar na enfermaria? Já trabalhei num local em que tive que autorizar que o familiar trouxesse comida ( não tinha, ora bolas!) e já trabalhei em outro que lotava na hora do lanche (diga-se refresco ralo com biscoito de péssima qualidade) que era distribuído aos que aguardavam na recepção.
Já esperei 12 horas por um simples hemograma. Já perdi o paciente antes de conseguir um mera ultrassonografia. Já vi luva descartável ser reciclada. Já deixei de conseguir vaga em UTI pra doente grave porque eu não tinha um exame complementar que justificasse o pedido.
Já fui ambuzando um prematuro de 1Kg (que óbvio, a mãe não tinha feito pré natal!) por 40 Km para vê-lo morrer na porta do hospital sem poder fazer nada. A ambulância não tinha nada...Tem mais, calma! Já tive que escolher direta ou indiretamente quem deveria viver. E morrer...Já ouvi muito desaforo de paciente, revoltando com tanto descaso e que na hora da raiva, desconta no médico, como eu, como meus colegas, na enfermeira, na recepcionista, no segurança, mas nunca em você. 
Já ouviu alguém dizer na tua cara: meu filho vai morrer e a culpa é tua? Não, né? E a culpa nem era minha, mas era tua, talvez. Ou do teu antecessor. Ou do antecessor dele...Já vi gente morrer! Óbvio, médico sempre vê gente morrendo, mas de apendicite, porque não tinha centro cirúrgico no lugar, nem ambulância pra transferir, nem vaga em outro hospital?
Agonizando, de insuficiência respiratória, porque não tinha laringoscópio, não tinha tubo, não tinha respirador? De sepse, porque não tinha antibiótico, não tinha isolamento, não tinha UTI? A gente é preparado pra ver gente morrer, mas não nessas condições.
Ah Dilma, você não sabe mesmo o que eu já vi! Mas deixa eu te falar uma coisa: trazer médico de Cuba, de Marte ou de qualquer outro lugar, não vai resolver nada! E você sabe bem disso. Só está tentado enrolar a gente com essa conversa fiada.
É tanto descaso, tanta carência, tanto despreparo... As pessoas adoecem pela fome, pela sede, pela falta de saneamento e educação e quando procuram os hospitais, despejam em nós todas as suas frustrações, medos, incertezas... 
Mas às vezes eu não tenho luva e fio pra fazer uma sutura, o que dirá uma resposta para todo o seu sofrimento! O problema do interior não é falta de médico. É falta de estrutura, de interesse, de vergonha na cara. Na tua cara e dessa corja que te acompanha! Não é só salário que a gente reivindica. Eu não quero ganhar muito num lugar que tenha que fingir que faço medicina. E acho que a maioria dos médicos brasileiros também não. 
Quer um conselho? Pare de falar besteira em rede nacional e admita: já deu pra vocês! 
Eu sei que na hora do desespero, a gente apela, mas vamos combinar, você abusou! Se você não sabe ser "presidenta", desculpe-me, mas eu sei ser médica, mas por conta da incompetência de vocês, não estou conseguindo exercer minha função com louvor! 
Não sei se isso vai chegar até você, mas já valeu pelo desabafo! 
Fernanda Melo, médica, moradora e trabalhadora de Cabo Frio, cidade da baixada litorânea do estado do Rio de Janeiro."


NOTA : Há um outro post já publicado, cujo tema está associado a este, em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2013/06/ainda-o-engodo-dos-medicos-cubanos.html

6 comentários:

Jorge Carrano disse...

Segundo fui informado ainda há pouco, esta médica tem perfil no Facebook. A conferir, pois não estou na citada rede social.

Freddy disse...

Tenho uma prima médica que hoje está em Araruama mas já morou e trabalhou anos em Arraial do Cabo, logo ao lado de Cabo Frio. Confirmou por e-mail o testemunho dado na carta desse post.

É uma vergonha!
Se isso acontece logo aqui ao lado dos grandes centros, na conhecida Região dos Lagos, imagine no interior desse grande Brasil, lá nos recantos da Região Norte, Nordeste, Centro-Oeste...
É de chorar...
=8-/
Freddy

Jorge Carrano disse...

Recebi via e-mail e publico aqui:

"Circula na Internet, através das redes sociais, várias propostas para solucionar os graves problemas que desestruturam o país e que a curto prazo o levará para o abismo. Entre todas as que pude ler, destaco uma que na minha opinião seria a solução de curtíssimo prazo para 95% dos nossos problemas: a importação de políticos suecos ou dinamarqueses ou finlandeses. Nesse caso eu até me proponho a contribuir, e registro a proposta em cartório. Recolherei 40% de Imposto de Renda (IR), porque terei a certeza de que esse tributo será usado em beneficio da sociedade, em troca dos 27.5% que me roubam anualmente.
Humberto de Luna Freire Filho, médico"

Jorge Carrano disse...

Leiam:
http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2014/02/mais-um-cubano-deixa-o-programa-mais-medicos.html

Jorge Carrano disse...

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, informou nesta terça-feira (11) que 24 cubanos já deixaram o programa Mais Médicos e que outros três não apareceram para trabalhar e ainda não foram localizados pelo governo. Em entrevista, o ministro considerou que o número é "insignificante", frente ao universo de 9.549 médicos participantes do programa no país, dos quais cerca de 7.400 vindos de Cuba.

Leiam em http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/02/24-cubanos-deixaram-mais-medicos-para-ministro-e-insignificante.html

Jorge Carrano disse...

Ao todo, existem 11.429 médicos cubanos atuando no Brasil. O número corresponde a 62,6% dos 18.240 médicos participantes no programa Mais Médicos. O índice de profissionais com registro médico brasileiro é de apenas 29%.

Leiam a matéria em:

http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/09/mais-medicos-vai-reduzir-participacao-de-medicos-cubanos-diz-ministerio.html

A ideia agora é substituir, gradualmente, os cubanos por médicos brasileiros.