O titulo induz a erro. É mentiroso.
Na verdade aprendi muito sobre vinhos, só. Também pudera,
minha ignorância era tal, que não sabia que existia vinho verde... tinto.
Então seria óbvio que teria muito a aprender ao me matricular
e fazer o curso básico na Associação Brasileira
de Sommeliers. E aprendi mesmo. Assim como alguns artistas e empresários que o
fizeram na mesma época, já lá se vão alguns anos.
Antes, porém, de dar exemplos sobre o que aprendi , devo
colocar uma assertiva, com apoio em convicções mais recentes, que sedimentei
depois do mencionado curso.
Degustação |
As lendas, rituais, protocolos, liturgia, e toda a mise-en-scène, fazem parte do marketing
dos produtores, importadores e vendedores e foram assimilados pelos que degustam vinhos por prazer ou para se
embebedar, que os repetem e praticam como hábito ou encenação/exibição.
Seria falso minimizar a importância da educação e do
desenvolvimento das memórias olfativas e gustativas. Com tempo e prática, dá
para perceber se há ou não equilíbrio entre teor alcoólico e a acidez, por
exemplo. Dá para sentir se existem, ou não, as tão comentadas notas florais ou
cítricas. Sim, é possível, com tempo e
bebendo com regularidade.
Mas cá para nós, no momento, as chamadas degustações cegas levarão
muitos experts a erros de avaliação, porque aos países produtores considerados
exóticos, como por exemplo Austrália, África do Sul e Nova Zelândia, quando me iniciei
no vinho como apreciador da bebida, somam-se, ou se somarão, regiões vinícolas
como Macuco, no Estado do Rio e cidades do sul mineiro, onde estão sendo
plantadas algumas variedades de uvas.
Colheita |
Em alguns países não europeus, que eram tidos e havidos no
passado mais remoto como os únicos que sabiam fazer vinho de qualidade (França,
Itália, Portugal e Espanha, principalmente), já são produzidos vinhos de boa
qualidade, aí incluído inclusive o Brasil.
Algumas castas adaptaram-se tão bem aos solos e climas de
outras regiões fora da Europa, como a cabernet
sauvignon, que não demorará e duvidarei e farei pouco que alguém, com
convicção e segurança, possa indicar a origem do vinho. Com raríssimas exceções
haverá pasteurização dos vinhos desta uva, ou seja, todo mundo fará igual ou
parecido.
Mas de volta ao meu aprendizado, diria que foi uma enorme
descoberta que o vinho branco pode ser feito a partir de uvas tintas e que até
mesmo o famoso Champagne (masculino em francês), é fruto de um corte de uvas
tintas e apenas uma branca.
Já que falei de champanhe, registro que hoje sei o
significado da expressão vintage, disseminada
e tão utilizada na moda, no design e
na arquitetura, e que tem origem na enologia.
Aliás, enriqueci meu vocabulário com outras palavras e
expressões, sempre lembrando que para quem era totalmente ignorante na matéria,
mesmo o mínimo vira muito.
remuage - champagne (foto Google) |
Hoje sei o que é sabrage, remuage e outras palavras ou expressões, em geral em francês, mas desnecessárias no vocabulário do dia-a-dia, a menos que você seja enólogo ou sommelier profissional. Para saborear vinhos não precisa conhece-las.
Antes de migrar para os vinhos, na época de yuppie, eu tomava
whisky e as lendas e rituais, que provocavam debates entre os bebedores desta maltada
e destilada eram também alimentadas: qual o melhor, o de malte ou o de grão? E
a água mais leve e pura, onde tem? Feito com milho ou cevada? Toma-se puro, ou
com gelo? Em que tipo de copo?
E por aí vai, a ponto da nossa tão popular cachaça ter
aprendido o caminho da pedras, da sofisticação,
e ter adotado protocolos semelhantes.
O vinho de boa origem, feito com cuidado artesanal é, sem
dúvida, uma grande bebida, talvez a melhor.
Esqueçam se aprenderam assim, as bobagens do tipo “o vinho
quanto mais velho melhor”, porque alguns devem ser degustados jovens, eis que
com o tempo perdem qualidade, muito particularmente os brancos.
Apenas para os chamados “vinhos de guarda”, de qualidade
superior, e preço também, melhoram com o passar do tempo.
Outra bobagem repetida à exaustão pelos não iniciados, é que “o
vinho deve ser tomado na temperatura ambiente”.
Esquecem que a temperatura ambiente a que se referem os experts é a europeia. E mesmo lá, no
verão, tem espaço e serventia uma adega climatizada e o popular balde de gelo.
Também aprendi que o vinho rascante, termo hoje abolido entre
os amantes da bebida, mas utilizado pelos nossos antepassados, na verdade nada
mais é do que aquele rico em taninos.
Bem, o curso ou a simples leitura de alguns bons livros sobre
vinhos, livrarão os caros leitores de cometer certas “gafes” ou repetir algumas
inverdades, quase bobagens sem tamanho.
Nem tanto e nem tão pouco; você não precisa saber cheirar a
rolha e identificar a presença de algum fungo, principalmente o armillaria
mella (fungo parasita que ataca a árvore de onde se extrai a cortiça).
Até porque a rolha de cortiça parece estra condenada. Tampas
de rosca e outros materiais deverão ser cada vez mais utilizadas*.
Você não precisa dar aquela provadinha naquele tantinho que o
garçom serve no restaurante ou seu anfitrião coloca em sua taça em refeições
mais formais, se você não faz a mínima ideia do que está identificando.
Bochechar com o vinho exige talento, prática e conhecimento
do fim a que se destina. E cuidado ao girar a taça para liberar aromas mais
sutis. Você pode dar um banho em seu vizinho de mesa.
E, de novo o francês, perlage são as borbulhas liberadas quando se
abre um champanhe ou outro espumante qualquer. Só isso, simples assim. Quanto
mais abundantes, menores, e mais velozmente subam do fundo da taça (no caso
chamada flute), melhor será o vinho espumante. Sim, vinho. O espumante é um
vinho com dupla fermentação.
Para encerrar afirmo: vinho bom é o que você bebe com prazer,
na temperatura certa, na taça certa, no momento propício, sem violentar seu
paladar, causando estrago em sua língua e papilas, e mais importante que tudo...
você pode comprar.
No mundo dos vinhos nem sempre os mais caros serão os
melhores para seu paladar e serão piores para seus bolsos.
A partir de um determinado padrão, seja pela origem (Domaines, na Borgonha ou Châteaux, em Bordeaux, etc), safra, casta e outros fatores de avaliação de qualidade, quando os preços ultrapassam os dez salários mínimos (hoje 6 mil e poucos reais), não existem parâmetros objetivos para fixação de preço.
É como mais ou menos uma obra ade arte. Quanto vale um Monet?
* Leiam a respeito em
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2011/05/vinhos-rolhas-e-alternativas-modernas.html
Nota do autor: vídeo acrescentado em 16.06.2017 (acessar abaixo)
* Leiam a respeito em
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2011/05/vinhos-rolhas-e-alternativas-modernas.html
Nota do autor: vídeo acrescentado em 16.06.2017 (acessar abaixo)
17 comentários:
Começo agradecendo a lembrança de meu primeiro post nesse espaço que passou a fazer parte de meu cotidiano. Foi um marco, jamais pensara em escrever para publicação. Abriu-se mais uma janela criativa em minha vida, permitindo-me abordar temas de grande importância para mim, como música, fotografia e astronomia, sem falar nas viagens, bebidas e gastronomia. Nos textos ou nos comentários, que por vezes extrapolam o post em tamanho e importância!
O post de hoje é um exemplo que abre espaço para pelo menos uns cinco assuntos diferentes! Técnicas de degustação, validade ou não da mise-en-scène, tipos de vinho, fabricação de champagne, regiões produtoras (estão na ordem do dia no Brasil as alternativas, como Rio, São Paulo e Minas), e por aí vai. Até de fabricação de whisky e cachaça podemos falar, já que foram citadas no texto!
Vou me ater, de momento, a contestar o Carrano quando ele diz que talvez o vinho seja a melhor de todas as bebidas. É questão pessoal. Eu já curti rum na adolescência, depois whisky. Então aprendi a tomar vinho... Sim, tem de aprender senão pode não conseguir apreciá-lo. Comecei com meio doces alemães e só depois de degustações guiadas aprendi a gostar dos tintos secos.
Possuo poucos vinhos, hoje em dia nenhum de mais de 100 reais, apesar de que já os possuí - e bebi. Tenho um razoável coleção de whiskies (vários ultrapassam a casa dos 500 reais), vodkas, graspas, algumas cachaças e licores..
Sim, licores! E aí eu posso afirmar com toda a certeza que, se por algum motivo sobrenatural eu fosse instado a escolher UMA única garrafa de minha coleção para permanecer com ela, desprezando todas as demais, eu escolheria a do licor francês de ervas Bénédictine!
Portanto, para mim a melhor bebida é um licor! C.Q.D.
<:o)
Freddy
O espaço é nosso, Freddy. Na verdade tenho mais motivos para agradecer.
Por certo as suas colaborações e as de outros poucos amigos e parentes muito além de enriquecerem o blog com informações sobre temas os mais diversificados, foram agentes de motivação para que eu mantivesse vivo este veículo até hoje.
Abraço
Do autor :"Para encerrar afirmo: vinho bom é o que você bebe com prazer, na temperatura certa, na taça certa, no momento propício, sem violentar seu paladar, causando estrago em sua língua e papilas, e mais importante que tudo... você pode comprar." ...
Eu apenas acrescentaria " com a pessoa certa" ... nem que seja você mesmo.
Tim Tim
Eu acho legal quando tem opiniões contrapostas, como no caso deste post onde o Freddy manifestou preferência por licores.
Abraços
Valeu, Riva, com efeito a companhia pode ser importante.
Em vários sentidos. Você, acho, fala de um, eu conto outro aspecto da companhia.
Ia receber em casa um casal de recentes vizinhos, e como era nosso primeiro encontro, fui ao Lidador e comprei duas garrafas de um vinho de boa reputação.
Chegam os convidados e ofereço o vinho. A primeira coisa que ele fez depois do tim tim, foi acrescentar guaraná, que foi servido para a esposa que não bebia nada alcoólico.
Deus do céu! Que companhai, hein?!
Wanda é testemunha.
Seja bem-vindo, Waldir.
Esperamos que tenha chegado para ficar como acompanhante do blog.
Participe como e quando quiser.
Eu vou pela tradição e não pelo modismo. No Uruguai, tanat; na Argentina, malbec e no Chile, cabernet sauvignon.
No Brasil, chardonay, se branco e merlot, se tinto.
Nenhuma autóctone, não é Anônimo?
Todas estas castas são adaptadas aos solos dos países citados.
Pergunto ao nosso amigo Carrano: qual o país de origem das uvas mais conhecidas no Brasil: cabernet (franc e sauvignon), merlot, carménère, malbec, tannat, shiraz, petit verdot, grenache, chardonnay, sauvignon blanc, pinot noir?
<:o)
Freddy
Desculpem-me a ironia da pergunta sobre a origem das uvas, mas é que o comentário acerca das uvas apreciadas pelo Anônimo não serem autóctones me fez soar um alarme interno (?!).
Não vejo valor nem demérito no fato de apreciarmos uvas na América que foram importadas do Velho Mundo. E vou estender a outras áreas. Apreciamos plantas e animais que também não são originários do Brasil. O povo segue religiões que não nasceram aqui. Celebramos com alegria incontida festas europeias.
Para fechar o pano: a celebrada beleza feminina brasileira não nasceu aqui, senão seria uma bela duma índia!
<:O) Freddy
Sobre remuage. Perguntei na Vinícola Casa Valduga (Bento Gonçalves - RS) e me informaram que 90% da remuage já é feita em máquinas, apenas 10% é feita pela mão humana, como a da foto.
Creio, no entanto, que a dos mais caros e exclusivos champagnes, aqueles de milhares de reais, seja manual.
<:o)
Freddy
Amigo Freddy!
Trata-se de uma pegadinha? Uma pergunta retórica ou simplesmente um desdobramento do que coloquei para o Anônimo?
Longe de mim, e penso ter deixado claro no post, apresentar-me como expert em vinhos. Não sou, igualmente, estudioso das vitis viniferas.
Aprendi, de leituras descompromissadas e no breve curso, que a uva propícia para fabrico de vinho tem origem no Oriente Médio tendo se espalhado um pouco pela Europa levadas pelos povos gregos.
Breve consulta ao Google daria uma resposta mais consentânea. Se você realmente tem curiosidade sugiro, entre tantos outros, uma consulta ao endereço http://www.vinhosnet.com.br/paginas.php?codigo=20
Estão lá, listadas, as castas mais difundidas, tintas e brancas, e suas origens.
Abraço
A questão uvas autóctones tomou um rumo equivocado. Não me passou pela cabeça desmerecer esta ou aquela casta por não ter origem sul-americana. Seria idiotice.
Todavia, como o Anônimo(a) falou em tradição, relacionando tanat ao Uruguai, malbec à Argentina , etc. achei que seria interessante ressaltar que não há tradição aí. O que há é adaptação melhor aos respectivos solos.
Lamento que tenha sido entendida de outro modo a minha observação.
Freddy,
Nossos comentários se cruzaram no caminho virtual. Enquanto eu respondia, numa página, chegava outro comentário seu em outra.
E eu aqui tomando um Mundvs Cabernet Sauvignon 2006 dos vinhedos argentinos da Casa Valduga. É a globalização. A Casa Valduga tem também vinhedos no Chile e em Portugal.
Aos poucos teremos verdadeiras heresias para os puristas com vinhedos no Sudeste, fora aqueles da região do Vale do São Francisco (Juazeiro e Petrolina) dando 3 safras a cada 2 anos! A Shiraz de lá é muito interessante!
No entanto eu reconheço que nosso solo, clima e latitude não vão jamais competir com o de outros países produtores de uvas viníferas. É como eu querer jogar basquete, certo?
Contudo, dizem os entendidos que devemos investir, sim, nas uvas para espumantes, pois a acidez de algumas de nossas castas é bastante adequada a espumantes de alta qualidade. Não bastasse sermos um país tropical onde bebidas frias ou geladas fazem o maior sucesso!
É esse o caminho!
<:o) Freddy
Não pensei que causaria tanta celeuma. Vocês se levam muito a sério.
Até a tradicional região do Douro, onde eram cultivadas castas nativas, naturais da região, que resultam em vinhos bem característicos está se curvando as generalizações e está plantando uvas "estrangeiras", como a Syrah.
Você um dia pensou em vinhos portugueses feitos a partir da Pinot Noir ou da Cabernet Sauvignon?
Pois é, viveremos a pasteurização dos vinhos em todo o mundo.
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