29 de maio de 2013

O artigo e o substantivo

Por
Carlos Frederico March
(Freddy)



Um texto bem humorado

Já faz bom tempo, ainda na época em que as mensagens eram trocadas por e-mail e não mandadas por redes sociais, facebook ou algo que o valha, cheias de figurinhas dançando em edições de power-point que passam de tela em tela, irritando quem quer apenas ler o conteúdo, eu recebi o texto que transcrevo adiante.

O tempo passou e não me foi possível recuperar o autor dessa pérola, que ademais quase que se tornou de domínio público de tantas vezes que frequentou as caixas de entrada dos internautas alguns anos atrás. Se alguém souber-lhe o nome, que nos faça a gentileza de registrar na área de comentários para que possamos fazer jus ao seu criador. Lá vai!

O ARTIGO E O SUBSTANTIVO

Um  substantivo  masculino,  com  um  aspecto plural, com alguns anos bem  vividos pelas reposições da vida.  E  o  artigo  era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas  com um maravilhoso predicado nominal.  Era  ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito  oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e  filmes  ortográficos.
O substantivo  gostou  dessa  situação:  os  dois sozinhos, num lugar sem  ninguém  ver  e  ouvir.  E  sem  perder  essa  oportunidade, começou a se  insinuar, a perguntar, a conversar. O  artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno  índice.

De  repente,  o  elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o  substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns  sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando   elevador  recomeça  a se movimentar. Só que em vez de descer, sobe e pára  justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal,  e entrou com ela em seu aposto.

Ligou  o  fonema,  e  ficaram  alguns  instantes em silêncio, ouvindo uma  fonética clássica, bem suave e gostosa.    Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
 Ficaram  conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez  a  se  insinuar.  Ela  foi  deixando,  ele  foi  usando seu forte adjunto  adverbial,  e  rapidamente  chegaram  a um imperativo, todos os vocábulos  diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu  ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um  período  simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela  confessou  que  ainda era vírgula.

Ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou  outra soletrada em seu apóstrofo. É  claro  que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente  oxítona às vontades dele, e foram para  o comum de dois gêneros. Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa.  Entre  beijos,carícias,  parônimos e substantivos, ele foi avançando cada  vez  mais:ficaram  uns  minutos  nessa  próclise,  e  ele, com todo o seu  predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam  na posição de primeira e segunda pessoas do singular, ela era um  perfeito  agente  da  passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do  seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.

Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício.  Ele  tinha  percebido tudo,e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois,  que  se  encolheram  gramaticalmente,  cheios  de preposições, locuções e  exclamativas. Mas  ao  ver aquele  corpo  jovem,  numa  acentuação  tônica,  ou  melhor,  subtônica,  o  verbo  auxiliar  diminuiu  seus advérbios e declarou o seu  particípio na história. Os  dois  se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por  todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou, e mostrou o seu adjunto  adnominal.

Que  loucura,  minha  gente.  Aquilo  não  era  nem  comparativo: era um  superlativo  absoluto.  Foi  se  aproximando  dos  dois, com aquela coisa  maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos.  Foi  chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao  seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois.  Só  que  as  condições  eram estas: enquanto abusava de um ditongo  nasal,  penetraria  ao  gerúndio  do substantivo, e culminaria com um complemento  verbal no artigo feminino.

O  substantivo,  vendo  que  poderia se transformar num artigo indefinido  depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final  na  história:  agarrou  o  verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela  janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com  o artigo.



Nota do Editor: O Freddy faz a ressalva de que não deu o devido  crédito por desconhecer o autor do texto. Em busca na rede encontramos um site onde ele está publicado, também lá sem indicação expressa do autor. Quem souber, por favor, informe. http://www.letras.etc.br/joomla/index.php?option=com_content&view=article&catid=32%3Amiscelanea&id=45%3Ao-romance-do-artigo-e-do-substantivo&Itemid=54

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