Por
Carlos Frederico March
(Freddy)
Um texto bem humorado
Já faz bom tempo,
ainda na época em que as mensagens eram trocadas por e-mail e não mandadas por
redes sociais, facebook ou algo que o valha, cheias de figurinhas dançando em
edições de power-point que passam de tela em tela, irritando quem quer apenas
ler o conteúdo, eu recebi o texto que transcrevo adiante.
O tempo passou e
não me foi possível recuperar o autor dessa pérola, que ademais quase que se
tornou de domínio público de tantas vezes que frequentou as caixas de entrada
dos internautas alguns anos atrás. Se alguém souber-lhe o nome, que nos faça a
gentileza de registrar na área de comentários para que possamos fazer jus ao
seu criador. Lá vai!
O ARTIGO E O
SUBSTANTIVO
Um substantivo
masculino, com um
aspecto plural, com alguns anos bem
vividos pelas reposições da vida.
E o artigo
era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era
ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um
sujeito oculto, com todos os vícios de
linguagem, fanáticos por leituras e
filmes ortográficos.
O substantivo gostou
dessa situação: os
dois sozinhos, num lugar sem
ninguém ver e
ouvir. E sem
perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de
lado, e permitiu esse pequeno índice.
De repente,
o elevador pára, só com os dois
lá dentro: ótimo, pensou o substantivo,
mais um bom motivo para provocar alguns
sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses,
quando elevador recomeça
a se movimentar. Só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou
de toda a sua flexão verbal, e entrou
com ela em seu aposto.
Ligou o
fonema, e ficaram
alguns instantes em silêncio,
ouvindo uma fonética clássica, bem suave
e gostosa. Prepararam uma sintaxe
dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
Ficaram
conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.
Ela foi deixando,
ele foi usando seu forte adjunto adverbial,
e rapidamente chegaram
a um imperativo, todos os vocábulos
diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a se
aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa
pontuação tão minúscula, que nem um
período simples passaria entre os
dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que
ainda era vírgula.
Ele não perdeu o
ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada
em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras,
estava totalmente oxítona às vontades
dele, e foram para o comum de dois
gêneros. Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre
beijos,carícias, parônimos e
substantivos, ele foi avançando cada vez
mais:ficaram uns
minutos nessa próclise,
e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.
Estavam na posição de primeira e segunda pessoas do
singular, ela era um perfeito agente
da passiva, ele todo paroxítono,
sentindo o pronome do seu grande
travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisso a porta
abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele
tinha percebido tudo,e entrou
dando conjunções e adjetivos nos dois,
que se encolheram
gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver
aquele corpo jovem,
numa acentuação tônica,
ou melhor, subtônica,
o verbo auxiliar
diminuiu seus advérbios e
declarou o seu particípio na história.
Os dois
se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se
entusiasmou, e mostrou o seu adjunto
adnominal.
Que loucura,
minha gente. Aquilo
não era nem
comparativo: era um
superlativo absoluto. Foi
se aproximando dos
dois, com aquela coisa maiúscula,
com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi
chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo
ao seu tritongo, propondo claramente uma
mesóclise-a-trois. Só que as condições
eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal,
penetraria ao gerúndio
do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo,
vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo,
resolveu colocar um ponto final na história:
agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o
pela janela e voltou ao seu trema, cada
vez mais fiel à língua portuguesa, com o
artigo.
Nota do Editor: O Freddy faz a ressalva de que não deu o devido crédito por desconhecer o autor do texto. Em
busca na rede encontramos um site onde ele está publicado, também lá sem
indicação expressa do autor. Quem souber, por favor, informe. http://www.letras.etc.br/joomla/index.php?option=com_content&view=article&catid=32%3Amiscelanea&id=45%3Ao-romance-do-artigo-e-do-substantivo&Itemid=54
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