23 de maio de 2013

Duas domésticas


Quando me sentei, no banco logo atrás, elas já conversavam. Não sou muito bom em avaliação de idade, mas aparentavam, certamente, 50 anos. Um pouquinho menos, um pouquinho mais. Mulatas, gordinhas e bem arrumadas.

O que entreouvi, a principio distraidamente, mas em seguida com ouvidos aguçados, foi mais ou menos o seguinte diálogo, a partir do momento em que uma delas doutrinava, com aparente segurança, sobre a diferença entre tempo de serviço e tempo de contribuição.

Deixemos a palavra com as mesmas:

- Na aposentadoria por tempo de serviço, você tem que ter contribuído por 30 anos, isto não mudou. O que mudou foi a idade mínima para se aposentar, que voltou a ser de 55 anos.

- Mas não tem aposentadoria por idade?

-Tem, aí você tem que ter 60 anos e ter contribuído por 15 anos para a previdência.

- Acho que não entendi direito.

- É que para se aposentar por idade você tem que contribuir pelo menos durante 15 anos. Agora, se você vai se aposentar por tempo de serviço aí a exigência é de 30 anos de contribuição.

Devo ter perdido alguma coisa da conversa, porque o que voltei a ouvir dizia respeito a se aposentar ou não.

- Você vai mesmo parar de trabalhar?

- Vou, estou cansada. Trabalho desde os 15 anos. E você?

- Nesta casa estou há 13 anos. Eu vou continuar trabalhando para ganhar mais um dinheirinho.

- Quanto você ganha?

- Hein!?

A outra parecia não querer revelar o salário. Mas houve a insistência:

- Você ganha mais do que o salário?

- Ganho. E você lá?

- Também ganho, mas é por fora. Tem uma parte que é por fora, não está na carteira.

Eram 9:30h  da manhã e o trânsito estava muito ruim. Segue a conversa.

-Que horas tem aí?

- No meu são nove e trinta.

- No meu são nove e trinta e cinco.

- O meu está certo com o da patroa.

- São SÓ 5 minutos de diferença.

Achei graça, intimamente, pela avaliação de que a diferença entre os relógios era de 5 minutos, como se 5 minutos nada representassem. Quando sabemos que 5 minutos podem ser a diferença entre estar vivo ou morto.

Mas as últimas palavras de uma delas, que iria desembarcar do ônibus logo na primeira parada ao entrar na Gavião Peixoto, foram estas:

- Este é o horário que costumo chegar mesmo. Chego e ela ainda está refestelada na cama.

“Ela”, no caso, presumo ser a patroa, por cujo relógio a doméstica acerta o seu. E a empregada do relato disse mesmo refestelada. Juro!

Nota explicativa: não fui conferir na legislação se estão corretas as informações dadas por uma à outra. Se o caso, vá checar.

4 comentários:

Gusmão disse...

Por falar em domésticas, li em algum lugar que aumentou em 50% o número de demissões de empregadas nos últimos 30 dias.
Abraços

Jorge Carrano disse...

Este assunto ainda vai render muito.
Estão indecisos (executivo e legislativo) quanto a regulamentação, e, mesmo depois de regulamentados os direitos, vai sobrar muita coisa para o judiciário.

Anônimo disse...

As informações dadas não estão precisas.

Jorge Carrano disse...

Sugiro que acessem os endereços a seguir e obtenham informação oficial da previdência.
http://www.previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=19
http://www.previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=15