7 de maio de 2013

Dunga e Bernardinho


Olha só, alguns séculos depois de sua morte, em 1616, a vida de Shakespeare, tido e havido como o maior dramaturgo de todos os tempos, cujas peças foram e são encenadas sempre com sucesso, em diferentes montagens, tem tido sua vida esmiuçada por estudiosos, biógrafos, jornalistas e espíritos de porco em geral, que acabam por descobrir, ou inventar, alguns elementos discutíveis do caráter do “Bardo de Avon”, ou “The Bard”.

Em filme de exibição recente  ("Anonymous") ele é retratado como alguém incapaz sequer de escrever e que colocaria sua arte a serviço dos Tudors, então instalados no trono britânico.

E foi explorada por muito tempo, até por falta de interpretação dos costumes da época, que ele não foi mesquinho ao deixar em testamento sua  “second  best bed” para sua esposa.

Mas muitas coisas incompatíveis com sua imagem pública conhecida, divulgada e enaltecida, e que são verdadeiras, têm sido divulgadas.

Jean-Jacques Rousseau, que teve a coragem de colocar seus 5 filhos em um orfanato, anos mais tarde teve o desplante de escrever um livro sobre a arte de educar filhos.

Não se pode olhar muito de perto, nem celebridades e nem mesmo parentes e amigos mais chegados. De repente você pode se decepcionar e/ou decepcioná-los você mesmo. Sim, porque não estamos imunes a esta regra estabelecida por Caetano Veloso: “De perto ninguém é normal”.

J. R. Guzzo, em excelente matéria recentemente publicada, fala de aparentes, ou não, contradições humanas, referindo-se a nomes respeitabilíssimos, de reputação consagrada, cantadas em prosa e verso.

Refiro-me a Abraham Lincoln e Robespierre. O primeiro, que dizia e  assumia escrever que os negros eram raça inferior, foi um abolicionista de primeira linha, assumindo uma guerra para acabar com o regime escravocrata.

O segundo, um dos importantes líderes na revolução francesa, chegou a propor o fim da pena ade morte no país. Entretanto, ao estar no poder, determinou a morte de cerca de 50.000 “inimigos da revolução”, que foram para a guilhotina.

No caso dele, numa destas reviravoltas do mundo, acabou sendo guilhotinado. A história não perdoa.

Agora me dou conta de  que a digressão de caráter introdutório ao tema  e personagens que pretendia abordar ficou muito grande o que me leva o objetivar o texto.

Pretendia falar de Dunga e Bernardinho, dois desportistas vencedores, intensos em suas atuações como atletas e como técnicos, com espirito de liderança, garra e vontade de vencer e que não aceitam a derrota sem luta, determinação e aplicação.

Aliás não aceitam mesmo quando presentes esta força de vontade, este empenho, porque só admitem a vitória. E acreditam que o caminho do sucesso passa pelo trabalho árduo, penoso, de sacrifício  e entrega.

O que a coisa do início, passando pela citação de Cetano tem a ver com os vitoriosos Dunga e Bernardinho? É que tenho receio de enaltecer os feitos, as atitudes, a trajetória deles e mais tarde descobrir que a história não é bem assim. E haveria controvérsias quanto ao caráter, a índole, a moral e a ética dos mesmos.

7 comentários:

Gusmão disse...

O dito popular já consagrou: "ninguém é perfeito".
Digo eu, de perto ou de longe.
Abraços

Jorge Carrano disse...

Não sabia ser você tão céptico.
Bem, está na linha do Millôr, quando este dizia que "o ser humano não deu certo".

Riva disse...

A propósito .... O Engenhão vai continuar se chamando Estádio João Havelange ?

Sds TETRAcolores

Jorge Carrano disse...

Riva,
Não estou defendendo e aprovando Havelange, ou sequer endossando suas condutas reprováveis.
Mas nós, povo brasileiro, temos telhado de vidro. Quando em 1962 conquistamos o bicampeonato mundial e louvamos o Mané Garrincha, fizemos de conta que não vimos o Havelange com seu prestígio na FIFA, facilitar as coisas para nós.
A Espanha foi garfada vergonhosamente, tendo um gol anulado e um pênalti escandaloso não marcado (aquele do passo à frente do Nilton Santos).
E mais, na partida final o Garrincha não poderia jogar porque fora expulso de campo na semifinal. Mas juiz e súmula desapareceram milagrosamente, num passe de mágica senão orquestrado pelo menos com o beneplácito de João Havelange.
Como disse o Caetano e eu reproduzi: de perto ninguém é normal, ou limpo, ou decente.
Num país em que deputados já condenados pelo STF estão votando projetos de interesse público e o presidente do senado é o Renan Calhorda, nada mais me impressiona.

Gusmão disse...

Esse José Maria Marin que está no comando da CBF é igual ou pior do que o Havelange.
E Lula?
Ou seja, da vontade de vomitar.

Freddy disse...

Frase que cunhei em 1977, depois de viver 7 meses na Alemanha e ter passeado pela Europa:

"Tenho vergonha de ser brasileiro"

Em verdade, ela foi pensada depois de ter conhecido a Holanda, país de 1º mundo que tem de empurrar o mar para existir. E nós na m... em que estamos, com essa terra toda abençoada. Passados já 36 anos, nada ainda aconteceu por aqui que me faça mudar de opinião.

Sobre o tema do post, nada consigo acrescentar ao que já disse Caetano.

Abraços
Freddy

Riva disse...

Carrano, não me lembro de nada disso que vc relatou sobre a Copa de 62 .... rsrsrs

Quanto ao juiz e súmula, não é verdade que ambos desapareceram. Somente a súmula desapareceu, porque o juiz foi visto (e fotografado) na mesma semana passeando na famosa calçada de Copacabana ..... rsrsrs

FLUi, porque hoje é dia de desespero !