15 de março de 2013

Chuvas e trovoadas


Ele se aprontou e saiu para o trabalho. Resolveu passar, primeiro, no barbeiro, para cortar o cabelo. Afinal estava muito grande.

O barbeiro, de muitos anos, de aparência rude, mas de trato educado, nasceu e cresceu no interior. Por isso tem a sabedoria da vida, própria dos que vivem na roça e aprendem com o comportamento dos animais e a identificar sinais da natureza.

Na véspera havia chovido a cântaros, muita trovoada e relâmpagos. Estrondos violentos seguidos de um temporal que o Nelson Rodrigues classificaria (de pilhéria), como igual ao do 5º ato do Rigoleto.

O inicio da conversa com o Evaristo, esqueci de dizer que este era o nome do barbeiro, como sói acontecer, foi o temporal da noite anterior.

Como fazia um lindo dia, com céu limpo e sol brilhando, o Evaristo disse que tal se dava por causa dos trovões da noite anterior, nas próprias palavras: “quando troveja muito mesmo, no dia seguinte  amanhece limpo, sem nuvens”.

Acabado o corte, pago o serviço, o cliente pegou um taxi para o centro da cidade. Informado o destino, o início da conversa foi a condição de tempo e o temporal da véspera que deixara vestígios na rua: muita lama e ainda algumas poças d’água junto ao meio-fio.

Disse o taxista: que chuvarada ontem hein? O passageiro retruca: mas veja como está lindo o dia hoje. Sabe por que? Porque quando tem muito trovão, como ontem, o dia seguinte fica claro e limpo.

É bem de ver que passou adiante o conhecimento adquirido fazia pouco tempo no barbeiro, sem pejo.

O taxista, retornando ao seu ponto, comentou com o colega que lá já estava, sobre o temporal. Este, por sua vez,  indagava se a chuva iria se repetir naquele dia.

Ora, o motorista do taxi que acabara de encostar no ponto, tinha ouvido de um passageiro, não fazia muito tempo, que a trovoada forte etc....

Este outro taxista, cujo nome não vem ao caso, assim como o do primeiro, porque não são importantes para a conclusão do pensamento, da moral desta história, assim que embarcou o seu passageiro, arranjou uma maneira de demonstrar seu mais novo aprendizado, referindo-se ao tempo bonito, sem nuvens, embora o temporal do dia anterior: “sabe, quando tem temporal com muita trovoada, o dia seguinte fica limpo”.

Não vou cansar a paciência de vocês contando em detalhes todo o ciclo que se formou naquele mesmo dia e que chegou ao Twitter e ao Facebook, com a informação do barbeiro humilde.

Vou atalhar o caso, antecipando que o passageiro chegou ao escritório e assim que o assunto caminhou para o tempo, fez o comentário de que a trovoada forte, etc...

Um dos funcionários do escritório que ouviu a conversa, na hora do jantar em casa, comentou com a mulher que trovoadas têm a vantagem de limpar o tempo e por isso o dia fora tão bonito em contraposição ao temporal da véspera.

A filha que estava à mesa, ao final da sobremesa foi para o computador e tuitou com amigas.  Pronto! O comentário despretensioso do barbeiro caiu na rede.

Se tem embasamento técnico-científico ou não, pouco importa, se a natureza tem esta regra e a obedece é irrelevante.

Vai correr o mundo.

12 comentários:

Freddy disse...

Tive Twitter e cancelei porque não tinha smartphone. Agora tenho. Acho útil para saber condições de tráfego e locais de blitz de lei seca.
Acho que vou me recadastrar nele.
;-) Freddy

Gusmão disse...

No verão parece que esta coisa funciona. Lembro dos tempos de menino quando caia tromba d'água, com trovões e não demorava o sol aparecia brilhando com céu limpo.
Abraços

Jorge Carrano disse...

Verdade Gusmão. Lembro bem disso. Nós, eu e a garotada da rua onde morávamos, fazíamos, com carvão, na calçada, um sol enorme porque segundo a lenda atrairia o atro rei de volta.
Ah! Nossas crenças juvenis, que tinham embasamento científico e não sabíamos.

Jorge Carrano disse...

Se não tinha apoio científico, na acepção da palavra, tinha nas leis da natureza.
Depois do temporal ainda soltavamos cafifa até as 19 horas.

Freddy disse...

Quando os urubus voavam baixo: chuva.
Quando voavam bem alto: tempo bom!

Eu vivia olhando pra cima. Conhecia razoavelmente bem a previsão de tempo, meus hobbies dependiam disso. Não tinha algoritmos complicados, apenas me guiava por épocas e tendências. Os tipos de nuvens e o padrão de ventos sempre me diziam algo.

Eu diria que tempo bom depois de uma tempestade de verão tem a ver com a própria natureza da chegada dessas nuvens. Chuva derivada de um tempo ruim de vários dias raramente desenvolve o jeitão de tempestade tropical com raios e trovões.

Já uma borrasca chega com batedores, trombetas, iluminadores de cena, faz seu ato ou estrago e se vai. Daí o ciclo pseudo científico descrito no post passa a fazer sentido.

Abraços
Freddy

Jorge Carrano disse...

Dentro de poucos minutos novo post no ar.

Riv4 disse...

Os grandes temporais trazem-me boas recordações da infância :

1) Minha avó colocava espadas de São Jorge nas janelas da casa durante os temporais, uma espécie de proteção ??!!

2) Nossos pais deixavam a gente faltar a escola quando estava chovendo muito. Muito boa essa ! Mas confesso que lembro que ficava nervoso, porque tinha que pegar a matéria TODA com algum colega, e normalmente ninguém gostava de emprestar o caderno.

3) Quando nossa rua (Itaocara) era ainda de terra, era uma festa. Por ser uma ladeira, formava um verdadeiro rio, e nós fazíamos uma MEGA represa. Era diversão certa !

4) Outra diversão era jogar sabão em pó em uma calçada especialmente lisa, correr e deslizar de peito na calçada, em grandes competições de distância percorrida. A calçada mais lisa pra isso era de um vizinho, chamado Seu Lelé. Não sei porque o apelido dele era esse .... sei que era vascaíno kkkkkkkkkk

Os comentários sempre terminam em futebol ... não tem jeito !

Sds TETRAcolores

Freddy disse...

Sempre gostei de tempestades, estando abrigado obviamente. Em meu terraço ainda hoje gosto de observar as forças da natureza se concentrando, nuvens plúmbeas e raios absolutamente maravilhosos cruzando os céus.
Antes que me perguntem, confio que o cone de cobertura do para-raios de meu edifício me proteja em meu terraço. Teoricamente sim.

Aproveito para, sem falsa modéstia, comentar que quando no Admissão ao Ginásio (Curso Alzira Bittencourt - 1961) fiz 2 redações que receberiam nota 10. No entanto, a diretora (D. Alzira, rigorosíssima) se recusou a me dar a nota porque elas foram feitas em casa e ela supunha que tivesse dedo de meus pais na prosa. Então, numa prova de português na escola eu fiz nova redação, “O Dever”. Então e só então D. Alzira se convenceu que era eu mesmo que havia feito as 2 redações nota 10.

Títulos? “A Praia” e “A Tempestade”.

;-) Freddy

Jorge Carrano disse...

Vê-se, Freddy, por seus posts, que não lhe faltam inspiração e talento para a escrita.
Parabéns!

Freddy disse...

Obrigado, Carrano.
Citei o caso das redações por causa do título de uma delas: "A Tempestade". Pena que se perdeu com o tempo...

Sobre escrever bem, estou levando uma "coça" no bom sentido. Andei escarnecendo em algum lugar (acho que via Facebook) o sucesso da série 50 tons de cinza. Julgava que a autora conseguiu estender uma bobagem sado masoquista por 3 volumes, o que eu poderia talvez ter descrito em 3 capítulos.

Quanta infantilidade a minha... Como sou primário no meu escrever, comparando... Estou achando deliciosa a maneira de EL James relatar a estória. Talvez até faça um post a respeito de minhas impressões sobre o livro (alertando poder ser spolier = desmancha prazeres).

Abraços
Freddy

Riv4 disse...

Não acredito que um cara inteligente como o Freddy possa enxergar/perceber qualquer coisa de valor nesse livro.

Comprei tb por curiosidade, e afirmo .... um lixo, até para quem curte pornografia. Muito mal escrito, mas descrito, uma coisa horrorosa.

Não tem sensualidade, não tem classe, e pior, não tem "tesão" nas descrições....parece que quem escreveu nunca teve uma transda legal na vida .... uma amadora na cama.

Um filmezinho pornô amador é muito mais legal.

Jorge Carrano disse...

Bem, Riva, o Freddy ficou de fazer uma resenha do livro para publicação no blog.
Vamos aguardar o que será comentado.