12 de março de 2013

Souza e Gessi


São, ou eram,  não sei deles há muito tempo e já eram entrados em anos quando os conheci e os contratei como uma espécie de “caseiros”.

O Souza na casa em Inoã, pequena, que justificava o caseiro apenas para tomar conta do pomar e evitar o furto das laranjas, limões, cana e do aipim plantado nos fundos do terreno.

Vejam vocês que o local do terreno  era fruto de um loteamento, em área onde havia posseiros. Um deles, em contrapartida pela desocupação da casa humilde  que possuía, ganhou um lote de 1.000 metros quadrados, bem ao lado do meu terreno, dividindo cerca. Teve ajuda, também, para construção da casa, que era bem ajeitadinha, em alvenaria.

A área de mil metros quadrados do terreno dele nua, absolutamente terra, sem qualquer tipo de cultivo. Só para não pecar e mentir pelo exagero, tinha uma tamarineira plantada.

Vejam a contradição. Eu que frequentava o local apenas em alguns finais de semana, cultivava limões e laranjas e mandioca e cana. Ele, sem emprego fixo, com um terreno de mil metros com o mesmo tipo de solo, não plantava nada. Se não tinha um biscate ficava perambulando de casa para a birosca onde tomava cachaça, enquanto conseguia fiado.

Assim, fazendo um bico (empreitada)  ou outro, de capina,  para um dos proprietários de terrenos no local ia vivendo conservado na cachaça que consumia com o fruto ($$) da capina. E o furto das frutas dos vizinhos.

Como era péssimo no trabalho, lento porque preguiçoso jamais o contratei preferindo manter o Souza com pagamento mensal, apenas para fiscalizar os intrusos. É bom que se diga que o Souza não era um caseiro exclusivo. Ele prestava o mesmo serviço para mais dois donos de terrenos ali por  perto, cuidando de regar os jardins (como o meu) nas épocas de maior seca no verão. E capinava, evitando o crescimento das ervas daninhas.

Já o Gessi trabalhou para mim em São José de Imbassaí, numa casa um pouco maior. Foi vigia durante todo o tempo de obra de reforma, que durou cerca de 5 meses e depois ficou para a limpeza do terreno, fazer cerca e pequenos serviços extras, como conseguir dezenas de garrafas que serviriam, quebradas, para colocar no muro como proteção adicional contra intrusos atraídos pelas mangas, principalmente.

Bill
Mais tarde, com a chegada e crescimento do Bill, que virou um baita manto negro de respeito, esta providência dos cacos de vidro como legitima defesa putativa se tornou desnecessária, mas durante algum tempo foi bastante útil.

Não, não vou utilizar  este post para escrever sobre  vida e obra de “matutos”, cabras do interior, nascidos e criados no interior.

O que me disponho a fazer é relatar alguns dos “causos” que eles nos contavam e  eram responsáveis por alguns momentos de risos e pilhérias.

Antes de falar das histórias, o que acontecerá outro dia, em outro momento, pois terei que recorrer as memórias de meus filhos e sobrinhas que frequentavam a casa, vou falar da sabedoria que esta gente tem sobre as coisas da natureza.

Se o morro estava com uma nuvem escura em seu redor, deixando, ou não, à mostra apenas o ponto mais elevado, o cume, este fenômeno significava chuva em breve, ou, no dizer do Gessi: “Quando o morro está com aquela peruca, na certa vem água do céu”.

O vento sudoeste, que ele identificava e eu até hoje não tenho a menor ideia de como reconhece-lo, tinha algumas características, entre outras levar as nuvens para longe.

Se os urubus voavam em círculo, a baixa altitude,  certamente iria chover.

Se o céu se apresentava amarelado/alaranjado na linha do horizonte, teríamos calor no dia seguinte, com tempo bom. Bom para quem, cara pálida,  já que uma chuvinha esta sim  seria boa para a lavoura.


Raramente erravam em seus prognósticos com base na observação da natureza e no comportamento de animais.

Um canto de pássaro, um uivo de guará, um bando de maritacas que passa em direção ao norte fazendo aquele coro de sons mal ensaiado, um alarido forte, tem a ver com alguma coisa que já não lembro.

Maritacas em bando

Vejam e ouçam a gritaria das maritacas em http://www.youtube.com/watch?v=gDpRISyrUy8

13 comentários:

Anônimo disse...

E os "causos" ?
:D Fernandez

Riv4 disse...

Seu post me transportou para o passado .... rsrsrs.

Primeiro, por causa do Bill.

O meu grande companheiro dos (acho)7 aos 16 anos foi o Boy, vira-lata de 1ª.
Na verdade, infelizmente, eu me afastei dele a partir dos 17 por causa de faculdade no Rio (iniciei com 17 anos), namoro firme, etc ... Mas enfim, infância e adolescência era ele, o Boy, meu inseparável companheiro.
Andava comigo até pelos telhados da nossa casa no Pé Pequeno, para desespero da minha mãe e da minha avó. Eu com uma toalha amarrada no pescoço, fingindo ser o Super Homem !

Em segundo, por causa realmente dessa sabedoria que algumas pessoas tinham/herdaram, ao longo da sua existência.

Lembro-me de poucas, muito poucas ... por exemplo :

- o canto das cigarras ao entardecer = previsão de sol no dia seguinte (até hoje ouço em Icaraí, e é a pura verdade)
- urubus voando baixo em círculo, para nós, era carniça à vista - algum cachorro ou gato morto, provavelmente

Mas já que vc tocou nesse assunto, não sei porque, uma das coisas que mais sinto saudade por aqui, no meio desse asfalto, é o vôo das andorinhas ao entardecer (simplesmente desapareceram de Niterói), e o incrível chilrear dos pardais nas árvores, às 17h todos os dias. Quase nem vejo mais pardais !!

Jorge Carrano disse...

Os pardais simplesmente desapareceram, não é Riva?
Ave perfeitamente adaptada a vida nos grandes centros urbanos, havia aos milhares em Niterói como de resto em todo o Estado.
São várias as teorias sobre as quais li ou ouvi para justificar o súbito (para coisas da natureza 10 anos não são nada)desaparecimento dos pardais. Não são bonitos, são piolhentos, não cantam nada, senão o alarido de seus piados (chilrear no dizer do Riva) dos finais de tarde, mas eram uma presença em nossas vidas, porque caiam facilmente nos alçapões e não serviam para nada. Nós pretendíamos canários, coleros, curiós.
O João Ubaldo Ribeiro foi quem primeiro (que eu tenha lido) suscitou este sumiço dos pardais, atribuindo o fato ao crescimento do número de bem-te-vis, que por serem maiores e agressivos expulsaram os pardais. Sem contar que o alimento passou a ser disputado numa batalha desigual.
Não sei se a teoria encontra apoio entre estudiosos.
Ms o fato é que os pardais sumiram mesmo. Assim como as rolinhas, que também abundavam no Rio de Janeiro.

Jorge Carrano disse...

Caro Riva,
Sobre o assunto pardais, já postei em 2010, e você pode ler em http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2010/02/pardais.html

Selecione e cole a URL em seu navegador.
Abraço

Freddy disse...

Li por aí que os pardais são viralatas com asas. Agressivos e desordeiros, as únicas aves que os aturavam eram justo as andorinhas. Por isso no Pé Pequeno havia ambos. Aos poucos os bem-te-vis começaram a proliferar e - vocês estão dizendo - expulsaram os pardais. Não faço questão, prefiro os bem-te-vis.

Aqui na cobertura em Icaraí vejo ao entardecer as andorinhas, não com tanta frequência quanto no passado, mas vejo. Gostam de caçar içás e formigões com asas. Aparecem outros pássaros que não conheço e não raro gaivotas aos bandos. Ah, sim, urubus! Quando voam baixo é chuva na certa. Urubus nas alturas é garantia de tempo bom.

Abraços
Freddy

Ricardo disse...

Big Jorge,
Voce acaba, talvez sem querer ir ao "x" da questao agraria, quando mencionou o caso do Souza que tinha acesso a terra e uma condicao de trabalho que lhe foi "dada" mas optou por mais por perambular em busca de biscates que nao lhe exigiam comprometimento profissional com seu negocio, apenas lhe proporcionava subsistencia e cachaca. Qualquer semelhanca com os "assentados" do MST nao e' mera coincidencia. Abrcao, Rick.

Gusmão disse...

O Riva falou dos pardais e o Carrano informa que já tratou do tema em fevereiro de 2010. Que assuntos ainda não foram abordados no blog? (risos)

Jorge Carrano disse...

Ricardo, caro primo.
Concordo por inteiro, fazendo apenas um reparo em nome da verdade e em defesa de um inocente.
O Souza era o caseiro, que trabalhava. O ocioso, preguiçoso e vagabundo que embora tendo um pedaço de terra não a cultivava era o vizinho cujo nome não declinei até porque não sei. Nunca soube.
Abração.

Jorge Carrano disse...

Caro Gusmão,
Não é por outra razão que o nome do blog é Generalidades...

Ricardo disse...

Big Jorge, que vc e o Souza entao me desculpem pela confusao. Obrigado, Rick

Jorge Carrano disse...

Apenas para constar, o nome de batismo do Bill era William Longhall. Bill era só pra os íntimos que eram poucos, ele era muito seletivo.

Riv4 disse...

Pensei que era SEVEERINO o nome da criatura, tendo em vista que na construção civil, todo severino tem apelido de Bill ! rsrsrs

Jorge Carrano disse...

Eu queria ver você fazer esta piadinha na frente do Bill, Riv4.
De longe é mole fazer gracinha com ele. (rs).