Quem me conhece, ou mesmo não me conhecendo acompanha este
blog, sabe que sou agnóstico.
Mesmo quando fui coroinha ia à igreja mais pela farra
infantil, pela atividade envolvida, que fascinava a criança que eu era.
Assim de chofre, digo que agradava-me acionar o sino (ao lado
da igreja) convocando os fiéis; ganhar as
gorjetinhas dos padrinhos nos batizados;
ir até a Ilha da Conceição, de barco (na época, único meio de lá chegar), quando
uma vez por mês o padre ia rezar uma missa e uma das beatas nos recepcionava em
sua casa com lautos cafés matinais. Eventualmente almoço.
Sim, era interessante vestir aqueles paramentos parecidos com
os do padre e fazer vibrar os pequenos sinos na hora da consagração da hóstia e
do cálice sagrado. E colocar o vinho no cálice para o padre beber com gosto.
Mas estar concentrado, pensando em Deus e na doutrina, francamente não lembro. Quando nas duas ou
três vezes em que me confessei, achava um absurdo ter que contar que me
masturbei (juro que era considerado um pecado).
Nunca fui um católico de fé. Nunca fui um umbandista
concentrado nas duas ou três vezes em que fui a centros espíritas. A um deles
fui também pela possibilidade da viagem. Afinal seria em Mangaratiba e fui
levado pelo amigo Doraly (já citado no
blog algumas vezes), porque o irmão dele mais velho (Mindo) era o babalorixá.
Outra vez, na verdade, não era um centro espírita. Era uma
reunião em torno de uma mesa, e foi na casa de um casal vizinho nosso (Marieta e Lourival). Não gostei
nem um pouco, não me senti à vontade.
Abandonei a função de coroinha e nunca mais voltei a centros
espiritas, seja levado, seja de moto próprio. Aí “deu-se a melódia”. Wanda (e
principalmente a família dela) queria casamento na igreja. Foi um parto da
montanha porque casar em outro estado, na jurisdição de outra paróquia, exigia
um protocolo absurdo. Precisava de autorização do padre da igreja onde eu fora,
na infância coroinha.
Foi surreal a burocracia exigida e não fosse a interveniência
de minha mãe não teria obtido o tal documento. Minha irmã, que costuma acompanhar
os posts, deve lembrar melhor do que eu porque já me encontrava a mais de
quatrocentos quilômetros, no Espírito Santo, onde casaria.
Todo este introito foi necessário para poder afirmar que não
tenho religião. Tenho fé, o que é diferente.
Esta semana atendi uma cliente espírita, muito estudiosa da
filosofia de Hippolyte Leon Denizard Rivail, ou simplesmente Allan Kardec,
codificador do Espiritismo.
Naquele approach
inicial, começamos pela crise econômica e, conduzida por ela, a conversa migrou
para o espiritismo.
Olha gente, não é e nem será meu caso, pois já passei da
idade de começar qualquer coisa, mas ouvindo as teses e os argumentos de um
estudioso, fica claro que há consistência em muitos pontos do espiritismo de
Kardec.
Claro que não duvido, racionalmente, da imortalidade do
espírito. Acredito que vivemos várias vidas, seja como aperfeiçoamento, como
dizem na doutrina, ou não.
É difícil aceitar que a morte física implica morte espiritual
também. Não faria sentido e ficaria faltando um elo para explicar como algumas
crianças se revelam talentosas (na música, na pintura, etc.) senão porque tiveram
experiências nestes campos em vidas passadas e que não são deletadas.
Algumas pessoas nascem com insuficiências, que lhes obriga a
uma vida com limitações físicas e/ou mentais. Pode-se aceitar que aquele
espírito precisava passar por aquelas provações para corrigir ou melhorar algum
aspecto de sua evolução – e elevação.
Fiquei preocupado e me assustei com a ideia, quando ela disse acreditar que poderíamos ter sido nós – ou alguém
próximo de nós - que crucificamos Jesus, e participamos dos tribunais de inquisição, com apoio na imortalidade do espirito e
da reencarnação. Achei melhor atalhar e mudar o rumo da prosa.
Houve apenas tempo para ela arrematar com o exemplo de Da
Vinci, que segundo ela era um espirito evoluído, de muitas vivências anteriores
que lhe permitiram acumular muito conhecimento em várias áreas do conhecimento.
Não tenho conhecimentos teológicos, sou inteiramente ignorante
quanto à filosofia budista, os valores judaicos, a fé protestante, as religiões
africanas.
Mas fiquei depois matutando o que teriam feito em vidas passadas os espíritos ora ocupando os corpos de Lula e Cunha, por exemplo, para estarem reencarnados nestes personagens do mal.
Tenho uma certeza. Alguém que não está entre nós, com vida material, zela por mim. E eu confio muito nesta Entidade, porque tenho motivos para acreditar e confiar. Simples assim. O resto são realidades incognoscíveis.
Religião não me faz falta. A fé sim ajuda.
12 comentários:
Recebi e-mail de meu primogênito comentando sobre ateísmo:
"Semana passada eu estava comentando sobre a teoria do Pascal, de que, na dúvida, é melhor acreditar que Deus existe. Se ele não existe, tudo bem, vc se enganou por alguns anos. Mas se ele existe, e você não acreditou, vai se dar mal pela eternidade.... "
Ele se referiu, claro, a "A Aposta de Pascal", teoria filosófica de Blaise Pascal, formulada e publicada em seu livro "Pensées"
Alias que este filósofo, matemático e físico francês, do século XVII, poderia muito bem estar entre os fora de série, objeto do post em
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2016/10/os-fora-de-serie.html
(copy and paste)
Tenho estudado a doutrina espírita de Allan Kardec. Muitos conceitos nessa doutrina caem como uma luva em minhas convicções, contudo tenho dúvidas que procuro dirimir com fervor.
Fui criado católico e também tenho dúvidas, a maior parte delas relacionadas com a dificuldade dessa religião reconhecer erros históricos, crassos.
O mais curioso nesse trololó todo é que você, com toda sua orientação dita agnóstica, tem mais certezas que eu. A principal delas é a vida após a morte e a reencarnação! Como posso eu estar empenhado em ne converter ao espiritismo e ter dúvida sobre seu maior fundamento? Concluo que você é mais espírita que eu!
<:o)
Pode ser, Freddy.
Visitei, algumas vezes, a primeira por mera curiosidade e as outras acompanhando dois de meus filhos, que acreditam na religião espírita, o túmulo de Alan Kardec, no cemitério de Pierre Lachaise, em Paris. Em todas essas vezes sempre havia muitas pessoas também visitando o túmulo daquele que é considerado o pai do espiritismo. Isso demonstra que ele tem muitos seguidores até os dias de hoje. Mas, também vi vários outros túmulos com muita gente visitando os mesmos, como o de Jim Morrison (da banda de rock "The Doors") cujo corpo nem mais lá está, trasladado para os Estados Unidos; o de Maria Callas, Balzac, Yves Montand e sua mulher Simone Signoret, Modigliani, Edith Piaff. A curiosidade das pessoas é insaciável, ainda mais tratando-se de pessoas que foram muito importantes em vida. Mas, as visitas ao túmulo de Kardec pareceram-me mais autênticas, visitas essas de pessoas que realmente pareciam acreditar naquilo que ele escreveu e propagou. Fui criado como católico, mas já tem tempo que não acredito no catolicismo. Acho que nossa vida não termina com nossa morte e que continuamos em outra dimensão a viver de outra forma. Acredito em Deus, todas as noites rezo para o bem dos meus e da humanidade como um todo. Reza pessoal, particular, só eu e Deus. Talvez seja essa uma das poucas coisas que o homem moderno ainda não conseguiu elucidar: existe ou não vida após nossa morte? Já descobriram tanta coisa: eletricidade, avião, rádio, penicilina, vacinas, televisão, computadores. Talvez um dia esse segredo seja desvendado...
Até que seja aceita por todos, antecipo-me na crença de que há, sim,vida após a morte.
Carlinhos,
Permito-me avaliar que você é um aliado da tese do Mário Quintana, de que "a religião é o caminho mais longo para chegar a Deus".
Não gosto de discutir religião porque não tenho cultura suficiente. E nem experiências pessoais no terreno da fé. A crença em Deus é fruto da orientação religiosa de meus pais e avós.
Lendo o comentário inicial do manager, citando Pascal, acho que o filósofo francês lançou uma boa teoria: pelo sim, pelo não, melhor acreditar que Deus existe.
Carrano:
Não sei se a religião é o caminho mais longo para se chegar a Deus. Não me considero um expert na matéria, por isso tudo o que sei é fruto de mera observação. Acredito em Deus porque entendo que Ele é a única explicação plausível para a criação da Terra, seus habitantes, a perfeição que é o corpo humano e dos animais, o equilíbrio da Natureza. Se não, de onde teria vindo tudo isso? Não acredito mais em religião, porque seria acreditar na justiça da Inquisição e na correção de homens como o reverendo Moon e de tantos outros que conseguiram a adesão de fanáticos para segui-los cegamente até ao suicídio coletivo. Como também conseguiram Hitler e Napoleão, apenas para citar exemplos mais recentes. Acredito em vida após a morte pois entendo que nossa passagem aqui pela Terra é só uma etapa de nossa existência, que vai muito além de nossa vida terrena. Mas, na realidade, não sei se tudo o que penso ou entendo é o correto.
Qual seria a população espiritual hoje em dia ? E como é o procedimento para reencarnar por aqui, ou em outro mundo que não conhecemos?
Sou pela energia que contemos, que acaba quando falecemos. Sou .... não quer dizer que assim seja. Sou pela Física e Química que conhecemos, quântica ou não. Morreu .... morreu.
Será que um dia saberemos ? NÃO, nunca saberemos, porque se a reencarnação for um fato, inexistem testemunhos VIVOS desse processo ... são sempre testemunhos sem consistência no mundo 3D.
O resto é viagem na maionese. Aquela máxima ...bandido bom é bandido morto ! Concordo, no sentido de que morto, não fará MAL a mais ninguém.
"Posso não concordar com uma palavra do que dizes, mas lutarei até o fim pelo direito de dizê-lo." (Voltaire)
Ou numa linguagem mais clara: "I disapprove of what you say, but I will defend to the death your right to say it".
Aproveito para lançar um repto: A frase acima, citada ad nauseam, recorrente, tomada como referência de iluminismo, é mesmo do François- Marie Arouet, ou de sua biógrafa Evelyn Beatrice Hall?
Cartas para a redação (rsrsrs).
Hmmm... Pelo jeito eu e Riva temos sentimentos similares quanto à energia universal da qual captamos um tico enquanto vivos e que se tornará inalcançável quando a máquina pifar...
Quanto a Voltaire, confesso minha ignorância para debater.
Nenhuma mulher comentou esse assunto muito interessante e polêmico, com muitas leituras diferentes ....
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