22 de outubro de 2016

Torrada Petrópolis

Estava, desde há muito, para escrever sobre o comércio tradicional no centro de Niterói, de meus tempos de infância e juventude.

Tinha o tema, mas não tinha a abordagem. Eis que hoje, ao chegar mais cedo em casa, ainda no horário do lanche da tarde. Então, para minha surpresa, Wanda coloca sobre a mesa um belo (e saboroso) pão Petrópolis que ela mesma fez, a partir de uma receita de programa matinal de televisão.

Pão Petrópolis
Logo associei às "torradas petrópolis" que meus pais pediam, para acompanhar o chá, na "Leiteria Brasil", na Rua da Conceição. Nós, eu e minhas irmãs, se bem me lembro tomávamos "Toddy" batido em liquidificador (ficava espumante e o leite, bem o leite era leite mesmo - bons tempos).

Torradas "petrópolis"
Este não era um programa frequente, mas quando era dia era muito prazeroso. Em seguida, na parte da frente da leiteria, meu pai comprava biscoitos amanteigados (tinha um chamado "Serenata" que era dos deuses), uva "itália", presunto cru fatiado (fantástico), manteiga e mais uma ou outra guloseima. 

Em dias de recebimento de salários (ou vencimentos, caso de meu pai), a classe média baixa fazia extravagâncias. Lá em casa os vencimentos acabavam sempre antes do mês. Conjugação de dois fatores, de uma lado as despesas eram altas (aluguel, tarifas de energia, água e telefonia, mensalidade escolar dos três filhos, uniforme, material escolar, armazém, quitanda, ufa!!!) e de outro lado a remuneração era baixa.

O milkshake, a banana split e o ice-cream sundae, das Lojas Americanas, no meu caso, era uma vez por mês e lamba. Claro, ou uma coisa ou outra.

MIlkshake
Sundae

Banana split
Mais comuns, e um pouco mais para frente no tempo, os pasteis, com caldo de cana, da "Imbhuí" ou as fatias de pizza do italiano, não o da Rua da Conceição, mas o da Trav. Alberto Victor, ao lado da Prefeitura, era o que gostava de comer (e podia).

Os salgadinhos da "Esportiva", do outro lado da Rua da Conceição, quase defronte a "Leiteria Brasil" eram saborosos. Em especial os camarões  e a língua empanados.

Falar em pão Petrópolis e não falar da padaria "Modelo" - Pão Quente -  é impossível, simplesmente porque era lá que comprávamos o pão de forma (tipo "petrópolis") para as torradas e sanduíches em geral.

Isto antes de entrarem no mercado os industrializados "Pullman" e "Plus Vita". A "Pão Quente" vendia o pão (sempre fresquinho) e fazia mais: fatiava. Comprava-se o pão e depois, num balcão no final da área de venda, pedia-se o fatiamento. Era feito numa máquina simples, pequena, que tinha lâminas verticais. Por vezes havia fila esperando o fatiamento, em especial aos sábados.









Muita gente, eu inclusive, trabalhava aos sábados. E se eu disser onde trabalhava os mais jovens não acreditarão. Trabalhava em banco, que tinha meio-expediente aos sábados (até às 12 horas). 

E tem mais - juro! - os bancos remuneravam dinheiro em conta-corrente, a razão de 6% ao ano. Estou falando do início dos anos 1960 (fui bancário até 1962). E já contei que trabalhei, chefiando as contas-correntes, no "Banco Metropolitano", na Rua da Carioca, no Rio de Janeiro. O controle era do Comendador Clarimar Maia, também dono do "Castelo do Rio", loja de eletrodomésticos.


Mesbla - Passeio
Eletrodomésticos eram vendidos na "Mesbla" e na "Sears", grandes magazines localizados no Rio de Janeiro, e que mais tarde  abriram filiais em Niterói. Depois também vieram as "Casas Neno" e o "J. Isnard", que eram cadeias de lojas.



Mas sobre este comércio mais diversificado escreverei outro dia. Hoje, fico limitado aos comestíveis, citando por último a "Loja Central", que ficava na Praça Martim Afonso (atual Arariboia), e onde era comprado o talharim fresco (era vendido ainda mole e morno) além do queijo "parmezão", nosso prato mais frequente aos domingos, acompanhado de galinha assada.




Notas do editor:
1) todas as imagens foram colhidas via Google

2) links para pão e torrada "petrópolis" e para Niterói antigo.
http://www.casacoisasesabores.com.br/2012/01/pao-petropolis-e-as-famosas-torradas.html

https://www.google.com.br/search?q=fotos+de+niteroi+antigo&newwindow=1&sa=X&espv=2&biw=1093&bih=490&tbm=isch&imgil=-S-nHHvEOdodLM%253A%253B7IspxNGlCmwfhM%253Bhttp%25253A%25252F%25252Fwww.coseac.uff.br%25252Fcidades%25252Fnitfoto7.htm&source=iu&pf=m&fir=-S-nHHvEOdodLM%253A%252C7IspxNGlCmwfhM%252C_&usg=__1S0GZ9ZaZMcivpltDPFq8fdPCsg%3D&ved=0ahUKEwi16MLF8-fPAhWKEpAKHSwuBngQyjcINw&ei=wvEHWLX_CIqlwASs3JjABw#imgrc=IYKHYGRLPFX__M%3A

3) Link para comércio em geral
http://antigasternuras.blogspot.com.br/2010/06/bem-amigos-do-antigas-ternuras.html

15 comentários:

GUSMÃO disse...

Nesta manhã chuvosa e temperatura mais amena, até que umas torradas Petrópolis no café matinal iriam bem.

Aqui em casa colocamos queijo parmesão ralado, antes de colocar no forninho. E manteiga, não margarina.

Riva disse...

Torradas Petrópolis ... demais ! Ainda existem na Leiteria Mineira, no Rio, idênticas às da Leiteria Brasil de Niterói, até porque eram os mesmos sócios, cardápios iguais.

Acho que na Confeitaria Colombo tem, mas devem custar 30x mais !! Tudo na Colombo é absurdamente caro ...não sei como sobrevive cobrando preços tão altos.

Você falou das Lojas Americanas e esqueceu dos cachorros quentes de lá .... inigualáveis, na época.

Também trabalhei aos sábados das 7 às 11hs por muitos anos, na construção civil. Não lembro o ano que isso acabou ; aumentaram a carga horária semanal de 2ª a 6ª, e paramos de trabalhar aos sábados.

Engraçado, pensando nisso hoje em dia ..... inimaginável pensar em trabalhar nas obras de 2ª a sábado, e na época, sinceramente, não reclamava. Chegava em casa, fazia um lanche, ia jogar futebol com meus amigos até 17h, e depois, família e filhos.

Outros tempos, outro trânsito, outro estresse, outro povo, outra sociedade ..... e era ditadura militar !! Ah, tá ...... (pano rápido)

E tínhamos qualidade de vida .... sem web.




Jorge Carrano disse...

Pois é, Riva. O sábado era dia útil. Agora é inútil (rsrsrs). Serve para jogos da segunda divisão (rsrsrs).

Esqueci mesmo do cachorro quente das Lojas Americanas. Valeu o registro.

Freddy disse...

Torradas de Petrópolis: de vez em quando ainda as como no D'Angelo, restaurante de Petrópolis, perto do Obelisco. Costumo dizer que a torrada Petrópolis é versão amanteigada, enquanto chamo de torrada americana a versão com queijo parmesão em cima. Pra mim fica mais gostosa se o queijo ralado for grana padano e acrescentado depois da torrada pronta. Manias...

Lojas Americanas de antigamente... Decerto o sundae e o milk shake eram excelentes, mas jamais me esquecerei dos cachorros quentes com mostarda escura, exclusividade (creio) que das LA.

A Modelo Pão Quente era um vício, mas por causa da inigualável empada de camarão palmito e pimenta. De lamber os beiços! A Sportiva era a única que vendia salgadinho empanado de sardinha, exclusividade também. Era viciado nele e no de lombinho de porco!

Mesbla do Passeio e Sears de Botafogo! Fazem parte de minha história de vida!

Quantas lembranças num único post! Valeu!
Abraços
Freddy, já mais animado: a luta começou de fato! Bola pra frente!

Jorge Carrano disse...

Que bom Freddy.
Bola pra frente e para o alto.

GUSMÃO disse...

Que houve com o Freddy?

Jorge Carrano disse...

Saúde abalada, Gusmão.
Nada que com fé e ajuda da ciência médica não possa ser resolvido.
Ele está enfrentando com dignidade e coragem.

GUSMÃO disse...

Então força, Freddy!

Faltaram o Bicho Papão em Jurujuba e o Rincão Gaúcho em São Francisco, ambos da mesma época, dos mencionados.

E as buates
Casarão, nas Charitas; Botijão, na mesma rua; Pla, em Piratininga; e Balaio, na Rod. Amaral Peixoto. Lembram?

Riva disse...

A SEARS em Botafogo tinha um restaurante no último andar, que faz parte da minha vida ; não sei se é isso que o Freddy mencionou.

Eles tinham um churrasco servido num equipamento metálico que vinha na mesa ( um espeto com a carne pendurada), e recipientes com os acompanhamentos. A gente adorava ir lá com nossos pais.

PS : Zé Eduardo, técnico Daquele Time do Mal, chamou o delegado do jogo para o aquecimento .... aguardemos.

Jorge Carrano disse...

O Corinthians, disfarçado de Cruzeiro, não ganhou da mulambada porque, uma vez mais, um bandeirinha ajudou o time.
Que gol absurdo, validado pelo bandeirinha torcedor dos urubus.

Riva disse...

- gol Daquele Time do Mal foi uma vergonha ...

- cigarras cantando lá fora !!

Ana Maria disse...

Este post poderia se chamar "de volta para o passado" tantas são as lembranças que desperta. Além do mais, trata de temas muito conhecidos e apreciados por mim: minha infância e comida. Se estivesse no face ou no whatsapp caberia aqui um emoji.
Apesar de ser 5 anos (4 anos e 11 meses) que o blogmanager, compartilhamos das mesmas lembranças nesta área, visto que as coisas lá em casa só começaram a melhorar depois que eu nasci. Calma, não sou egocêntrica a esse ponto. Existe uma explicação lógica e coerente. Nasci no ano em que a Segunda Grande Guerra terminou; Jorge pouco depois que ela começou. Apenas os que nesta época viveram, sabem as dificuldades pelas quais o mundo passou. Convocação de homens afetando a economia, dificuldade de importação de certos itens causando o desabastecimento de produtos de todas as espécies, e, principalmente, de alimentos. Nosso pai trabalhava em dois empregos e ainda fazia biscates e mesmo assim as carências eram enormes.
Apenas no início da década de 50 as coisas começaram a clarear e lá pelos idos de 55, pudemos apreciar as delícias que Niterói oferecia.
Algumas dessas lojas citadas no post me acompanharam por diversos anos, tais como a Leiteria Brasil, a Italiana, a Esportiva e a Pão Quente.
A Leiteria Brasil com suas torradas Petrópolis, com Toddy gelado e os deliciosos biscoitos Serenata na primeira fase e com almoços rápidos já por volta de 1980.
A Esportiva pelo já citado e pelo bacalhau que lá era comprado por ocasião de festas religiosas, incluindo o Natal.
A Italiana e a Pão Quente merecem um detalhamento maior. Na Italiana minha mãe costumava tomar sorvete nos dias de seu pagamento. costumava tomar sorvete nos dias de seu pagamento. Mas tomava mesmo. Eram no mínimo 4 bolas para satisfazer sua vontade reprimida e eu tornei-me consumidora assídua das pizzas quentinhas, servidas no balcão em fatias. Na Pão Quente, meu pai comprava bandejas de salgados, sempre no pagamento, que escondia sobre a estante após entrar silenciosamente em casa. Mais tarde, estando a família reunida à mesa, ela assoviava. Era a senha para corrermos em busca da guloseima do dia. Claro que fiquei "viciada" nos salgados da padaria. Ia quase diariamente saborear as empadinhas, o lombo com batata e as religiosas. Estas desculpe a heresia, era das mais comidas. Tratava-se de uma trouxinha de massa folhada com recheio de camarão. Acho que nunca comi nada mais delicioso.
As Lojas Americanas da Rua São Pedro, além dos já citados sorvetes, servia um sanduíche denominado Universitário. Eram 3 fatias de pão de forma com patê, queijo e salada. Muitas vezes este foi o meu almoço.
Além disso, lembro também de outros points não citados no blog. O Lido onde aos domingos comíamos petiscos e de vez em quando almoçávamos filé de peixe com molho de camarão e o Derby, restaurante metido a chic que visitávamos em ocasiões muito especiais.
Preciso acrescentar também que as massas frescas, inicialmente compradas na Esportiva, tempos depois papai passaram a ser adquiridas em um empório na Rua Barão do Amazonas. Os fios do talharim vinham molhados e nossa mãe os abria sobre um papel de pão ou pano de prato e os deixava no parapeito da janela para secarem.
Por conta desses hábitos e desses estabelecimentos repletos de tentações, minha vida se resumiu, durante anos, em comer 15 dias e fazer dieta no resto do mês. Mas o que fazer?
Comer é muito bom.

Jorge Carrano disse...

Ana Maria,
Isto não é um comentário (rsrsrs). No mínimo uma palestra (rsrsrs).

Pensei em publicar como um post, mas para não desvincular do que escrevi fica como comentário mesmo.

Nós fomos bastante felizes em nossa humilde e decente família. Nossos pais foram guerreiros vitoriosos, a julgar, sem modéstia, pelo resultado que obtiveram conosco. Nós, filhos, incluída nossa irmã que já descansa em paz, somos prova de que é possível vencer sem conceder, resistindo às tentações, que jamais abalaram as convicções e princípios de papai. E nós sabemos que foram muitas as oportunidades de fraquejar e tirar proveito de cargos e funções públicas que ele teve.

Ana Maria disse...

Realmente. Suas palavras e suas ações forjaram nosso caráter.
Quanto a resistir às tentações, acabei de confessar que não é meu forte quando o assunto é a comida.
Em tempo: fé e força, Freddy. Foi o conselho que recebi quando passei meu mal pedaço e me ajudou bastante.
Se puder, leia Isaias 41:13.

Ana Maria disse...

Cruz credo. Reli meu primeiro comentário está cheio de erros, palavras repetidas ou faltando. Peço desculpas.