6 de outubro de 2016

A MÚSICA EM MIM




Por
RIVA







Freddy, meu irmão, tem a memória de como tudo aconteceu em detalhes. Talvez devêssemos escrever esse post a 4 mãos, como dizem os pianistas. Dessa forma, vou escrever sobre a minha leitura dos fatos.

Devia ter uns 8 anos de idade (Freddy, corrige aí), quando fui obrigado a estudar piano. Outras coisas me obrigavam a fazer, e a que mais me incomodava era vestir roupas que eu não gostava. Já era bem crítico com essa idade, e meus pais não entendiam a questão da individualidade entre irmãos, achavam que éramos duas criaturas iguais.

Foi um inferno, não conseguia tocar, não conseguia estudar, não praticava no nosso piano em casa. Nas aulas, com a Profª Helda (que também tocava harpa), ela colocava suas mãos sobre as minhas para “tocar com meus dedos”, porque dos meus nada saía …. até hoje lembro dos malditos exercícios de Czerny ! 
Além disso tinha as aulas teóricas no Conservatório de Música, com solfejos, canto coral e tudo o mais. Eu não funcionava porque simplesmente não gostava de música clássica, que era o estilo ensinado em qualquer lugar.

Depois de alguns anos, 3 ou 4, tentei o piano popular por uns 6 meses, e não funcionou novamente, porque não suportava as músicas que tentavam me ensinar. Também tinha um enorme bloqueio com as partituras, principalmente com a terrível Clave de Fá (Freddy, explica aí o que é isso !!). A de Dó então …. tenha dó …..

Surge então um fato em minha vida, que até hoje não sei explicar. Estudei 3 anos de acordeão. Tinha um lindíssimo Scandalli preto. Instrumento difícil na mão esquerda, no manejo do fole, mas pelo menos eu gostava das músicas das aulas, e comecei ali a tocar as minhas músicas preferidas. Porque eu não fazia isso no piano, eu não sei.


A música já estava então definitivamente nas minhas veias, com uns 12 anos de idade. Veio então o divisor de águas : surgiram os Beatles, os Rolling Stones e a Jovem Guarda. Meu pai comprou uma bateria para mim, que montei na sala, e acompanhava os discos na vitrola Telefunken.


Certa vez, olhando tudo que nosso jornaleiro Seu Joaquim vendia no Largo do Marron (fiado, meu pai pagava depois), peguei um livrinho das Edições de Ouro, Violão sem Mestre.

PRONTO !! Não larguei mais. Consegui meu primeiro violão com o avô da minha vizinha. Era uma peça muito bonita, que ninguém usava na família dela.

Daí em diante, ganhei uma guitarra marca Alex, que naquela época pendurávamos um pom-pom no cabo, imitando a banda The Pops. Tentativas de fazer uma banda aconteceram, claro, mas nada deu certo. Novos violões, que minha mãe chegou a quebrar ao meio, porque para ela era coisa de vagabundo. Não sei como meu pai conseguiu convencê-la a nos dar guitarras.

Não larguei mais o violão. E com ele rodei por muitos lugares, por causa dele fiz muitas amizades em qualquer lugar, por causa dele me diverti muito, por causa dele continuo me divertindo muito com música, por causa dele a música que eu gostava se entranhou definitivamente em mim.

E o piano ? Desenvolvi sozinho minha forma de tocar piano, geralmente cantando e simplesmente acompanhando com o piano, e fazendo muitos arranjos (modificando músicas conhecidas). Aqui onde trabalho hoje, tem 3 grandes auditórios – para 450, 80 e 60 lugares. Em um deles tem um piano Yamaha meia cauda, onde me desestresso quase diariamente. E que som tem o danado !


Assim a música entrou em minha vida, e faz parte também da vida dos meus três filhos. Dois deles tocam violão. Música é vida, é alegria, é companhia em diversos momentos das nossas vidas, é emoção, é catalizadora de novas amizades em qualquer lugar desse planeta. É uma linguagem universal, independente de estilo.

Fica meu eterno agradecimento à minha mãe por, pelo jeito dela, ter introduzido a música na minha vida. 

6 comentários:

Jorge Carrano disse...

Leitura e música, binômio prefeito para mim. Depois as artes cênicas que pouco frequento. No passado, já bem distante, um pouco mais.

Quanto a execução de instrumentos musicais, sou a pior nulidade que conheço. Na juventude, no conjunto que o Ney pretendia fazer, aventurei-me no bongô (emprestado do Doraly) e só.

GUSMÃO disse...

Tocar, tocar mesmo, bem deixa p'ra lá ...

Mas piano gostaria de te aprendido. Mesmo obrigado.

Freddy disse...

Talvez mereça um post complementar.
De momento, posso afirmar que Paulo (Riva) tinha uns 7 anos de idade, pois eu é que tinha 8 quando começamos a estudar piano.
Apesar de fisicamente prejudicado pelo acidente em 1968, ainda toco razoavelmente bem piano, meu instrumento de escolha. Tenho um Fritz Dobbert vertical acústico e 3 eletrônicos: um Roland A90EX, um Yamaha DGX 630 e um Casio Privia PX5S, todos com 88 notas com tamanho e peso de um piano real e a vantagem de conterem centenas de sons além dos convencionais de piano acústico.
Dos pianos que já toquei e ouvi, a marca que mais me agrada é justo a Yamaha, tanto acústico (de cauda) como eletrônico.
Também toco violão, mas dou preferência a tocá-los no esquema solo / acompanhamento, sem cantar - até porque não sei cantar direito (rs). Tenho alguns, cada um com uma característica diferente do outro: nylon acústito, nylon amplificado, aço amplificado, craviolas (nylon e aço), 12 cordas, etc.

Meu testemunho da quebra dos violões por minha mãe é um pouco diferente da de Riva e foi um episódio marcante em minha vida - negativo.

Infelizmente nenhuma das 2 filhas enveredou pela música, apesar de terem tentado. Flávia até sabe tocar piano e ler partitura, mas não faz parte de seu cotidiano.

Concordo que tenho de agradecer minha mãe por ter nos estimulado (forçado)a estudar música, que hoje é parte integrante de minha personalidade.

Jorge Carrano disse...

Nunca fui estimulado a aprender a tocar instrumento musical. Uma pena! Mas fui estimulado a ler, ler muito. O que foi bom.

Uma coisa não prejudica a outra, antes pelo contrário. Apenas registrei a falta de incentivo que tive para estudo de música.

Mas ouvir é uma das minhas paixões.

Jorge Carrano disse...

Riva,
Refletindo sobre o tema, admito que a música é mais abrangente, é mais completa, porque atinge a todos indistintamente, todas as raças, todos os povos, em qualquer lugar do planeta. Língua universal.

Riva disse...

Fiquei curioso sobre a leitura do Freddy sobre o episódio da quebra dos violões - os 2 foram quebrados no mesmo dia, na minha ausência, pois eu passei a tarde fora estudando na casa de um amigo, o Sérgio Trouche de Carvalho - conhecido como Touché. Quando cheguei,encontrei-os partidos, sendo que um deles era o lindo violão do avô da minha vizinha.
Freddy depois me conta, em off.

Pois é, Freddy, quando vc for lá no meu trabalho, vais tocar naquele Yamaha de meia cauda. Que som !! e que teclado macio ...

Não sei se já contei por aqui no pub, mas se contei, conto novamente .... certa vez em NY fui comprar um violão e entrei na Mandy´s, que infelizmente não existe mais.

Fui atendido por um senhor negro, o Billy. Se trancou comigo no aquário de violões, e pediu para eu tocar um pouco para ele tentar entender qual o melhor tipo de violão para mim. Dá para imaginar um vendedor de violões assim ???

Ao final de, acreditem, uma hora e meia, comprei um lindo Washburn negro. Quando saímos do aquário, vi nas paredes da loja uma infinidade de fotos do Billy, simplesmente com Jimi Hendrix, John Lennon, Paul McCartney, Eric Clapton, Keith Richards, Janis Joplin e tantos outros !!

Perguntei extasiado o que era aquilo ao Billy, e ele humildemente respondeu que todos vinham a NY comprar instrumentos com ele !!!

(pano rápido)

Ontem fez 10º aqui em Duas Pedras, Friburgo.