Já comentei em algum post neste blog que morei e trabalhei em
Ribeirão Preto – SP.
Num supermercado da cidade havia um setor de importados. Este
setor era frequentado por novos ricos, fazendeiros, plantadores de cana de
açúcar, usineiros, que entravam com suas botas cheias de barro, depois de
deixarem suas possantes camionetes de cabine dupla no estacionamento e iam diretamente para
aquelas gôndolas que expunham delícias de várias partes do mundo.
Moët Chandon |
Royal Salute 62 anos |
Bem, tem a piada do
sujeito que dizia andar sempre limpo, bem arrumado, colarinho e punhos da
camisa bem engomados, porque como não tinha dinheiro nos bolsos era a única maneira
de ser respeitado e bem tendido.
Ainda posso relatar uma experiência pessoal. Comprara meu primeiro apartamento, na Rua
Miguel de Frias, porque fora promovido a gerente (recursos humanos). Estava,
num sábado pela manhã, limpando meu fusca na garagem, quando minha mulher foi
me avisar que a Marly havia ligado que no dia seguinte seria comemorado o
primeiro aniversário do filho dela.
Ora, o comércio iria fechar às 12 horas e precisávamos comprar “um presentinho” para o menino. Sugeriu
um pimpão (tipo de roupa infantil), ou sapatinho, ou outra coisa do gênero.
Como eu estava vestido, de short, camiseta e sandália de dedo
parti para o centro da cidade. No início da década de 1970 não havia comércio em Icaraí.
Não para este tipo de compra. Fui para uma loja de moda infantil que se
chamava, se me não falha a memória, O Pavilhão, numa esquina da Av. Amaral
Peixoto.
Como nada sabia sobre roupa infantil, numeração (tamanho por
idade) e onde ficava exatamente o quê, estava aguardando uma vendedora me
socorrer enquanto olhava – sem ver – as várias prateleiras. Finalmente consegui
cercar uma delas e pedir ajuda: “ olha tenho que comprar alguma coisa para um
menino que está completando 1 ano e não sei o que comprar”.
Pouco entusiasmada a vendedora me apresentou alguma coisa que
achei interessante. Disse que levaria e que ela embrulhasse para presente. Ela
disse o preço, e meio ressabiada perguntou como eu pagaria: cheque ou
dinheiro?
Respondi que com cartão de crédito. Saquei do bolso meu
Diners Club, que ara naquela época um diferencial, seletivo, nem todo mundo
podia ter. Eu já podia e por vaidade e exibicionismo era sócio.
O sorriso brotou nos lábios da vendedora, e a atenção contida virou
simpatia, interesse e presteza: o senhor não quer mais nada? É só isso mesmo?
O que não fazia um cartão Diners, nos anos 70. Assim como o que não
fazia, nos anos 80, o punhado de cédulas amarrotadas nos
bolsos dos fazendeiros em Ribeirão Preto.
Teria outros casos vividos ou presenciados, mas acho que o que relatei é suficiente para ilustrar o que pretendia: as aparências por vezes enganam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário