16 de setembro de 2012

Embalagens


Sempre fui um crítico de marqueteiros. Com sentido pejorativo mesmo. Como motoqueiro, mochileiro, treinero  e outros eiros. Os eiros são os que excedem os limites do razoável, que extrapolam e exageram. Mas pode ter também a conotação de despreparo.

O chato é que tenho muitos amigos – e até parentes – que atuam nos meios publicitários ou na área de marketing,  e que ficaram (os que já conhecem minha opinião) ou ficarão fulos comigo pelo que direi adiante.

Alguns profissionais do ramo de marketing, em conluio com publicitários que precisam vender ideias e serviços, têm como objetivo mudar  as embalagens. E mudar por mudar.

E nem sempre, ou quase nunca, isso é necessário. A não ser por motivos relevantes de custo ou escassez da matéria prima.

O produto é que precisa ser bom, ter qualidade. E, com isso, alcançar e manter tradição. De qualidade. 

Vejam por exemplo o Polvilho Antisséptico Granado. Presente nos lares de minha família desde sempre. É um produto eficaz, acho que pioneiro no nicho que ocupa, popular e relativamente barato. Está no mercado desde 1870.

Desde que conheço o produto a embalagem é a mesma: cilíndrica,  com tampa metálica de rosca, contendo  100 g do produto.

Minto, quando digo que a embalagem é a mesma. O papelão do qual era feita foi substituído por plástico, mantidas as cores e o desenho.

A mudança do material por vezes é imperiosa. Assim como o formato. Lembro de quando estudei administração, e numa aula tratou-se da questão da forma da embalagem, comparando-se as  redondas com as retangulares, ambas feitas de lata.

Evidentemente que a retangulares ocupam melhor o espaço interno das caixas de expedição. Doze latas retangulares, com a mesa quantidade do produto, acomodam melhor nas caixas de papelão, não deixando vazios. Numa partida de muitas unidades, milhares, haveria uma grande economia de caixas de papelão (utilizadas para entrega ao comércio varejista). E com reflexos, obviamente,  no custo de frete. Na combinação volume/peso.

Alías que o frete é, pelos altos custos, um fator  quase obrigatório de mudanças nas embalagens. Principalmente no que concerne ao material. Vidro e lata pesam mais do que plástico, por exemplo. E já nem falo do custo de fabricação e da maior ou menor oferta da matéria prima empregada. Desde há muito o alumínio substituiu a lata nas embalagens de cervejas e refrigerantes, com muitos ganhos. Hoje a "latinha" é feita de alumínio, o que seria desastroso não fora o alto indice de reciclagem que alcançamos.

Meu exemplo preferido é o da Maizena, embalada naquela caixa amarela  há anos. Pergunto ao caro leitor: um produto líder absoluto em seu seguimento (amido de milho), indispensável nas cozinhas, para doces e salgados, que mantém o mesmo padrão de qualidade há anos, precisa mudar a embalagem?

Por que razão o faria? Para provocar venda de impulso pela embalagem mais chamativa? Para sobressair nas prateleiras?

Bobagem, o produto está nas listas de compras mensais e, estando em falta em casa, a cozinheira (ou gestora do lar) irá comprar exatamente Maizena. Não amido de milho. E mesmo não sendo de uma cor bonita e não tendo desenhos psicodélicos sua embalagem é facilmente reconhecível.

Mudar para quê? Ou porquê?

Bem, vamos aos finalmente, porque até agora estava nos prolegômenos. Eu queria chegar nos uniformes dos clubes de futebol, que não deixam de ser um tipo de embalagem. De uns tempos a esta parte, os marqueteiros dos fornecedores de material esportivo conluiados com os dos clubes, resolveram mudar numa velocidade e numa variedade impressionantes os uniformes.

Lixe-se a tradição. O importante é mudar bastante para promover venda de camisas. Já não bastam as trocas de patrocinadores que implicam em mudanças. São trocadas por detalhes mínimos como o tipo de manga ou de gola.

Agora chegaram ao limite do absurdo, tacitamente endossado até pelos torcedores que,  babacas, compram estes lançamentos que afrontam e violentam as tradiçõses da clube.

Por que o Vasco deve utilizar um uniforme azul, que o descaracteriza por completo e quebra suas tradições?

Equipe de 1948

Ter uniformes alternativos sempre foi tradição porque dependendo do uniforme do adversário da vez, é preciso distinguir bem os jogadores de cada equipe. Esta necessidade aumentou exponencialmente com as transmissões pela TV, em especial na fase de preto e branco.





Mas as soluções inteligentes  também se consagraram. O Vasco, para ficar no melhor clube do mundo, por exemplo, tem as camisas negras com a faixa diagonal branca ou, se necessário distinguir, tem a branca com a faixa diagonal preta. E os calções igualmente variando entre o branco e o preto.
Equipe de 1952

As fotos das equipes vencedoras de 1948 e 1952 mostram os uniformes que deveriam se manter inalterados por lei.

Vamos admitir, ad argumentandum tantum, a existência da camisa toda negra, apenas com a cruz de malta no peito, para efeito de destacar bastante da utilizada pelo adversário.

Eu me recuso, por mais bonito que seja o efeito, a comprar ou usar  uma camisa dos templários (branca com uma grande Cruz de Cristo em vermelho). Isso é puro comércio, puro marketing, a meu juízo negativo no final.

O que leva a venda maior de canmisas é a equipe ser vencedora, conquistar títulos, como a campeã Sul-Americana invicta de 1948 (na foto), encantar o torcedor. Ou então um determinado número ser consagrado por um ídolo, como o 11 do Romário, ou o 9 do Dinamite, ou o10 de Pelé.

O efeito, nas arquibancadas, é desastroso, com aquela profusão de tipos e cores de uniformes e também de bandeiras estilizadas. 

Deveria ser proibido, nos estatutos, alterar a cor e os modelos dos uniformes. E também das bandeiras, símbolos do clube.

É preciso manter uma identidade.

Já que falei em proibição nos estatutos, os mesmos deveriam prescrever, também, que é proibido contratar marqueteiro. Ô raça!

Só adorei quando um idiota qualquer resolveu, há pouco tempo, vestir o Flamengo de azul e amarelo, igual ao Tabajara F.C.

5 comentários:

Gusmão disse...

O Barcelona que tem um uniforme muito bonito, grená e azul escuro, ontem jogou com uma camisa que parece de time pequeno ou africano. Horrível!
Abraços

Freddy disse...

Desde que nas camisas originais já colocaram tanta propaganda que mal conseguímos distinguir suas cores, daí até termos de engolir camisas alternativas foi um pulo!

Já não temos mais escalações na cabeça, pois os times mudam ao longo de um mesmo campeonato a ponto de começarem disputando o título e terminarem lutando pra se manter vivos - ou vice-versa. Agora não temos mais camisas. Amanhã perguntaremos: pra quem torcemos?

=8-/ Freddy

Anônimo disse...

Tô de acordo. Meu curingão também anda mudando de uniforme com frequência.
:D Fernandez

Gusmão disse...

Vem aí o Botafogo de uniforme dourado. E eu falando do Barcelona. Vou pagar pela língua.

Freddy disse...

Já perdi a conta dos uniformes vascaínos! Aquele que comemorou o título da Segundona, preto com uma lista dourada vertical, era até bonito.
Quando lançaram o da cruz templária me pareceu uma mortalha para ser colocada sobre um caixão... Uma má impressão terrível...
Olha, só falta um idiota resolver mudar o escudo, para torná-lo mais moderno, atual. Afinal essa coisa de nau de fim do século XV é uma coisa meio ultrapassada, não acham?
Argh!
Freddy