26 de setembro de 2012

Edição extraordinária - sessão de julgamento no STF


Estou estarrecido, perplexo, irritado, surpreso, revoltado, indignado, aborrecido e pasmo, com os acontecimentos na sessão de hoje no STF, durante a sequência do julgamento da Ação Penal 470.

Não é que o ministro Joaquim Barbosa corre o risco de por tudo a perder, depois dele mesmo perder as estribeiras, desnecessariamente, batendo boca com o ministro Lewandowski, a quem aproveita o tumulto e o atraso no julgamento.

Afinal, como advogado de defesa de fato,  toda interrupção, discussão estéril, tumulto só a ele – Lewandowski -  interessa, porque fundamentos jurídicos e argumentos fáticos, não seriam suficientes para defender os réus.

Se acho que o ministro Lewandowski atua como advogado dos réus? Acho não, tenho certeza. E ele está brilhante. Mais do que os advogados de direito, que não se houveram bem.

O ministro-revisor, tem boa erudição, cultura jurídica, tem raciocínio rápido e é bem articulado, não é, definitivamente, alguém fácil de ser vencido.

Ora, o trabalho de relatoria foi muito bem feito pelo ministro Joaquim Barbosa que aperfeiçoou a peça acusatória da procuradoria e estava conseguindo convencer aos demais ministros vogais, que com pequeno reparos vinham acompanhando seu voto e na direção da condenação do réus.

Desde o início o ministro Joaquim Barbosa vem demonstrando irritabilidade, impaciência, mas hoje ele extrapolou, chegando mesmo a ser agressivo e deselegante com seus pares.

Tenho receio que o desequilíbrio emocional do relator ponha tudo a perder. Eram favas contadas as condenações. Já admitidas até pelos réus, seus advogados e pelos partidos políticos.

Já estavam trabalhando, advogados e réus, com as hipóteses de recursos das decisões (embargos infringentes) e com o benefício do indulto.

Já havia a preocupação de como manter em presídios, com dignidade, tantos condenados com nível universitário, ex-exercentes de cargos importantes na República e empresários ricos.

Um órgão de imprensa chegou a especular que o José Dirceu teria na manga um plano "B" para deixar o país, se condenado.

Agora estou apreensivo, a postura desnecessariamente agressiva do ministro Joaquim será certamente explorada e poderá reverter o quadro que era condenatório.

Faço uma analogia. No futebol existe o recurso da cera, que é a vagarosidade na realização de um ato, e que, se obedecidas as regras, acaba por ser legítimo. Por exemplo, o goleiro custar a repor a bola em jogo; num arremesso lateral o jogador demorar a faze-lo, e outras situações que os leitores conhecem. Ao juiz cabe coibir abusos.

O retardamento do jogo faz parte do mesmo.

Pois bem, o ministro Lewandowski está deliberadamente retardando o andamento do julgamento, fazendo cera.

Mas não pode o ministro Barbosa  ser ele próprio a julgador deste ato para coibi-lo.  Principalmente se o faz de maneira agressiva, desrespeitando o relator, o que acaba por irritar os demais membros da corte.

Poderia fazer considerações sobre minha opinião de que o retardamento imposto pelo revisor é deliberado. E aqui faço uma pausa para dizer que não sei a motivação do ministro-revisor para defender os réus. Pode ser a vaidade de ser o voto vencedor, pode ser convicção de magistrado à vista dos fatos e da legislação, pode ser ideologia político-partidária, pode ser ... o que nossa imaginação indicar.

Voltando ao ponto em que declarei que o ministro Lewandowski está fazendo cera, diria para não me alongar em outras considerações, que seu voto tem sido extremamente longo, com inúmeros comentários marginais, sem qualquer necessidade, senão protelar o andamento do processo e a consequente decisão final, com a dosimetria das penas.

O ministro Joaquim precisa se acalmar, agir menos emocionalmente e mais racionalmente, porque talento não lhe falta. E a causa é justa e difícil de perder. E ele arrisca perder um gol feito. E perderemos nós, sociedade brasileira, porque o ministro  é irritável.

8 comentários:

Freddy disse...

Para mim, o Ministro Barbosa não está preparado para tantos elogios, o sucesso lhe sobe à cabeça rapidamente.

=8-/ Freddy

Jorge Carrano disse...

É uma teoria válida, Freddy.

RC disse...

Desde o começo, fiquei com a impressão de que o Lewandowski está queimando um ou outro, para tentar salvar a cúpula do PT. Já foi assim, na primeira semana, livrando a cara do Cunha (ex-presidente da Câmara). Ou seja, as condenações dele são apenas para disfarçar. Ficarei surpreso se ele disser algo diferente de "não há nada que prove que José Dirceu, soubesse, ou apertasse um botão, ...". Mas ainda acredito que o resultado será a condenação. Bom, é um palpite.

Jorge Carrano disse...

Bem observado. O Lewandowski fez gambito de peões.
Ou, para tornar mais claro aos não iniciados em xadrez, escolheu uns quantos bois de piranha.

Anônimo disse...

Aquele julgamento é indecente. Muita encenação. Jogo para platéia.
:D Fernandez

Jorge Carrano disse...

Ambos os ministros, relator e revisor, estão se comportando como advogados, de acusação e de defesa, respectivamente.
Ministros divergem quanto a interpretação de fatos e exegese da lei, mas a postura está exagerada.
O Lewandowiski é mais frio, e isso é uma enorme vantagem no debate.
Mas prestem atenção, os demais ministros, chamados vogais, acompanharão um ou outro. Portanto, para aferir qual dos dois melhor defendeu suas posições, há que aguardar o voto dos outros.
E o placar final sobre cada delito e cada réu, é importantíssimo pois determinará possibilidade de recurso e concessão de benefícios.
Em outra palavras, resultado de 10X0 (agora que só tem 10 ministros) é uma coisa, se entretanto for 6X4, por exemplo, as consequências serão outas. Isto para cada réu. Bagrinhos estão fritos, peixe graúdo ainda pode escapar, só chamuscado.

Anonimous disse...

Concordo com Z. O dramaturgo Roberto Gurgel incrementou o texto e o cenário ficou a cargo da Mídia. E os atores se "sentiram", se "acharam". Dois são os protagonistas: Barbosa e Levandowski, lutando pra ver quem ganha o Oscar da Justiça. E a torcida é formada pelo povão mais esclarecido (sic) e açulado pela produção midiática. Cria-se, também, o culto à personalidade, sobretudo à do afromagistrado, ex-limpador de banheiro,que não precisou de cotas, etc. etc...
Bem, se tudo isso não acabar em pizza, meno male.

Jorge Carrano disse...

O ministro Marco Aurelio Mello fez uma observação interessante.
Como é que o ministro Joaquim Barbosa, que assumirá a presidência da corte em novembro, irá se comportar?
Como será sua postura frente a seus pares e também no relacionamento com os outros poderes?
Com efeito ele precisará mudar seu comportamento e atenuar sua gressividade verbal.