Esta é a primeira frase do primeiro dos quatro discursos de Cicero, acusando Lucio Sergio Catilina, cônsul romano, de pretender derrubar o governo republicano e apoderar-se do poder e das riquezas, juntamente com alguns apaniguados.
A frase poderia ser traduzida como “Até quando Catilina abusarás da nossa paciência?”
Esta sentença, em latim, é bastante utilizada nos meios acadêmicos e jurídicos, para refutar alguém turrão, teimoso, que insiste em abraçar tese vencida, superada, sem chance de prosperar. Numa analogia ao caso de Catilina que abusava, na oratória e nas suas ações, nas tentativas inaceitáveis de golpe.
O primeiro destes discursos de Cícero, que viraram obra clássica e conhecida como “As Catilinárias” (Catilinam, em latim), assim como o quarto e último deles, foi proferido no Senado Romano. Os outros dois foram direcionados ao povo em praça pública.
Àquela primeira frase, segue-se “Quam diu etiam furor iste tuus nos eludet? Quem ad finem sese affrenata iactabit audácia?”
Corresponde, pouco mais ou menos, ao seguinte: ”Por quanto tempo ainda este teu rancor nos enganará? Até que ponto a tua audácia desenfreada se gabará de nós?”
Quem tiver curiosidade em conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra deste grande orador, político e filósofo, deve ler a trilogia que Robert Harris escreveu sobre ele e, claro, sobre a Roma de seu tempo, pano de fundo da narrativa bastante fiel a história, feita através dos olhos, da pena, e sobretudo dos ouvidos do secretário particular de Cícero por quatro décadas.
Cícero proferiu os discursos citados em 63, e morreu em 43 a.C
Li apenas os dois primeiros volumes da trilogia (não sei se o terceiro já está publicado no Brasil), intitulados, respectivamente, "Imperium" e "Lustrum".
24 comentários:
Volta e meia reflito sobre como mesmo no mundo de hoje, depois de tantos avanços científicos, sociais, médicos, ainda referenciamos escritos antigos. No post de hoje é Cícero, mas posso acrescentar toda uma gama de exemplos: cultuamos técnicas pictóricas da Renascença, linhas musicais do período barroco e clássico, arquitetura da Idade Média... No estudo do comportamento humano se fazem comparações com o de personagens das mitologias grega e romana, definidos milênios atrás.
Nós católicos ainda temos a Bíblia como bíblia (desculpem o trocadilho), nenhuma atualização mesmo depois de descobrimento das Américas, Darwin, guerras mundiais, penicilina, comunismo, capitalismo, pílula anticoncepcional, rock, homem na Lua, sondas em outros planetas, satélites de comunicação, globalização da economia, internet banda larga...
Em resumo, espanta-me que nada tenha acontecido na História Humana recente que torne os conceitos estabelecidos há séculos atrás objetos de museu. Os discursos de Cícero ainda são referência, como explanou Carrano. Surpreendente, não?
Abraços
Freddy
Quousque tandem abutere Blogueiro patientia nostra, com este latinismo mofado?
Qualquer dia teremos o sânscrito e o aramaico?
Do repertório de aforismos de Cicero, meu predileto é: "A ignorância é a maior enfermidade do género humano."
Mais não digo e nem me foi perguntado.
Este senhor que criticou o mofo do latim é, infelizmente um indivíduo aculturado. Nunca entenderá que o latim é a origem do Português, Frances, Espanhol, Italiano, Romeno e contribuiu em quase 50% para o Inglês e Alemão.
Pois é Anônimo. O comentário agora açoitado, está escudado no anonimato, como o seu.
Tentei responder a ele usando o próprio personagem do post, com um de seus aforismos.
Poderia te-lo feito com Einstein: "Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta."
Não basta olhar para enxergar. Mais se compreende sobre algo quanto mais conexões se estabelece entre as informações que temos. Saber Latim e Grego, na nossa cultura, ajuda a aumentar o número destas conexões. Quem sabe, entende o que eu digo. Quem não, ironiza.
Mofadas são suas ideias rasteiras. O tempora o mores.
Pois é, Jaime, mas já consignei o que entendia cabível, pois ele se escudou no anonimato.
Se identificado, poderíamos, num outro nível, debater a questão.
Valeu pelo seu comentário e visita ao blog, Jaime.
De vez em quando vou me deparando com artigos onde são citados grandes nomes da história dessa nossa "humanidade". Como aprendiz das Letras (concluí agora o primeiro ano, aos quarenta e nove de idade) fico estupendamente encantada e cada vez mais interessada em saber, em conhecer, em ampliar meus horizontes. As letras são enigmáticas em suas origens e transformações ao longo dos séculos...
Tudo é tão antigo e tão novo.
Muito grato pela visita virtual, Dulcineia.
Parabéns pelo desprendimento. Aos 49 anos de idade estamos na plenitude. Maduros o suficiente para decidirmos que caminhos queremos.
Quanto as letras, são um alimento para nosso espírito.
O grande Borges já definiu com sabedoria a importância da leitura, ao comentar numa entrevista que as pessoas se jactam pelo que escrevem, ele ao contrário se orgulhava do que lia (ainda não estava cego).
Dulcineia,
Se você ainda estiver por aqui, selecione e cole o link abaixo na barra de seu navegador. Tem mais sobre Cícero, sobre o estudo do latim, sobre Veríssimo e sobre a ética na política.
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2012/06/marcus-tullius-cicero.html
Com certeza meu amigo, este negócio de melhor idade não está com nada, afinal, melhor para ou por que??
Não é verdade, Edmilson?
Obrigado pela visita e pela participação.
Boas Festas!!!
Li alguns comentário de um "anônimo".Creio que ele seja um produto da banalização cultural de nosso país!!!Quem gosta de banalizar é,provavelmente, resultado da "Santa ignorãncia".É o procedimento do nivelar por baixo,ou quanto pior, melhor!!!Einstein tinha - melhor-tem razão!Quero registrar meu parco aval ao autor do blog e meu repúdio às palavras do tal "anônimo"...
Obrigado pela solidariedade, Godoy.
Tem que prefira se escudar no anonimato para perpetrar suas banalidades.
Prezado jorge Carrano
Li a trilogia de Robert Harris (Ditador, o último, dá uma espécie de nostalgia pelo fim da história), uma das melhores obras coisa que passaram pelo meu kindle nos últimos anos. Fico feliz em encontrar um irmão de letras nesse aspecto, mas preciso fazer um reparo, talvez na ordem como a frase foi escrita: Catalina jamais foi cônsul romano, ao contrário do que dá a entender a frase inicial desse post (Esta é a primeira frase do primeiro dos quatro discursos de Cicero, acusando Lucio Sergio Catilina, cônsul romano, de pretender derrubar o governo republicano e apoderar-se do poder e das riquezas, juntamente com alguns apaniguados.) Provavelmente o que você quis dizer é: Esta é a primeira frase do primeiro dos quatro discursos de Cicero, cônsul romano, acusando Lucio Sergio Catilina de pretender derrubar o governo republicano e apoderar-se do poder e das riquezas, juntamente com alguns apaniguados.
Abraço
Luiz Caninha
luizcaminha@gmail.com
Obrigadíssimo, Luiz, pela visita e pelo comentário esclarecedor e retificador.
Não posso aceitar, e não por modéstia, a conceituação de irmão de letras. Não passo de um leitor indisciplinado, espasmódico (há fases em que não paro, emendando um título no outro; em outras nem tanto), que não se dedicou como deveria ao latim e ao grego a fim de ter uma melhor base literária.
Apaixono-me por estilos, pela criatividade e por textos impregnados de cultura e arte. E fico fiel, tal como ocorreu com José Saramago.
Recorro ao poeta popular : se eu soubesse naquele tempo o que sei agora, eu não seria este ser ... arrependido.
Mas o tempo não volta. Ao meu redor só ouvia "o latim é uma língua morta".
Trilogia de Cícero - Robert Harris
Imperium (2006)
Lustrum (2009)
Dictator (2015)
Hoje tive a sorte de ser presenteado com o saber de alguém que gosta, e de que maneira, da cultura "latina". Não tenho estudos académicos concluídos, mas, nos meus vinte anos, apaixonei-me pelo latim (Catilinárias, Eneida, Geórgicas, De Bello Galico...), também pelo grego e, até, pelo hebraico. Os anos passaram, resta-me o latim e um pouco de grego. Tenho,até, uma teoria (talvez, mais uma opinião): não concebo um bom professor de português que não tenha bons conhecimentos de latim e, até, de grego. A vida e a experiência têm-me vindo a dar razão, pela negativa.
(Para ser segredo: De há uns tempos para cá tenho-me divertido com o "Palito Métrico", no seu bom estilo macarrónico, como sabemos, mas com uma respeitável qualidade de construção de frase, penso eu).
Um bem haja, Jorge Garrano, por este momento, e parabéns pelo seu saber e pelo seu gosto pela cultura latina, nomeadamente em relação a Cícero.
Evaristo L Miguel
Obrigado Evaristo, pela visita virtual e pelo generoso comentário.
Meu saber é limitado; deveria tê-lo expandido quando ainda tinha o vigor e atitude mental necessários ao aprendizado, porque na decrepitude torna-se mais difícil.
Na velhice consumimos o que foi acumulado na juventude. Como se fossemos utilizando o saldo de conhecimentos ainda existente, sem reposição com novos depósitos.
A sabedoria obtida com a vida não tem valor de mercado e nem reconhecimento meritório.
Já contei aqui, em outras postagens, que morro de inveja de quem domina o grego e latim.
Parabéns!
Texto e comentários maravilhosos. Agradecida!
Nós é que ficamos gratos por sua visita e pela generosidade de suas palavras.
O mais das vezes, neste blog, os comentários são mais consistentes do que a postagem e geralmente enriquecem o texto.
Volte se e quando queira, Regina.
Caro sr. Carrano, meu nome do meio deveria ser Divago e meu sobrenome Digressiono. Pois vim a cair , com o paraquedas de minha lauta ignorância, em seu bem fornido culturalmente e sapiente locus. Estava a desancar, polidamente, a jornalista Vera Magalhães, por usar e abusar de termos alienígenas(anglicismos) ou travestidos de Português, quando usei a frase de Cícero em tela. Para me certificar da correção de tal emprego "googlei" e vim ter consigo. Faço apenas um mínimo reparo nas suas informações de perfil. Trata-se do uso desse mal traduzido e "piormente" utilizado o canhestro "vizualizar". Propugno para que se volte a utilizar o nosso velho, simpático e econômico "VER". A origem desse nefando monstrengo importado do inglês, não tem na origem tal sentido e, em sua má versão para o Português, nos faz gastar caracteres e pontas dos dedos em excesso. Abaixo o monstrengo "frankensteiniano"! Viva o nosso insubstituível "VER" !
Caro Roberto,
Acabei de VER, ou melhor, ler, seu pertinente comentário. Penitencio-me pelo lapso apontado com educação e finura ao tempo em que agradeço muitíssimo seu precioso magistério.
Um saudoso amigo, de nome Luvanor Belga, ex-frequentador deste espaço virtual teria feito observação semelhante, sem que esteja fazendo comparações outras senão de estilos.
Volte se e quando queira.
Minha lauta sede de aprender certamente é maior do que a sua "lauta ignorância".
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