12 de julho de 2023

CASUÍSMOS

 

Eu estava lá, presente, nos dois casos. Isto não significa que não passassem de lendas ou invencionices de mentes criativas, bem-humoradas.

O primeiro caso deu-se no 3º Regimento de Infantaria (3º RI), no município de São Gonçalo.

Era grande, abrigava dois batalhões, cada qual com suas Companhias.

Antes de ser transferido para serviços burocráticos, na 2 ª Circunscrição de Recrutamento Militar (2ª CR), na Rua da Conceição, prestei serviço na CCAC (Companhia de Canhões Anti-Carros), lá no Regimento de Infantaria.

No Regimento, além do posto de Guarda na entrada principal,  havia outros pontos onde recrutas "tiravam" serviço de controle e fiscalização, visando a segurança.

Entrada do 3º RI
Agora chegou o momento de explicar onde estaria o casuísmo, o oportunismo, característica do rigor de normas de procedimentos.

Um dos bancos de madeira no pátio, próximo ao prédio do Comando, foi pintado. Em  razão do risco da tinta fresca poder sujar o  uniforme de quem nele sentasse, criou-se um posto, com soldados se revezando a cada turno de duas horas, para evitar o transtorno. 

Tal media deveria, imagino, ter a duração de dois ou três dia e não mais que isso. Entretanto foi incorporado na escala de serviço.

Eternizou-se, e durante meses  quem não sabia da história estranhava a presença de um soldado ali no meio do pátio, de pé, ao lado de um banco vazio.

O outro caso aconteceu na Cia. Fiat Lux, de Fósforos de Segurança, na unidade fabril no bairro de Neves, também em São Gonçalo.

Vista parcial, antiga, da fábrica de fósforos
As caixas de fósforos são compostas, na linguagem interna, de caixas e gavetas. A primeira é a parte que tem a lixa, e a segunda, por óbvio, onde são acondicionados os palitos.

O blogueiro está à esquerda, de blusa escura, com uma perna apoiada na máquina
Elas eram produzidas em máquinas (acima) que dobravam as lâminas de madeira e as envolvia numa fita de papel azul, dando-lhes o formato padrão para uso.

"Até aí morreu Neves" (expressão idiomática, irresistível aqui por casa do bairro onde funcionava a fábrica), mas para a maioria não deixa de ser uma novidade.

O papel azul, que ajudava a manter a forma das lâminas de madeira, servindo de acabamento, eram coladas com goma feita de polvilho.

Em tempos  d'antanho, antes dos secadores a vapor, que já estavam instalados quando lá fui trabalhar, todo este material saía das máquinas e era colocado no pátio par secagem.

Boa parte deste trecho do pátio ficava debaixo de um mangueira frondosa, sempre povoada de aves, principalmente pardais.

Para evitar que a defecação deles estragasse o material em secagem, um ajudante, munido de uma grande vara de bambu ficava espantando os pardais.

Muito tempo depois, já em funcionamento os secadores a vapor,  através dos quais lonas transportadoras faziam secar as peças, ainda havia operário qualificado tendo como função: espantador de pardais.

Claro que não estava presente nesta época dos espantadores de pardais. A história me foi contada pelo Péricles de Melo Rocha Sodré, enorme (também na altura) gozador, contemporâneo de fábrica.

Pouco tempo após minha admissão a função fabril que ocupávamos, além de mim e do Péricles, foi extinta. Os demais ocupantes eram o Fernando Palma, e o Antônio Carlos Bonard Dias.

Fui transferido para o Escritório Central, no Rio de Janeiro, para o Departamento Legal, posto que na época era estudante de Direito, na UFF.

Depois migrei para a área administrativa virando Gerente de Recursos Humanos, mas ai a história se afasta dos casuísmos do título da postagem.


Nota:

"Até aí morreu Neves" - expressão idiomática que significa “isto já sei, quero novidades”. Origem: Joaquim Pereira Neves, assessor do Regente Feijó e governador do Rio Grande do Norte.

2 comentários:

Jorge Carrano disse...


Não vejo nas ruas, soldados do exército, em trânsito, como havia antigamente.

O serviço militar era salvação para muitos jovens.

Lições de disciplina e respeito a hierarquia tinham valor educacional, em especial para os mais carentes. E lições de higiene pessoal e cuidados com a roupas, no caso o fardamento.

Quando davam baixa, eram selecionáveis para integrar as polícias militares estaduais. Com ótima base.

Agora generais e patentes menores, querem boquinhas e cargos civis públicos.

Riva disse...

A resposta a tudo isso rola há meses no Twitter ........

É o que tenho a comentar.