19 de fevereiro de 2023

Tem xinxim e acarajé. Tamborim e samba no pé





Por
Alessandra Tappes








Nem gregos nem troianos. Apenas foliões. Essa é a pretensão do carnaval quando chega. Espalhar alegria a todos, sem distinção alguma de raça, credo, cor, tipo, estilo, gosto musical. Enfim, a alegria que contagia o povo, ao povo retorna de ano em ano.

E foi assim, como num passe de mágica que o carnaval me fisgou. 

Tinha eu lá meus 15, 16 anos, uma caderneta de poupança crescente, pois já trabalhava bem uns três anos e ajudava apenas em despesas pequenas em casa. A vaidade ainda não tomava conta de mim, o que ajudou a poupança crescer.

A sugestão partiu da minha mãe. Sabe aquelas previsões infalíveis de mãe? Pois é, a minha mãe não falhou em mais essa. Eu, filha do meio como já relatei aqui, tímida, procurava me esconder atrás dos livros e dos óculos de aro de tartaruga pretos, não havia sinal algum que eu cairia na folia até o sol raiar. Imagina isso. Eu? Nem pensar. 

Realmente nunca imaginei que isso fosse acontecer. Mas... 

Aconteceu sim! Depois de muita insistência de minha mãe, fomos “pular” uma noite de carnaval no Clube Atlético Ypiranga, em São Paulo. Foi ali que senti meu coração bater junto às marchinhas de carnaval. Cada canção que a banda cantava, eu cantava junto como se eu fosse back vocal!


Foto recente do salão do Clube Atlético Ypiranga

Mas isso não foi nada. Pior era eu, no meio daquela multidão, ensaiar samba no pé sem ter noção alguma do esquindô-lele... E descobri que ninguém ali notava que eu nunca havia pisado num clube ainda mais em noite de carnaval. A brincadeira era geral, estavam todos dominados pela folia no salão. O brilho das pinturas nos rostos, as fantasias simples, mas felizes apenas identificam que todos estavam ali com o mesmo intuito que o meu: brincar o carnaval.

Fui a contragosto sim. Forçada. Fiz manha, chorei antes de sair de casa. Fiz bico. Cena mesmo. Mas quando pisei no salão, algo tomou conta de mim e não era a timidez. A sensação do confete na boca e as tiras de serpentinas na mão sinto até hoje.

Quis voltar na noite seguinte. E nas outras também. Cheguei a pedir a minha mãe que tirasse o dinheiro da poupança para bancar as noites seguintes minhas e de meus irmãos. E assim seguiu meu carnaval. E assim se seguiu nos anos seguintes até tomarmos rumos diferentes (os irmãos). Fomos crianças sim. Fomos apresentados a todos os ritmos musicais pela minha mãe e sou muito grata a ela por isso.


Meus dias pós-carnaval nunca mais foram os mesmos. Voltei a minha vidinha um pouco mais solta. Voltei ao ritmo de MPB do dia a dia, voltei a caçar pela cidade os CDs importados que colecionava do Moody Blues, continuei a seguir a carreira de Vangelis assistindo todo filme em que ele fazia a trilha.

Continuei assistindo e comprando trilhas, ouvindo Percy Faith, Ray Conniff, 101 Cordas.  Gostar de carnaval não mudou meu gosto musical. Pular carnaval ajudou a me socializar e ver a vida da forma mais simples. Pular carnaval me fez ser feliz sem pudor algum. 


Nota do editor: depois de um período de recesso, devido aos afazeres de mãe, estudante universitária, trabalho e... falta de conexão com a internet (olha a Oi aí de novo, também em Teresópolis), eis que, para nossa alegria, a Alessandra volta a colaborar. E o tema - carnaval -  é oportunissimo.

Notas explicativas: 1) O CAY foi fundado em 1906 e tem um site em http://www.cay.com.br/ ;2) As fotos que ilustram foram colhidas pelo editor na internet, via Google; 3) O título escolhido pela autora para o post, corresponde aos primeiros versos do samba-enredo da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, no ano de 1986. Para ouvir o samba basta clicar no link: https://www.youtube.com/watch?v=5SWVbT-H9t4

3 comentários:

Jorge Carrano disse...


Perdão, Alessandra, pela reprodução não autorizada.

Mesmo entre amigos alguns protocolos devem ser obedecidos.

Coincidentemente, quando publicado originalmente este post, você voltava ao espaço virtual após um período de ausência, em razão de múltiplos afazeres.

RIVA friburgando disse...

Bom demais reler você, sempre .....

Hoje estava comentando com nosso Blog Manager, pelo Zapp, a riqueza do blog. Um repositório fenomenal das nossas histórias, que na verdade são leituras diversas de épocas diversas que vivenciamos em nossa existência por aqui.

Uma enciclopédia que pode ser aberta em qualquer página, a qualquer momento. Espetacular !

Jorge Carrano disse...


Não posso questionar, nem por falsa modéstia, que o blog tem conteúdo interessante ... produzido por pessoas como ele mesmo (Riva), você, Alessandra, e tantas outras pessoas, parentes ou amigos, que me prestigiaram enviando textos ou comentando as postagens.

Por isso o blog é rico. Fruto de doações.