20 de agosto de 2022

Se o VIDEOTEIPE é burro o que seria o VAR ?

 

Nelson Rodrigues, célebre tricolor, era um dos integrantes da "Grade revista esportiva", que estreou na antiga e extinta TV Rio, nos idos de 1963. 



As mesas-redondas esportivas, hoje, são comuns, parecidas no formato, mas não têm, vamos combinar, integrantes do nível de cultura, inteligência, criatividade de um Nelson Rodrigues, João Saldanha e Armando Nogueira, para citar, por ora, apenas três dos participantes debatedores.

A ideia do programa foi de Luiz Mendes, a quem coube o comanda da atração, devidamente aprovada por Walter Clarck, então todo poderoso da emissora televisiva. Uma espécie precursora do Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) na TV Globo, tempos depois.

Os debatedores, e aí residia o charme da atração, discutiam com paixão de torcedor, sem disfarçar suas preferências clubísticas.

Nelson Rodrigues era tricolor; José Maria Scassa, rubro-negro; João Saldanha, botafoguense; e Vitorino Vieira e Ademir (ex-jogador), vascaínos. Armando Nogueira, outro botafoguense (assim como Luiz Mendes), disse em entrevistas que era o único que tentava ser isento e usava terno (por vezes) para aparentar credibilidade de jornalista. Mas só na resenha, fora dela era assumido.

Vejam outros participantes que não mencionara, ainda: José Maria Scassa, Hans Henningsen, Vitorino Vieira. Todos os 4 grandes clubes do Rio estavam representados.

O programa marcou alguns momentos clássicos, referidos até os dias de hoje pelos sobreviventes daquela época, e que para meu gáudio assisti ao vivo, os dois com Scassa versus Nelson Rodrigues:

No primeiro, num rompante, o rubro-negro disse para o  tricolor que ele não entendia de futebol (na verdade Nelson era respeitado e consagrado autor teatral, escritor), ao que Nelson, de pronto, com sua voz arrastada respondeu: meu caro Scassa "eu sou um dramaturgo e futebol é paixão".

Um a zero para o cronista. E não é só porque sou admirador  da obra do nosso mais encenado e filmado dramaturgo (adorava suas crônicas). Basta atentar para sua resposta imediata.

No segundo episódio de confronto de opiniões,  com Scassa dizendo que “quem não é torcedor do Flamengo é contra o Flamengo” no momento em Nelson Rodrigues questionava a marcação de um pênalti contra o Fluminense, teimando contra as imagens do vídeo que mostravam a veracidade do pênalti, bradou Nelson: “Se o vídeo diz que foi pênalti, pior para o videoteipe. O videoteipe é burro”, disse o autor de "Bonitinha, mas ordinária",  disparando apaixonadamente uma frase que ficou célebre.

"O videoteipe é burro" entrou para nos anais esportivos.

Toda a digressão inicial foi para instigar o pensamento. O que diria o Nelson sobre o VAR?


PS:
A “Grande revista esportiva”, mudou de nome ao ganhar o patrocínio da empresa Facit, que fabricava máquinas de escrever e calculadoras. Em 1966, o programa migrou para a TV Globo. Ver abaixo:


4 comentários:

Jorge Carrano disse...


Era imperdível "A Grande resenha facit."

Carlos A. Lopes Filho disse...

Realmente era imbatível e a categoria e inteligência dos comentaristas eram de primeiríssima qualidade. Não perdia uma.
Em comparação com os comentaristas de hoje, tudo geração Galvão Bueno, mudoogo de canal. Aguentar Rizek, PVC, Lofredo, Bodão, é dose pra elefante...

Jorge Carrano disse...

Mudo logo de canal também, isso quando por acaso estou sintonizado.

Jorge Carrano disse...


É natural que você, Carlinhos, não perdesse a resenha.
Afinal eram 3 ilustres botafoguenses na bancada: Saldanha, Nogueira e Mendes.

Interessante que a questão que eu queria suscitar ficou ignorada: o VAR.