18 de agosto de 2017

Perdemos no vai e vem

Meus avós maternos eram portugueses, assim como  minhas duas tias mais velhas (de um total de seis). Nasceram em Viseu, ou Lamego, e chegaram aqui meninas.

Ambas casaram com portugueses que já viviam no Brasil. Eram comerciantes. Um tinha padaria no centro da cidade do Rio de Janeiro, na Rua Frei Caneca, próxima da Praça da República; o outro um armazém no bairro do Grajaú, na  Rua Borda de Mato. Eram classe média.

Usavam anéis, medalhas e cordões de ouro, alardeando que era ‘ouro português’, por isso de alta qualidade.

Estudante, ouvia na sala de aula a professora falar nas nossas minas de ouro na época pós-descoberta. E que o ouro extraído destas minas era todo levado para a coroa portuguesa. Ou na mão grande ou em forma de tarifas (quinto do ouro).

Uma destas professoras afirmou, em alto e bom som, que Portugal não possuía reservas do precioso metal, não extraía de seu solo uma única grama do minério.

Ora, o que tínhamos com o orgulho dos patrícios que aqui ostentavam joias de “ouro português”, não era outra coisa senão propaganda enganosa, falsa identidade, estelionato, coisa do gênero.

Assim foi durante anos em relação às exportações de matérias primas e importação de produtos manufaturados.

País agrícola e rico em commodities, mandávamos para o exterior os produtos primários e importávamos chicletes.

Comprávamos produtos importados muitas vezes fabricados com matéria prima brasileira.

No futebol, dá-se coisa semelhante. Saem daqui os meninos, pedras brutas ainda em fase de lapidação.

Vai a matéria prima (jogadores) e compramos o espetáculo pagando elevado preço pela transmissão (TVs) dos jogos dos campeonatos europeus.

É bem verdade que alguns destes jogadores exportados fazem seu pé de meia e retornam ao Brasil como produtos acabados, consagrados.

Só que, na maioria dos casos, chegam com problemas de ordem física, ou com pouca motivação, e já não rendem o esperado.

De novo somos prejudicados. Exportamos atletas promissores e trazemos para nosso consumo chicletes, ou seja, jogadores que embora mastigados são difíceis de engolir.



Nota: sobre o quinto do ouro acesse

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