23 de fevereiro de 2015

POLÍTICOS HONESTOS ? TINHA, ACREDITE !

Houve um tempo em que os bichos falavam. E não só nas fábulas ou histórias infantis. Também no capítulo 3 do Gênesis a serpente e Eva batem um animado papo. Sobre a maçã  (tsk, tsk, tsk).


Assim também houve um tempo em que havia políticos honestos. Conheci alguns. Não vou aqui e agora nomeá-los por duas razões: já não vivem e vocês não acreditarão, assim como não acreditam que houve época em que os bichos falavam.

Claro que faziam jogo partidário, faziam um pouco de demagogia, tinham um viés populista, mas eram honestos inclusive em relação aos seus propósitos.

O populismo era manifestado ao sentarem em bares e festas de pequenos clubes de bairros para compartilharem feijoadas e cervejas.

Compravam uniformes para os times de futebol destes pequenos clubes. Conheciam pelo nome os dirigentes das escolas de samba e dos clubes de futebol. Como morava em Niterói, durante infância e adolescência, é natural que minhas lembranças sejam relacionadas a políticos de Niterói e São Gonçalo.

Se hoje São Gonçalo cresceu e tem população maior do que Niterói, naquela época a cidade dos “papa-goiabas” era equivocadamente conhecida como um bairro de Niterói.

Isto se deve, em grande parte, ao fato de Niterói ter sido a capital do antigo Estado do Rio de Janeiro.

Nenhum dos que conheci pessoalmente, via meu pai, que era um político vocacional (fazia política por prazer), ficou milionário com a política.

O mais chegado, cuja casa frequentávamos vez ou outra, quando deputado, morava num apartamento confortável mas simples, na Rua Gavião Peixoto, num prédio sem elevador e dirigia, ele mesmo, o carro oficial a sua disposição.

Outro que conheci também por intermédio do irmão, que estudou comigo na mesma escola, era médico por profissão e fazendeiro por herança familiar.

Uma coisa que sempre me intrigou foi a inclinação de médicos para a política. Conheci muitos vereadores, deputados estaduais e federais que iniciaram a vida clinicando. E como em alguns casos nem cobravam, ou cobravam pouco, acabavam por conquistar a admiração a gratidão e, claro, os votos deles e de seus familiares.

Sim, antigamente o chefe da família, aquele que provia o sustento, preparava os envelopes com as cédulas dos candidatos nos quais todos iriam votar.

Não confundir com o coronelismo tão combatido e que no nordeste tinha contornos de subserviência, de cabresto.

Falei de colega de escola e reforço comentando que no Liceu Nilo Peçanha, por exemplo, estudavam filhos e netos dos políticos deste lado na Baia da Guanabara.

Portanto, escola pública, onde estudavam outros jovens de classes sociais mais baixas, mas que tinham mérito escolar. Havia um teste de admissão, embora admita que alguns “entravam pela janela”, em função de apadrinhamento.

Quando lá ingressei, o diretor,  que foi deputado estadual em algumas legislaturas, mantinha lá suas duas filhas.

Para encerrar, tornarei público um fato verdadeiro, e que é de conhecimento, hoje, de apenas mais uma pessoa - minha irmã - se é que ela lembra do caso.

Os políticos, muitos deles, mantinham escritórios partidários. Outros ocupavam a sede regional de seu partido para atender aos eleitores.

Quando meu pai faleceu, deixando-nos em situação financeira delicada, passados alguns poucos meses resolvi escrever uma carta, manuscrita, para o já supracitado deputado que ara aquele com o qual meu pai mais tinha contato político.

Narrei nossas dificuldades e pedi ajuda (pensava num emprego público), explicando que não tinha grande qualificação profissional. Ainda não era formado e trabalhava numa fábrica ganhando um modesto salário.

Ele mandou alguém telefonar para nossa casa e agendou um dia para procura-lo na sede regional do partido ao qual estava filiado.

Recebeu-me, depois de ter atendido, sem exagero, uma dezena de outras  pessoas. Ouvia a todas atentamente. Fazia anotações e escrevia bilhetes.

Quando chegou minha vez, sentei na cadeira ao lado da escrivaninha onde ele sentava. Ele pegou minha carta, que estava em seu bolso, dobrada, e começou a falar da grande estima que tinha por meu pai, dos serviços que ele prestara  ao partido, e de sua lealdade.

Entretanto, era período de fim de mandato, vésperas de eleições. Não havia qualquer chance de me encaminhar para me candidatar a um cargo público.

Entretanto, disse-me, enfiando a mão no bolso interno do paletó, "aqui está uma ajuda que eu posso dar". E entregou-me, quitada, uma promissória relativa a um empréstimo do antigo Banco do Estado do Rio de Janeiro.

Como havia sido o avalista, no vencimento o gerente ligou para ele. Que pagou e não alardeou com minha mãe.

Então, o que temos: um fiscal de rendas do estado, função  que me pai exercia ao morrer (há 53 anos) depois de muitos anos de serviços prestados aos governos estadual e federal, que morava em apartamento alugado e precisava empinar papagaio em banco para poder alimentar, vestir e calçar três filhos e comprar uniformes e material escolar.

Não, ele não tinha outra família, não jogava e não bebia. É que vivia única e exclusivamente da parte fixa da remuneração dos fiscais. E não se envolvia em suborno e não admitia propina.

Do outro lado, temos um deputado que era avalista de um correligionário político e que como prova de amizade e camaradagem quitou uma dívida que seria da família.

Ajudou com recursos próprios e não com adoção de cabide de emprego, mesmo que de nível baixo na hierarquia do funcionalismo.

Por fim, o empréstimo fora contraído no Banco do Estado do Rio de Janeiro, não por razões de influência política, tráfico de influência, ms sim porque o gerente da Agência onde contraído, também era criador de canários roller, diversão de meu pai nos últimos anos antes do infarto fulminante.

4 comentários:

Riva disse...

Li o post o tempo todo, não sei porque, lembrando do meu pai ... acho que muito em função de relembrar os valores da época em que fomos criados.

Lembrando também que fui atropelado em 1959, por um jeep pilotado pelo filho do então vice-governador do estado, Celso Peçanha, que morava numa casa bonita mas simples, na rua Itaguaí, em nosso bairro do Pé Pequeno.

Um belo texto, que mostra infelizmente o que não mais existe na política atual. Hoje temos o exemplo de um juiz federal, que executa apreensão dos bens de uma pessoa rica, e logo depois, usufrui dos bens.

Como classificar isso ?
O que falar para nossos filhos e netos sobre esse caso ?

Freddy disse...

A revolução comunista fazia isso: tomava a casa dos ricos e um monte de famílias usufruía dela.
Com a disposição atual do Lula, parece que a hora é essa: ele partiu para o confronto pobres x ricos, que é uma imbecilidade histórica, mas pode ferrar conosco e mais meio mundo...
Meu medo maior é o esquema flagrado conseguir comprar os juízes...

Vejam bem... Mesmo na mira dos holofotes a Câmara aprovou aumento das benesses dos cargos, extensivos a familiares. Nas nossas barbas, todo mundo vendo! Perderam a vergonha, ou nós é que a perdemos, em outra interpretação...

Riva disse...

Estão zombando de todos nós....e sabem que não temos histórico de sangue correndo ....

Uma escrotidão, é nisso que o Brasil se transformou.

Jorge Carrano disse...

Agora os políticos são esta vergonha, Acessem:
http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/em-ligacao-empreiteiro-preso-na-lava-jato-chama-prefeito-de-niteroi-de-meu-chefe/