Não é uma
homenagem a quaisquer dos portugueses ou descendentes que conheço. E estimo, embora implique vez ou outra com a literalidade deles. Não se pode, por exemplo, pedir a um garçom português ao escolher um prato: "olha quero aquele ali" apontando para um que está sendo servido na mesa ao lado. Certamente ele responderá: "aquele não é possível porque já foi pedido pelo senhor lá sentado".
Perdão, Isa! (Riva a Isa está lendo isso?)
O tema de hoje foi inspirado num e-mail recebido noutro dia da amiga Beth que tem, também como eu, numa perna, ancestrais lusitanos. No meu caso a outra perna está firmada em outra península, a itálica.
Perdão, Isa! (Riva a Isa está lendo isso?)
O tema de hoje foi inspirado num e-mail recebido noutro dia da amiga Beth que tem, também como eu, numa perna, ancestrais lusitanos. No meu caso a outra perna está firmada em outra península, a itálica.
Beth me enviou na citada mensagem
eletrônica, uma série de ditados portugueses. Ao fim e ao cabo da leitura já pensava
como minha avó Ana, a matriarca da família de onde veio minha mãe Edith.
O primeiro da lista era: "Os
visitantes sempre dão prazer, se não quando chegam, pelo menos quando partem”.
Minha avó nasceu na região de
Trás-os-Montes. Sua família vivia entre Lamego e Viseu. Seu pai era construtor.
Fazia casas de pedra, comuns na época e no local. Era este também o ofício de
seu primeiro marido, que a antecedeu na viagem para o Brasil, em busca de
oportunidades.
Não tenho registro se este marido
de minha avó (que não era meu avô), veio para o Brasil seduzido ou chamado (o
que era comum na época) por algum parente que aqui vivesse. Esta carta de
chamada facilitava a entrada no país.
Casa de pedra da região de Trás-os-Montes ( via Google) |
Ficou viúva, aqui, e algum tempo
depois conviveu, como se marido fosse,
com outro português, este sim meu avô. Não o conheci porque quando eu
era menino minha avó já havia dado um pé na bunda dele, por causa de bebida.
Não que minha avó condenasse as
bebidas por regra, preconceito. Não, ela mesma tomava suas taças de vinho até
pra lá dos oitenta anos, até sua morte.
E pela manhã, durante muitos
anos, comia côdeas de pão embebidas em vinho. O que ela condenava era o
excesso. A bebedeira incontrolada.
Criou, praticamente só, suas seis
filhas (duas nascidas em Portugal) e um filho. Ou porque enviuvou ou porque mandou
embora o segundo companheiro. Já bastavam os filhos, ainda iria sustentar um homem dado a bebida?
As duas filhas portuguesas
casaram-se com portugueses. Assim, nas
reuniões de família, com avó portuguesa, duas filhas mais velhas portuguesas
casadas com portugueses, era natural que a culinária adotada fosse a
portuguesa.
Alguns dos costumes foram
incorporados e perenizados por toda a
família. Por isso até hoje como bacalhoada no Natal. E rabanadas e castanhas
cozidas. E “caldo verde” no inverno.
Assim como meus filhos e netos.
Castanhas portuguesas |
Estes porque, para o bem e para o
mal, têm no lado materno avós portugueses.
Minha avó Ana repassava para mim, que contava 14 ou 15 anos de idade, uma moeda de um ou dois mil reais, que havia ganho de uma das filhas, toda vez que eu ia a sua casa, na Rua Ferreira Pontes, no bairro do Andaraí, levar um bolsa ou embrulho com alguns mantimentos enviados por minha mãe.
Ela viveu o quanto pode sozinha, por teimosia, depois das filhas e filho casados. Como não tinha renda (pensão ou aposentadoria), as filhas e genros pagavam-lhe o aluguel da pequena casa; e levavam para ela gêneros alimentícios. Como morávamos em Niterói, cabia-me, alguns meses, levar até lá a cota de minha mãe.
Minhas tias, além de comida não perecível, deixavam umas quantas moedas para outras despesas (pão, etc). E era uma destas moedas que me propiciava o cinema semanal.
Até hoje ressoam em meus ouvidos sua voz com sotaque carregado que nunca perdeu: "ó Jorge, anda cá ao pé de mim".
Minha avó Ana repassava para mim, que contava 14 ou 15 anos de idade, uma moeda de um ou dois mil reais, que havia ganho de uma das filhas, toda vez que eu ia a sua casa, na Rua Ferreira Pontes, no bairro do Andaraí, levar um bolsa ou embrulho com alguns mantimentos enviados por minha mãe.
Ela viveu o quanto pode sozinha, por teimosia, depois das filhas e filho casados. Como não tinha renda (pensão ou aposentadoria), as filhas e genros pagavam-lhe o aluguel da pequena casa; e levavam para ela gêneros alimentícios. Como morávamos em Niterói, cabia-me, alguns meses, levar até lá a cota de minha mãe.
Minhas tias, além de comida não perecível, deixavam umas quantas moedas para outras despesas (pão, etc). E era uma destas moedas que me propiciava o cinema semanal.
Até hoje ressoam em meus ouvidos sua voz com sotaque carregado que nunca perdeu: "ó Jorge, anda cá ao pé de mim".
3 comentários:
Grande figura a vovó Ana. Tinha na ponta da língua um ditado para cada situação. E quantos casos das aldeias de sua terra. As colheitas em mutirão, os lagares, os tonéis abarrotados e as vindimas de cada sitiante. Fora isso as inúmeras festas religiosas, as quais gostava de frequentar por conta dos bailes.
Essa portuguesa analfabeta sabia toda a missa em latim, visto ser sobrinha de um padre.
Tenho boas lembranças dela.
Muito legal ler textos sobre o nosso passado, saudoso para mim.
Minha sogra, pessoa maravilhosa, também se chamava Edith...
E também não esqueço da minha avó Carolina, portuguesa, me chamando sempre assim : Ô meu querido filho, senta aqui comigo !
Nossa avó portuguesa (Carolina) também era daquelas quase-analfabetas que davam aulas de vida e experiência!
Ela atuou intensamente no restabelecimento do equilíbrio nas desavenças e desencontros que foram costumeiros em nossa família.
Foi uma segunda mãe tanto para meu irmão (o Riva desse blog) como para meu pai.
Muitas saudades dela!
Postar um comentário