Água! Gritará o moribundo

E Ricardo III, pela pena de Shakespeare: meu reino por um copo e d'água.

Está certo! Qualquer sugestão é válida. Mesmo as que em princípio causam-me estranheza, desconforto ou antipatia.

Refiro-me a economia do precioso líquido. Não! O precioso líquido não é o Royal Salute 62 anos. Nem o Mouton Rothschild 1982.

É a água mesmo. Confesso que não acreditava nos prognósticos sombrios de que faltaria água no planeta. Lembro perfeitamente de uma longa conversa (45 minutos) com um cliente, há doze anos, a caminho de Maricá, onde teríamos uma audiência  num processo de esbulho.

Ele sustentava que água seria um problema para a humanidade. Eu retrucava que então nós, brasileiros, não fazíamos parte da humanidade, porquanto água é que não faltava em nossa abençoada terra.

Mencionei os caudalosos rios, em especial o Amazonas do qual nos jactávamos por ser o maior do mundo em volume de água. E seus afluentes, também enormes e profundos?

Falei da visita à Argentina e do orgulho dos portenhos porque possuem - segundo eles – a maior reserva de água do planeta, na Patagonia.

Mencionei a visita a Montevideo e minha visão impressionada do Rio da Prata, que mais parece um oceano, com quilômetros de largura no trecho em que as capitais da Argentina e do Uruguai estão separadas pelo dito rio.

Nenhum destes meus argumentos o convencia. Apelei citando Lavoisier. Água não se perde, ela pode evaporar e virar nuvem. Então choverá em algum ponto e ela retorna ao solo. Os rios desaguam nos oceanos e estão sujeitos à evaporação. Sem contar que poderíamos dessalinizar a água do mar.

O cliente, europeu, que morou na África onde ganhou muito dinheiro e depois foi expulso de Angola com uma mão na frente e outra atrás, não se dava por vencido, e assim foi durante todo o percurso.

Mas comecei me referindo a sugestões que tenho ouvido.

O Riva, nosso confrade no blog, sugeriu que os condomínios refaçam seus jardins utilizando plantas artificiais, para evitar ter que rega-las. Não sei se inclui neste formato, a substituição dos gramados dos estádios de futebol (botando sintética) que também exigem muita irrigação. Inclusive com a adoção da moda inglesa de irrigar o gramado antes dos jogos.

Outra sugestão que ouvi foi a de dar descarga uma vez sim e outra não, quando apenas se vai urinar no vaso sanitário em casa. E lavar a cabeça dia sim, dia não.

Não sei se a título de pilhéria, mas alguém falou em deixar a barba crescer, no caso dos homens. O fazer a barba diariamente gasta muita água. Será? O autor da ideia sugeriu que o William Bonner desse o exemplo a ser seguido.

E os automóveis? Continuarão sendo lavados até em “lava jato” clandestino, em algumas ruas?  Os vagabundos que se utilizam do espaço público (ruas) e utilizam água sem pagar pelo consumo porque fazem ligações clandestinas, continuarão impunes? E os proprietários de veículos, que sabedores da irregularidade praticada levam seus carros a estes pontos para pagar mais barato a lavagem?

As bebidas, em especial a cerveja, grande consumidora de água, continuará no mercado? Parece-me que tarifar mais pesadamente o consumo, nas fábricas de bebidas, não resolve o problema que é de escassez de fontes de suprimento.

Faço, e não é de hoje, a economia possível, sem esforço, por disciplina.

Neste particular entendo que a colocação de hidrômetros individuais nos condomínios ajudará a combater desperdício, porque quem gastar exageradamente pagará a conta, que atualmente é rateada entre todos os condôminos.

O governo estuda prolongar o "horário de verão". Como eu acordo às 06:30h, vale dizer às 05:30h no horário convencional, segundo convenção internacional, o que irá ocorrer é que a energia que economizarei à noitinha, gastarei pela manhã, porque não demora o regime solar irá se impor e às 05:30h ainda será noite escura.

É esperar para ver. Recorro a Saint-Exupery. Em sua jornada a caminho da Terra, o principezinho passa por pequenos planetas; havia um onde vivia um rei sensato. E se gabava disto. Dizia que tinha o direito de exigir obediência, porque suas ordens eram sempre sensatas.

E dava um exemplo: "se eu ordenasse que um general  se transformasse em gaivota e ele desobedecesse, a culpa não seria do general, seria minha".

Em face desta sua sensatez, não pediria que o sol se ocultasse (ou nascesse) antes do horário previsto na natureza. Este exemplo está em "O Pequeno Príncipe", que por causa das candidatas a misses de antigamente, deixou de ser uma leitura obrigatória pelo seu conteúdo.