19 de dezembro de 2014

Plantão do blog - vala comum

Publico frequentemente posts comentando  aberrações, excrescências, malfeitos e artifícios escusos do legislativo e do executivo. Mas o judiciário é, também, lamentavelmente, um ente público cheio de artifícios e incógnitas.

Este artigo do professor Marco Antonio Villa, que é de 2011, mas não perdeu a atualidade porque as coisas continuam como eram (só que os valores são mais elevados), deixa à mostra o quanto gastamos na manutenção do 'tribunal do cidadão". Eis o texto:
 
"O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é formado por 33 ministros. Foi criado pela Constituição de 1988. Poucos conhecem ou acompanham sua atuação, pois as atenções nacionais estão concentradas no Supremo Tribunal Federal.
No site oficial está escrito que é o tribunal da cidadania. Será?
Um simples passeio pelo site permite obter algumas informações preocupantes: o tribunal tem 160 veículos, dos quais 112 são automóveis e os restantes 48 são vans, furgões e ônibus. É difícil entender as razões de tantos veículos para um simples tribunal. Mais estranho é o número de funcionários. São 2.741 efetivos.

Muitos, é inegável. Mas o número total é maior ainda. Os terceirizados representam 1.018. Desta forma, um simples tribunal tem 3.759 funcionários, com a média aproximada de mais de uma centena de trabalhadores por ministro! Mesmo assim, em um só contrato, sem licitação, foram destinados quase R$2 milhões para serviço de secretariado.

Não é por falta de recursos que os processos demoram tantos anos para serem julgados. Dinheiro sobra. Em 2010, a dotação orçamentária foi de R$940 milhões. O dinheiro foi mal gasto. Só para comunicação e divulgação institucional foram reservados R$11 milhões, para assistência médica a dotação foi de R$47 milhões e mais 45 milhões de auxílio-alimentação. Os funcionários devem viver com muita sede, pois foram destinados para compra de água mineral R$170 mil. E para reformar uma cozinha foram gastos R$114 mil. Em um acesso digno de Oswaldo Cruz, o STJ consumiu R$225 mil em vacinas. À conservação dos jardins — que, presumo, devem estar muito bem conservados — o tribunal reservou para um simples sistema de irrigação a módica quantia de R$286 mil.

Se o passeio pelos gastos do tribunal é aterrador, muito pior é o cenário quando analisamos a folha de pagamento. O STJ fala em transparência, porém não discrimina o nome dos ministros e funcionários e seus salários. Só é possível saber que um ministro ou um funcionário (sem o respectivo nome) recebeu em certo mês um determinado salário bruto. E só. Mesmo assim, vale muito a pena pesquisar as folhas de pagamento, mesmo que nem todas, deste ano, estejam disponibilizadas. A média salarial é muito alta. Entre centenas de funcionários efetivos é muito difícil encontrar algum que ganhe menos de 5 mil reais.

Mas o que chama principalmente a atenção, além dos salários, são os ganhos eventuais, denominação que o tribunal dá para o abono, indenização e antecipação das férias, a antecipação e a gratificação natalinas, pagamentos retroativos e serviço extraordinário e substituição. Ganhos rendosos. Em março deste ano um ministro recebeu, neste item, 169 mil reais. Infelizmente há outros dois que receberam quase que o triplo: um recebeu R$404 mil; e outro, R$435 mil. Este último, somando o salário e as vantagens pessoais, auferiu quase meio milhão de reais em apenas um mês! Os outros dois foram “menos aquinhoados”, um ficou com R$197 mil e o segundo, com R$432 mil. A situação foi muito mais grave em setembro.

Neste mês, seis ministros receberam salários astronômicos: variando de R$190 mil a R$228 mil.

Os funcionários (assim como os ministros) acrescem ao salário (designado, estranhamente, como “remuneração paradigma”) também as “vantagens eventuais”, além das vantagens pessoais e outros auxílios (sem esquecer as diárias). Assim, não é incomum um funcionário receber R$21 mil, como foi o caso do assessor-chefe CJ-3, do ministro 19, os R$25,8 mil do assessor-chefe CJ-3 do ministro 22, ou, ainda, em setembro, o assessor chefe CJ-3 do desembargador 1 recebeu R$39 mil (seria cômico se não fosse trágico: até parece identificação do seriado “Agente 86”).

Em meio a estes privilégios, o STJ deu outros péssimos exemplos. Em 2010, um ministro, Paulo Medina, foi acusado de vender sentenças judiciais. Foi condenado pelo CNJ. Imaginou-se que seria preso por ter violado a lei sob a proteção do Estado, o que é ignóbil. Não, nada disso. A pena foi a aposentadoria compulsória. Passou a receber R$25 mil. E que pode ser extensiva à viúva como pensão. Em outubro do mesmo ano, o presidente do STJ, Ari Pargendler, foi denunciado pelo estudante Marco Paulo dos Santos. O estudante, estagiário no STJ, estava num a fila de um caixa eletrônico da agência do Banco do Brasil existente naquele tribunal. Na frente dele estava o presidente do STJ. Pargendler, aos gritos, exigiu que o rapaz ficasse distante dele, quando já estava aguardando, como todos os outros clientes, na fila regulamentar. O presidente daquela Corte avançou em direção ao estudante, arrancou o seu crachá e gritou: “Sou presidente do STJ e você está demitido. Isso aqui acabou para você.” E cumpriu a ameaça. O estudante, que dependia do estágio — recebia R$750 —, foi sumariamente demitido.

Certamente o STJ vai argumentar que todos os gastos e privilégios são legais. E devem ser. Mas são imorais, dignos de uma república bufa. Os ministros deveriam ter vergonha de receber 30, 50 ou até 480 mil reais por mês. Na verdade devem achar que é uma intromissão indevida examinar seus gastos. Muitos, inclusive, podem até usar o seu poder legal para coagir os críticos. Triste Judiciário. Depois de tanta luta para o estabelecimento do estado de direito, acabou confundindo independência com a gastança irresponsável de recursos públicos, e autonomia com prepotência. Deixou de lado a razão da sua existência: fazer justiça."

MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos (SP). 


Nota do editor:  texto original do autor, publicado em O Globo, edição de 13.12.11, está em

3 comentários:

Jorge Carrano disse...

Para quem estranha novos posts durante as férias explico que o editor "vendeu" suas férias, como fazem alguns ministros do STJ.
Brincadeirinha, observem que todos os textos publicados pelo plantão são meras reproduções. Compilação de textos colhidos na internet.

Jorge Carrano disse...

[A pedido do senador Aécio Neves (PSDB-MG), a Justiça de São Paulo determinou que o Twitter identifique 20 usuários por supostas ofensas ao tucano disseminadas na rede social durante a campanha eleitoral deste ano. Conforme a decisão, as mensagens associavam Aécio ao consumo, tráfico e apreensão de drogas. Inicialmente, a defesa do senador pediu a quebra do sigilo de outros usuários, mas o juiz Helmer Augusto Toqueton Amaral negou, sob o argumento de que apenas reproduziam notícias sobre o tucano ou replicavam conteúdo postado por outros usuários.
Na decisão, o juiz que apesar de a Constituição assegurar a liberdade de expressão, “também reconhece a importância da inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização caso ocorra alguma violação a tais garantias”.
O magistrado negou a quebra do sigilo de usuários que somente publicaram links de notícias sobre Aécio e que não foram responsáveis diretos pelo conteúdo delas, nem fizeram comentário ofensivo.
“Constata-se apenas e tão somente o exercício da crítica visando exposição de pensamento, não coincidente. E tal não justifica o intento do autor de esterilizar as vozes que se colocam contra condutas por ele adotadas. Ora, a simples discordância de pensamento, por si só, não autoriza o tolhimento da liberdade de expressão”, escreveu.]

Matéria publicada em
http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/12/juiz-manda-twitter-identificar-20-usuarios-por-suposta-ofensa-aecio.html


Riva disse...

Estamos sob o domínio do espantoso !

Outro dia (acho que já comentei isso, me desculpem se já o fiz) num churrasco, nos desafiamos a iniciar qualquer conversa na mesa que não terminasse em corrupção. Não conseguimos !!!!!

Uma caminhada hoje pelas ruas de Icaraí, Niterói, e fica a certeza de que estamos importando o modelo de desordem urbana de Bombaim e Calcutá ....

Livrarias colocam seus livros na calçada ...
Mercados expõem suas frutas e produtos natalinos na calçada da Moreira Cesar ...
Caminhão descarrega mercadorias para mercado, ocupando uma das pistas da Gavião Peixoto, sem qualquer fiscalização que o impeça ...
Lojas colocam som de músicas natalinas (mega chatas) bem alto, desrespeitando o entorno ...

KAOS !!!

Que venha a esculhambação de 2015 !
Novos valores para nossas crianças ...

BRASIL BANDIDO, da clePTocracia !!