10 de dezembro de 2014

Dos slides aos smartphones

A chatice é a mesma, mas deixa primeiro explicar para os mais jovens o que era um slide.

Slides eram (ou são, pois ainda são conservados) fotos coloridas (geralmente) impressas em superfície plana e transparente, com recursos fotoquímicos (seja lá o que isto signifique), e que estiveram em moda nas décadas de 1960 e 1970, por aí.

Ninguém deixava de documentar em fotos/slides seus passeios e viagens. Fosse para Paris, fosse para visitar parentes em Pindamonhangaba.

O pior, o chato, vinha depois. Se você ia visitar a pessoa, era submetido à tortura de ter que assistir a projeção dos slides na parede. Aquelas fotos, cheias de significados e histórias para os participantes nelas presentes, em geral não tinham nenhum interesse para você.

Era um banho na cachoeira. Era o almoço em família, era o pé de manga carregado, estas coisas. Ou, se a viagem documentada tinha sido ao exterior, a projeção era narrada, com detalhes: aqui são os jardins de Versailles; aqui estamos embarcando no bateau mouche para um passeio no Sena; olha esta, é do guarda do Palácio de Buckingham; veja, conseguimos fotografar o Papa na sacada;  e coisas que tais.


Havia um apetrecho, um projetor de slides (vejam  foto acima), com um carretel giratório, que permitia a projeção das fotos em sequência, ou então com um comando manual para exibir num intervalo mais apropriado à narrativa do fato ou evento.

Estas transparências foram muito usadas também em palestras, seminários e cursos de treinamento. Eram lâminas maiores e não precisavam de moldura. Já as fotos eram pequenas, num formato padrão, e eram emolduradas em papelão. A foto abaixo documenta.



Fiquei livre dos slides mas não escapo dos smartphones: Deixa eu ver se tenho aqui a foto da fachada da pousada onde me hospedei  em Itaquaquecetuba; quer ver o meu cachorrinho como está fofo?; olha a festa de final de ano da firma; ah! esta aqui é vizinha de uma prima em segundo grau daquele cara do BBB 2. Estão rindo?

Raramente o que vão te mostrar na telinha do smartphone (ou tablet) tem um mínimo interesse... para você.

Alias que estes telefones cheios de recursos são uma das coisas que mais abomino no momento. Se antes deles os netos participavam das conversas em família ou ficavam atentos às histórias, agora não desgrudam os olhos da tela e mostrando um ao outro o que acharam curioso ou um meme (é assim que se escreve?).

Ninguém senta no ônibus ou entra em elevador ser sacar seu telefone celular par dar uma espiada. As pessoas desenvolverão uma aptidão tal com os polegares, que com o tempo haverá uma modificação genética de sorte que eles crescerão mais finos e com menos unha para facilitar ouso do telefone portátil.

Quem sabe passaremos e ter dois indicadores?


7 comentários:

Freddy disse...

A LER antes era devida ao uso exagerado de teclado de computador. Ao contrário das máquinas de escrever, que exigiam um certo esforço dos dedos ao digitar e com isso reforçava a musculatura para dar conta do trabalho, nos teclados apenas a rapidez estava envolvida. O resultado era inflamação do circuito todo. Tendinite, lesão do tunel do carpo, todas por esforço repetitivo.

Parêntesis: idem com o piano. O piano tem "peso" na tecla, mas os sintetizadores antigos - e mesmo os mais recentes mas menores - não. Muito tecladista veloz também desenvolve LER.

Onde quero chegar? Aos polegares! Minha filha baixou médico outro dia porque desenvolveu uma lesão estranha, que foi diagnosticada como uma espécie de LER, mas apenas relacionada com o polegar. Minto: os polegares, no plural! Motivo? O que aborda no texto! Em vez de polegares mais modernos e finos, a raça humana talvez tenha polegares aleijados!

Jorge Carrano disse...

O Freddy, confrade do blog, mandou um e-mail com considerações e informações que modestamente disse que não acrescentariam nada, o que não é verdade.
Por isso publico o texto da mensagem eletrônica:

"As diversas inconsistências técnicas encontradas no texto sobre slides não serão comentadas no blog porque nada acrescentariam ao objetivo do mesmo, dado que em termos de assunto ficou tudo muito bem articulado, inclusive com a segunda parte.
Só para clarear um pouco:

- Os slides não "estiveram na moda" entre 60 e 70. Eles foram a primeira mídia profissional colorida da fotografia, com o venerável Kodachrome sendo lançado nos idos de 1935 tanto para foto como para cinema, tanto no formato 35mm como em outros. Sua química era extremamente delicada e enquanto fabricado (até 2009) só era processado na Kodak. Outras versões mais populares como o Ektachrome (da Kodak) e vários clones em outras marcas famosas (Fuji, Sakura, Agfa) também ganharam o mercado, sendo muito comum você descobrir que seus slides de 1960/70 estão quase totalmente transparentes, sem conteúdo. Só Kodachrome resiste ao tempo, com vida útil teórica de 300 anos, com qualidade garantida por uns 50.
- A Kodak entregava os diapositivos (nome formal do slide) Kodachrome de 35mm em papelão, mas quem mandava revelar outros modelos (Ektachrome, Fujichrome, Agfachrome, etc) podia recebê-los em plástico. Você também podia optar por receber a tira inteira e só montar em casa o que queria, em papelão ou plástico. Como havia diapositivos (e negativos também) em outros formatos de filme maiores, em geral para uso apenas profissional, a maneira com que eram entregues ao usuário variava bastante.
- Portanto, os diapositivos foram usados desde 1935 por profissionais e amadores, sendo que a proliferação do filme negativo colorido nas décadas citadas - 60 em diante - foi o responsável pelo declínio do uso dos slides por amadores. No entanto, sempre foram o formato de escolha de profissionais até o advento do digital de superior qualidade. En passant, o digital ganhou mercado primeiro com os amadores, só depois os profissionais aderiram => quando então o filme "morreu".
- Os projetores eram vendidos no formato carrossel ou para uso de magazines lineares. Você cometeu ligeiro deslize pois mostrou uma foto de projetor de magazine linear e depois disse que existia só em carrossel. Acho que deveria consertar. O meu é linear, pois é mais fácil de armazenar os magazines - menos espaço.
- Apesar de slides serem usados em aulas no passado, o mais comum para palestras, como você citou, foi o projetor de transparência. Contudo, ele em nada se parece com os projetores de slide, pois você podia escrever com caneta especial em cima das folhas de tamanho A4 ou carta, e ser projetado on-line, como se fora uma aula em quadro (negro, verde, branco). Mais tarde conseguiram inventar uma impressora de transparência e aí a gente copiava as páginas de arquivos em computador para as transparências e daí para a tela. Claro, a evolução passou a ser sair do micro direto para um projetor de telão, mas extrapola o escopo do texto."

Riva disse...

O fato é .... ainda tenho meu projetor de slides linear, e pior ... ainda coloco a tela enorme na sala, e projetamos coisas antigas para ver aqui em casa.
Aproveito as sessões (no Twitter se escreve seções) para fotografar a imagem com meu iPhone, para guardar no meu computador.

Só das minhas obras na construtora, tenho quase 2.000 slides. Todos com capa de plástico.

Quanto aos smartphones, não adianta remar contra a maré. Já escrevi aqui no blog meu envolvimento com o meu iPhone, já tive matéria sobre eu e meu iPhone publicada na revista ÉPOCA (vcs sabiam disso ? rsrs).

É impressionante o comportamento das pessoas em qualquer lugar, envolvidas com o aparelho : dirigindo, em shows, na rua, em reuniões, nos restaurantes, em casa, uma loucura total ! É o Tamagotchi do século XXI.

E como não podia deixar de ser .... futebol .... como será o FLU sem a UNIMED ?????

Jorge Carrano disse...

Riva,
Aproveito seu comentário para validar minha tese. Quem ficará satisfeito assistindo a projeção de seus quase 2.000 slides de obras? Sua esposa se te amar muito. O estagiário puxa-saco que quer ficar bem o chefe, e só. É claro que para quem fez as fotos e os diapositivos como lecionou o Freddy, são valiosos, sejam os profissionais, sejam os pessoais, sobretudo os que registram os primeiros passos de um filho ou a entrega da primeira fatia do bolo para a avó, toda risonha pela homenagem do neto preferido. Deixei claro no post que o negócio é chato para o visitante. Reconheço que sou um velho ranzinza e implico com mochilas, smartphones e outras coisas mais. Quem acompanha o blog sabe. Quanto ao futuro do Fluminense não tenho opinião. Alias o futebol brasileiro é de uma pobreza franciscana (Nelson Rodrigues). Hoje assisti, acabou ainda há pouco, um bom jogo de fuebol: Barcelona e Paris Saint Germain (PSG). O trio atacante sul-americano do Barcelona é muito bom: Messi, Luiz em Dos slides aos smartphones

Jorge Carrano disse...

Bem-vindo Gelco. Sinta-se em casa neste espaço virtual.
Participe se lhe aprouver.

Freddy disse...

Nunca vou me esquecer de quando mostramos à falecida tia Arllete, que viera passar uns dias aqui em casa para ajudar Mary com a Renata recém nascida (idos de 1978) os cerca de 1.300 slides que havíamos tirado na Europa. Foram 3 dias de suplício para a "veinha" - rs rs.

Eu ainda não joguei fora nenhum de meus slides pessoais, pois ainda espero digitalizar os melhores. No entanto, na mais recente mudança, jogamos fora pra mais de 10.000 fotos! Negativos e álbuns junto! Pra que serve algo que nem você vê mais? Eu e Mary passamos alguns dias revirando os álbuns antigos e sobrou pouco, como lembrança. Todos os filmes Super-8 foram para o lixo, melados.

Pode parecer um fato comum da vida, afinal hoje temos menos espaço que outrora => praticar o desapego! Contudo, a verdade é que, lá dentro de mim, essa ação provocou algo esquisito... De tão borbulhante passou do inconsciente ao consciente... Se milhares de fotos que eu tirei com tanto carinho (e que na época custaram uma baba) não servem mais pra nada, viraram lixo, porque então continuar a tirá-las?

Fecha o pano, ao som da marcha fúnebre...

Riva disse...

Estou me lembrando dos meus cadernos do Primário que mamãe guardava ..... pra que eu não sei ....