Até mesmo escritores profissionais, que vivem da literatura
produzida, em especial os cronistas do cotidiano, devem ter seus momentos de
dúvida se já escreveram, ou não, sobre
determinado assunto.
Alguns até fazem variações sobre o tema, assumindo, ou não, que
o assunto é recorrente. Veríssimo assume, e não estou falando de qualquer um,
estou me referindo à um dos maiores e mais respeitados escritores em língua portuguesa,
bastante louvado por suas crônicas publicadas em jornais de grande circulação.
Ora é uma apresentação de jazzistas em Nova Iorque, ora é uma
doçaria (confiserie) em Paris, mas nunca suas crônicas são monótonas, e jamais deixam de oferecer
um detalhe novo e diferente.
Este introito tem um fundamento. Já escrevi sobre frutas,
sobre animais, sobre pontes, sobre museus, sobre universidades, igrejas, sobre santos, e
não escrevi, ao que parece, sobre cemitérios.
E olha que visitei alguns bem famosos, por uma razão ou
outra.
Hoje me ocorreu porque li matéria sobre “a Vieira Souto dos
mortos”, no cemitério de São João Batista (Botafogo- Rio de Janeiro), que
estaria passando por uma revitalização das esculturas dos jazigos, algumas verdadeiras
obras de arte. Para quem não é do Rio, a Avenida Vieira Souto, em Ipanema, tem o metro quadrado de área construída mais caro da cidade.
Além disso, há projeto, não sei se já em execução ou até executado, no sentido
de que sejam colocados em alguns dos mais visitados jazigos, indicativos em
placas de aço, na verdade códigos de barras dimensionais, que poderão ser escaneados por celulares e tablets, de sorte
a obtermos dados sobre o famoso ali sepultado.
Cemitérios têm esta característica: são ornamentados com esculturas
magníficas, estão localizados, muitas vezes, em meio à vegetação exuberante,
com árvores frondosas, e guardam os restos mortais (em só o pó) de
personalidades históricas, dos meios políticos, culturais ou artísticos.
Assim, num rápido passeio por suas aleias, além de apreciar a
arte das esculturas e dos jazigos, aprende-se um pouco sobre as personalidades
ali abrigadas post mortem.
Se no Père Lachaise, localizado em Paris ou no Recoleta, logo
alí em Buenos Aires, desde há muito eram feitos tours guiados, aqui poderão ser feitas estas
incursões sem necessidade de guias. Bastará um smartphone ou um tablet para que
conheçamos detalhes das pessoas que ali foram sepultadas.
Falar do Saint James, muito visitado em Londres, seria “chover
no molhado”. Acho que muita gente conhece. Mas os cemitérios judeus, das
cidades do leste do continente europeu têm história, curiosidades e estão
localizados em áreas muito bonitas, bucólicas, harmonizadas com a natureza. E,
imagino, despertam a curiosidade de poucos. Mas acho que vale a pena conhecer, se tiver oportunidade.
Budapeste |
Praga |
Assim é que os cemitérios israelitas das cidades de Budapeste
e Praga, capitais da Hungria e República Tcheca, respectivamente, têm como
curiosidade o fato de serem verticalizados.
A falta de espaço para expansão horizontal, obrigou a
verticalização. Assim as não sei quantas poucas lápides aparentes, sobre o solo,
estão na verdade colocadas sobre centenas de outras abaixo delas. Algumas
destas lápides trazem gravados os nomes das pessoas ali enterradas.
Seja o cemitério de Budapeste (localizado na antiga Pest)*, no gueto onde viviam os judeus,
seja o de Praga, são localizados em áreas pequenas, mas bastante arborizadas,
que as fazem parecer sombrias.
Budapeste |
Praga |
O de Budapeste fica, na verdade, nos jardins da maior das Sinagogas europeias, sendo
a segunda maior do mundo, e que abriga 3.000 pessoas. Só é menor do que a de
Nova Iorque.
Não lembro se fotografei estes cemitérios do equivocadamente
denominado leste europeu (na verdade estes países ficam bem no centro do continente); o fato é que em 2004, quando lá estive, não possuía câmera digital e dos vários
rolinhos de filmes que utilizei nem todos mandei revelar (até perde) e, dentre as dezenas de
fotos reveladas, não sei se tenho alguma destes cemitérios judeus.
Mas na internet achei fotos bem representativas do que estou
contando, inclusive da sinagoga de Budapeste, enorme, que abriga, além do
cemitério, também um pequeno museu.
Eis a foto:
Notas do editor:
1) para quem faltou à aula de geografia, a cidade de Budapeste é resultado da junção de duas cidades antigas, uma localizada em cada margem do Danúbio: Buda e Pest.
2) conheço, por dever social (noblesse oblige), os cemitérios do Araçá, São Paulo e Morumbi, em São Paulo; o do Caju e o São João Batista, no Rio de Janeiro e, claro, o Parque da Colina e do Marui, em Niterói, nos quais tenho parentes e amigos sepultados.
1) para quem faltou à aula de geografia, a cidade de Budapeste é resultado da junção de duas cidades antigas, uma localizada em cada margem do Danúbio: Buda e Pest.
2) conheço, por dever social (noblesse oblige), os cemitérios do Araçá, São Paulo e Morumbi, em São Paulo; o do Caju e o São João Batista, no Rio de Janeiro e, claro, o Parque da Colina e do Marui, em Niterói, nos quais tenho parentes e amigos sepultados.
5 comentários:
Antes que perguntem:
Não, os mortos não foram enterradas eretos, na posição de pé. Foram sepultados na horizontal mesmo, só que estão em camadas sobrepostas, uns sobre ou outros.
De todos que visitei por obrigação ou não, o mais impactante foi o de Arlington, em Washington, em 1969.
Fiquei super impressionado por estar ao lado da chama eterna no túmulo de JFK, e pelo MAR de cruzes brancas dos soldados morto e sepultados, da guerra do Vietnam.
Há alguns anos visitei Dallas, e pude estar no local do assassinato de JFK, e arrepiei mais ainda .... o museu dentro do prédio onde Oswald supostamente atirou, e na rua, com as marcas em X dos disparos que o atingiram .... DEMAIS
As tumbas ainda existentes no campo de concentração de Dachau (Bavária, Alemanha), numa delas escrito algo como "ossadas de 10.000 desconhecidos", arrepiam. Aliás, tudo ali arrepia: câmaras de gás, crematórios e alojamentos, cercas farpadas e eletrificadas.
Tenho um slide de quando eu entrava no campo em que aparece um pessoal saindo... chorando. Eu olhei pra Mary e disse: "- Prepare-se..."
Lá dentro passam um filme da época para os visitantes. Aí você desaba de vez...
Nada nunca superou aquilo, pra mim.
Outro monumento a mortos impressionante é o complexo do Valle de los Caídos, na Espanha. É colossal. Tem uma nave central com um mosaico no teto formado por milhões de pedrinhas, dizem que tantas quanto foram os mortos na guerra civil.
O tamanho da coisa toda amassa você.
É uma pequena excursão de uma tarde partindo de Madrid, imperdível para quem for visitar a Espanha.
Complementando minha escassa experiência com cemitérios, lembro que morei morei 7 meses em Giesing, bairro suburbano de Munique. Ali se encontra o Ostfriedhof München, com 34 hectares e 35.000 sepulturas. Apesar de ficar a 1 estação de trem de onde eu morava (Pfälzer-Wald-Strasse, 55/310), é realmente grande mas jamais me ocorreu visitá-lo... As informações no site dão conta de que nele foram cremados os corpos de 12 grandes nazistas condenados no famoso Julgamento de Nürnberg, mortos apenas um dia antes. Suas cinzas foram jogadas no Rio Isar, o que corta a cidade.
Link para o Ostfriedhof München:
http://www.findagrave.com/cgi-bin/fg.cgi?page=crMap&CRid=639232
Esse link tem duas orelhas: info e mapa. Entrando no mapa, a Pfälzer-Wald-Strasse fica embaixo à direita. Eu só vislumbrava de cima o cemitério quando o S-Bahn (um tipo de metrô de superfície de Munique) passava pela estação St.Martin-Strasse, uma após a de Giesing.
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