Riva
Não me lembro de detalhes da minha
adaptação à nova escola, o Externato Halfeld, mas lembro da professora, Dona
Flora, mesmo nome da minha mãe. Lembro de alguns colegas de classe, como por
exemplo o Guilherme, que foi o primeiro canhoto que conheci. Logo logo terminou
o ano e a 3ª Série.
No ano seguinte, em 1961, cursei a 4ª
Série sem problemas e também sem recordações marcantes. Engraçado, não lembro
como ia e vinha da escola, mas provavelmente já tinha começado a ir de
bicicleta, com a mala pendurada no guidon. Minto, foi em dezembro desse ano que
ocorreu o pavoroso incêndio do circo em Niterói. Meu pai se envolveu muito com
equipes de auxílio, e o assunto fez parte dos nossos jantares por muitos e
muitos dias.
Também não lembro em que ano comecei
a estudar piano e teoria musical, mas era uma das coisas mais chatas da minha
vida ..... argh !!!
1962 foi brabo, pois novamente minha
mãe me tirou da escola, para me colocar no Curso Alzira Bittencourt, perto do
Campo de São Bento, onde meu irmão Freddy tinha feito uma boa preparação para a
entrada no Liceu, para o 1º ano do Ginasial. Brabo porque o curso era
fortíssimo, e, meu irmão era um CDF, o que não era o meu caso. E eu
simplesmente não conseguia render por lá o que Freddy tinha rendido no ano
anterior. As comparações eram massacrantes. Essa série se chamava Admissão.
Eu ia e voltava na minha bicicleta, estudos
à tarde depois do almoço, geralmente de 14 às 16:30h, e a grande companhia do
meu maior e melhor amigo na infância e parte da adolescência : meu cão
vira-lata Boy. Jogava muito futebol nessa época, sozinho, contra a parede dos
fundos da casa. Quem jogou bola sabe do que estou falando.
No fim desse ano, meu pai resolveu
pintar nossa casa toda, e por isso nos hospedamos num grande e velho hotel que
existia no Ingá, de frente para a Praia das Flechas. E foi lá que me preparei,
com a ajuda dele, para as difíceis provas de admissão à 1ª Série do Ginasial do
Instituto Abel, que viria a ser minha nova escola de 1963 até entrar para a
Faculdade, em janeiro de 1970, com 17 anos. Fui o caçula da turma do Abel todos
os anos do Ginásio e do Científico.
Esse período do Ginásio foi muito
marcante, de diversas formas. Uma das coisas que eu curtia demais eram os
estojos, canetas, borrachas. Meus cadernos era realmente caprichados, e são até
hoje – coisas que você tem no DNA, não tem jeito. No meu caso, organização, planejamento,
em qualquer assunto. Vivia indo ao Centro de Niterói para garimpar novidades da
Casa Mattos. Hoje em dia, quando vou aos EUA, perco horas e horas nas Office
Depot, Staples e similares.
Essa fase foi também de novas e
duradouras amizades, as Quermesses do Abel, as Feiras de Ciência, os estudos de
acordeão, o início dos namoros, os bailes do bairro do Pé Pequeno, a descoberta
de um instrumento chamado violão (rsrsrs), a Jovem Guarda, minha bateria
Armando Wreingell que meu pai me deu, os Beatles e Stones, as aulas
particulares de inglês e de matemática, os carrinhos de rolimã, o Simca
Chambord que meu pai comprou em 60 e que deixou eu começar a dirigir em 1966,
os bailes do Central, Regatas, Marietta
e Pioneiros, e sobretudo, meu vira-lata Boy, meu grande companheiro
nesse período todo.
Essa fase toda atravessa uma miríade
de cheiros e sons do bairro do Pé Pequeno que percebo até hoje, mas que somente
acontece realmente lá em Friburgo, principalmente ao entardecer e à noite,
quando tudo se acalma ao redor da nossa casa. É um resgate maravilhoso da minha
infância e adolescência, incluindo, como já mencionei, a gastronomia portuguesa
maravilhosa da minha avó Carolina.
Não dá para escrever tudo aqui, mas
minha memória ano a ano dessa época tem marcos, marcos mesmo, eventos que
caracterizaram um determinado ano. Posso dizer – e já escrevi sobre isso em
outro post – que meus marcos principais são sempre referentes a futebol : quem
foi campeão determinado ano, e dali, eu parto para a lembrança dos eventos
daquele ano.
Fatos marcantes : as copas do Mundo,
sempre, o assassinato do presidente Kennedy, a morte do papa, a reforma da
nossa casa, sem que mudássemos durante as obras (como era difícil morar ali,
estudar, enfim, viver ali), a TV da época, com o início da TV Globo.
E aí veio 1967, o 1º ano do
Científico, e uma nova fase também de amizades dentro do Pé Pequeno, que foi a
união com a turma da rua Itaperuna, uma integração maior com alunos de outras
escolas de NIterói, como o Liceu, Centro Educacional, Figueiredo Costa, etc,
através do futebol e dos bailes.
Uma das coisas que não mencionei, mas
que foi legal para mim, foi a cantina do Instituto Abel, point de várias
tchurmas da escola, e com seu delicioso cachorro quente com molho tradicional.
Estou sentindo o cheiro do danado ! O ABEL é uma escola gigantesca, hoje com
mais de 4.000 alunos, e já naquela época, era um mundo para todos nós.
O Científico transcorreu normalmente
nos anos de 67 e 68, apesar do que rolava nas ruas com a ditadura. Mas para nós,
tudo funcionava : tínhamos uma boa escola, bons professores, transporte público
bom, não me lembro de ninguém reclamando de violência/insegurança, de sujeira
nas ruas, podíamos nos divertir à vontade, e até extrapolar um pouco, sem danos
a ninguém. Íamos e vínhamos tranquilamente.
Em 1969 chegara o grande momento : o
pré-vestibular, e a decisão de que carreira seguir. Eu já estava encaminhado
para a Engenharia, mas estava envolvido com música, e iniciei o ano com uma
atribulada viagem aos EUA, num intercâmbio cultural chamado Partners of
Alliance - que merece um post à parte. Na verdade não levei muito a sério esse
ano – acho que ainda estava em outra, com apenas 17 anos, mas entrei para a
Faculdade.
Como esse post tem como foco nossos
tempos de escola, ele termina aqui, extamente aqui, quando vou entrar para a
Faculdade, e que foi um divisor de águas na minha vida, em todos os sentidos,
porque perdi contato com muitas dessas pessoas (fui estudar no Rio), comecei a
pensar no que vinha pela frente com mais foco, comecei a trabalhar vendendo
seguros, e conheci a minha esposa. A página virou.
9 comentários:
Amigo Carrano,
Lembra quando eu e Freddy colocamos aqui no blog que nossas "aventuras" e "desventuras" eram coisas muito pessoais, que não interessariam aos leitores do blog ?
That´s it ..... um fato. Não há desenvolvimento, comparações. A leitura é pontual.
Caro Riva,
Os comentários, muitos ou poucos, não são parâmetro para aferição do grau de interesse do post.
Deixe somente o Freddy implicar com os pneus.
Se eu tivesse agora um tempinho iria fazer um levantamento de quantos posts já publiquei sem um mísero comentário de eventuais leitores. São mais de uma dezena, com certeza.
E, segundo minha avaliação, alguns dos melhores. Alguns que me deram muito prazer por te-los escrito. Gostei dos resultados e não foram compartilhados.
The show must go on!
Antes de ir dormir, rastreei e encontrei um post que muito me agradou, sob vários aspectos e que só teve um mísero, mas honroso comentário: e foi o seu.
Está em
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2009/12/os-animais.html
O Jorge tem razão, Riva. O número de comentários nem sempre está relacionado à qualidade do texto.
Existem casos, como o seu post, que apenas lemos, como se fôssemos bons ouvintes num papo entre amigos, e o único comentário que faríamos se resumiria em uma única palavra tipo: "Legal!"
Bom seu texto e interessante sua trajetória de vida.
Grato pelas palavras de ambos. É que eu gosto demais de trocar experiências sobre minha infância e adolescência, comparar mesmo com outras localidades, bairros, e até países.
E tudo isso porque, apesar da ditadura militar do período, tive esse período maravilhoso sob vários aspectos, até mesmo com o problema da gravíssima doença da minha mãe.
E então fiquei na expectativa das comparações, da informação, que não ocorreu (embora tenha sim ocorrido nos posts anteriores).
Valeu !
Olá Riva.
Dizem q nosso destino já é traçado...o seu foi pontualmente desenhado pela sua mãe, e mesmo na época vc n entendendo o pq de mtas coisas, lhe fez mto bem. Sua mãe sabia (as mães são sábias mesmo! -sou uma, posso garantir isso..rsrs)exatamente o q era melhor pra vc. Pode ter a certeza q ela se orgulha da pessoa q ela ajudou a formar.
Seu caráter esculpido aqui, só me dá a certeza q uma ótima educação trará frutos futuros.
Espero realmente estar fazendo certo com meu filho, se n estiver, espero corrigi-lo a tempo tbm.
Da mesma forma q espero ler mais e mais artigos interessantes e q me fazem matutar.
Cara Alessandra,
Pelo que me foi dado observar nos poucos contatos com o João (para quem não conhece é o filho da Alessandra), ele é um menino , já mais para adolescente com muito boa educação e formação moral.
Parabéns!
Valeu Alessandra !
Mesmo com tudo que aconteceu conosco na infância e adolescência, tivemos uma base muito forte para a nossa formação como pessoas ... algumas ensinadas mesmo,planejadas, e outras absorvidas naturalmente no dia-a-dia.
Talvez nada tenha a ver o que vou escrever, mas eu tenho a nítida certeza de que a entrada da música em nossas vidas, muito cedo, favoreceu tudo que se formou ao redor, em todos os sentidos.
A música é uma linguagem universal, aproxima, encanta, mexe, entra por dentro e nos vira do avesso em certas situações. E a música, graças à minha mãe, sempre fez parte da minha vida, desde muito cedo, e dos nossos filhos também.
Isso talvez seja foco até para um post específico .... a música em nossas vidas.
Bj
Riva
Jorge
Você sempre gentil! Fico imensamente feliz ao ter sua opinião sobre o "quesito" educação de filho.
Realmente, esse assunto deve preocupar n só a mim, mas como as mães de plantão. Formar um ditador é a coisa mais fácil, formar um caráter com virtudes já é bem mais complicado...
Postar um comentário