2 de junho de 2014

Foi bom perguntar agora

Por
Ana Maria Carrano






Depois dos textos literários cheios de sensibilidade e humor, fico constrangida de lhes apresentar este relatório,  fruto de um vício profissional.

Mas foi bom  perguntar, agora, sobre minha infância. Já lembro tão pouco que em breve tudo será uma vaga lembrança.

Nasci no pós-guerra e, brincadeiras a parte, tenho poucas recordações da minha meninice. Recordo alguns “flashs” todos ligados a situações de estresse que não cabe relatar aqui.

Devo ter sido feliz, pois não guardo mágoas, mas raras foram as vezes que saímos de casa (eu e minha irmã Sara) para brincar na calçada. Após o banho vespertino, arrumadas e penteadas, sentávamos no degrau da varanda da casa  7 da Rua São Diogo, 21, já citada pelo blogger.

Fiz o curso primário (4 primeiros anos do ensino fundamental) no Grupo Escolar Raul Vidal, onde muitos anos mais tarde a Cláudia, minha sobrinha também veio a estudar (Nesta época com nova nomenclatura – Escola Estadual).  Minhas professoras eram fantásticas. Lembro bem de Dona Cleia que me alfabetizou; Dona Dinorah, que andava com uma ameaçadora régua de 50 cm na mão; e de Dona Eneida Fortuna Barros, membro da Academia Fluminense de Letras e filha da eminente escritora/professora Albertina Fortuna Barros.  Os mestres eram respeitados na escola e na comunidade, e exerciam sua autoridade com mão férrea.  Bastava a presença da diretora Dona Jônia Fontes, para que os alunos emudecessem. Graças a Deus não havia sido formalizado o bullying. Chamávamos a coleguinha Marina de Bombril, assim como me chamavam de Moby Dick. Apelidos que dispensam explicações.

Não havia merenda escolar. No dia da Criança, nos serviam pão com leite condensado e nos proporcionavam um período de brincadeiras com as professoras de Educação Física.

A rígida educação que recebemos não favorecia a formação de grupos de amigos. Apenas na quarta série, pude conviver com Ira, a melhor aluna da escola, visto que sua mãe nos levava a um cursinho de admissão ao ginásio, em Santa Rosa. 

Por motivo de saúde fui obrigada a sair do tal cursinho e frequentei o ano inteiro no Colégio Plínio Leite, de onde só sai com o diploma de “professora”. Neste ano de cursinho, formamos um grupo, unidas no estudo e nas longas conversas no recreio. Éramos as 3 Marias mais um. Elza Alarcão, Ângela de Oliveira, eu e Astolfo Barroso Pinto, mais conhecido atualmente como Rogéria.

Planejávamos passeios e festas. Em muitas  domingueiras no Fluminense Natação e Regatas rodopiei na pista de dança, sempre levada pela vovó Ana.

Lá pelos 15 anos, fizemos amizade com as meninas que também moravam na Av. Feliciano Sodré (Deila, Eliana, Neusa e Maria Olinda), e a noitinha, fazíamos “footing” no quarteirão, falando de filmes americanos, e dos galãs da época. Confesso: fui apaixonada pelo James Dean e sua foto enfeitava a porta guarda roupa.  

Nesta altura eu já perdera minha timidez (oppppsss). Mentir é feio.  Parece que timidez, seja defeito ou qualidade, me falta. Segundo histórias contadas pelo meu tio paterno, João da Motta Carrano, eu era uma criança muito exibida. Cantava, dançava e falava versinhos nas reuniões familiares.

Este traço se manteve durante toda minha vida. Editei um jornalzinho no ginasial denominado O Caroço -- O que está sempre por dentro. Nele revelava namoricos, gafes e vitórias dos colegas e elogios e queixas dos professores.

No Curso Normal fiz teatro e até fui coautora de uma peça apresentada em festival estudantil. Se não fosse o Almir de Oliveira, eu não teria escrito. Tanto que parei por aí. E por aqui paro, para não cansar a beleza e/ou a inteligência dos que leem este blog.

Nunca subi em árvore ou comi fruta tirada do pé. Mas não me queixo. Não precisam ter peninha de mim. Na juventude fui à forra da infância tranquila.

16 comentários:

Jorge Carrano disse...

Não seriam necessárias outras credenciais, pois é minha irmã, mas alem disso Ana Maria tem luz própria (rsrsrs). Formada em Serviço Social e tendo trabalhado também no magistério - e agora aposentada - ela era até poucos anos o melhor texto da família. E foi uma das pessoas de meu convívio que mais lia, desde bulas de medicamentos, passando pelas finadas listas telefônicas (rsrsrs), até os clássicos da literatura universal. A internet (Facebook e assemelhados), e os indefectíveis joguinhos, hoje absorvem seu tempo. Polêmica, adora uma discussão. Quando não tem motivo para polemizar, cria um. Sai de baixo, porque vem chumbo grosso. Mas o coração comporta muito amor e solidariedade.

Freddy disse...

Fez-me lembrar de meu falecido pai, que também editava um jornalzinho com colegas. Parece que era um costume na época.

E agora que falou, atiçou a curiosidade! Conta mais sobre o Astolfo Pinto!
<:o)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Peraí Freddy. Tá acerto que Ana Maria é uma veterana, mas não é da geração de seu pai. Ela é da sua geração.

Ana Maria disse...

Brother. Tantas loas de sua parte merecem uns croissant especiais. Levo no dia que a Wanda oferecer as empadinhas. rs
Freddy. Estudei com o Astolpho durante o curso de admissão ao ginásio, no Colégio Plínio Leite. Ele era, à época, um garoto divertido e afetuoso. Nunca mais o encontrei e nada sei sobre sua vida, além do que a mídia informa. Quanto ao Jornal "O Caroço", creio ter digitalizado um exemplar. Deve estar escondido num de meus 10 pen drives.

Freddy disse...

Eu também fazia jornalzinho, mas para consumo próprio. Era sobre futebol! Através dessa prática aprendi a datilografar numa Remington nos anos 60!
Mas essa coisa de jornalzinho de fofocas me lembra bem o veículo que meu pai organizava, não sei se sobrou algum exemplar para que eu pudesse conferir a data... Não chamemos de fofocas, chamemos de notícias sociais envolvendo a empresa onde trabalhava!
<:o)
Freddy

Freddy disse...

Eu tento esquecer, mas vocês vivem repetindo: empadinhas! São os meus salgados preferidos, mais ainda que pastéis de carne!
<:O)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Ana Maria,
O que acha dos versos do Nelson Cavaquinho?

"Sei que amanhã
Quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora.
Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga,
Para aliviar meus ais.
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais."

Freddy disse...

Essa letra é bacana.
Bate lá dentro.
=8-)
Freddy

Freddy disse...

Chato isso...
Toda minha vontade de torcer contra a seleção desapareceu depois de ver as jogadas de Neymar...
<:o)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Não precisamos torcer contra, basta não apoiar.
E jogadas do Neymar você terá o ano inteiro nos jogos do Barcelona.
E terá do Messi, do Cristiano Ronaldo, do Luiz Soares, do Hazar e do...

Jorge Carrano disse...

Freddy,
Não precisa chegar a tanto. Mas veja a manifestação de 40.000 em Ribeirão Preto:

https://www.youtube.com/watch?v=YVqx-ukCvwI

Riva disse...

Ana, fiquei curioso com 2 coisas :

- essa Dona Cleia que te alfabetizou .... você sabe o sobrenome dela, ou mais detalhes sobre ela ?

- Freddy não quis falar, porque não é possível que ele não saiba .....Astolfo é um Barroso, família originária de Campos, e está na nossa árvore genealógica, Freddy !! #prontofalei

Também gostaria de saber o porque de um jornalzinho se chamar Caroço.
Na nossa tchurma do Pé Pequeno tinha um cara que atendia pela alcunha de Caroço (falecido prematuramente), por ser justamente um "mala sem alça", um caroço em nossas vidas ! rsrsrs ...era isso também ?

Jorge Carrano disse...

Caro Riva,
No antepenúltimo parágrafo está a explicação para o título do jornal. É caroço porque está sempre por dentro.
Não é isso Ana Maria?

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Freddy disse...

Por partes, como Jack:

- Carrano, sempre gostei de ver o Neymar jogar, ele era do Santos e eu sou santista nas horas vagas. Não assisto TV regularmente, portanto sem chance de admirar esses outros que você citou, a não ser em resenhas esparsas ou jogos das seleções.

- O vídeo de Ribeirão Preto não apenas já conhecia como disseminei no grupo da Embratel do Facebook , recebendo as devidas pedradas (que nem me dou ao trabalho de ler). Afinal são mais de 5.000 seguidores, a maioria petistas de raiz.

- Não sabia que Astolpho era da família, pois nem todos os Barroso são, como também nem todos os March. A menção a seu nome me chamou atenção pois eu o acho muito centrado. Lembro-me dele entrevistando bichas num baile Gala G e ele fez questão de dizer que era homem fisicamente e que Rogéria era o personagem que escolhera para vivenciar artisticamente. Jamais faria operação alguma para trocar de sexo, pois ficaria sem referência alguma na humanidade: nem homem nem mulher.

- Dona Cleia? Hmmm... Nem me ocorreu, não lembrava que ela era professora.

=8-) Freddy

Ana Maria disse...

1) Também tenho um "fraco" por empadinhas, Freddy, e a minha cunhada as faz com maestria.

2) É por aí, Jorge. Vc sabe como penso a respeito desse quesito. Depois de morta, só preces. Não vá me visitar no cemitério, por que não estarei lá te esperando. rs

3)Lamento, Riva, mas não lembro o sobrenome da minha primeira professora. Recordo que ela era doce e maternal, o que facilitava o processo de adaptação dos alunos na primeira série. Naquela época, a lei não permitia o ingresso de crianças menores de 7 anos nos Grupos Escolares.

4)Segundo consta, Riva, o Astolfo nasceu em Cantagalo, podendo ser realmente de seu "tronco" genealógico.