6 de fevereiro de 2014

O movimento Rio $urreal






Por
Carlos Frederico March
(Freddy)




 
 
 






 



 
A página do Facebook “Rio $urreal - NÃO PAGUE!” está bombando na rede com centenas de milhares de visitas em poucos dias. Como algumas outras páginas recém criadas por indignação com o aumento galopante de preços nas cidades que receberão a Copa do Mundo e especialmente no Rio de Janeiro, que também sediará as Olimpíadas em 2016, o Rio $urreal já foi tema de reportagem na TV e começa a alcançar repercussão internacional. 
 

Inspirada pela referida página, a moeda fictícia Surreal foi criada por Patrícia Kalil, com uma efígie de Salvador Dali, e passou a ser símbolo do movimento em várias instâncias.

 


 
De início, fui a favor. Claro, eu também fico absolutamente irado com os preços de determinados estabelecimentos comerciais, e não raro tenho abordado pessoalmente seus donos, mesmo aqueles mais conhecidos e com quem tenho maior intimidade, e feito minha reclamação.
 

O movimento aumentou e na inocência da colaboração espontânea muita gente, inclusive eu, entrou na onda. Como subproduto apareceu o movimento “Isoporzinho”, que sugere que as pessoas se encontrem em lugares pré-determinados (no típico esquema rolezinho) e ali degustem seus itens a preços mais educados.
 

Acompanhando o desdobramento e as postagens no Facebook, no entanto, comecei a formar a ideia de que eles já poderiam estar começando a contabilizar lucros por sua iniciativa. É bom esclarecer que o denunciante tem de enviar um e-mail para um endereço, é feita uma verificação e triagem, e só então uma ou outra denúncia é publicada na referida página.
 

Além de denúncias, a página Rio $urreal começou a postar anúncios positivos, de estabelecimentos que cobram preços educados. A argumentação é não ser justo apenas reclamar, elogiar também é preciso.  Porém, brasileiro e escolado que sou, me dei o direito de duvidar: não estarão começando a usufruir de benefícios pela indicação de locais com preços mais educados?  Ou pela não publicação de certos abusos?
 

Efetivamente, logo após uma reportagem na Rede Globo, onde ganharam uma exposição expressiva na mídia, a página “Rio $urreal - NÃO PAGUE!” postou reclamação quanto ao uso indevido, na rede, de sua ideia e nome. Hmmm...Dá azo a se refletir: se é um mero movimento social de denúncia contra exageros, não há porque ficar melindrado por estar sendo copiado, até porque já havia outras páginas similares antes dele. Ou já há interesses financeiros por trás?
 

É uma pena se o movimento desvirtuar, enveredando para o lucro pessoal dos idealizadores, pois que o Brasil precisa de alguém ou de algo que chame a atenção para os desmandos empresariais. Não só de bares, restaurantes, mas também de outros empreendimentos, como nas áreas de turismo (hotelaria, transporte e serviços associados), lançamentos imobiliários (minúsculos e caríssimos), material escolar (absurda a relação exigida na hora da matrícula), e por aí vai...
 

Isso tudo dito, dou um passo atrás e reflito um pouco mais profundamente sobre o início de nosso texto, o movimento $urreal no comércio varejista: não seria válida a prática do preço abusivo com o mero intuito de separar os frequentadores em classes sociais? Alguém já disse que não tem gente feia, tem é gente pobre sem dinheiro pra se tratar e se apresentar.
 

Há uma famosa cervejaria em Campos do Jordão onde só senta gente bonita nas mesas. Pode-se ficar apreciando o vaivém da bela moçada na calçada, pois não só esse estabelecimento, mas os que ficam próximos também, todos praticam preços salgados! Pois bem, não seria essa cervejaria um local de frequência indesejada se o preço do chopp ali servido (absolutamente $urreal) fosse a metade do preço? Quem sabe o “beautiful people” até procuraria outro point para se encontrar?
 

Um chopp pode custar R$ 2,90 na Praça Tiradentes.  Mas será que deveria custar apenas isso no Arpoador, de frente para o mar, com o famoso e aplaudido pôr-do-sol, a lua nascendo no horizonte?
 

Se o preço do misto quente num hipotético quiosque na beira da praia de Ipanema fosse o “justo” e não 4 vezes isso, não seria o referido quiosque um antro de gentalha mal ajambrada em vez de frequentadores selecionados, que mui provavelmente não gostariam de se misturar à plebe?
 

É uma situação social complicada, mexe com o conceito polêmico de classes. Fazendo um paralelo, um cara que escolhe pagar por um BMW ou Mercedes, em vez de adquirir um similar Hyundai ou Honda tão bom quanto ele porém mais barato, não está preocupado com o preço, nem com custo x benefício, e sim com a imagem. Poder frequentar um local $urreal também pode ser a intenção de quem paga, justificando a existência de quem cobre!

 

 

Fotos obtidas através da página do Rio $urreal - Não Pague

28 comentários:

Jorge Carrano disse...

Caríssimo (no sentido de estima) Freddy,
Também sou um pouco elitista, mas você radicalizou, com "gentalha".
Quanto a ganhar dinheiro com ações sociais, isto é corriqueiro. Vide as ONGs espalhadas mundo afora.

Freddy disse...

Não sendo um frequentador habitual de praia, quando vejo um ajuntamento em torno de uma barraca pra comprar cerveja, refrigerantes, pastel, salgado, etc, a imagem que eu tenho é de gentalha, apesar de reconhecer que se trata apenas de um ajuntamento de pessoas em trajes sumários, suadas, gosmentas, sujas de areia...
Foi um deslize, ou um ato falho como diria um psicoterapeuta.
Abraço
Freddy

Freddy disse...

Aproveitando para falar de futebol, o Alecsandro que vem encantando a urubuzada seria aquele que você malhava?
<:o)
Freddy

Jorge Carrano disse...

Eles não perdem por esperar. Quem viver verá.

Helga Maria disse...

Como diria meu neto, "pegou pesado" o nosso caro Sr. Carlos Frederico.
Helga

Riva disse...

Com certeza esse post nada tem a ver com um apreciador de heavy metal gótico romântico ..... rsrsrsrs

Talvez só heavy metal !

"U took heavy", mano ! rsrs

Li o post aqui no trabalho, mas o BigBrother não me permite ficar muito tempo.

Vou "grokar" o assunto para o meu comentário mais tarde, porque vejo no post um gancho para falar do grotesco cenário que passamos a ver todos os dias, incluindo o garoto nu agarrado no poste, e a recente postagem de uma sumária execução em B Roxo, na web.

FLUi

Jorge Carrano disse...

My God! What does "grokar" means? Is it portuguese?

Riva disse...

Freddy, explica para o nosso amigo o significado do verbo "grokar" .... rsrsrs

Freddy disse...

Dicionário Houaiss:
Gentalha = gentaça = conjunto de pessoas da classe mais baixa da sociedade.
Sinonímia: Ralé, arraia-miúda, populacho, plebe
Talvez a palavra que causasse menos desconforto fosse plebe. Mas no fundo significa tudo a mesma coisa.
Estou falando de classes e a que sustenta o atual governo é a mais baixa, a que se beneficia com os programas assistencialistas. Como defini-la? Conjunto de cidadãos pertencentes a comunidades carentes? Façam-me o favor. É plebe, é ralé, é gentalha. O dicionário me apoia!

Então repito: pode ser que o preço alto force a ... plebe... a se manter afastada do “beautiful people” e, ao contrário do que o movimento Rio $urreal preconiza, tem quem apoie o surrealismo e pague, só pra não ter de se misturar.
Essa é a tese que fecha o post.
Abraços
Freddy

Jorge Carrano disse...

Freddy,
Como anda sua pressão arterial?

Jorge Carrano disse...

Ingressar no quadro social do Country Club, pode custar ao interessado algo como R$ 370.000,00.
Seriam R$ 250.000,00 (aproximadamente)pelo título, se houver um a venda, mais R$ 120.000,00 de taxa de transferência.
Entretanto dinheiro (ter ou não), não é o único critério para você ser aceito com bolas brancas.
Consta que, há anos, o Silvio Santos não foi admitido no Clube Harmonia de Tênis, em São Paulo.
Coisas como "berço" e comportamento social também discriminam.

Freddy disse...

Grokar...
O renomado e falecido escritor de ficção científica Robert Anson Heinlein escreveu um romance chamado “Um estranho numa terra estranha”, que conta a estória de Valentine Michael Smith, um humano que foi criado em Marte e absorveu toda a cultura espiritual daquele hipotético povo. Nesse livro ele cunhou a palavra e respectivo verbo (to grok), um neologismo. Segundo a estória, seria um termo marciano que não teria explicação simples em línguas (ou culturas) terrestres.
A Wikipedia tem uma entrada que tenta explicar o que é “grok”, ou o verbo “to grok”:

Grok /ˈɡrɒk/ is a word coined by Robert A. Heinlein for his 1961 science-fiction novel, Stranger in a Strange Land, where it is defined as follows:
Grok means to understand so thoroughly that the observer becomes a part of the observed—to merge, blend, intermarry, lose identity in group experience. It means almost everything that we mean by religion, philosophy, and science—and it means as little to us (because of our Earthling assumptions) as color means to a blind man.
The Oxford English Dictionary defines to grok as "to understand intuitively or by empathy; to establish rapport with" and "to empathise or communicate sympathetically (with); also, to experience enjoyment".

Não vou tentar traduzir porque vai estragar em vez de esclarecer. O que gostaria de comentar é que o referido livro foi considerada a mais famosa novela de ficção científica já escrita e ganhou o mais prestigiado prêmio do ramo, o Hugo de 1962. Há polêmica envolvendo essa novela por conta de seu conteúdo sócio-político-religioso.
Abraços
Freddy

Jorge Carrano disse...

Nossa! O tamanho de minha ignorância me surpreende a cada dia.
Nunca li a mais famosa novela de ficção científica e nunca ouvi falar do prêmio Hugo. E olha que em 1962 eu tinha 22 anos de idade e já sabia ler.
Obrigado Freddy.

Freddy disse...

Essa novela custou MUITO a ser lançada no Brasil, por ser polêmica. Eu a li uma versão portuguesa da Editora Europa-América, que lançava livros de bolso de ficção científica.

O gênero é pouco apreciado no Brasil por conta da dificuldade de entender o enredo, que como o nome indica, exige conhecimentos científicos dos leitores (e dos escritores, decerto!). Só pra ter uma ideia, os contos de Arthur C. Clark vinham com um anexo onde ele justificava com rigor científico todas as criações citadas no texto. Se o cara não distingue um salto quântico de uma prova olímpica, ou uma supernova de uma fofoca do momento, não tem jeito...

Hoje o gênero está em queda, já que a realidade em muito tem superado a ficção.
Abraço
Freddy

Jorge Carrano disse...

Pois é, meu caro Freddy, neste mesmo ano de 1962, Anthony Burgess lançou Laranja Mecânica (A Clockwork Orange). É um romance ficcional sobre uma juventude futura, que usaria uma linguagem própria (gírias) ininteligível, mais ou menos como o seu "grok".
Não passei daí e mais uns dois ou três ficcionais, sem rigor científico, tais como O Admirável Mundo Novo (Brave New World), de Huxley e 1984, do Orwell. Nesta linha, e ainda de Orwell, gostei muito de A Revolução dos Bichos (Animal Farm), mais do que o sempre recorrente 1984.
Não confunda Animal Farm com o Fazenda Modelo, do Chico Buarque, que não deveria ter abandonado os versos musicais para escrever uma obra inspirado em George Orwell. Ficou devendo muito.
Estes livros por mim citados povoaram minha estante até que meus filhos desenvolvessem o gosto pela leitura (o que ocorreu).

Riva disse...

Esse BLOG é sensacional !!!

Aproveitem !

Ainda grokando o que escrever sobre o post .... JN me inspirando, negativamente ....

Freddy, um show de explanações !

Jorge Carrano disse...

Nepotismo explícito no blog. Perdão leitores. Coisa de irmãos.

Brincadeirinha gente. Realmente o Freddy nos esclareceu com muita propriedade, sobre o verbo "to grok" e sobre a obra e o autor que pela vez primeira utilizou (criando-a), a palavra grokar.
Valeu, Freddy!

Freddy disse...

Ainda sobre surrealismo de preços, gostaria de saber porque a população se mobiliza absolutamente irada contra um aumento ridículo (em valores absolutos) na passagem de ônibus e deixa passar verdadeiras caravanas de abusos em outros segmentos da economia!
=8-(
Freddy

Jorge Carrano disse...

Realmente precisamos ampliar as manifestações de desagrado pelos absurdos preços praticados no Brasil. Vejam só o escorchante preço do Champagne Louis Cristal Roederer en Coffet: está por 350,00 euros; estão cobrando R$ 47.000,00 o quilo do caviar beluga e o whisky Royal Salute, 38 anos, na garrafa de 700 ml está por R$ 6.800,00 em promoção (o preço normal é de R$ 7.300,00).
Precisamos nos mobilizar contra estes abusos.

Freddy disse...

E não é que pagaram mais de 80 milhões de euros pelo Neymar?
Não deram, de presente, mais de 1 milhão de reais pro Delúbio? E ele nem precisava de tanto, vai doar o excedente!
Realmente, o movimento $uerreal não está com nada!
<:o)

Riva disse...

KKKKKKKKKKKKKkkkkkkkkkkkkk

Riva disse...

Desculpem, mas não vou comentar nada por enquanto.

O gancho a que me referia era sobre o último parágrafo do Freddy, referindo-se à polêmica das classes sociais no Brasil.

Não vou conseguir escrever nada, por enquanto. As manchetes de qqer mídia dos últimos dias empobreceram meu espírito rebelde ... fico me lembrando de um funcionário meu, por 18 anos da minha vida,que se chamava Manoelino de Castro. Era ferreiro.

No meio de qqer crise social, financeira, brigas dentro de canteiros de obra, qqer coisa, ele estava sempre sorrindo, feliz da vida .... não sabia ler nem escrever.

Era um alienado, e era (é)feliz.

Riva disse...

Freddy, olha isso :

http://oglobo.globo.com/educacao/professora-que-ironizou-passageiro-em-aeroporto-pede-desculpas-11527463

Fecha o Pano

Jorge Carrano disse...

Caro Freddy,
Seu irmão atingiu o ponto nevrálgico da questão.
Touchée!

Freddy disse...

Hipocrisia.
Hoje ninguém mais pode dizer o que pensa. Ou melhor, ninguém mais pode criticar nem sacanear as classes "menos favorecidas".
Na minha época podia fazer piada de preto, índio, cocho, gago, mudo, cego, fanho, dentuço, perneta... Ninguém morria, até porque muitos de nós convivíamos com alguns desses tipos em nossas turmas de rua. Eram "pele", decerto, mas eram bem tratados pelos colegas e protegidos de assédio de outras turmas.
Hoje não pode mais nada!
Minto, pode-se fazer piada de gordo, e não me dão o direito de protestar!
Hipocrisia!

Freddy disse...

http://oglobo.globo.com/pais/the-guardian-governo-brasileiro-colocou-favela-classe-media-um-contra-outro-11548545

Viram? "The Guardian" não precisa usar de eufemismos, como "comunidades carentes de morros", mandou logo "Favela"! E virou manchete!
Ah, sim, pra guerra civil falta pouco.
<:o)

Jorge Carrano disse...

Freddy,
Esta matéria do The Guardian e mais estes dois vídeos cujos links estão abaixo, dão uma boa ideia da imagem do Brasil no mundo:

http://www.liveleak.com/view?i=cbc_1388001539

https://www.youtube.com/watch?v=oCMhL_MVyT4

Riva disse...

Chegamos há pouco de um footing pelo calçadão de Icaraí, e pelo Campo de São Bento. É desanimador ..... e não é o calor não ...

Carrano, sabe aqueles cercados na areia da praia, cultivando vegetações desérticas ? Pois bem ... naquela última lá perto do canal, na entrada da estrada Fróes, tem .... um sem teto acampado dentro, com barraca e tudo. E uma poltrona do lado de fora da barraca.
Os "postes" do cercado servem para pendurar roupas .....

O calçadão está desnivelado, esburacado e imundo ! Se alguém cair ali e se arranhar, com certeza morre rapidamente de septicemia ! Uma vergonha essa prefeitura de merda, incapaz de tantas coisas, de uma simples limpeza semestral nos calçadões.

Lisboa, com 3 milhões de habitantes, tem as ruas e calçadas impecáveis ....

Olhem a reportagem de hoje do GLOBO NITERÓI sobre a invasão dos traficantes naquele "condomínio" das Charitas ; vejam também a matéria do Gílson Monteiro sobre a desordem urbana nas Charitas !

Campo de São Bento : na entrada pela Gavião Peixoto, tem uma barraca de pastéis à direita e uma de empadas à esquerda. Por que vcs acham que só tem essas duas, sem concorrência ?

Vou conversr com Johnnie, the Walker !

Freddy, não é hipocrisia não .... é REALIDEZ