Por
Carlos Frederico Marques Barroso March
Astrônomo diletante
Carlos Frederico Marques Barroso March
Astrônomo diletante
Aqueles que, como eu, conhecem as peripécias de Asterix e sua turma, sabem que os gauleses eram intrépidos guerreiros, lutando pela independência de seu cantinho na Gália, uma pequena aldeia acossada constantemente pelos romanos liderados pelo Imperador Júlio César. Os gauleses temiam apenas uma coisa: “que o céu lhes caísse sobre a cabeça!”.
Vou mais além um pouco, beirando a polêmica. Os americanos formam a nação mais poderosa do globo atualmente, tirando partido do desmantelamento da União Soviética, que lhes fazia alguma sombra. Pois bem, os americanos não temem nenhuma nação sobre a Terra, no entanto temem (é sério!) ameaças que venham do céu: sejam eles alienígenas ou objetos que porventura adentrem seu espaço aéreo, oriundos do espaço sideral.
Seguindo essa linha, constato que volta e meia a mídia volta sua atenção para a possibilidade de asteróides ou cometas caírem sobre a Terra, causando danos de proporções variadas, podendo culminar eventualmente com a destruição total da raça humana.
Apenas para embasar alguns conceitos, deixem-me explicar por que referenciamos “asteróides ou cometas”. Ambos os termos definem objetos celestes que orbitam o Sol junto com os planetas, porém com dimensões minúsculas se a eles comparados. São remanescentes da nebulosa original, sobras da matéria prima que se aglutinou para formar a Terra, Marte, Vênus, e demais planetas. Como parêntesis, recentemente se criou nova classe, a dos planetas-anões, à qual Plutão foi enquadrado para desgosto de saudosistas que declaravam de cor o nome dos 9 (agora 8) planetas de nosso Sistema Solar.
Voltando aos nossos pequenos restos da nebulosa original, caso sua composição seja predominantemente rochosa, consideramos o objeto um ASTERÓIDE. Caso contenha grande quantidade de elementos voláteis, como gelo, chamamo-lo COMETA, sendo que uma aproximação eventual do Sol fá-lo-á evaporar parte desses voláteis, causando a formação da sua cauda característica. Muitos cometas são espetáculos à parte, como recentemente o Hale-Bopp e o McNaught, este tão brilhante que era visível ainda antes do Sol se pôr.
Cometa McNaught
Asteróide 243 Ida e sua lua Dactyl
Esses pequenos objetos celestes muitas vezes percorrem órbitas irregulares, instáveis, de modo que, sim, vivenciamos uma roleta russa cósmica! As probabilidades são pequenas mas maiores que zero. A História relata quedas eventuais, remotas ou recentes. A mais importante em termos de evolução de espécies se deu há cerca de 65 milhões de anos, quando um asteróide (ou cometa) de proporções admiráveis caiu na região do atual Golfo do México, provocando uma alteração de tal monta na atmosfera que causou a extinção de 75% da vida na Terra, incluindo a espécie então dominante: os grandes répteis, os dinossauros.
Além desses monstros que causam catástrofes de âmbito planetário, somos bombardeados diariamente por pequenos exemplares, que ao penetrar na atmosfera deixam rastros - os leigos os chamam de estrelas cadentes. A absoluta maioria se consome antes de cair sobre a superfície mas alguns, maiores e mais consistentes, chegam a atingir o solo e são denominados meteoritos.
Quedas de grandes meteoritos deixaram cicatrizes bem visíveis, sendo a mais conhecida a Cratera de Barringer, mais conhecida como a Cratera do Meteorito no Arizona (EUA). Essa fotogênica cratera, digna de cenário lunar, com pouco mais de 1km de diâmetro e 200m de profundidade, foi provocada pela queda de um meteorito de proporções medianas (40 a 50m), composto principalmente por ferro.
Cratera do Meteorito no Arizona- EUA
Esse evento ocorreu há algumas dezenas de milênios. Mais recentemente, em 30/06/1908 sobre uma região da Sibéria, a queda de um objeto celeste devastou 2150 quilômetros quadrados de terreno, derrubando 80 milhões de árvores e causando um terremoto estimado em 5 graus na escala Richter. É conhecido como Evento de Tunguska. Atentem para a data, em pleno século XX. Como não deixou cratera, muita especulação foi feita. Até a hipótese da queda de um disco voador alienígena foi aventada, apesar da explicação científica mais aceita ser que um fragmento de cometa de várias dezenas de metros teria explodido a uma altitude de 5 a 10 km por conta do atrito com a atmosfera terrestre.
Evento de Tunguska, detalhe fotografado na época
De modo a prever com antecedência ocorrências funestas, a comunidade astronômica liderada pelos americanos (já que os gauleses são personagens de ficção) vem executando observação periódica de objetos celestes cujas órbitas possam um dia trazê-los perto da Terra, conhecidos como NEO (Near Earth Objects).
Há várias categorias de NEO, como os NEC (Near Earth Comets) e os NEA (Near Earth Asteroids), mas a mais importante delas, com 1305 objetos hoje catalogados, é a de PHA (Potentially Hazardous Asteroids - Asteróides Potencialmente Perigosos). Suas órbitas os trarão algum dia a uma distância muito pequena, astronomicamente falando, de nosso planeta e ao menos um deles fará sua maior aproximação em 05/02/2040, com probabilidade de 1 em 625 de colisão conosco.
Mesmo cercados de todo esse aparato científico, vários pequenos objetos vêm sendo flagrados passando MUITO perto mesmo. Provavelmente se desintegrariam antes de atingir o solo mas, como no Evento de Tunguska, poderiam causar grandes danos onde caíssem. Não estavam na relação da pesquisa de NEOs por serem justamente muito pequenos para serem detetados com antecedência. Foram descobertos poucos dias (alguns deles apenas horas) antes de “passarem batidos” pela Terra.
Isso significa simplesmente que, se o endereço fosse o nosso, teríamos a oportunidade de testemunhar “o céu caindo sobre nossas cabeças”!
Fotos obtidas na Internet:
Wikipedia - asteróide Ida e Cratera de Barringer
Blog 4.bp.blogspot.com - Evento de Tunguska
APoD (Astronomy Picture of the Day - NASA)- cometa McNaught
17 comentários:
Caro Carlos Frederico,
Gostei muito, mais claro e objetivo impossível; e bem ilustrado.
Extremamente didático.
Obrigado pela colaboração.
Abraço
Carrano, é sempre um prazer colaborar. Sou astrônomo amador desde 12 anos de idade e tenho verdadeira paixão pelo assunto, mais ainda que por fotografia e música.
Pena que no Brasil seja um hobby de público muito limitado, por circunstâncias diversas.
Estou pensando se vale a pena escrever um post sobre o "trânsito de Vênus", evento que acontecerá nos dias 5/6 de junho e que só se repetirá em 11/12/2117. A dúvida é porque ele não será visível no Brasil.
Abraços
Carlos
Gente, permitam-me uma errata! Eu exagerei quando afirmei que as cicatrizes de quedas de meteoritos na Terra são "bem visíveis". Minha mente estava focada na grande quantidade de meteoritos resgatados depois da queda.
Na verdade as cicatrizes são poucas, dado que a erosão as apaga com rapidez. A Cratera do Meteorito é na verdade uma rara exceção.
Desculpem o exagero.
Abraços
Carlos
Carlos,
Acho que você deve escrever sobre o "trânsito de Vênus", e vamos propor ao Carrano que o blog patrocine uma excursão dos amigos e colaboradore até um ponto no planeta, de onde seja possível apreciar o fenômeno. Aliás pode ser chamado de fenômeno ou o correto é evento como você fez?
Abraços
Eu não ia liberar a publicação de seu comentário, Gusmão, por causa da "gracinha". Mas como concordo no ponto em que você convoca o Carlos Frederico a escrever sobre o evento citado, moderei e não deletei.
Abraço
Inevitável em se tratando de astronomia e ameaças que vêm dos céus, aqui em Corumbá, em 2005, Marcelo Fernandes registrou em seu blog o seguinte:
"Um clarão no céu de Corumbá na noite da última segunda-feira, 24 de outubro, vem mexendo com o imaginário da população nos últimos dois dias. O suposto "fenômeno" – que permanece sem explicação, até o momento – vem sendo alvo de comentários de ouvintes nos programas do radialista Chicão de Barros, na Band FM, desde a tarde desta terça-feira, dia 25.
Os relatos confirmam que o céu corumbaense foi iluminado por um clarão durante alguns segundos por volta das 21h do dia 24, sendo visto de vários pontos da cidade. O radialista disse, há pouco, ao Corumbá On Line que, após a primeira ligação, os telefonemas sobre o assunto dominaram as participações enquanto o programa esteve no ar, e segue sendo discutido nesta manhã.
"Muitos dos ouvintes que viram o clarão se assustaram. Recebemos ligações até de moradores da área rural, descrevendo o caso", destacou o radialista. Chicão informou que entrou em contato com os editores da Revista UFO – especializada em ufologia – e aguarda uma resposta dos técnicos da publicação.
Pelo relato dos ouvintes, um forte clarão iluminou o céu deixando um pequeno rastro, semelhante à fumaça ao se apagar. Embora as versões tenham o clarão como ponto comum, elas divergem em alguns trechos. Há os que afirmam ter ouvido um estouro logo após o sumiço da luz; outros dizem que a claridade foi lentamente diminuindo até se apagar atrás do Morro do Cruzeiro, onde fica a estátua do Cristo Rei do Pantanal. Ainda há afirmações que dizem se tratar de sinalizadores náuticos ou até mesmo de raios anunciando chuva, que não aconteceu naquela noite."
Assim sendo,à guisa de colaboração, sugiro aos Srs deste blog comentários sobre esses fenômenos intrigantes que são, ou não são, os ET-extraterrestres. Certamente vai dar "panos pra manga" como se diz por aqui.
Augusto dos Anjos é tido pelos exegetas literários como poeta existencial-naturalista,
hiperrealista, simbolista, poeta cientificista, poeta punk, beatnik – poeta das gerações em revolta, poeta dos párias, poeta da margem, das vítimas das injustiças humanas individuais e sociais e até TECNOLÓGICAS. Tanto que, no Poema Negro, se espanta e critica e preconiza a perda da própria identidade ante o avassalador desenvolvimento da Ciência e da Técnica:
“A passagem dos séculos me assombra.
Para onde irá correndo a minha sombra
Nesse cavalo de eletricidade!?
Caminho, e a mim pergunto, na vertigem:
Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem?
E parece-me um sonho a realidade.”
Porém, Augusto possui visão, ou melhor, a ANTEVISÃO TECNOLÓGICA, tipo Júlio Verne, quando faz incursões ideais no Cosmo, no Universo, no Espaço Sideral.
Em Solilóquio de um Visionário,
“Para desvirginar o labirinto
Do velho e metafísico Mistério..." , o poeta afirma:
"Vestido de hidrogênio incandescente,vaguei um século improficuamente pelas monotonias siderais...
Subi talvez às máximas alturas.
Mas se hoje volto assim, com a alma às escuras,
é necessário que inda suba mais!
E, na atualidade, a NASA continua assim, com seus projetos, com seus foguetes, subindo e descendo, subindo e caindo e explodindo e querendo subir mais às máximas alturas, naturalmente motivada a desvendar o metafísico Mistério, como na ânsia do poeta, como na ânsia de muita gente que não se conforma em constatar que estamos, juntos, na mais inquieta solidão nesse Universo de Deus.
Carrano, repasso informações de meu "guru" HOUAISS sobre a palavra evento. Engraçado logo a primeira rubrica, o sinônimo!
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n substantivo masculino
1 acontecimento ger. observável; fenômeno
2 Regionalismo: Brasil.
acontecimento (festa, espetáculo, comemoração, solenidade etc.) organizado por especialistas, com objetivos institucionais, comunitários ou promocionais
3 m.q. eventualidade ('acontecimento inesperado')
4 Rubrica: cosmologia.
ponto no espaço-tempo provido de quatro dimensões
5 Rubrica: estatística.
realização de possível alternativa de um fenômeno probabilístico; acontecimento
6 fis. part série de dados que caracteriza uma interação entre partículas
7 Rubrica: lingüística.
fato, ação, processo, expressos por um verbo ou por um substantivo deverbal que denota ação
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Abraços
Carlos
Carrano, sobre o comentário do Luvanor: é muito parecido com as descrições de meteoritos que conseguem sobreviver à entrada na atmosfera terrestre e atingem o solo. Tem todos os elementos: o clarão, o rastro que se apaga, muitas vezes com fumaça persistindo algum tempo, o ruído posterior...
Sim, sem receio eu apostaria na hipótese de um meteorito.
Abraços
Carlos
Obrigado Carlos.
Entretanto, olha aí Gusmão, a resposta é para você.
Tanto faz como tanto fez.
Abraço
Seu avô sabia das coisas do mundo e do outro mundo, não é Ricardo?
"Vestido de hidrogênio incandescente,vaguei um século improficuamente pelas monotonias siderais... "
Antevisão é isso, o resto é cegueira.
Abraço
Uma vez eu li uma frase, a propósito da procura insana dos cosmologistas pela razão de existirmos nesse Universo sem fim.
"Os cientistas, subindo a montanha do conhecimento, chegaram por fim cansados a seu topo, onde foram recebidos pelos teólogos, que os aplaudiam de pé"
Fecha o pano, como diria Riva52.
Abraços
Carlos
Afinal o mundo acaba depois de amanhã?
Se a pergunta não for respondida é porque acabou.(risos)
:D Fernanadez
É, Anônimo, o mundo não acabou!
Aproveitando, faço um adendo.
Faltou exemplificar com um dos programas existentes e que tem a intenção explícita de dar o alarme:
“O projecto Lincoln Near-Earth Asteroid Research (LINEAR) é um projeto colaborativo entre a Força Aérea dos Estados Unidos, a NASA e o Laboratório Lincoln do MIT que visa a descoberta sistemática de asteroides próximos da Terra. O projecto LINEAR tem sido responsável pela maioria de detecções de asteroides desde 1998. A 21 de Outubro de 2004, o projecto LINEAR tinha já detectado 211 849 novos objetos, dos quais 1622 eram asteroides próximos da Terra (NEA) e 142 eram cometas. Todas as descobertas do LINEAR foram feitas através de telescópios robotizados.”
(texto extraído da Wikipedia, a Enciclopédia Livre)
Infelizmente, há grande probabilidade do alarme ser dado sem tempo hábil para nos protegermos, apenas para termos ciência da nossa morte iminente.
=8-/ Freddy
Hoje, dia 15 de fevereiro de 2013, um pedacinho do céu caiu novamente sobre a cabeça dos russos! E olha que não é o temido asteroide que também hoje passará a 20.000 km de distância da Terra!
O tiroteio cósmico continua!
<:o) Freddy
Caramba!
Pelo que li, e a imagem que vi no portal G1, as bolas d fogo atingiram mais de 950 pessoas.
A foto está em http://g1.globo.com/fotos/fotos/2013/02/veja-imagens-do-meteorito-que-caiu-na-russia.html
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