Quando criança a peça que dava suporte ao coador, como ao lado, lá em casa era de madeira. E o saco de coar, feito em casa, com flanela, se não me engano.
Não se encontra mais em madeira. Pelo menos não na cidade. Faz diferença em relação ao sabor? Claro que não, mas faz em relação à memória afetiva.
Já o coador de pano faz muita diferença. Assim como o processo de infusão.
Minha sogra (assim como em casa de outras famílias) colocava o pó, com açúcar, no coador e despejava a água fervente. Como o gosto da maioria dos moradores da casa (8 pessoas, mais os penetras) era por sabor mais doce, o café ficava muito adocicado para meu gosto.
Sempre preferi colocar apenas uma colherinha, rasa, na xicrinha convencional, para não melar o café. E colocava o açúcar antes de despejar o café do bule para a xícara. Por que? Acho que porque facilitava a diluição (mistura) do açúcar mais facilmente e não precisar mexer muito com a colher, o que esfria o café.
Isto porque o café, assim como a sopa e a mulher precisam ser quentes, para meu gosto pessoal.
Minha mãe fazia diferente da minha sogra. Numa leiteira com água até um pouco mais da metade, colocava 3 colheres das de sopa bem cheias do pó, depois que a água estava fervendo, em ebulição, desligava ou apagava (no fogão a querosene, na primeira infância), deixando a leiteira tampada, abafada, por uns instantes. Só então despejava no coador.
O café que usávamos era o “Globo”, que não sei se era o melhor, mas era bom. Aliás que a frase de propaganda desta marca era: “Café Globo, bom até a última gota”. Parece que o “Palheta” tinha reputação de ser melhor, não sei. Na família, minhas tias usavam o “Predileto, marca que fazia bastante propaganda nas emissoras de rádio.
O primeiro café passado no coador novo era descartado por minha mãe. Mas não descartado assim de qualquer jeito, na pia, sifão abaixo. Não, ela esperava esfriar e molhava (regava) as plantas com o café. Funciona como fertilizante. Assim como o pó, depois de utilizado, que chamam de borra.
Pão provence |
O café da tarde, aí pelas 15 horas, era sagrado. Com pãozinho (50gr) francês ou o tipo provence*, comprado no Seu Henrique, como já relatei aqui neste blog, cujo estabelecimento ficava na Rua Visconde de Uruguai, na esquina com Santa Clara.
A manteiga não era vilã, e vinha das cidades de Cordeiro e Cantagalo, adiquirida basicamente na Leiteria Brasil.
Nesta época era de bom tom servir cafezinho para as visitas. Por isso era necessário ter sempre xicrinhas de boa qualidade, de porcelana fina (quem podia) e uma bandeja forrada com toalhinha de linho bordada.
Um pratinho com biscoitos de araruta ou casadinho, ou ainda brevidade, compunham bem e causavam boa impressão.
Não farei apologia da manteiga, mas de uma coisa tenho certeza, nunca, jamais, em tempo algum, qualquer similar seja lá o nome que se lhe dê, irá substituí-la em paladar.
Falo de manteiga de boa qualidade, como eram as fabricadas por laticínios das cidades citadas.
Aliás, tomávamos leite na inocência de que a lactose é nociva, que a cafeína encontrável no café sofre restrições, e que gordurinha em torno do bife de contrafilé tem muito colesterol.
O leite que comprávamos numa distribuidora na Rua Silva Jardim, bem próxima da casa onde morava a irmã do Zizinho, melhor jogador brasileiro até aparecer Pelé, era extremamente gorduroso. Posto a ferver, para não azedar (não havia o pasteurizado) criava uma nata espessa e amarelada, que ara utilizada para biscoitos ou até mesmo para fazer manteiga caseira.
Minha mãe levou anos até se conformar em usar margarina, que chamava de graxa. Ela estava certa.
Para fazer o pão provence, ou sovado, é melhor ter máquina de bater a massa e fundamental um forno muito bom. A receita está em muitos sítios na internet (via Google), inclusive no endereço a seguir, de onde pincei a foto.
* O pão Provence é também chamado de pão Sovado e, em alguns lugares, de pão Tatu, em função de seu formato.
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