10 de abril de 2012

Chico e Millôr, Millôr e Chico


Como previsível os personagens criados e interpretados por Chico Anysio foram exibidos exaustivamente pelos diferentes canais de televisão (mesmo aqueles nos quais jamais trabalhou), a título de homenagens ou matérias jornalísticas.

Muito justo e merecido, embora no fundo o interesse fosse o de  conquistar e manter telespectadores sintonizados nos canais, enquanto eram  exibidos seus quadros humorísticos e desfilavam seus 209 personagens.

Quase todos os profissionais do humor, sejam redatores, sejam atores, foram chamados a comentar a morte do Chico e instados a escolher um de seus mais de 200 personagens como preferido.

Jornais e revistas poderiam, igualmente, publicar as dezenas de frases do Millôr, como fez a revista VEJA, na qual o grande escritor, dramaturgo, desenhista, tradutor e humorista trabalhou durante 14 anos. Foram seis páginas de frases clássicas, cada qual mais espirituosa, filosófica ou hilariante do que a outra.

Algumas entraram definitivamente para as enciclopédias, e várias são citadas recorrentemente em colunas de jornais, em discursos, em teses e petições.

Luis Fernando Veríssimo, outro ás de ouros de nossa crônica, em sua coluna nos jornais dominicais, homenageou aos dois: Chico e Millôr. Deste último foi o substituto em VEJA, o que permitiu fosse mantido um alto nível de humor inteligente, irônico, mordaz na referida publicação semanal.

Veríssimo elegeu Coalhada e Bozó, como seus personagens de Chico preferidos. E sobre o Millôr, comparando seu corpo ao de um toureiro (não é que lembrava mesmo?), escreveu  que o touro dele era a burrice, e “no lombo da burrice ele espetava suas bandarilhas coloridas, seus epigramas pontudos, suas plavras incisivas, suas frases marcantes, sua inteligência afiada, esquivando-se dos chifres da besta”. Eis ai uma perfeita e acabada descrição sintética do genial Millôr Fernandes.

Mesmo os irreverentes humoristas do Casseta e Planeta, através da pena (do teclado) do Agamenon, em O Globo, prestaram uma bonita e séria homenagem, aos dois gênios – Chico e Millôr - lamentando que o Millôr não pudesse comentar o seu próprio velório, para demolir, uma a uma, as bobagens que as pessoas estavam falando sobre ele.

Todavia, segundo nos relata a Fernanda Torres, em crônica quinzenal, nas páginas da VEJA RIO, mesmo em seus últimos momentos de vida, Millôr demonstrou sua agudeza de espírito, sua facilidade em jogar com as palavras.

Deu-se que , segundo ouvido pela Fernanda da boca do Gravatá*, a doutora teria perguntado ao Millôr, recém-saído do coma e zonzo entre os  dois mundos, “O que houve?”.

Ao que teria respondido o filósofo do Méier: “Ouve com o (ó) ou com h (haga)”

Ziraldo, que conviveu com Millôr durante bom tempo no badalado hebdomadário chamado “O Pasquim”, prestou homenagem ao Chio Anysio, em texto publicado na “Revista O Globo”, mas não mencionou o Millôr.

Minha ilação é porque uma das ótima frase do Mestre, se encaixa perfeitamente no Ziraldo: "Eu desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal."



Frase que aludia ao Chico Buarque, mas aplicável ao Ziraldo, ou não?


* Imagino que a Fernanda Torres está se referindo ao Luiz Gravatá.

10 comentários:

Gusmão disse...

Assino embaixo.
Os dois foram gênios e estarão eternizados em suas criações.
Quanto ao Ziraldo recebendo pensão é de dar nojo.
Abraços

Anônimo disse...

Morte coletiva a do Chico. O próprio e mais seus 209 personagens.
Foram sepultados 210: o criador e suas criaturas.
:D Fernandez

Ricardo dos Anjos disse...

Mineiro só é solidário no câncer. Ziraldo é mineiro, Millôr, carioca da gema e não morreu de câncer. Logo se explica a atitude do Menino maluquinho, talentoso mas um tanto quanto mau-caráter e "comunista" picareta. Justo de acordo com o que diz Ferreira Gullar na Veja: "Quando ser de esquerda dava cadeia, só alguns poucos assumiam essa posição. Agora, quando dá até emprego, todo mundo se diz de esquerda." Além de grana pra quem passou pouco tempo na prisão, ou apenas foi chamado pra se explicar, fichado, e solto logo depois...

Freddy disse...

A culpa não é do Ziraldo. A culpa é de quem fez a lei. Ele apenas usufruiu, dado que se enquadrava nos quesitos. Dizer que ele deveria declinar da gorda pensão é hipocrisia de quem não tem direito a ela.
Abraço
Carlos

Jorge Carrano disse...

Dica do Ricardo dos Anjos, que mandou o link:
https://mail.google.com/mail/?ui=2&ik=aa4d2055e9&view=att&th=1369e53cc839a225&disp=imgs

Ricardo dos Anjos disse...

Carrano,

Que dica é essa que não sei?
Que link é esse que tb não sei?

Jorge Carrano disse...

Ricardo,
São os 11 cartunistas homenageando o Chico, simulando sua (dele) chegada ao céu.
O link não funciona, tem que selecionar e colar.
Control C e control V.

Jorge Carrano disse...

Lamento sua visão sobre o Ziraldo, Carlos Frederico.
Conheço muitas pessoas que efetivamente lutaram por seus sonhos e, perdedores, não foram buscar reparação pecuniária. Assumiram o risco da defesa de seus ideais políticos.
Se todo perdedor tivesse que ser indenizado, imagine por exemplo os descendentes do Tiradentes, só para aproveitar uma rima.
Ao Ziraldo faltam o caráter e a dignidade e sobram talento e ganância.
Abraço

Anônimo disse...

Peraí. Há uma lei de anistia que vale para os dois lados, ou não?
Os dois lados cometeram excessos, ou não?
Desculpe a intromissão, mas hipocrisia foi do Ziraldo, demonstrando uma "falsa devoção" (a uma causa).
Tá no Aurélio é só olhar.
:D Fernandez

Gusmão disse...

Quero me desculpar porque acabei sem querer (endossando o caso Zuraldo)desencadeando uma discussão meio estéril, que não levará a nada. Lei é lei e ponto.
Pena que o Chico e o Millôr tenham sido relagados a segundo plano no post.
Para encerrar lembro que há alguns anos a revista "Isto É" publlicou uma matéria/ entrevista e nela havia um conceito do ministro Gilmar Mendes , do STF, que era mais ou menos o seguinte:
"algumas indenizações beiram o estelionato".
O cartunista Ziraldo conseguiu R$ 4 mil mensais, além dos atrasados de R$ 1 milhão.
Abraços