Importamos o sintagrama* afrodescendente, e utilizamos indiscriminadamente, colocando em segundo plano a nacionalidade brasileira de gente como Joaquim Barbosa (ministro do STF), Pelé, Zeca Pagodinho, Thais Araújo ou Helio de La Penha, e um enorme contingente de brasileiros (e são milhões), que têm orgulho da nacionalidade brasileira.
Ora, em todo o mundo o afrodescendente seria, antes de tudo, e em primeiro lugar, um descendente do continente africano ? Antes de ser americano, o Tiger Woods se considera africano? E o Morgan Freeman, o Michael Jordan? E o presindente Obama?
Este modismo, a meu juízo, só faz acentuar a questão racial. Estas pessoas citadas são, com muito orgulho, brasileiros e americanos, antes de serem descendentes de raças africanas, com toda certeza.
Os próprios negros são, em parte, culpados ao criarem ou apoiarem movimentos e/ou idéias absolutamente inadequadas, tais como “black power” ou “black is beautiful”. E nós importamos estas expressões lingüísticas que têm como pano de fundo acentuar a raça negra.
Nesta linha ridícula, do politicamente correto, o Neguinho da Beija-flôr deveria passar a ser conhecido como “Afrodescendentezinho da Beija-flôr”.
E antigas canções populares deveriam ter seus versos refeitos, eis que não seria poticamente correto cantar:
“A nega do peito é aquela
Que faz o feijão costumeiro
Não vou mudar de mulher
Só porque ganhei dinheiro”
Ou ainda:
“Nega do cabelo duro,
Qual é pente que te penteia
Qual é pente que te penteia
Óh, nega”
Será que o Ary Barroso mudaria os versos de seu grande sucesso, que continha os versos:
“Nego tá moiado de suor
As mão do nego tá
Que é calo só.
Trabaia, trabaia nego”
Alguma vez o Pelé se sentiu humilhado ou discriminado, quando ainda atuava nos campos de futebol, por ser chamado de “Negão” pela grande maioria dos narradores e comentaristas esportivos? Mais do que uma alusão a cor de sua pele, tornou-se um qualificativo de genialidade. O “negão” era sinônimo de Pelé, por sua vez apelido do Edison.
Tudo isto é coisa de pseudointelectuais, que à falta de brilho para coisas mais profundas, inventam baboseiras tais como luso-brasileiros, os franco-brasileiros, os teuto-brasileiros, e outros que tais. Ou seja, genuinamente brasileiros, somente teríamos os tupis e os tapuias. E outras tribos indígenas.
Nunca me passou pela cabeça intitular-me italo-brasileiro, embora tenha ancestrais nascidos na península itálica.
* Segundo o Aurélio: E. Ling. O resultado da combinação de um determinante e de um determinado numa unidade lingüística hierarquicamente mais alta, que pode ser uma palavra (p. ex.: vanglória, em que vã é determinante de glória).
- No caso acima, o “afro” seria o determinante, e brasileiro ou americano seriam secundários.
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