Num destes, para mim, abomináveis livros, acho que do Sidney Sheldon, ou equivalente de plantão, que tentei ler faz tempo, o personagem está a caminho da costa africana, a bordo de um barco pequeno, navegando num mar revolto e infestado de tubarões gigantescos.
Os tubarões representam uma séria ameaça, parecem famintos e podem atacar o barco a qualquer momento.
Pois bem, num pequeno lapso de tempo o personagem tem uma brilhante idéia e a põe em prática num piscar de olhos.
O raciocínio era que tubarões são atraídos por sangue e, se estão famintos, mais ainda. Que faz então o dito personagem? Pega uma lata de sardinha, que levava entre seus suprimentos de viagem, mas sem tirar por inteiro a tampa. Abrindo parcialmente a lata, utiliza a tampa como se fora uma navalha, e corta o dorso do tubarão mais próximo da pequena embarcação. O sangue jorra rapidamente, inundando o trecho do mar a sua volta.
Os tubarões, num ataque frenético, começam a devorar o que foi ferido, dando condições da embarcação se afastar velozmente.
Tudo isto num mar descrito anteriormente como revolto e a bordo de um barco de pouca estabilidade.
Pensam que o absurdo termina aí? Nem a minha paciência, pois segui adiante na leitura.
Ao se aproximarem da costa, acho que da África do Sul, os tripulantes do barco, não lembro quantos, mais certamente poucos, ao tentarem desembarcar, estavam trôpegos, exaustos, pela aventura vivida em alto mar. Assim, mal chegaram a primeira areia não atingida pelas ondas do mar, o personagem central da história, deita-se de bruços e crava os dedos na areia. Para sua surpresa, aparecem diamantes. Rasteja, e a medida em que seus dedos enterram na areia, para dar firmeza ao impulso necessário para prosseguir rastejando, vão saltando mais diamantes.
Aí, atingido meu limite de tolerância, fechei o citado livro. Para nunca mais abri-lo, bem como a qualquer outra obra de Sidney Sheldon.
Minha irmã caçula, ávida leitora, de todos os gêneros, e ao mesmo tempo polêmica de carteirinha, ao meu comentário ácido sobre o livro, retrucou, e saindo em defesa do escritor, respondeu perguntando, “você sabe quem é Sidney Sheldon ?” E eu, constrangido por não saber, respondi que para mim, pela amostra, um escritor vulgar.
Ela, minha irmã Ana Maria, desfiou um rosário de trabalhos do dito cujo, principalmente no cinema, como roteirista de séries de humor, como “Jeannie é um Gênio” e “Casal 20”.
Já havia vendido alguns milhões de livros, em mais de uma centena de países, livros estes que foram traduzidos para mais de cinquenta idiomas.
Certo, vá lá, não sabia que o Sheldon estava com esta bola toda. Todavia, quanto a vender muito em vários países, também o Paulo Coelho vende. E no que respeita a certos autores fazerem sucesso num segyuimento da arte, não signifaca que se sairá abem em outras. Exemplo típico é o Chico Buarque. Um craque no manejo das palavras em ótimas letras de músicas, e, por outro lado, com o devido respeito, um amador na criação de romances.
Quanto a vasta produção literária do Sheldon, acho pouco provável que alguém possa escrever quatro romances num mesmo ano, como ele fez em 1995. Só se fosse uma franquia.
Comentário semelhante, de crítica à narrativa na tal obra do Sheldon, pois achava, como acho, que não possuía nenhum ponto de contato com a realidade, fiz com meu filho Jorge. Arrematei dizendo que assim, com absurdos, situações e coincidências improváveis ficava fácil escrever.
Ao que ele me respondeu com um desafio: tenta! É, talvez seja difícil mesmo. Haja imaginação.
O fato é que não me agrada ler coisas irreais, a menos que se trate de uma alegoria, de um sarcasmo, ao estilo de José Saramago, de quem li coisas fantásticas, tais como “Ensaio sobre a Cegueira”, e os mais recentes “O Caminho do Elefante” e “Caim”.
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