22 de abril de 2010

Historinhas verdadeiras

Estes casos abaixo transcritos ocorreram há três anos, mais ou menos. Estou reproduzindo tal e qual escrevi sobre os mesmos na época. A guisa de explicação, acabara de explodir o escândalo do mensalão. Na outra situação descrita, eu ainda subia  pela Praia da Flexas (parece que a grafia é com xis mesmo) até o MAC.
                                                
                                                                        Caso 1
Estou em casa, trabalhando no computador, quando toca o telefone lá na sala. Wanda atende. Então ouço: - quem quer falar com elê? Uma longa pausa, enquanto, suponho, a pessoa se identificava. Ouço Wanda repetir: - mulher de quem?

Entrando no escritório* onde eu estava, pálida, Wanda me passa o aparelho telefônico sem fio e anuncia com voz baixa: - é a mulher do Marcos Valério...
Por uma fração de segundos, seja pelo espanto da Wanda, seja pela surpresa com que fui apanhado, exitei um pouco antes de responder: - sim?

- Aqui é Miriam, mulher do Marco Valério. – Ah! Como vai?

Para nosso alívio não era a Renilda. Tratava-se da mulher de um cliente, de quem já nem lembrava, que certamente está maldizendo a hora em que foi registrado com o malsinado nome.

                                                                        Caso 2

De uns tempos a esta parte, vez ou outra, nas caminhadas matinais, tomo o rumo da praia da Boa Viagem. Aquela subida da praia da Flexas até o Museu de Arte Contenporânea, exige mais da musculatura das pernas, embora me deixe mais ofegante.

Como recompensa pelo esforço, ganho uma das mais belas paisagens da cidade. Que de resto torna mais agradável a caminhada.

Numa recente manhã dominical, por volta das sete e quarenta e cinco, a caminhada estava particularmente agradável. Embaixo, ao final da pirambeira, o mar quebrava suavemente na areia e atirava-se contra as pedras do local. Ao som das ondas, incansáveis nos seus recuos e avanços, somava-se o canto de sanhaços. Não sei quantos, mas dois em particular, tal qual repentistas sertanejos, alternadamente, com silêncio obsequioso de respeito ao outro que cantava, diziam-se coisas que me soavam como declaração de amor a vida.  A liberdade.Que mais poderia ser?

Eu caminhava do lado do mar. Na calçada oposta, quase defronte ao museu, existem dois prédios em construção. Por ser domingo não havia trabalho nas obras. Todavia, dois trabalhadores, fossem vigias das respectivas, ou tendo outra profissão mas residindo no próprio canteiro de obras, convesavam em tom normal de voz, mas que repercutia e se destacava sobre o movimento do mar e o canto das aves. Neste passo, cabe lembrar que era domingo, muito cedo, pouquíssimas pessoas no calçadão, nenhum trânsito de veículos. Assim, o som das vozes, mesmo em tom baixo, era bastante claro mesmo a certa distância.

Quando passei diante deles, mas como disse no lado oposto da rua, ouvi nitidamente a pergunta: - você acha que o coroa vai perder aquela barriga andando assim? Ao que o outro retrucou, na bucha, sem pestanejar: - só se ele for até Fortaleza.

Mais não ouvi. Seja porque concentrei minha atenção no pertinente comentário, seja porque já estava mais afastado. Considerei a hipótese de na volta fazer uma blague qualquer com eles. Não sabia exatamente o que dizer, mas pretendia. Por sorte, quando eu retornava eles não estavam mais lá. Quanto a barriga, está assumida. Até Fotaleza não vou mesmo.

* Na época era um escritório, hoje sala de TV.

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