17 de novembro de 2022

Por falar em amigos

 

A pandemia nos  afastou um pouco da família e dos amigos, mas pior do que a COVID-19 foi a polarização criada entre o deprimente  e o degradante nas eleições presidenciais deste ano.

Inacreditável como a política, mais do que em qualquer outro tempo desde que me conheço dividiu, separou, deteriorou, degradou laços de amizade.

Nem PSD e UDN, antagônicos,  conseguiram fazer tal estrago. Nem a dúvida se deveríamos aderir aos aliados ou nos filiar as tropas do eixo, na II Guerra Mundial nos dividiram tanto.

Lembro  que nosso presidente (Vargas) andou hesitante. Sim, lembro que italianos (oriundi) foram hostilizados e clubes precisaram adotar outros nomes, mas não eram amigos e parentes brigando entre si.

Noutro dia comentando sobre amigos tive dúvidas em qualificar um deles como o maior (ou melhor) que já tive.

Sereno, com o peso de 82 anos nas costas, muito insucesso e algumas conquistas na vida, tenho uma opinião sedimentada sobre eles, cada deles.

Todos foram, em determinado momento, o mais importante e mais querido amigo.

Interessante que na infância, ou parte dela, meu melhor amigo nem morava no mesmo bairro, sequer na mesma cidade, nem mesmo no Estado do Rio.

Chamava-se Tãozinho (Sebastião) e residia em Minas Gerais. Mas passava/passou, pelo menos durante três anos, suas férias na casa de tios que moravam na mesma vila em que morei na infância.

E nestas férias erámos inseparáveis.

Quando ingressei no curso ginasial conheci o Doraly, que morava bem próximo e eu não conhecia.

Compartilhávamos planos, sonhos e estávamos sempre juntos. Paquerávamos na praia de Icaraí, de bicicleta, que ele tinha e eu não, frequentávamos  as residências um do outro apoiados por nossas famílias,   viajávamos (eventualmente) em férias e estudamos juntos por um longo período.

Sonhamos, imaginem, mudar para Chapada dos Guimarães onde seriamos fazendeiros. Pode?!



Foi meu melhor amigo por um vasto período.

Com meu envolvimento em política estudantil, eleito presidente do Grêmio do Liceu Nilo Peçanha e Diretor da Federação dos Estudantes Secundários, fiz muitas outras amizades, algumas das quais, para minha alegria, conservo até hoje.

Muitos de meus queridos amigos já faleceram: João Jorge Bazhuni, por exemplo, cuja amizade cresceu muito ao longo dos anos de convívio e acabou por se consolidar depois de nossos casamentos.

Uma vez por semana nos reuníamos para jogar "biriba" ... e comer, alternando as residências. Diria que por longo período, até que ele faleceu.

Mario Castelar foi o irmão que não tive biologicamente. Torcíamos pelo Vasco, gostávamos de samba, chegávamos nas casas um do outro (depois que ambos casamos mais ou menos na mesma época), sem avisar, e até na hora do almoço, sem cerimônias.

E arranjávamos emprego um para o outro. Bons empregos, que nos renderam bons frutos. 

Quando ele faleceu, em 2014, alguns amigos comuns ofereceram-me condolências. Foi um golpe e tanto.

Hermes Santos (tricolor fervoroso), na verdade Florihermes de Souza Santos, homenagem da mãe aos generais Floriano Peixoto e Hermes da Fonseca, também arranjou emprego para mim. Na verdade dois, um na sequência da outro. 

O primeiro no Banco Metropolitano, onde o substitui como Chefe  de Contas Correntes,  e depois na Cia. Fiat Lux, de Fósforos de Segurança, onde trabalhei por dez longos anos.

Interessante que Hermes e Castelar também eram amigos. Foram até sócios em um colégio falido que adquiriram. Mas a amizade de cada um comigo era maior do que a existente entre eles. Com absoluta certeza.

Quando falo de amigos, observem que falo de lealdade, confidencias, compartilhamento de dúvidas e inseguranças, apoio irrestrito, e confiança extrema.

Não são colegas, companheiros, conhecidos ... são AMIGOS.

Meros exemplos: quando roubaram meu carro (zero Km), Castelar foi a minha casa com seu Maverick, não para me consolar, mas para deixar comigo seu automóvel, sob alegação que eu precisaria trabalhar e tomar providências junto a Polícia, seguradora etc. Morávamos em São Paulo, ele em Moema e eu no Brooklin Novo.

Levei-o para casa, em seu carro, e voltei com o Maverick que utilizei por três dias.

Quando o pai dele faleceu, ele estava em viagem ao exterior. Fiz questão de segurar uma das alças do caixão substituindo-o.

Seriam muitas as laudas de memórias que poderia relatar aqui, em que estive com estes amigos, que estão bem guardadas e conservadas em meu coração.

Amizades como algumas que tive, não têm valor mensurável, não têm qualificativo justo e adequado.

O Hermes, ainda vivo (e dois anos mais velho que eu), se diz meu tio porque é Maçom e meu pai  foi.

2 comentários:

RIVA disse...

Belo depoimento, meu caro. Muito bacana.

Estou me lembrando que certa vez escrevi um post aki sobre GRATIDÃO, que vou procurar, porque acho que tem tudo a ver com nossa vida, amigos, mestres, enfim ......

Estou lendo um livro que é a minha cara, em termos de valores, de fatos do dia a dia das décadas da minha infância, adolescência e juventude. Chama-se DE CU PRA LUA, de Nelson Mota, que se trata na 3ª pessoa em sua autobiografia.

Já vi olhares estranhos no catamarã, eu lendo e caindo na gargalhada, e pessoas me olhando divertidamente. Tem cada passagem espetacular, cada momento que me joga literalmente no passado maravilhoso que vivenciei, apesar da dita "ditadura militar".

Recomendo.

Kd a Alessandra Tappes ? Faz muita falta seus textos ......

Jorge Carrano disse...

Possivelmente, Riva, é o post do link ao final que você vai pesquisar. Bacana.

https://jorgecarrano.blogspot.com/2015/02/lista-de-gratidao.html

(Como sempre copy and paste)