27 de julho de 2014

Meu pequeno e distante Cachoeiro


Por
Wanda Carrano






Fui uma verdadeira “menino de rua”. Até pião, podem acreditar, eu sabia fazer rodar. E não era daqueles de bombear não.  Era  os de cordinha mesmo.

Brincava muito mais com meus irmãos e os colegas deles do que com minhas irmãs. No caso apenas uma mais velha. Já os “meninos” mais velhos eram três.

É preciso frisar que não havia TV, nem em nossa casa e mesmo em outras da cidade. Até mesmo o telefone era restrito a uma central da companhia, para uso coletivo. As ligações interurbanas levavam horas.

As brincadeiras de “chicotinho queimado”, amarelinha, e outras serviam para integrar os meninos com as meninas.

Era principalmente a avó Antonia que ficava do lado de fora ada casa, sentada num degrau, na calçada, tomando conta da gente e dos coleguinhas.

Na infância, fosse pela situação econômica, fosse pelas minhas preferências, não vestia ou calçava nada de especial. Alias do que gostava mesmo era de andar descalça. Depois, na juventude, gostava  que minha mãe, ótima costureira, fizesse umas roupas inspiradas nas personagens dos filmes americanos, ou seguindo modelos da moda: saias rodadas, plissadas, estilo godê.

E muitas anáguas sob os vestidos. Sem exagero, por vezes até três.

Nada lembro  de Leopoldina, Minas Gerais, cidade onde nasci. Minhas memórias mais antigas já são de Cachoeiro de Itapemirim, para onde meus pais se mudaram, fui criada e vivi até meu casamento.

A cidade era menor do que é hoje (rs)  e todo mundo conhecia todo mundo.

A autora (12) com as colegas do Liceu de Cachoeiro de Itapemirim
A família foi crescendo e meus pais chegaram aos 7 filhos naturais e acolheram mais uma querida irmã que amamos como do mesmo sangue.

A dificuldade para alimentar tantas bocas era muito grande. Principalmente numa pequena cidade. Meu pai sempre tentou negócios próprios para ganhar o dinheiro necessário ao nosso sustento.

Alguns deram mais certo do que outros, e eram de áreas de atividade as mais diversas: sapateiro, primeiro com consertos e depois com fabricação de botas, chinelos e sandálias; bar/padaria/ restaurante, na década de 1950  e, finalmente, em seus últimos dias de vida,  uma serraria.

Toda a família frequentava muito os poucos cinemas da cidade, porque era uma das poucas diversões possíveis. Eram três na minha infância: São Luiz, Cacique e Brodway.

Com a melhor amiga, Tereza.
Este cine Brodway se prestava, também, para apresentações de artistas famosos no Rio de janeiro, como por  exemplo o cantor Francisco Carlos (conhecido como El Broto) e o humorista Colé.

Vez ou noutra apareciam parques de diversão e circos na cidade, e sempre eram um acontecimento.

Com todas as limitações financeiras, ainda assim foram muito bons tempos porque  éramos bastante unidos e tínhamos sempre muitos amigos em casa.


Nota do editor: as imagens foram selecionadas e colocadas pelo blogueiro, depois do post escrito por sua esposa.

9 comentários:

Jorge Carrano disse...

A Tereza que aparece na foto com a autora do post, foi namorada do Salvatore, fundador da administradora de condomínios que leva seu nome (NOCE).
Chegamos a fazer uma meia dúzia de viagens juntos para a pequena Cachoeiro de Itapemirim, para namorar. Ele a Tereza, e eu Wanda. Isto em 1961. Depois os dois romperam o namoro.
Wanda e Tereza são amigas até hoje, embora se falem, no mais da vezes, apenas via Embratel, pois ela vive com o marido, filhos e netos, em Vitória.
Salvatore casou-se duas vezes, e faleceu no ano 2000.

Riva disse...

Vocês já leram um livro que ficou bastante famoso, intitulado O CAÇADOR DE PIPAS ?

Leiam, porque além de ser uma ótima estória verídica (bem triste também, vou avisando), conta em detalhes o dia a dia de um adolescente no Afeganistão, se não me engano nos anos 70.

O mais incrível desse relato no livro, é descobrir que lá do outro lado do mundo, bem longe mesmo, as crianças e os adolescentes brincavam as mesmas brincadeiras que tínhamos aqui nos anos 50-60-70. Fiquei realmente muito impressionado ao descobrir esse aspecto no relato do autor.

Falo isso porque, pelo menos eu, sempre achei que os costumes eram muito diferentes em diferentes culturas no planeta, ainda mais numa época sem a tecnologia atual, quando as notícias ou troca de informações se fazia de uma forma extremamente lenta. Ma acontecia, e com ....

Colonizadores, imigração, em qualquer velocidade, acho que fez os costumes se globalizarem. Com o nível de pesquisa que temos ao nosso alcance hoje, vamos descobrindo tudo isso aos poucos, e rasgando alguns livros de História com as novas informações ... rsrsrs.

Sei lá que sino tocou hoje em mim .... bem, com certeza foi lendo o post da Wanda, sem dúvida. Essa série no Generalidades Especializadas, na minha visão, está sendo um marco, pela transparência dos relatos e a riqueza da informação contida.

Parabéns Wanda e a todos que estão compondo o tema.

FLUi ...

Ana Maria disse...

Pois é, Wanda. Seu post fez um diferencial entre a vida numa capital (Niterói) e no interior nos anos 40/50. Principalmente numa família grande, onde a matriarca tem tantos afazeres domésticos que os filhos mais velhos "criam" os mais novos.
O ponto em comum é sem dúvida a precariedade nas comunicações. Uma carta podia levar quase um mês para ser entregue e as ligações eram direcionadas manualmente através de telefonistas.Pedia-se a ligação pela manhã e só se falava à tarde. A telefonista costumava informar o tempo de demora.
Nem dá para imaginar isso nos dias atuais.

Jorge Carrano disse...

Riva,
Confesso que não li o livro, que, pela opinião da maioria, e seguindo uma regra geral, é melhor do que o filme.
Mas assistimos ao filme, que tem o título original de "The Kite Runner", e foi produzido em 2007.
Trata-se de um drama, sem dúvida alguma, comovente.
No link a seguir é possível encontrar mais sobre o filme e alguns comentários:
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-57735/

Se não me engano nós (eu e Wanda) alugamos na Cahú.

Riva disse...

Ana Maria .... bingo !!! Vc captou !

O post da Wanda foi um diferencial, sutil .... acho que foi isso que fez meu sino tocar. Vc foi na môsca !!

Lembro de um livro maravilhoso sobre a 2ª Guerra Mundial, onde o Churchil dizia que dava ordens estratégicas para o "front", mas quando as ordens chegavam lá, o cenário já tinha mudado !!!

Hoje é tudo em tempo real !

Jorge Carrano disse...

Amigos e familiares, como diz o Agostinho:
Wanda não costuma ler os posts porque pouco (quase nada) acessa o blog.
Escreveu a contragosto por insistência minha. Para ampliarmos o universo (visão mais atual com o João e de vida interiorana com ela) pedi que escrevesse. Ela o fez aos poucos e de forma manuscrita, como prefere. Coube-me digitar. Logo, as faltas ou excessos de crases, e eventuais erros crassos de concordância, em havendo, são responsabilidade do blogueiro.
Viu, professora Rachel!?

Riva disse...

KKkkkkkk ! Rachel arrebentando, sem saber (acho).

Crasear realmente não é para qualquer um .....

FLUi

Jorge Carrano disse...

E olha que as regras básicas nem são tão difíceis. Existem truques, que me foram passados por uma professora de português que me preparou para os exames de admissão na marinha e aeronáutica (o Comte. Paulo Pessoa me preparou na matemática),que facilitam muito.
Se eu estiver atento ao que escrevo, pretensiosidade à parte, errarei pouco.

Ana Maria disse...

Isso mesmo, Riva.Li o livro e assisti o filme "O Caçador de pipas". Excelente relato da realidade da vida em um país formado por classes sociais bem definidas e que convive explicitamente, com o preconceito que daí advém. Nós aqui, também somos vítimas ou algozes desse preconceito, mas de forma velada e insidiosa.
E apesar destas diferenças político teosóficas, os meninos caçam pipas, jogam bola e se divertem da mesma maneira que os de nossa sociedade republicana.
Infelizmente o mesmo não se pode dizer da situação das meninas. Lá não lhes é dada a possibilidade, sequer, de estudar.