4 de novembro de 2012

LÍNGUA MORTA


Noutro dia um internauta, mais ou menos assíduo em comentários no blog, censurou-me por escrever estapafúrdio, podendo ter escrito excêntrico ou mesmo esdrúxulo.

Isto me remete à compra que fiz, lá pelo mês de julho, do “Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Morta”, de autoria de Alberto Villas e editado pela GLOBO.

Tão logo tomei conhecimento, através de jornal, do lançamento da obra, fiquei interessado e apressei-me em comprar. Nem foi tão fácil. Algumas livrarias não tinham ainda recebido. Mas finalmente achei e comprei.

Deixei sobre o console, na sala, para ler logo após o jantar.

Coincidentemente meu filho homônimo vai a minha casa e vendo o livro começou a folhear. Leu uns três ou quatro verbetes e fez o comentário que fulminou meu interesse e alegria pela compra: “conheço quase todas as palavras que estão aqui”.

Ora, ele tem APENAS 47 anos. Se conhece as palavras listadas, com significado, no livro, então tenho a obrigação de conhecê-las mais ainda. Afinal vinte e cinco anos de vida nos separam.

Bem, passou a euforia pela compra de um livro que tinha tudo para me agradar e enriquecer meu vocabulário com palavras, expressões e mesmo gírias que já não se usam, mas das quais sou cultor  e pelo uso constante ajudo a manter vivas.

Agora, lembrando do livro e por causa da palavra “estapafúrdia” que inspirou este post, recorro ao tal dicionário. Lá está, na página 119, a malsinada palavra. Consta com a explicação de que hoje seria mais natural falar (ou escrever) “bizarra”. Ou seja, a palavra bizarra seria sucedânea de estapafúrdia.

Logo na sequência, na mesma página, a palavra que consta e que estaria em desuso seria “estenodatilógrafo”. É, realmente, estenodatilógrafo somente voltarei a escrever num conto ou romance de época (quem sabe uma crônica de costumes), até porque o desuso no caso é da profissão nestes tempos de recursos eletrônicos que registram com mais precisão e velocidade o que se diz num púlpito, numa tribuna ou na assembleia do condomínio.

Por sinal que “púlpito”, a palavra, não consta do dicionário. Na página onde deveria estar citada, encontrei  outra que uso vez ou outra, mas porque meu pai a repetia à exaustão: pulha.

Como sabem, significa pessoa sem caráter, sem dignidade.

Com o mensalão nas manchetes meu falecido pai mencionaria a palavra pulha pelo menos uma dezena de vezes ao dia.

7 comentários:

Gusmão disse...

Falou bicho!
Abraço

Jorge Carrano disse...

Pois é, Gusmão, bicho é bem anos 80. Fui ao dicionário da lingua morta e encontrei, na página 39, o verbete bicho: pessoa descolada, amiga. Hoje, bicho seria mano. Mas há um registro interessante de que o cantor Roberto Carlos nunca deixou a palavra morrer.

Freddy disse...

Ontem fiquei sabendo por minha filha que as pessoas não mais desmancham namoro, noivado, casamento... Hoje elas terminam...

Sinal dos tempos. Hoje não temos mais discos (a moda é ter arquivos musicais em nuvem), espero que ainda tenhamos por um bom tempo livros!

=8-) Freddy

Riva disse...

Prezados, 3 comentários meus :

- estapafúrdia .... hoje em dia se fala PUNK ! Todos em São Paulo e já no Rio, e no Twitter e Facebook só usam essa palavra : isso é PUNK, a situação está PUNK ... BIZARRO(a) já era.

- namoro : o que é isso ? Ninguém namora mais. Eles FICAM.

- Bicho : nunca vou esquecer a 1ª vez que ouvi a palavra. Estava tendo aulas particulares de Matemática, com meu professor Zézinho. Eu tinha 14 anos (1966), e ele estava me adiantando Equações do 2º Grau, para o ano seguinte. Errei um exercício, e ele me chamou de "bicho", tipo ...pô, bicho, não é assim !!!
Fui pra casa super ofendido !!!
(pano rápido)
Sds TETRAcolores

Jorge Carrano disse...

"Salve o Fluminense com o verde da esperança".
Parabéns ao tricolor carioca. Parabéns ao Fred, centroavante que sabe dominar a bola, além de fazer os gols importantes.
Diferentemente de um certo Alecsandro que do pescoço para baixo é canela.
Parabéns Ana Maria, Riva, Ricardo dos Anjos.

Miquéias Michelon disse...

Quanto aos discos, muitos jovens hoje buscam ainda mantê-los vivos, como eu (22 anos). Quanto às palavras "mortas", posso apenas dizer que muitas me fascinam profundamente, me provocam curiosidade, já que não nasci em época propícia para conhecê-las, além de gerar-me um sentimento de que minha geração não é tão interessante e que não passa pelas coisas incríveis que as gerações anteriores presenciaram.

Jorge Carrano disse...

Obrigado pela visita virtual, Miquéias.