14 de julho de 2021

Quem jogou pelada em rua sem calçamento sabe

Éramos amantes das peladas. Aquelas de fim de tarde que terminavam quando um dos lados marcava dez gols. O mantra era "partida de dez, em cinco vira".

Virava o lado para o qual se atacava pelo simples fato da área de jogo ser de dimensões desiguais. Afinal jogávamos em ruas de terra batida, como a São Diogo, na Ponta D'reia, em Niterói, onde passei boa parte de minha infância.

Vez ou outra formavam-se poças d'água  que dificultavam o domínio da bola; as balizas (as duas) eram improvisadas, no nosso caso eram demarcadas entre um pé de "ficus" e o muro da casa ao lado.

Ficus
Então jogávamos em diagonal em relação a rua. Uma baliza na calçada direita e a outra na esquerda.

Claro, não havia travessão e o gol era considerado, depois de alguma discussão, se e quando a altura da bola fosse aproximadamente a do goleiro com os braços suspensos.

A rua, no trecho em que jogávamos, altura do número 21, tinha pés de ficus dos dois lados.

Porque  estávamos no meio da rua, havia dois momentos em que o jogo era automática e imediatamente interrompido. Quando eventualmente um veículo estivesse passando, ou uma senhora. Carros eram raríssimo (anos 1940) e a via não era de trânsito de ônibus como hoje.

Quando era uma mulher a passar/atravessar, alguém já gritava "deixa a dona passar". Em muitos casos a mulher era conhecida, moradora do local e então era mencionada: "olha dona Aparecida, pára, pára, pára".

O ponto a que quero chegar é o da bola de jogo, fundamental. As tipo "capotão" eram caras, mesmo a número 3, comprada na Superball. Então o mais das vezes jogávamos com bola de borracha. Na maioria dos casos furada a prego, para não quicar muito.

Em geral era o menino filho de pai mais remediado economicamente que tinha a bola. Também em geral não sabia jogar e só arranjava vaguinha se aceitasse ser o goleiro.

Aparece neste relato a figura do "dono da bola". Pois bem, se ele não fosse atendido e paparicado  não haveria a pelada. Logo o tínhamos como gente boa.

Se ele fosse embora levando a bola, era fim da pelada. A figura do dono da bola entrou no nosso dia-dia como referência àquele que tem que ter vaga para jogar.

Por que estou escrevendo sobre isso? Porque sou o dono da bola aqui neste espaço. Como blog manager posso a qualquer momento parar de postar, de publicar comentários e até deletar todo o conteúdo do blog ...

Não me obriguem a ir embora levando a bola 😊😊😊


Nota: a Superball era (ainda é) a loja de material esportivo mais conhecida na cidade.

Ainda está funcionado, vejam no link a seguir:

https://www.google.com/maps/uv?pb=!1s0x9983c4a35d0051%3A0x5369af0f31beb247!3m1!7e115!4s%2F%2Flh5.googleusercontent.com%2Fproxy%2F442VFqz_8VIy_3FXE1UGW3o4l9qGXfHlkoENImoebUPHL0hGS_0L09GRBE8WDj8sFc-a9UXzvCI0jifNudMDGr9Jl-EoGGlUYDqxQs6prctzFYPBs7BbeBoaKEtEwBU6UnLRbRQNl2OXvyiHf7AQhzmYQh5-8fC-VOFvoPvX6SIc%3Dw213-h160-k-no!5ssuper%20bowl%20loja%20-%20Pesquisa%20Google!15sCgIgAQ&imagekey=!1e2!2sMoMnIkm3LnsAAAQvOoKpyA&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwiz8OrV7-DxAhW3rZUCHa9QDR4QoiowEnoECFMQAw

6 comentários:

Jorge Carrano disse...


Eu não era a primeira opção nas escolhas depois do par ou impar, mas também não era a última.

Compensava a pouco habilidade técnica com muita entrega, muita raça.

Por vezes estabelecíamos alguns procedimentos especiais, como por exemplo um lado jogava de camisa e o outro sem camisa.

O campo de jogo ocupava toda a largura da rua, então não tinha lateral, a menos que a bola transpusesse o muro de uma das casas, mas claro tinha linha de fundo, para reposição pelo goleiro.

Como não havia juiz, não havia marcação de faltas, somente mão na bola (hand) intencional.

E o melhor de tudo, não havia "impedimento" (offside).

Com poucos jogando, a pelada era de gol pequeno. Delimitado por nossas camisas, ou sandálias ou pedras. Cerca de 80 cm no olhometro.

RIVA disse...

Nascido e criado no Pé Pequeno, nos anos 50 e 60, por lá era absolutamente igual : mesmas regras, mesmos detalhes, o dono da bola, tinha também o "café com leite", que não era dono da bola mas não jogava nada, e alguém tinha que tê-lo no time.

Muitas histórias pra contar, umas marcantes como a vez em que o delegado Moacir Bellot chegou em seu jipe (ele era delegado da 2ª DP, na Rua Paulo César) para acabar com o racha (nome dado às nossas peladas). Fizemos ele de URSO - olha o urso, olha o urso - um jogando a bola para o outro por cima da cabeça do delegado !

Marcante também foi a vez em que alguém deu um bico na bola e ela entrou pela janela de um sobrado, e só ouvimos o barulho de muito vidro quebrando. Era a cristaleira do vizinho ! A bola não voltou mais , aliás voltou sim, em pedaços, e deu muita confusão !

Mas a galera fazia uma vaquinha e ia comprar outra bola no armarinho próximo.

PS : pelo último parágrafo alguém deve estar beirando nossas cláusulas pétreas no Blog, que dizem respeito a respeito. Basta bloqueá-lo, não há necessidade de acabar com o jogo.

PS2: viram o gol que o Luccaku perdeu ontem no Flu x Cerro ? Que jogo, até gol do Egídio teve (nunca o critiquei ... nas últimas 2 horas ).



Jorge Carrano disse...


O delegado Moacir Bellot, mencionado pelo Riva, já foi citado neste blog, o que provocou a visita de um familiar, para ressaltar que, pelo menos, não o rotulamos de desonesto, apenas folclórico.

Isto ele era mesmo. Imaginem que sendo o síndico do condomínio onde tive meu primeiro apartamento, na Rua Miguel de Frias, número 23, proibia as mulheres de transitar em trajes de banho, mesmo a caminho da praia.

Na minha primeiro AGO, lá, diverti-me muito com a reação das mulheres presentes.

Riva disse...

Não sei se o delegado M.Bellot era torcedor do Bangu, mas acho que era, pois seu filho que estudava no ABEL era banguense. Aliás o único que conheci até hoje, no nosso círculo de conhecidos.
Na época o Bangu era sinônimo de futebol, com bons times, sendo campeão carioca em 1966 numa final épica com Aquele Time do Mal (que joga hoje na Libertadores ... vou torcer muito).

Ainda sobre o contexto do post, um fato que me impressionou sobre as atividades e brincadeiras na nossa infância e juventude, foi lendo o livro O CAÇADOR DE PIPAS, cuja estória se desenrola no Afeganistão. Caramba, as brincadeiras das crianças e jovens lá são ou eram as mesmas que as nossas.





Jorge Carrano disse...


Não li o livro mas assisti ao filme.

Tenho um concunhado, chamado Albenir, que mora em Cachoeiro de Itapemirim, que torce pelo Bangu.

Um dos três maiores jogadores brasileiros, que vi atuando nos gramados, jogou no Bangu: Zizinho.

RIVA disse...

Será que esses torcedores de Bangu, América, que certamente eram apaixonados por seu clube, ainda torcem (quando tem jogos deles), ou será que migraram para outra torcida ? Ou simplesmente não torcem por nenhum clube ?

Outro dia na Moreira Cesar (ainda não consigo chamar de Paulo Gustavo) passou por mim um senhor com um boné do América !

Botafogo a caminho da extinção também. E o SANTA CRUZ, o clube com talvez a maior torcida do nordeste, a caminho da Série D !!! Parece que vai cair mesmo.

Essa semana assistimos 2 aberrações no futebol .... a quase validação do gol do Cerro contra o Flu e o penalty dado ontem a favor do Palmeiras. As aberrações são o IMPEDIMENTO como regra do futebol, e o VAR, um instrumento a serviço da corrupção e da incompetência.

Sobre o CERRO devo dizer ... não houve o absurdo impedimento, mas o juiz apitou antes do cara concluir a jogada. Então não houve gol, nada foi anulado.

Se o VAR tivesse depois disso validado, seria uma tragédia, porque estaria validando um gol que não existiu !!

O FUTEBOL seria muuuuito mais feliz sem o IMPEDIMENTO, e com o VAR acionado apenas em desafios dos treinadores.

FLUi