Calfilho
Carioca de Olaria, botafoguense de coração, niteroiense por adoção, copacabanense por predileção, parisiense e europeu por admiração ... 78 anos de idade, tentando chegar aos 80, se Deus ajudar.
Nos
primeiros anos da década de 50 do século passado, já totalmente fascinado pelo
futebol, meu pai me levou algumas vezes ao Maracanã. Acho que já comentei isso
aqui: só não o acompanhei na final de Brasil X Uruguai, porque tinha apenas
oito anos de idade e ele ficou com receio do tumulto que seria a saída do
estádio após a vitória tida como certa da equipe brasileira. Bem, naquele
tempo, não havia Uber, nem ponte, o bonde era a condução até a praça XV, e dali
uma barca da Cantareira para Niterói... Primeira vez que a seleção conquistaria
a Copa do Mundo de futebol... Infelizmente, o verbo “conquistar” ficou apenas
no condicional, uma das maiores vergonhas do futebol brasileiro, que só seria
suplantada muitos anos após, já no século seguinte...
Já
tinha formado meus times de futebol de botão. Mas, ainda, sem definição como
torcedor. Tinha várias equipes, muitas deles compostas de “jogadores” feitos
com casca de coco, botões velhos que minha mãe não usava mais, mas nunca meus
times eram desses botões que vemos atualmente, todos iguais, em material
plástico, com o escudo dos clubes em cima. Os goleiros, normalmente, eram
caixas de fósforos com chumbinho de pesca em seu interior, para não caírem ou
virarem...
No
corredor do prédio da Av. Amaral Peixoto onde morava, eu e meus irmãos
jogávamos animadas partidas de futebol, com bola de meia ou de borracha, o que
deve ter causado muitos aborrecimentos aos vizinhos dos outros apartamentos do
mesmo andar.
Só
no final de 1951, quando mudamos para a rua Nilo Peçanha, no Ingá, foi que pude
verdadeiramente praticar o futebol na rua e na praia... Deliciosa época, em que
fechávamos a rua com balizas improvisadas com tijolos e só éramos interrompidos
quando passava um carro de duas em duas horas, ou uma senhora transitava pela
calçada.
--
Para a bola!!! -- um de nós gritava e o “racha” era momentaneamente
interrompido...
Mas,
voltando às minhas idas ao Maracanã...
Um
dos espetáculos de que mais gostava era o extinto Torneio Início, que abria o
campeonato carioca de cada ano... Normalmente, os grandes times não mandavam
para esse torneio de abertura seus times principais, por não darem muita
importância ao mesmo... Todos os times da Federação Carioca de Futebol o
disputavam, como uma festa de abertura do campeonato que começaria na semana
seguinte. Deixem-me tentar lembrar quais eram as equipes no início dos anos 50:
Vasco, Flamengo, Fluminense, Botafogo, América, Bangu, Madureira, São
Cristóvão, Olaria, Bonsucesso, Canto do Rio... Anos mais tarde, entraram
Portuguesa e Campo Grande...
No
Torneio Início, todos os times cariocas compareciam ao Maracanã e, como os
vestiários não eram suficientes para abrigar os jogadores de todos os times,
alguns deles ficavam sentados no gramado, ao lado dos túneis dos vestiários.
Era
realmente muito legal ver seus ídolos sentados ou deitados displicentemente no
gramado aguardando a hora em que os jogos de seus times iriam começar. As
partidas tinham a duração de vinte minutos, com dez minutos para cada tempo e
eram eliminatórias. A final tinha 60 minutos, com 30 para cada tempo. As
primeiras partidas, normalmente, eram entre os times considerados “pequenos”
(Canto do Rio, Olaria, Bonsucesso, São Cristóvão, Madureira...), sendo a metade
deles logo eliminada, e os vencedores iriam disputar com os “grandes” (Vasco,
Flamengo, Botafogo, Fluminense, América e Bangu) os jogos restantes.
Era
uma verdadeira festa, que tinha início ao meio dia e, muitas vezes terminava com
o dia já escurecendo...
Se
um dos jogos terminasse empatado, a decisão era por pênaltis ou pelo número de
escanteios concedidos ( três rodadas de
pênaltis até a definição do vencedor e
todos os pênaltis deveriam ser batidos pelo mesmo jogador – segundo a
Wkipedia).
A
primeira edição do torneio foi em 1916 e a última em 1967 tendo havido uma
edição especial m 1977, também segundo a Wikipedia.
Apenas por curiosidade e para não dizer que o então meu time de coração não ganhou nada, o Canto do Rio foi o campeão de 1953. Tinha a seguinte formação: Celso, Nanati e Garcia; Cleuson, Rubinho e Heber; Milton, Miltinho, Jaime, Dodoca e Jairo. A final teve prorrogação e tudo e o Cantusca “goleou o Vasco por 3 x 0...
Minha fonte foi a Wikipedia e a foto da equipe campeã do torneio início de 1953 é do “Sport Ilustrado”.
16 comentários:
Lembro do Canto do Rio campeão do "Torneio Início" em 1953.
Surpreendeu.
Este torneio tinha como finalidade principal, permitir aos clubes participantes apresentar seu elenco para a temporada do Campeonato Carioca que iria começar.
Se as partidas, de curta duração, terminassem empatadas, o número de corners (escanteios) a favor contava no desempate.
Ótimo post, com lembranças maravilhosas.
Uma pergunta, já que sou de 52 ..... esse pós-guerra foi sentido por vcs e por suas famílias, no dia a dia, por aqui ?
Ou a Europa era distante demais para o Brasil ser impactado na época ?
Riva, muitas famílias portuguesas, espanholas, italianas e até alemães migraram para o Brasil e trouxeram suas culturas e tradições, inclusive futebolísticas.
Tivemos dois "Palestra Itália", um em São Paulo, atual Palmeiras e ouro em Minas Gerais, atual Cruzeiro.
Mas o Carlinhos que teve o privilégio de viajar, ainda jovem, para a Europa, especialmente para a França, pode melhor do que eu comentar alguma coisa.
Sou de 42, tendo nascido, portanto, em plena guerra. Aqui no Brasil, na década de 40, praticamente não percebi que havia uma guerra na Europa. A única coisa que me lembro foi que meu pai, que era médico, talvez pudesse ser convocado para servir em hospitais da Europa. Nada além disso. Em fevereiro de 1957, quando eu tinha 14 anos, meu pai, que já tinha ido fazer cursos de especialização em Paris em 1954 e 1955, decidiu levar toda a família para conhecer a Europa (minha mãe, minha avó, eu e meus dois irmãos). Fomos de navio (o avião estava engatinhando em viagens internacionais) do Rio até Nápoles (15 dias de viagem), subimos a Itália de trem até chegarmos em Paris, onde o curso do meu pai durou um mês. Dali fomos para a Inglaterra, ficamos alguns dias em Londres e viajamos até Southampton, onde pegamos um navio misto (passageiros e cargueiro) de retorno ao Brasil. Tudo terceira classe. A Itália e a França ainda apresentavam muitos sinais da guerra, que terminara há doze anos. Muita pobreza (principalmente na Itália). Jogava uma ponta de cigarro no chão, uns dez voavam em cima para pegar. Na França não deu para perceber muito, o metrô funcionava regularmente, os cafés estavam abertos, andava-se pelas ruas com certa tranquilidade. Em Londres, não deu para reparar, só ficamos três dias, fizemos alguns passeios tipo city-tour, só para visitar pontos turísticos. No navio de volta, muitos imigrantes espanhóis e portugueses embarcaram nos portos de Vigo e Leixões com destino ao Brasil.
Aproveito o comentário do Carlinhos, que portugueses e espanhóis embarcavam no porto de Vigo, para fazer uma observação.
Chamávamos de galegos os portugueses, principalmente nas décadas de 1940 e 1950, pelo fato de virem da Galícia. Para os portugueses do Norte do País, o porto espanhol (Vigo) era a opção de embarque para viagens.
Voltando a influência europeia, registro que o nome do Corinthians (clube paulista) foi inspirado no nome de um clube inglês que excursionava muito na época, o Corinthian.
Vasco, no Rio, e Portuguesa em São Paulo, tiveram participação decisiva da colônia portuguesa.
E o clube Canto do Rio nada tem a ver com a localidade "Canto do Rio", que fica no final da praia de Icaraí. O clube tem sua sede na rua Visconde do Rio Branco (antiga rua da Praia) no centro da cidade, quase chegando no bairro de São Domingos. Flamengo, Botafogo, Bangu, Madureira, Olaria, Bonsucesso, São Cristóvão e Campo Grande devem seus nomes aos bairros onde tiveram origem. Já América, Portuguesa e Fluminense, não sei.
Com o Vasco deu-se o inverso, Carlinhos, foi criado um bairro em homenagem ao clube.
Quando do centenário do clube, desmembraram parte do bairro de São Cristóvão que passou a se chamar de Vasco da Gama.
Confiram no Google (Wikipédia):
Vasco da Gama é um bairro da Zona Norte do município do Rio de Janeiro. Criado em homenagem ao centenário do Club de Regatas Vasco da Gama, em 1998, é onde se localiza a sede e o famoso estádio do clube, popularmente chamado de Estádio São Januário, em virtude da Rua São Januário, que margeia o estádio; sendo desmembrado da parte leste do Bairro Imperial de São Cristóvão.
Nunca tinha ouvido falar do bairro Vasco da Gama !! Primeira vez que ouço !
Quanto ao nome CANTO DO RIO, essa eu sei ... rsrsrs.
No final da Praia de Icaraí, onde hoje é a Igreja São Judas Tadeu, garotos jogavam futebol de areia, e o local era chamado de Canto do Rio. E ali foi "fundado" o clube de futebol.
Acho que a sede do Centro veio bem mais tarde ...o Canto do Rio só utilizava as dependências do Caio Martins .... acho.
E foi expulso da Fed. Carioca de Futebol por causa de uma briga feia entre todos num jogo contra o meu FLU, no Caio Martins, no ano em que fomos campeões ...1964.
Não conhecia essa história do Vasco... tá vendo, Carrano, teu blog é, acima de tudo, cultura...
Como você pode constatar, Riva, este blog também é cultura.
Você acaba de aprender que existe um bairro chamado Vasco da Gama, cujo território foi desmembrado do bairro de São Cristóvão.
Carlinhos,
O delay decorrente do sistema foi o responsável pelo seu comentário ser publicado antes do meu, ambos fazendo alusão aos aspectos culturais do blog (rsrsrs).
Explico: enquanto escrevia o meu nos meios permitidos, o seu não havia ainda chagado, Logo não sabia seu conteúdo.
Mas como a publicação ocorre na cronologia do horário em que foi remetido, o seu aparece antes do meu.
Observe que me dirigi especificamente ao Riva e não também a você.
And last but not least, digamos NOSSO blog. Ele pertence a quantos dele participam, seja lá de que forma.
Mistérios da internet...
O Canto do Rio só disputava o campeonato carioca porque o interventor, depois governador do antigo RJ, era o Amaral Peixoto, genro do Getulio Vargas, presidente do Brasil. Nada justificava que um clube de outra cidade e de outro Estado disputasse um campeonato do então Distrito Federal.
Clube este situado na capital de um Estado da Federação, que tinha uma liga futebolística organizada.
Mas cá para nós, o Canto do Rio tinha infraestrutura, logística e administração, acima dos demais clubes da cidade de Niterói, tais como Fonseca, Ypiranga, Fluminense, Byron, Niteroiense, Manufatura e poucos outros que não lembro.
Vários deles dependentes de indústrias localizadas na cidade, que bancavam despesas e até contratavam jogadores como seus empregados
O Estado do Rio de Janeiro, antes da fusão, tinha até um Tribunal de Justiça Desportiva. Meu pai foi juiz neste tribunal durante alguns anos, sendo o seu presidente quando faleceu em 1963.
Numa futura postagem esticarei este tema e publicarei fotos da época.
Carrano, o Eduardo Muniz (lembra dele, do Liceu e do futebol de salão?) fez um comentário no meu blog sobre o torneio início e mostrou ter uma memória prodigiosa... fiz-lhe um convite para dar uma passada no teu blog e ver o que estamos escrevendo, se você não se importar.
Será com alegria que receberei a visita virtual dele.
Obrigado pela indicaçao.
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