16 de novembro de 2020

Nada do que foi será ... continuação

 


JORGE CARRANO

Carioca, octogenário, vascaíno.



Mencionei, na postagem anterior, o horário dos jogos pelo Campeonato Carioca, mas ficou faltando informar que os juvenis (hoje juniores), jogavam às 10 horas da manhã. E alguns destes jogos eram concorridos.

Os juvenis eram considerados “amadores”. Os talentosos, promissores, tinham contrato de gaveta e recebiam uma ajuda de custo.

Pelo critério olímpico no passado, o torneio de futebol só podia ser disputado por amadores, daí porque durante muitos anos a nossa seleção olímpica era constituída de juvenis.

Tal fato nos colocava em desvantagem diante das seleções do Leste europeu, atrás da cortina de ferro, onde não havia futebol profissional e por isso seus integrantes eram adultos, na maioria das vezes militares,

O campeonato de aspirantes era disputado pelos reservas das equipes. Como durante longo tempo não era possível fazer substituições durante os jogos, senão o goleiro, mas os reservas precisavam se manter em atividade, havia então a disputa da categoria de aspirantes (aspiravam chegar à equipe principal, fazia sentido).

Estes jogos de aspirantes eram as preliminares dos jogos das equipes principais. Bons elencos, dos grandes clubes, permitiam que as equipes secundárias fossem por vezes tão fortes quanto a principal.

O Vasco, apenas como exemplo, em tempos áureos, tinha o “Expresso da Vitória”, mas tinha também o “Expressinho”.

A gente chegava cedo aos estádios, por volta das 12:30h para assistir as preliminres.

Quando um clube, no mesmo dia, vencia seus jogos nas três categorias (juvenis, aspirantes e profissionais), dizia-se que fez “barba, cabelo e bigode”.

Numa alusão à prática de muitos homens de aos sábados irem as barbearias para fazerem exatamente isso, raspar a barba, aparar o bigode e cortar o cabelo.

Quando cometei a impossibilidade de substituições durante as partidas, deveria ter chamado a atenção para um ponto muito importante: o desgaste físico.

Jogar 90 minutos, sem parada para hidratação (prática recente), às 13 horas os aspirantes ou às 15 horas os profissionais, com o mesmo sol de hoje, era desgastante. Mesmo jogando apenas nos finais de semana.

Por isso, entre outras cousas, o futebol era jogado numa rotação mais lenta (tipo Ganso, Pogba, Özil, e outros).

O cenário era mais ou menos o seguinte: a bola era de capotão, com costura, e por isso na cor marrom. Se a partida se estendia um pouco mais por prorrogação, etc., era colocada em campo uma bola branca, na época característica dos jogos de volleyball.

A vitória valia apenas dois pontos, em consequência o empate por vezes acabava conveniente para as duas equipes. Ah! E a classificação era por pontos perdidos e não os ganhos, como atualmente. Assim o campeão era o que perdia menos pontos.

A maioria dos estádios não tinha refletores. Os gramados eram mal conservados, havia enormes falhas de grama o que ensejou a ideia de designa-los de “campo careca”.

Por outro lado, a qualidade (tipo) da grama utilizada, nem sempre era adequada e permitia a formação de montinhos, como touceiras de capim, um martírio para os goleiros.

Hoje caiu em desuso a expressão “montinho artilheiro”, que ara aquele que desviava o curso previsível da bola, enganando o goleiro. Os gramados melhoraram bastante.

Volto outro dia.

2 comentários:

Riva Z4 disse...

Nem sei o que comentar, porque não sei porque, inimaginável jogos no Maracanã às 15:15h como era tradicional há 50 anos.
Está mais quente hoje em dia ?
A ponto de criarem as paradas técnicas ?

Tudo faz parte de uma evolução, a bola, os gramados, as balizas eram quadradas hoje são redondas, substituições, 4º árbitro, a evolução no preparo físico, etc.

Uma das coisas que lamento é meu sogro não ter vivido para ver jogos na TV direto da Europa, como hoje. Ele adorava o seu Benfica e os campeonatos europeus. E era inimaginável naquela época que um dia poderíamos assistir ao vivo todos esses jogos.



Jorge Carrano disse...


O futebol mudou, Riva.

Ao longo desta série de postagens abordaremos alguns aspectos.

Daí porque o primeiro post tem como titulo "nada do que foi será ..."

O futebol europeu mudou muito. Cadê os gringos de cintura dura?

Cadê a bola alçada na área para cabeceio, jogada clássica do futebol inglês? O chamado chuveirinho.

Vamos, pouco a pouco, trocando opinião e abordando os vários aspectos que diferenciam o futebol do passado do que é no presente, e até o que pode acontecer no futuro. Será que o capacete será obrigatório no futuro? A caneleira acabou por virar obrigatória.