No início da década de 1970 fui promovido ao nível gerencial.
A promoção de cargo e função foi acompanhada de uma significativa promoção
salarial. Migrei da área jurídica para a admistrativa.
Foi um salto significativo.
Virei um yup (yuppie): gravatas de ceda; cachimbo; investimento
na bolsa de valores, viagens a serviço ...
Não fui muito longe, mas este não é o objeto desta postagem.
Nesta época as conversas, com amigos de fé e colegas de
trabalho, vez ou outra caminhavam para uma especulação: o que cada um faria se
ganhasse muito dinheiro. Deixo claro que falávamos de muito dinheiro, tipo uma “Loteria
Esportiva” (aposta da moda) sozinho.
Um dizia que iria contratar o Pelé (astro da moda) para ficar
em seu jardim fazendo embaixadinhas para distrair seu filho.
Já outro dizia que seu sonho de acompanhar o sol, pelo planeta,
seria realizado. Sem residência fixa, ficaria cada período onde o sol pontificasse
na estação.
Alguém pretendia uma bela casa na Costa Amalfitana; e para um
quarto conviva seu ideal seria ter um motorista particular. Para ele não ter
que dirigir e suportar as agruras do trânsito, podendo ler ou apreciar a paisagem
(não havia smartphone), era o máximo.
Amalfi |
Instado a me manifestar, ou não, pouco importa porque o que
lembro é que disse que meu propósito, se rico fosse, era ter um mordomo.
Sim, um mordomo é tudo de bom. Você sabe quais são as
atribuições básicas de um mordomo? Não estou falando de um mordomo qualquer.
Não! Nada disso, falo de um Reginald Jeeves, não menos do que isso.
Cuidado, alertou um interlocutor, porque nos romances
policiais, nos quais pontificam detetives como Hercule Poirot, Sherlock Holmes,
Comissário Maigre, em geral o mordomo é o culpado.
Puro desconhecimento do que seja um mordomo. Por isso o
desprezo por meu desejo numa situação de riqueza. Ninguém questionou ou apoiou.
Charles Carson, do seriado "Downton Abbey", sintetiza as várias
virtudes e os diferentes papéis que um mordomo representa na vida de seu
patrão. Inclusive o sotaque é importante.
Jamais realizarei meu desejo. Mas de qualquer sorte minha
vida real, não onírica, não comporta um mordomo. Escolher entre três gravatas é fácil.
Charles Carson - o mordomo |
Notas:
1) Reginald
Jeeves é um personagem criado por Sir
Pelham Grenville Wodehaouse, escritor inglês. Jeeves, é um valet ou assistente pessoal
de um milionário.
2) Carson é o mordomo de Lorde Grantham, em
Downton Abbey.
3) Na época desta conversa entre amigos, nenhum de nós lera alguma obra de P. G. Wodehaouse, ou assistido – não tinha sido produzido e exibido - ao seriado mencionado.
4) Estes personagens foram incluídos agora, neste post, como uma licença poetica.
3) Na época desta conversa entre amigos, nenhum de nós lera alguma obra de P. G. Wodehaouse, ou assistido – não tinha sido produzido e exibido - ao seriado mencionado.
4) Estes personagens foram incluídos agora, neste post, como uma licença poetica.
2 comentários:
Nunca em meus sonhos mais loucos de riqueza pensei em ter um mordomo.
Trabalhei por 18 anos numa empresa, onde um dos donos não gostava de mim, me aturava pela minha competência (modéstia à parte) e porque seu sócio gostava muito de mim e do meu trabalho.
Eu sempre comentava com meus amigos ..... se um dia eu der uma "porrada" na loteria, vou subir na mesa dele e fazer cocô em cima .... Desculpem-me, mas é o máximo que me recordo de dias daquela época de muito trabalho, e de muita qualidade de vida e de segurança (pano rápido).
Hoje, quando penso nesse assunto (e penso), minha única saída continua sendo a tal "porrada na loteria", porque de trabalho não virá. E se vier a acontecer, com certeza será sair do país, curtir meus últimos anos de vida no lindo Planeta Azul em algum lugar onde exista segurança, beleza e alegria ... e sei onde é.
Mordomos ? .... por mim estarão sem trabalho ...
Depois do escatológico comentário do Riva, chego a conclusão de que o ditado popular tem fundamento: realmente só merece ganhar quem sabe comemorar.
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