3 de junho de 2018

MORDOMO


No início da década de 1970 fui promovido ao nível gerencial. A promoção de cargo e função foi acompanhada de uma significativa promoção salarial. Migrei da área jurídica para a admistrativa.

Foi um salto significativo.

Virei um yup (yuppie): gravatas de ceda; cachimbo; investimento na bolsa de valores, viagens a serviço ...

Não fui muito longe, mas este não é o objeto desta postagem.

Nesta época as conversas, com amigos de fé e colegas de trabalho, vez ou outra caminhavam para uma especulação: o que cada um faria se ganhasse muito dinheiro. Deixo claro que falávamos de muito dinheiro, tipo uma “Loteria Esportiva” (aposta da moda) sozinho.

Um dizia que iria contratar o Pelé (astro da moda) para ficar em seu jardim fazendo embaixadinhas para distrair seu filho.

Já outro dizia que seu sonho de acompanhar o sol, pelo planeta, seria realizado. Sem residência fixa, ficaria cada período onde o sol pontificasse na estação.


Amalfi
Alguém pretendia uma bela casa na Costa Amalfitana; e para um quarto conviva seu ideal seria ter um motorista particular. Para ele não ter que dirigir e suportar as agruras do trânsito, podendo ler ou apreciar a paisagem (não havia smartphone), era  o máximo.

Instado a me manifestar, ou não, pouco importa porque o que lembro é que disse que meu propósito, se rico fosse, era ter um mordomo.

Sim, um mordomo é tudo de bom. Você sabe quais são as atribuições básicas de um mordomo? Não estou falando de um mordomo qualquer. Não! Nada disso, falo de um Reginald Jeeves, não menos do que isso.

Cuidado, alertou um interlocutor, porque nos romances policiais, nos quais pontificam detetives como Hercule Poirot, Sherlock Holmes, Comissário Maigre, em geral o mordomo é o culpado.

Puro desconhecimento do que seja um mordomo. Por isso o desprezo por meu desejo numa situação de riqueza. Ninguém questionou ou apoiou.

Charles Carson, do seriado "Downton Abbey", sintetiza as várias virtudes e os diferentes papéis que um mordomo representa na vida de seu patrão. Inclusive o sotaque é importante.


Charles Carson - o mordomo
Jamais realizarei meu desejo. Mas de qualquer sorte minha vida real, não onírica, não comporta um mordomo. Escolher entre três gravatas é fácil.


Notas:
    1) Reginald Jeeves é um personagem criado por Sir Pelham Grenville Wodehaouse, escritor inglês. Jeeves, é um valet ou assistente pessoal de um milionário.
     2) Carson é o mordomo de Lorde Grantham, em Downton Abbey.
  3) Na época desta conversa entre amigos, nenhum de nós lera alguma obra de P. G. Wodehaouse, ou assistido – não tinha sido produzido e exibido -  ao seriado mencionado.
  4) Estes personagens foram incluídos agora, neste post, como uma licença poetica.

2 comentários:

Riva disse...

Nunca em meus sonhos mais loucos de riqueza pensei em ter um mordomo.

Trabalhei por 18 anos numa empresa, onde um dos donos não gostava de mim, me aturava pela minha competência (modéstia à parte) e porque seu sócio gostava muito de mim e do meu trabalho.

Eu sempre comentava com meus amigos ..... se um dia eu der uma "porrada" na loteria, vou subir na mesa dele e fazer cocô em cima .... Desculpem-me, mas é o máximo que me recordo de dias daquela época de muito trabalho, e de muita qualidade de vida e de segurança (pano rápido).

Hoje, quando penso nesse assunto (e penso), minha única saída continua sendo a tal "porrada na loteria", porque de trabalho não virá. E se vier a acontecer, com certeza será sair do país, curtir meus últimos anos de vida no lindo Planeta Azul em algum lugar onde exista segurança, beleza e alegria ... e sei onde é.

Mordomos ? .... por mim estarão sem trabalho ...

Jorge Carrano disse...

Depois do escatológico comentário do Riva, chego a conclusão de que o ditado popular tem fundamento: realmente só merece ganhar quem sabe comemorar.